domingo, 13 de setembro de 2015

PECADO ORIGINAL - PARTE 5


"E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado" (Lucas 15:20-24).

Este é o final da parábola do filho pródigo, que retrata bem a maneira como Deus recebe de volta o homem caído em pecado. 
Vimos juntos que tipo de pecado foi cometido por Adão, a maneira pela qual ele é transmitido de pai para filho e a corrupção universal produzida por esse gravíssimo pecado. A concupiscência não é só uma inclinação para o mal, mas verdadeira rebelião contra Deus, que escraviza o homem e todas as suas faculdades, impossibilitando-o de viver para Deus. 
Acho importante pontuar algumas coisas: o pecado original não deve ser diferenciado da concupiscência, pois são absolutamente o mesmo mal. Não devemos reduzir a concupiscência a uma simples inclinação para o mal ou fraqueza, pois ela é verdadeira escravidão da vontade. O pecado original não é somente a falta de justiça, mas rebelião contra Deus, desígnio mau, pecado de fato. Como ensinou S. Paulo: "Portanto, assim como por um só homem entrou o PECADO no mundo, e pelo PECADO, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Romanos 5:12).
A esse estado de dissolução chegou o filho pródigo. 
Deus sempre quis a reconciliação com seu filho amado. Mas o problema do pecado é muito grave para ser resolvido por um simples: Eu te perdoo. Porque perdoar o pecado não significa removê-lo. Mesmo perdoado, o pecado permanece no homem, escravizando-o, impedindo-o de ser o que Deus deseja que ele seja e provocando nele morte contínua.
Foi por isso que Deus se fez homem. Jesus Cristo é Deus e homem, que viveu uma vida verdadeiramente justa, tendo cumprido a Lei de Deus de maneira perfeitíssima. Depois morreu na cruz pelos pecados da humanidade e ressuscitou.
Com isso, Jesus alcançou para a humanidade a verdadeira justiça, a verdadeira santidade, que envolve tanto os atos exteriores, como também o coração. 
Jesus morreu na cruz em nosso lugar, padecendo as consequências de nosso pecado. Depois venceu a morte, através de sua ressurreição. 
Quão amados nós somos! Jesus levou sobre si as consequências de nosso pecado, sobretudo a morte eterna. Também por nós venceu a morte, transformando-a em algo bom, por meio da qual nos despimos de nossa carne pecaminosa e nos unimos a Deus.
Graças à vida e morte sacrificais de Jesus, Deus passou a ter em mãos duas preciosidades: a justiça humana e a destruição da morte. Esses dois tesouros são a melhor roupa, o anel e a sandália que o Pai guardou para seu filho.
Nós ainda tentamos resolver nossos problemas por conta própria. Quantas pessoas estão por aí tentando se tornar justas através de suas obras! Mas o fim dessas pessoas é se dar com os porcos, como aconteceu com o filho pródigo. Quando o filho se deu conta de seu estado miserável, lembrou-se do Pai e desejou voltar.
Ao encontrar-se com o Pai, este o abraçou e beijou. Em seguida, retirou dele seus andrajos e o vestiu com a sua melhor roupa, pôs um anel em seu dedo e sandálias em seus pés.
Isto que o Pai fez, faz e continuará fazendo se chama justificação. É importante falar sobre ela toda vez que se fala de pecado. Há muita dúvida sobre justificação. 
Justificação é um ato de Deus em que ele chama um pecador e o declara justo, obviamente sem qualquer colaboração desse pecador, que é escravo do pecado e não tem condições de decidir nada. Deus passa por cima de todo o pecado que essa pessoa tem e a declara justa, santa, reta, tanto quanto os anjos do Céu, tanto quanto Jesus. Isso é justificação. Ela é obra exclusiva de Deus, sem nossa participação.
Quando Deus justifica, ele o faz com base no que Cristo fez. Ele declara o pecador justo ao colocar sobre esse pecador a justiça de Cristo, como se fosse uma roupa. Mas ao fazê-lo, o pecado ainda permanece sob o tecido, provocando morte. É então que Deus nos dá a morte e ressurreição de Cristo, como vitória sobre a morte, para que esta não tenha mais a última palavra.
Portanto, ao justificar, Deus dá ao homem a justiça de Cristo, a morte de Cristo e sua ressurreição. O homem é declarado justo e santíssimo, embora continue pecador. Seu pecado é crucificado dia a dia e a morte não tem mais o poder de destruir. 
Entretanto, para que tudo isso aconteça, é necessário retornar à casa paterna. O filho sempre terá a opção de retornar ou de permanecer na carestia, entre os porcos. A esse regresso chamamos de fé, que é a única exigência de Deus para a justificação.
