domingo, 22 de novembro de 2015

DESEJO DE DEUS

"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, E A VERDADE, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14.6).



Anteriormente colocamos a fé como sendo obra exclusiva de Deus no homem. Por natureza, o homem deseja somente o pecado e não quer Deus de forma alguma, senão aquele deus que sua razão pecaminosa fabrica. Então a fé é uma intervenção milagrosa de Deus para salvação humana. É a fé que traz o homem de volta a Deus, ao reconquistar aquilo que o pecado dominou: o desejo.
A fé é o desejo de Deus. Ela não quer nada que não seja Deus, não confia em nada que não seja Deus, não quer ter diante de si nada, absolutamente nada que não seja o próprio Deus. Para a fé, somente Deus existe e nada mais. Para a fé, somente Deus é verdadeiro e nada mais. Para a fé, Deus é tudo!
Embora o cristão não sinta sua fé, é ela que o faz voltar-se para Deus contra seu impulso inato para o pecado. É ela que o incomoda, que rouba sua alegria, que o torna insatisfeito e vazio no mundo. É ela que o torna aliviado, fortalecido e alegre quando está diante da Verdade. É ela que dá sabor de fel ao que delicia o mundo. É ela que dá sabor de mel ao alimento que o mundo odeia. Ela põe o filho contra seu pai, a filha contra sua mãe e a nora contra sua sogra, se necessário for. É ela que torna o cristão esquisito e indesejável, até diante de si mesmo. É um burburinho, uma inquietude, um desconforto, algo que lembra o pecado hereditário em seu modo de agir, porém arrastando a fome humana em sentido oposto.
Você sabe onde a concupiscência está? Pois ali também habita a fé.
A fé não se contenta com papel, teologia ou filosofia. Ela quer a Verdade. Essa Verdade, porém, é Deus. 
Por isso, tão complexo quanto seja definir o que é Verdade, porque a Verdade é Deus, assim é com a fé, em sua natureza.
Não pense que irá agradá-la com textos, com doutrinas, com confissões, com argumentação teológica! Ela quer a Verdade, que é Deus. E ela não erra! De tudo o que apresentar a ela, ela sugará somente a Verdade e desprezará o resto. Pode ser que sua razão queira esse resto, mas aí são outros quinhentos!
Qual, então, deve ser o papel da teologia e das confissões para a fé?
Teologia é um produto do intelecto e não requer fé. Incrédulos podem ser excelentes teólogos, desde que se dediquem. Penso, inclusive, que o maior teólogo de todos seja o diabo. Ele certamente é o maior conhecedor das Escrituras que existe!
Desse mesmo intelecto de onde brotam as teologias, brotam também os credos e confissões, que as sintetizam e preservam.  
De toda confissão existente, como construção humana, a fé irá sempre sugar a Verdade, deleitar-se nela e rejeitar o restante.
Então, a função da teologia e, por conseguinte, das confissões é intelectualmente definir a Verdade, purificá-la e preservá-la. Obviamente, nenhuma teologia ou confissão pode ser tão precisa neste aspecto. Entretanto, quanto mais a Verdade é purificada e preservada, tanto melhor é o trabalho do teólogo. 
Não quero negar o valor da teologia e das confissões. São importantíssimas! Porque se a razão carnal ataca a Verdade com argumentos, também é necessário que a razão espiritual, regida pela fé insensível, reaja com argumentos a favor da Verdade. Assim, a razão espiritual impede que as fontes da Verdade sejam entupidas. Aqui a fé usa toda a sua energia, pois sabe que seu verdadeiro alimento, a Verdade, está sendo disputado.
As teologias e confissões servem ao propósito de manter intactas as fontes da Verdade, porém são sempre atividade intelectual, mesmo que dirigida pela fé. Da mesma maneira como muitas mentes são conduzidas pela concupiscência, muitas são conduzidas pela fé. Mas como não há cristão que seja inteiramente espiritual, tudo o que pensa ou escreve está sujeito a erro.
Portanto, não queira reduzir o conceito de fé a uma ideologia, nem o objeto da fé a uma confissão. Não se envaideça de sua confissão, como se ela fosse a Verdade e tivesse o poder de fazer cristãos; isso é idolatria! A Verdade é Deus e somente ele faz cristãos, através da fé. Não se deixe levar pela arrogância espiritual, que é o maior mal que assola o cristianismo desde sempre. 
O que define o cristianismo é a fé. O objeto da fé se chama Verdade, mais precisamente Deus, mais precisamente o Deus encarnado, mais precisamente o homem Jesus Cristo, mais precisamente o EVANGELHO. Por isso, a Igreja é "criatura do Evangelho" (Comentários de Lutero sobre suas teses debatidas em Leipzig, tese 12), não de confissões ou credos, ainda que estes sejam primordiais para preservação da Verdade no mundo.


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.





sábado, 21 de novembro de 2015

REFLEXÃO SOBRE O ARREPENDIMENTO E O PERDÃO DO SENHOR

“O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador, meu Deus é a minha rocha onde encontro o meu refúgio, meu escudo e força de minha salvação, minha cidadela e meu refúgio. Meu salvador, que me salvais da violência. Invoco o Senhor digno de todo louvor, e fico livre dos meus inimigos. Circundavam-me os vagalhões da morte, torrentes devastadoras me atemorizavam, enlaçavam-se as cadeias da habitação dos mortos, a própria morte me prendia em suas redes. Na minha angústia, invoquei ao Senhor, gritei para meu Deus: do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor chegou aos seus ouvidos.” (II Samuel, 22:2,7).


Muitas vezes, quando nos fechamos em nós mesmos e tentamos nos reformar e santificar com as nossas próprias forças, acabamos frustrados e arrogantes, consequentemente cedemos às tentações do mundo, do acusador e procuramos ouvir os “sábios” deste mundo, erguemos um trono para nós mesmos e nos tornamos “juízes”; apontamos os pecados , erros e defeitos alheios. A fé, que tinha ficado para trás, se torna ideologia, mas quando paramos e nos damos conta de nossa situação, pela graça de Deus, tudo muda, tudo é renovado. “Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo?” (I Coríntios, 1:20). Quando paramos para ouvir os “argumentadores deste mundo”, somos tentados a nos desviarmos do caminho do Cristo e, por nossos próprios meios, tentamos criar nosso próprio caminho com os conselhos desses “sábios”. Quantas vezes não somos tentados por eles da mesma forma que nosso Senhor foi tentado na cruz: “Tu, que destróis o templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!”(São Mateus 27:40). 
Se desviarmos o nosso olhar do Cristo crucificado é certo que fugiremos da nossa cruz, ouviremos os falsos profetas, entregaremos o senhor por 30 moedas; nós o entregaremos com um beijo. Envolvidos no nosso manto de hipocrisia, sentados no nosso “trono”, que é edificado em cima da areia, julgamos tudo e a todos, colocando-nos acima do bem e do mal. 
Mas o senhor nos leva a reconhecer a nossa miséria: “Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.” (São João, 8:7). “Ai de mim, gritava eu. Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros, e habito com um povo (também) de lábios impuros e, entretanto, meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!” (Isaías 6:5). 
O senhor nos ilumina com sua graça e vamos reconhecendo nossos pecados contra Deus e os irmãos; então clamamos a misericórdia do senhor. Éramos cegos e agora vemos. “Ele então exclamou: Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim! Os que vinham na frente repreendiam-no rudemente para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais forte: Filho de Davi tem piedade de mim! Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Chegando ele perto, perguntou-lhe: Que queres que te faça? Respondeu ele: Senhor, que eu veja. Jesus lhe disse: Vê! Tua fé te salvou.” (São Lucas, 18:38,42). O Senhor é bom e eterna é a sua misericórdia; ele não cansa de nos tirar da terra do Egito. Como é bom saber que o Senhor nos ama, nos guarda e nos guia pela mão como um Pai! Como é bom saber que somos perdoados! “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã.” (Isaías 9:1,3). Nosso fardo fica leve e descansamos no Senhor. Ele nos purifica e edifica, nos dá gratuitamente como alimento seu próprio corpo e seu sangue puríssimo: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.” (São João 6:51). 
Não há um bem na terra, prazer ou poder que possa substituir a alegria de se viver em comunhão com o Príncipe da Paz: “Verdadeiramente, um dia em vossos átrios vale mais que milhares fora deles. Prefiro deter-me no limiar da casa de meu Deus a morar nas tendas dos pecadores.” (Salmo 83:11). 
Para encerrarmos esta reflexão, peçamos a Deus de coração sincero para que cada vez mais nos entreguemos a ele, que o Senhor nos molde segundo sua vontade. “E, no entanto, Senhor, vós sois nosso pai; nós somos a argila da qual sois o oleiro: todos nós fomos modelados por vossas mãos.” (Isaías 64:8). 

Autoria: Lucas Diego Ganzella da Silva.
Imagem retirada da internet.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

POEMA EM LINHA RETA


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolados os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem [pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, num sofreu um enxovalho,
 Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos.

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo na terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil, 
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa

FÉ INSENSÍVEL


"Mas do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR: Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui! Então lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho" (Gênesis 22.11-12).