Fé é o retorno do filho à casa do Pai. O filho pródigo creu quando, no chiqueiro, lembrou-se da bondade do Pai e de como ele tratava seus servos. Então teve coragem de voltar, confiante nessa bondade.
Quando o homem crê, ele regressa ao Pai e é justificado por ele. Por isso, o homem é justificado unicamente pela fé, sem a participação das obras, conforme declara S. Paulo: "O homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei" (Romanos 3:28).
Qualquer tentativa de autojustificação é hipocrisia, trabalho vão e labuta entre porcos. Na verdade, qualquer tentativa de autojustificação é rebelião contra Deus.
Como o homem está corrompido pelo pecado, ele não pode crer a partir de suas próprias habilidades, porque todas elas estão em franca oposição a Deus. Se S. Paulo, mesmo justificado e cheio do Espírito Santo, encontrava em si mesmo forte resistência a Deus, que se dirá de alguém que não foi justificado e está inteiramente sob a tirania do pecado? Sobre essa pessoa permanecem as palavras de S. Paulo: "Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignomínia em que vivem, pela dureza do seu coração" (Efésios 4:17-18).
A fé é obra de Deus. A lembrança da bondade do Pai provoca no filho a coragem de retornar. Se pararmos para refletir sobre o que é a lembrança, chegaremos à conclusão que ela é obra alheia em nós. Se nos lembramos de alguém e sentimos saudade, isso não se deve ao nosso esforço, mas à pessoa que agiu bondosamente conosco.
Pois bem, essa lembrança que atinge o filho é o Evangelho, que é poderoso para gerar a fé no coração humano. A fé é a coragem do regresso, que se baseia na confiança que o filho deposita no amor do Pai. Ele retorna sem medo de punição, porque sabe que seu Pai é muito bom.
O filho é cada um de nós, inclusive nossas crianças. Elas não são inocentes, como constatamos ao longo dos estudos. Muito pelo contrário, o ser humano é concebido em pecado e está sujeito ao seu próprio pecado. A única maneira de o homem se livrar da tirania do pecado é através da justificação, que se dá somente pela fé, sem qualquer esforço humano.
Como todas as crianças são pecadoras, elas necessitam de fé e justificação, para que possam tomar parte no Reino de Deus. Sabemos que a fé é suscitada pelo Evangelho. Mas seria uma sandice pregar o Evangelho a um bebê. É por isso que utilizamos o Batismo infantil.
O batismo não é menos Evangelho que a Pregação. Ele é o mais puro Evangelho, capaz de gerar a fé e justificar. Por esse motivo é que a Igreja manteve a tradição de batizar as crianças, para que elas creiam e sejam justificadas por sua fé. Parece estranho falar em fé infantil, não é verdade? Mas crianças creem, conforme lemos em Mateus 18:1-6 e em Lucas 1:39-41. E se creem, não serão justificadas por um caminho alternativo à fé.
Através do Batismo, as crianças pecadoras são presenteadas com a verdadeira fé e recebem de Deus não só o perdão do pecado original, mas a justificação. Quer dizer, elas saem da pia batismal crentes, perdoadas e justas aos olhos de Deus. Sua concupiscência é crucificada com Cristo e sua morte é vencida pela ressurreição. No entanto, a destruição do pecado e da morte não é instantânea, mas processual, estendendo-se ao longo de toda a vida e só terminando na ressurreição dos mortos. São Paulo ensina isso de maneira claríssima em quase toda a sua carta aos romanos.
Sobre a eficácia do Batismo, São Paulo ensina coisas muito preciosas. Cito aqui uma passagem em que trata especificamente da justificação operada pelo Batismo: "Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes". São Paulo assim nos ensina que através do Batismo a criança é coberta pela melhor roupa do Pai, que se chama justiça de Cristo. É com essa bela roupa que o homem esconde a nudez de seu pecado, enquanto esse pecado vai sendo destruído, o que é obra para uma vida inteira.
É um erro achar que o pecado original é removido pelo Batismo. Nenhum pecado é removido nunca. Se Deus removesse pecados, Cristo não precisaria ter vindo ao mundo para ser justo em nosso lugar e para morrer e ressuscitar em nosso lugar. O simples perdão não anula a natureza do pecado e sua obra destrutiva. É necessário que esse pecado seja combatido, após ter sido perdoado.
E assim é que quero concluir este estudo: o pecado deve ser combatido após ter sido perdoado, e não o inverso. Tem pessoas que querem primeiro combater o pecado para depois ser perdoadas. Somente quem é perdoado, justificado, reconciliado com Deus e unido a ele pode, graças a Cristo, combater o pecado que nele habita.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


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