Fé é uma realidade de fato sublime. Não é obra humana, é obra divina. Não é atividade intelectual, mas espiritual, invisível, sendo ela própria matéria de fé. É necessário que se creia na fé. Ela é objeto de si mesma. 
Lutero ensina que o cristão está oculto de si mesmo: "Esse ponto (creio em uma santa Igreja Cristã) é um artigo da fé como os outros. Por isso, intelecto nenhum pode reconhecê-lo, ainda que bote um monte de óculos, pois o diabo pode muito bem encobrir a Igreja com escândalos e divisões, de modo que só podes mesmo ficar indignado com ela (...). Da mesma forma, também o cristão está oculto diante de si mesmo, de modo que não enxerga sua santidade e virtude, mas somente percebe desvirtude e falta de santidade em si mesmo".
O cristão é definido pela fé no Evangelho. Mas ele próprio não sente tal fé e é obrigado a crer nela. Que complexidade há na fé, que torna a vida do cristão tão difícil?
Gostaria tanto que os conceitos que estão plantados em minha mente pudessem ser chamados de fé! Gostaria tanto que o conteúdo da Confissão de Augsburgo pudesse ser apropriado por mim como fé! Mas não é o caso. Fé é algo sublime, assaz misterioso. 
Por outro lado, ela nunca nos deixa na mão. Nos momentos de aflição ela intervém em nosso socorro. Então nos tornamos cônscios de sua existência.
Abraão foi provado por Deus, que lhe ordenou o sacrifício de seu único filho, Isaque. Abraão pegou o menino e, resignadamente, levou-o para ser imolado, conforme Deus havia ordenado. Quando estava para consumar o ato, Deus o impediu, afirmando-lhe: "AGORA SEI que temes a Deus".
Como assim: Agora sei? Deus não sabe de todas as coisas? Sim, ele sabe. Conhecia muito bem a fé de Abraão. Mas Abraão a conhecia? É certo que não.
Quando Deus prova a fé, ele está nos provando que temos fé. Essa informação preciosa não lhe diz respeito, mas a nós. 
Toda vez que peco e corro a Deus atrás de misericórdia, confiante nela. Toda vez que recorro a Deus com lágrimas nos olhos, implorando por socorro. Toda vez que sou tentado ao desespero, mas resisto a essa tentação e escondo-me em Deus. Toda vez que perco o sono e, perturbado, dirijo o meu olhar ao céu, em busca de uma resposta. Toda vez que me derramo em poesias tristes, por meio das quais eu oro a Deus. Toda vez que me aproximo do corpo e do sangue do Senhor ciente de minhas indignidades, afligido pela consciência, mas certo que ele me ama e não haverá de me recusar. Toda vez que luto contra a carne, o mundo e o diabo. Sim, toda vez que despedaçado eu me dirijo ao meu Deus, como meu Deus, não a mim, como ídolo abominável. Sim, toda vez que me volto a Deus como única solução e rendo-me, minha fé se torna manifesta.
No entanto, a fé não se torna manifesta a mim. Ela se revela dinamicamente, como pulsão, de maneira que o mundo a constata de pronto, mas não eu. Por isso, a fé, antes de mais nada, é um testemunho ao mundo. Basta que nos lembremos da parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18.9-14). Eu duvido que o publicano tinha consciência de sua fé, mas todos que ouvem essa parábola não têm dúvidas de que ela existia.
Posteriormente, ao lembrar-me de minha postura frente à tribulação é que minha razão deduz a existência de fé em mim.
Portanto, para quem crê, a certeza da fé baseia-se em lembranças. O salmista recorre ao passado em busca de sua fé para poder ancorar-se nela nos momentos difíceis: "Lembro-me destas coisas - e dentro de mim se me derrama a alma -, de como passava eu com a multidão pelo povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa. Sinto abatida dentro de mim a minha alma; lembro-me, portanto, de ti, nas terras do Jordão, e no monte Hermom, e no outeiro de Mizar" (Salmo 42.4, 6).
A fé crê em si mesma. Ela é a "certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem" (Hebreus 11.1), porém é uma certeza inconsciente, da qual me aproprio com o tempo, através da recordação.
Exatamente por possuir tal natureza, a fé não é obra humana em absoluto. Como irei praticar uma obra inconscientemente? Muitos insistem na ideia de fé como obra. Então exigem fé para o Batismo e para a recepção de outras graças. Mas que fé é essa?
Então aparece o grande equívoco nosso: confundir fé com confissão.
São Paulo diz: "Porque COM O CORAÇÃO SE CRÊ para justiça e COM A BOCA SE CONFESSA a respeito da salvação" (Romanos 10.10).
A fé é obra de Deus em nosso coração, da qual não temos participação alguma, nem sequer consciência dela. A confissão, por sua vez, é ato deliberado, racional e intelectual. Inclusive somos preparados para fazer a confissão através de muito estudo. 
Assim, frequentemente quem confessa a fé não crê em coisa alguma. Por outro lado, muitos que confessam não ter fé, tem-na abundantemente. A própria experiência nos revela quão falsa pode ser uma confissão. Quantas vezes ela foi imposta ao homem, ao longo da história! Não se deve dar crédito à confissão. Ela sim é obra humana e pode falhar. Portanto, quem insiste na fé como pré-requisito para o Batismo está, na verdade, insistindo não na fé, mas na confissão, que é uma obra humana. O mesmo raciocínio vale para qualquer outra graça cuja recepção se pretende sujeitar à fé.
O Evangelho não deve ser proibido a quem o deseja, a quem o procura. Se a fé se manifesta como pulsão, deixemo-la agir conforme sua natureza e não exigir confissão alguma. Que venham todos os que se sentem cansados e sobrecarregados! A mesma fé que jogou Maria aos pés de Jesus, para ungir-lhe os pés, é a mesma que nos impulsiona à igreja, a fim de que recebamos a salvação.
Também não devo sujeitar minha participação dos meios de graça, que são: Pregação, Batismo e Eucaristia, à certeza de minha fé. Não posso depender de uma impressão e muito menos de uma convicção, para poder participar da bênção do Evangelho. Devo, sim, participar de tudo isso por obediência, porque Deus quer, porque eu quero. Esteja a fé onde estiver, preciso alimentá-la com o Evangelho, para que não morra de inanição.
Outro equívoco frequente entre nós é quando novamente transformamos a fé em obra humana, reduzindo a fé que salva à aceitação intelectual de um corpo doutrinário que se chama confissão. O assentimento intelectual com qualquer confissão não é fé salvífica. Por isso, é tolice achar que minha confissão de fé me torna cristão e salvo. Fosse assim, fé poderia ser ensinada por argumentação humana, quando S. Paulo declara: "A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana e sim no poder de Deus" (1 Coríntios 2.5). Não, a fé que o salva você não vê nem sente; quando muito, recorda-se dela. 
Embora haja muitas confissões cristãs, as palavras de S. Paulo continuam firmes: "há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo" (Efésios 4.5). Fé invisível, insensível, inexprimível, porém firme, criada e preservada pelo próprio Deus, através do Evangelho.
Que coisa sublime é a fé! Sendo obra de Deus nos cristãos, ela passa por cima de nossas limitações, incompreensões e intolerâncias, irmanando-nos todos, fazendo-nos cristãos iguais, não importando a doutrina que nosso intelecto confessa. Essa fé nos torna igualmente justificados e igualmente salvos. Essa fé nos torna um só corpo. Então concluo que a fé salvífica não torna o conceito de "cristão" complexo, mas o simplifica grandemente!
Minha opinião é que muito de nossas meninices e desacordos é que até hoje não sabemos o que é fé.
Entretanto, consolo-me na consciência de que, embora não saiba exatamente o que seja fé, nem a sinta, nem saiba onde ela está, eu a possuo. Caso contrário, eu não estaria louco de vontade que domingo chegue, para que possa receber o perdão dos pecados, a Pregação e o Sacramento. Não é o meu intelecto que me faz deleitar-me nos átrios do Senhor; ah não é mesmo!



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.



sábado, 14 de novembro de 2015

O CREDO PAULINO


"Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo; vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és mais escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus" (Gálatas 4.3-7).

Esta semana foi cansativa para todos nós. Vivemos em um mundo desgraçado, onde a morte impera, ocupando um lugar que Deus antes ocupava. Paris está em terror, nós estamos em terror, porque nenhum problema está longe de nós, como quer a nossa individualidade. 
Então nada como o Evangelho para poder refrescar uma alma reclusa numa carne maldita, em um mundo maldito, onde os mortos estão sepultando seus mortos e ainda se sentem muito vivos, capazes e sábios, tão grande é o estado de alienação que se apoderou do homem sem Deus.
São Paulo é formidável em sua capacidade de informar em poucas palavras o que não conseguiríamos informar em milhares. Se ele vivesse em nosso tempo, se alguém como ele existisse entre nós, certamente usaria muito bem o Twitter, com seus 140 caracteres.
Em somente 5 versículos ele resume toda a Escritura, toda a história da salvação humana, toda a doutrina cristã. Quem não leu a Bíblia inteira, leia. Mas enquanto isso, permaneça com estes 5 versículos, pois eles irão muni-lo de tudo o que a Escritura tem.

"Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo".

A queda de Adão é também a nossa queda. Ninguém, exceto Jesus Cristo, nasceu sem pecado. O pecado nos é inato, dele não escapando nem um ser humano sequer.
Esse pecado perverteu toda a nossa natureza, pondo-a para morrer. Desde o primeiro pecado o homem começou a morrer em corpo e alma, em todas as suas faculdades: razão, sentimentos, justiça, conhecimento de Deus, conhecimento da lei ou da moral. Esse processo foi desencadeado pelo pecado, ocorrendo exclusivamente por vontade do diabo e do homem, não tendo Deus participação alguma nele, senão permissiva.
Esse processo de morte é perene, não terá fim. Quisera eu que o pecado e a corrupção que lhe é consequente terminassem com a morte, mas não é este o caso. O pecado está em nossa concepção, em nossa morte e perdura após ela, sempre matando, sempre matando e sempre matando.
O homem está com sua consciência tão alienada pelo pecado que não consegue se reconhecer pecador. Identifica os pecados exteriores, grosseiros, que todos veem, dos quais até a natureza, as árvores, rios e mares são testemunhas. Mas é raso em sua percepção do pecado interior, não conseguindo identificar em si mesmo o amor próprio, a soberba, a inveja, a luxúria e tantos outros males que o isolam, minam sua alegria e o matam silenciosamente.
Para retirar o homem desse estado de alienação, Deus nos entregou a Lei, através de seu servo Moisés.
Embora haja pessoas que buscam na Lei sua santidade, ela não foi entregue a nós para isso. Ela serve ao propósito de Deus de nos ajudar a identificar o nosso pecado, a vê-lo com maior clareza. É então que, quanto mais nos tornamos cientes de nosso pecado, mais escravos dele nos sentimos. Portanto, a Lei nos torna servos de nós mesmos, de nosso pecado e dos "rudimentos do mundo"

"Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei".

Deus é eterno e não está sujeito ao tempo, mas milagrosamente atua no tempo. Sua boa obra ocorre sempre na "plenitude do tempo", ou seja, no tempo certo. Queremos que sua obra ocorra em nosso tempo e angustiamo-nos com as aparentes demoras, mas a vontade de Deus sempre irá se cumprir na "plenitude do tempo". Mas antes de se falar em "plenitude do tempo", é importante lançar um holofote sobre a palavra "vindo", que nos arremete a outra palavra: cumprimento. 
As pessoas de hoje não querem mais pensar no Juízo Final, como antes faziam, mesmo os pagãos. As pessoas de hoje vivem como se tudo isso não fosse terminar um dia e andam por aí seguras, displicentes, com seu coração duro, fechado, egoístas, desprezando a ideia de fim. 
Deus cumpre o que promete, sempre na "plenitude do tempo". O fim de muitos e começo de tantos outros já foi prometido e será levado a cabo na "plenitude dos tempos".
Neste versículo S. Paulo fala do envio do Filho de Deus, que nasceu de uma mulher. Aqui está o mistério da encarnação de Deus explicitado de maneira dramática: "nascido de mulher".
Deus Filho assumiu a nossa natureza de maneira definitiva. Não é mais Deus do que homem. Deus e humanidade penetram-se na pessoa de Jesus Cristo. Essas duas naturezas não estão justapostas, mas entranhadas uma na outra, de maneira que não há mais humanidade que não seja divina, nem Divindade que não seja humana. Para mostrar isso de maneira clara, São Paulo não diz que a humanidade de Jesus nasceu da mulher, mas que o próprio Filho de Deus, ou seja, Deus mesmo, nasceu dela, de maneira que essa mulher, que se chama Maria, é verdadeira mãe de Deus. 
O ventre de Maria foi o lugar humilde que Deus escolheu para realizar seu maior milagre. Deus recebeu do corpo dela sua humanidade e penetrou essa humanidade de maneira inefável.
Não dá para refletir sobre esse mistério sem lágrimas. Deus se tornou homem através da participação humana. Poderia ter-se humanado de outra maneira, mas quis humanar-se a partir do corpo de Maria.
A pequena virgem de Nazaré representa nossa fragilidade, da qual Deus quis tomar parte, retirando dessa fragilidade a sua. Ele não criou para si uma fragilidade, mas tomou para si a nossa própria.
Por isso, Maria é mãe de Deus, não somente do homem Jesus. São Paulo quer enfatizar o mistério da humanação de Deus ao afirmar que Maria não é mãe do homem Jesus, mas do FILHO DE DEUS. Ele não permitiu a redução do milagre.
Mas por que Deus assumiu a sua fragilidade a partir de nossa fragilidade? Exatamente para ser verdadeiro filho de Adão, como todos nós. Por isso S. Paulo diz que Deus nasceu "sob a Lei", como qualquer filho de Adão, como qualquer pecador. 
Deus nasceu sem pecado, porém sob a Lei, esta mesma Lei que nos acusa de pecadores e que nos ameaça de condenação eterna. 
Que propósito a Lei cumpriu no Deus humanado? Ele não tinha pecado, pelo qual pudesse ser acusado, amedrontado e punido. É que ele assumiu nosso pecado como seu e sujeitou-se à Lei para ser acusado, amedrontado e punido por ela, como representante nosso. Sua paixão, morte e inferno revelam com que rigor a Lei o atingiu. 
Quisera eu - e muito mais Deus - que nenhum de nós tivesse que encarar a Lei, como o Deus humanado, Jesus Cristo, fez. Mas quem não for encontrado em Cristo terá que prestar contas à Lei.


"Para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos".

Deus não é Pai de diabos, mas de seu dileto e unigênito Filho. Esse Filho se tornou humanidade a fim de tornar a humanidade Filha de Deus.
Que escandaloso é pensar que Deus se tornou homem a fim de nos tornar Deus! Mas é a mais pura verdade. Ele assumiu nossa humanidade para torná-la o que ele é: Filho de Deus, ou seja, Deus mesmo. 
É assim que Deus nos retira do inferno e nos põe à sua destra. Eleva-nos de nossa baixeza até o mais excelso Céu.
Aquilo que o diabo tanto desejou: ser Deus - Deus nos proporciona através de sua humanação, exigindo somente a fé para participação desse milagre; fé que ele mesmo dá de graça.
Então entendemos com que fúria o diabo se volta contra o homem, tentando apartá-lo da humanidade de Deus.


"E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu filho, que clama: Aba, Pai!"

Aqui São Paulo revela de vez o mistério da Santíssima Trindade, da qual tomamos parte, através da filiação. Deus enviou seu Filho para humanar-se e elevar nossa humanidade - sim, eu e você - até ele, para depois nos encher de seu Espírito Santo, que através de nós ora: Aba, Pai!
Aqui percebemos a participação da Trindade inteira na salvação humana.
"Aba" significa Pai, mas tem uma conotação de intimidade, como "papai". Veja o carinho e intimidade com que o Espírito Santo se dirige ao Pai. Quanta ternura encontramos dentro da Santíssima Trindade! Mas o que me comove é que estamos lá dentro, porque o Filho de Deus, que também é homem - sim, eu e você - está lá. Deus Espírito Santo, que nos habita e ora através de nós, está lá. Uma relação de amor que, antes da encarnação do Filho, ocorria unicamente através da Divindade dessas três Pessoas, agora ocorre entre elas através de nossa humanidade. 
Quanto valor Deus dedica ao homem! Como o homem lhe é precioso! Então vejo as pessoas se perdendo, destruindo-se, comendo bolotas de porco e entristeço-me, porque elas poderiam ter tudo, porque Deus é tudo! mas não sabem nem querem.
Tendo-nos recebido como Filho, através de seu Filho, enviou Deus seu Espírito Santo para destruir de vez o Adão que ainda existe em nós e configurar-nos à humanidade de Cristo. Por isso a realidade humana se encontra simultaneamente dentro do tempo e fora dele. Dentro do tempo, onde o Espírito Santo transforma, purifica e configura. Fora do tempo, em Jesus Cristo, que está à destra do Pai. Por meio de nossa humanidade, o Espírito se dirige ao Pai em louvor, dizendo: "Aba, Pai!" Louva a Deus Pai através de nossa filiação. Assim, um sentimento eterno se encarna em palavras de carinho.
Este é o verdadeiro louvor: o carinho. Esse louvor é Deus Espírito Santo que produz em nós, no tempo. É ele quem ora através de nossos lábios: "Pai nosso, que estás nos céus". E o Pai ouve o que sai de nossos lábios como obra e louvor do Espírito Santo.


"De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro de Deus".

Quantos filhos precisam saber que podem, através de Jesus, tornar-se Filho, não um servo!
Quando a Lei vem dar com o homem e este lhe é passivo, o homem é assombrado por si mesmo, por seu pecado e então lembra-se de seu Pai, mas não como Pai; antes, lembra-se dele como Senhor e quer servi-lo como escravo. Conclui que é melhor ser escravo de Deus que ser escravo do pecado.
É então que o Evangelho socorre o homem, surpreendendo-o com a dádiva da filiação. Quando o homem contrito se volta para Deus, Deus corre até ele como seu Filho amado.
A razão humana não entende isso, porque tudo isso se dá através do mistério de Cristo e é apreendido unicamente pela fé. Então a razão é o "irmão mais velho", que não entende a postura de Deus em relação ao homem caído e critica-o. A razão reclama não ter conseguido por meio de obras um cabrito sequer para alegrar-se com seus amigos. Deus então lhe responde amorosamente: "tudo o que é meu é teu". É como se Deus dissesse à razão humana: "Eu me doei ao homem, derramei-me nele, sou dele, sou ele, mas você não aceita isso, não aceita meu amor, quer negociar o que sempre quis lhe dar de graça. Não era necessário que me servisse para obter algo de mim; bastava ter pedido".
É dessa maneira que a parábola do filho pródigo (Lucas 15.11-32) me visitou agora.
Somente no Evangelho encontramos Deus, que é a Verdade e a Vida. O tempo está passando, o homem está morrendo e um dia o convite do Evangelho irá cessar. É certo que tudo irá passar, com exceção de Deus e de quem se encontra nele.
Como de costume, quero concluir com Dr. Martinho Lutero: "O homem é homem até que seja feito Deus, único que é exclusivamente verdadeiro, em cuja participação ele próprio também é feito verdadeiro" (Comentário do Salmo 5). 
Amém!



Autoria: Carlos Alberto Leão
Imagem extraída da internet



sábado, 7 de novembro de 2015

NASCI EM UM TEMPO


"Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido - sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeça de animais.
Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comumente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia. 
A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia do modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstração do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo sutilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.
Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito às leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como débeis do entendimento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida.
Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objetividade ao prazer subjetivo da leitura. 
Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma fez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde.
Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incômodo. Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para se distrair, sem mais nada.
Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também". Fernando Pessoa

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

FÔLEGO


Hoje é dia de finados, mas acordei com uma vontade de viver! O que a morte tem que nos faz querer viver tanto? Quero comer, beber, respirar fundo, ler, dançar, pular, rolar; quero me esbaldar. Tudo o que é vida eu quero. Neste dia de finados, minha vontade é celebrar a vida.
Vida é algo tão precioso que ninguém quer abrir mão dela. A vida não foi feita para ser guardada, nem sequer em nós mesmos. A vida é livre, furtiva, escorregadia, voa, nada, ultrapassa, evapora, é como o pensamento. Tem a força da cachoeira e das ondas do mar, porém a sutileza do ar, ou melhor, a sutileza da alma. É tão teimosa que nem a morte pode com ela. Nem o mundo pode com ela. Nem o universo a contém. Nem a infinitude lhe põe limites. 
Quando está à vontade, sai pela avenida como linda porta-bandeira, espalhando sorrisos, brilhos e plumas. Quando é ameaçada, esconde-se como a sombra. Se é mais ameaçada ainda, fluidifica-se, evapora-se, mas persiste. A mesma vida é tudo isso.
Quando há corpo, ela dança. Quando há somente boca, ela canta. Quando há somente olhar, ela brilha. Quando não há sequer olhar, ela é quente. 
Quando acolhida, ela fica. Quando limitada, ela supera. Quando ameaçada, ela enfrenta. Quando perseguida, ela foge. Quem pode conter a vida?
Ela é nossa contradição. Toda pessoa que entra em contradição está resistindo à vida, pois todos a queremos, ainda que neguemos isso. Instintivamente, ESSENCIALMENTE a queremos. Amar a vida é ser homem. Os animais vivem, mas não amam a vida. O que nos torna humanos é o desejo de viver. Esse desejo só não existe em quem se des-humanizou ou foi des-humanizado. Mas como é impossível des-humanizar-se por completo, mesmo o suicida, que já não se sente mais humano, ainda é humano e ainda quer a vida. O que lhe resta de humanidade é desejo de viver.
Ninguém quer destruir sua vida. O problema é que nós queremos destruir a vida dos outros. Queremos decidir se a vida do outro deve continuar ou não, se ela vale a pena ou não. Mas a vida é um bem social. O ser humano é, antes de tudo, social. A Humanidade é social. Toda vez que alguém investe contra a vida do outro, seja este outro um pobre, um refugiado de guerra, um presidiário ou um simples embrião, toda a Humanidade perde um pouco de sua vida.
As múmias de Pompeia morreram abraçadas. Nós também vivemos ou morremos abraçados. Sempre foi uma questão de escolha.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

AUTOFAGIA


Divindade entre nós
que se revela no fôlego
que se revela na súplica
que se revela nas lágrimas
que se revela no suor
que se revela na insônia

Divindade entre nós
que se revela no ar puro
que se revela no vento
que ao correr entre as folhas
produz harmonioso som
irreprodutível
único

Divindade entre nós
que alimenta
que conduz
que passa
através do passageiro rio

Divindade entre nós
que se revela em
brincalhonas formas
cores e matizes
sons e texturas
sabores

Divindade entre nós
oculta na escuridão do útero
na escuridão da placenta
na escuridão do sangue
na escuridão da vida

Por que não te queremos
se és tão bela?
Por que te perseguimos
se és a nossa vida?



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

domingo, 1 de novembro de 2015

TRÊS COISAS QUE TEMOS A ENSINAR


"Como poderia eu, pobre e fedorenta carcaça que sou, vir a ter os filhos de Cristo chamados pelo meu nome horrível? Assim não, meus amigos; vamos deixar de nomes partidários e chamar-nos cristãos, segundo Aquele cujos ensinamentos nós temos" (Dr. Martinho Lutero).

Não há outro modo de entender por que nós, luteranos, ainda existimos, senão por milagre de Deus. Afinal, o que é ser luterano? Dr. Martinho Lutero repudiou essa designação e com razão, até porque a primeira pessoa a usá-la foi um ferrenho inimigo seu, João Eck, com o intuito de desmoralizá-lo.
Fomos desertados pela Igreja de Roma. Obviamente, a contragosto. Deus é testemunha do quanto lutamos para preservar a unidade da Igreja. Quase 10 anos após a excomunhão de Dr. Martinho Lutero, ainda estávamos dispostos a aceitar o papa e a cúria, desde que nos fosse assegurado o direito de pregar o Evangelho em nossas paróquias, conforme declara a Apologia: "Assim, a crueldade dos bispos é a razão por que, em alguns lugares, se dissolve aquela ordem canônica que muito DESEJÁVAMOS MANTER. Além disso, queremos aqui testificar mais uma vez que, de boa mente, CONSERVAMOS A ORDEM ECLESIÁSTICA E CANÔNICA, SE OS BISPOS TÃO SOMENTE DESISTIREM DE RAIVAR CONTRA NOSSAS IGREJAS". Portanto, fomos enxotados da Igreja de Roma, embora quiséssemos ter permanecido nela.
Também não pudemos nos aliar aos suíços e anabatistas, devido a sérias divergências teológicas, sobretudo no que diz respeito à compreensão do que é Evangelho, da pessoa de Cristo e dos sacramentos.
Então esta Igreja sem nome, como filha abandonada, permaneceu viva e está viva até hoje. Não somos católicos romanos, não somos católicos ortodoxos, nem protestantes. Somos Igreja ou cristãos. Por outro lado, entendemos que não somos mais Igreja ou cristãos que os católicos romanos, católicos ortodoxos e protestantes.
Por isso afirmo que é um milagre ainda existirmos. Deus quer que permaneçamos, que não nos silenciemos, por isso vem nos conservando ao longo dos séculos.
Não que ser simplesmente Igreja seja pouca coisa. Não, ser Igreja é tudo. Temos o Evangelho, o ministério das chaves, os sacramentos e a fé salvífica. Nada nos falta. Fomos desertados pelo papa, mas não por Cristo, que nos deixou tudo o que sempre foi nosso, graças à sua bondade infinita.
Mas  por que Deus conserva essa Igreja sem nome no mundo? Nós já deveríamos ter sucumbido há muito tempo, porque a Igreja de Roma foi reformada pelo Concílio de Trento, as igrejas reformadas possuem confissões poderosíssimas, também não nos consideramos detentores da verdade, de maneira que uma Igreja sem eira nem beira, que nem nome tem, deveria ter cedido lugar a formas mais consolidadas de Igreja.
É então que devemos nos voltar à nossa Confissão de Augsburgo e à preciosíssima Fórmula de Concórdia. Somos uma Igreja sem nome, sem eira nem beira, que aos olhos humanos poderia muito bem deixar de existir, sem que isso interferisse na salvação humana, mas nós possuímos dois tesouros: a Confissão de Augsburgo e a Fórmula de Concórdia. Temos muito o que ensinar a quem deseja ser um católico romano melhor, um católico ortodoxo melhor ou um protestante melhor.
Você pode ser cristão de qualquer confissão, mas há três coisas que você NECESSARIAMENTE tem que aprender conosco para ser um cristão melhor. Talvez seja essa a vocação de nossa Igreja sem nome.
Aqui não nos colocamos como mestres arrogantes. Nós também estamos aprendendo com Jesus a sermos cristãos melhores. Pode ser que Jesus também lhes advirta, a nosso respeito: "Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem".
PRIMEIRA COISA QUE TEMOS A ENSINAR: JUSTIFICAÇÃO SOMENTE PELA FÉ.


"Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo" (Romanos 5.1).
Justificação significa tornar-se justo. A questão é: terei que colaborar com Deus em minha justificação ou serei passivamente justificado por ele? Nós aprendemos com S. Paulo que a justificação não depende de nós em absolutamente nada. Somos declarados justos a partir do momento em que cremos. Essa justiça que nos é aplicada vem de Cristo. Ele sim é justo. Nossa justiça provém inteiramente dele, porque ele nos representa perante Deus Pai. Tudo o que Cristo realizou de bom neste mundo foi realizado por nós, em nosso lugar, porque ele nos substituía perante Deus. Logo, toda a justiça e os méritos que temos são a justiça e os méritos de Cristo.
São Paulo enfaticamente nega a participação de nossas obras em nossa justificação. Ele afirmou: "E é assim que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus ATRIBUI JUSTIÇA, INDEPENDENTEMENTE DE OBRAS" (Romanos 4.6). Também: "Concluímos, pois, que o homem é justificado PELA FÉ, INDEPENDENTEMENTE DAS OBRAS DA LEI" (Romanos 3.28).
A própria experiência também nos ensina isso, desde que sejamos muito honestos. Pegue sua melhor obra, a coisa mais grandiosa que você julga ter feito na vida. Você tem coragem de apresentar essa única obra a Deus como sendo perfeita? Eu acredito que não. Ninguém tem essa coragem.
Então tome para si a justiça de Cristo e desista da sua. Não queira colaborar em sua justificação com uma obra sequer, porque essa única obra impedirá que Cristo seja sua justiça inteira; essa única obra lhe conduzirá ao inferno.
Alguém poderá dizer que a fé é obra humana. Bem, o Catecismo da Igreja Católica afirma isso (parágrafo 154). Nós, porém, sustentamos que a fé é obra de Deus em nós e sem nós. A fé não deve ser compreendida como atividade intelectual, como os romanos o fazem, mas espiritual e invisível (Gênesis 22.12; Romanos 10.9-10; 1 Pedro 1.6-7). São Paulo nos ensina que a fé é dom de Deus (Efésios 2.8) e "Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar" (Filipenses 2.13). Jesus é chamado pelo apóstolo de  "autor e consumador da fé" (Hebreus 12.2). 
Da verdadeira fé procede a verdadeira justificação. Da justificação provém toda a sorte de boas obras. Por isso mesmo S. Paulo afirma "querer" e "realizar". "Querer" é fé, enquanto que "realizar" corresponde às boas obras. Primeiro Deus nos torna uma boa árvore, para que depois frutifiquemos. Então começa nossa segunda justificação, que é fruto da primeira. Sou tornado justo para praticar obras de justiça.
SEGUNDA COISA QUE TEMOS A ENSINAR: CLARA DISTINÇÃO ENTRE LEI E EVANGELHO.


Isso parece ser uma questão acadêmica, sem nenhuma importância prática. Entretanto, é fundamental que saibamos distinguir Lei e Evangelho, bem como enaltecer ao máximo o Evangelho, não permitindo jamais que fique em pé de igualdade com a Lei. Caso contrário, cairemos no erro das obras e teremos uma consciência permanentemente assustada, sem nenhuma certeza de salvação.
A Lei foi colocada por Deus no coração de todo homem, por isso é chamada de Lei natural (Romanos 2.14-16). Essa Lei natural atua por meio da consciência, que nos acusa quando erramos. Como, porém, fazemos vistas grossas a essa Lei, devido ao pecado, Deus nos deu a Lei sob a forma de ordenanças e ameaças, através de Moisés. Ela nos ordena o que não podemos cumprir, em decorrência do pecado, depois ameaça terrivelmente quem não a cumpre.
São Paulo deixa claro que a Lei não foi dada para salvar, mas que "foi adicionada por causa das transgressões" (Gálatas 3.19) e "sobreveio a Lei para que avultasse a ofensa" (Romanos 5.20). Portanto, Deus deu a Lei a Moisés para que o povo de Israel, ao perceber sua inaptidão para obedecê-la, aprendesse o quão atolado estava no pecado.
De fato, a Lei vem nos mostrar o quão pecadores nós somos, que não amamos a Deus de todo o coração, de toda a alma e de toda a força (Deuteronômio 6.5). Pelo contrário, amamos muito mais a nós que a Deus, mesmo quando realizamos as obras mais excelentes. Quando fazemos algo bom, não é por amor a Deus que obramos, mas por medo do inferno ou com vistas a alguma recompensa.
A Lei serve para nos despir de toda a hipocrisia, para nos deixar nus perante nós mesmos e perante Deus. Ela só cumpre seu propósito quando nos despe por completo de toda justiça própria. Se eu tiver uma obra sequer, com a qual tente cobrir minha nudez, a Lei deverá arrancá-la de mim, para me deixar totalmente nu perante Deus. É o que a Lei faz hoje e fará no Juízo Final. 
A Lei para nós, que somos pecadores, é ameaça, terror e triste sentença de morte. Não que a Lei seja ruim. Nós é que somos ruins e ela nos mostra o quão ruins nós somos e o que de fato merecemos da parte de Deus.
A Lei ordena, acusa e ameaça. Seu propósito é tão somente nos matar, através de nossa consciência. 
São Paulo declarou o seguinte: "Pela Lei vem o pleno conhecimento do pecado"(Romanos 3.20). Também chama a Lei de "ministério da morte" (2 Coríntios 3.7).
A Lei nos esbofeteia, açoita, crucifica e nos deixa perecer na cruz sozinhos.
Quanto ao Evangelho, ele não consiste de ordenanças, não acusa, não ameaça, não exige obediência. Evangelho é promessa. Estritamente falando, Evangelho é o próprio Senhor Jesus. Evangelho é a promessa de remissão gratuita dos pecados e vida eterna, dádiva de Deus aos mendigos, pão aos que têm fome de justiça, descanso aos que estão sobrecarregados de pecado. O Evangelho existe não para ser obedecido, mas crido.
Como Jesus também pregou a Lei, como lemos no Sermão da Montanha, muitos tomam essa Lei por Evangelho e concluem que o Evangelho é uma nova Lei dada por Deus para ser obedecida. Acham que a fé é um ato de obediência a Deus, uma obra humana. Que oferecer a outra face a quem nos esbofeteia, bem como perdoar antes de sacrificar, amar nossos inimigos ou orar a Deus em secreto são preceitos evangélicos que devem ser rigorosamente observados. Também deduzem ameaças do Evangelho. Percebemos isso claramente nos hinários de igrejas protestantes. Por exemplo: "A nova do Evangelho vem a todos avisar / do perigo grande e grave para quem se descuidar. / Salvai-vos desde já, não vos detenhais no mal; / não volteis atrás os olhos, pois vos pode ser fatal"; e: "Em Jesus confiar, / sua lei observar. / Oh! que bênção, que gozo, que paz! / Satisfeitos guardar tudo quanto ordenar / alegria perene nos traz. / Crer e observar tudo quanto ordenar; / o fiel obedece ao que Cristo mandar".
Deus quer nos matar através da Lei e nos ressuscitar através do Evangelho. Quer nos ferir através da Lei e nos curar através do Evangelho. Como disse o profeta Oseias: "Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará" (Oseias 6.1).
Como será feito isso se não soubermos exatamente o que é Lei e o que é Evangelho? Em última análise, a razão nos obrigará a observar a velha Lei disfarçada de Evangelho e, assim, continuaremos sob seu jugo, obedecendo por esforço e sofrimento, não livremente e por amor, como pessoas redivivas.
Esta clara e teimosa diferenciação entre Lei e Evangelho é para nós uma profecia ao cristianismo de hoje, para que aprenda conosco e, inclusive, prossiga além de nós.
TERCEIRA E ÚLTIMA COISA QUE TEMOS A ENSINAR: A TEOLOGIA DA CRUZ.


Deus se revela ao homem de três maneiras: através da criação (Salmo 19.1), através da Lei natural (Jeremias 31.33-34) e através de Jesus Cristo (João 1.18; 5.39).
A razão humana aprende muito sobre Deus naquilo que está ao seu alcance: na natureza e no homem. No entanto, a razão está corrompida pela vaidade. A natureza geme sob o jugo do pecado e está totalmente disforme, aguardando sua redenção, conforme nos ensina S. Paulo em Romanos 8.19-23. Enquanto isso, a Lei natural nos mostra que somos pecadores perante um Deus santo e que estamos condenados.
Com todo esse material, dentro de suas limitações, provocadas pelo pecado, a razão humana constrói um Deus soberano, juiz severo, que ama e odeia na mesma proporção, que elege e rejeita; um Deus distante e intangível. Para relacionar-se com esse Deus, propõe o caminho da obediência. Ninguém consegue realmente amar esse Deus. Na melhor das hipóteses, ele suscita temor e servidão. 
A partir dessa visão racional de Deus são construídas as mais diversas teologias, todas enfatizando, em maior ou menor grau, a soberania de Deus, a nulidade humana e a obediência servil. Nós chamamos essas teologias de "teologias da glória". 
Novamente, encontramos essa ênfase em hinos clássicos. Por exemplo: "Deus dos antigos, cuja forte mão / rege e sustém os astros na amplidão! / Ó soberano, excelso Criador, / com gratidão cantamos teu louvor". 
Então perceba que nós mesmos e a natureza não somos bons informantes acerca de quem Deus é.
É então que surge a Teologia da Cruz. Aprendemos que o homem Jesus é a perfeita revelação de Deus. No homem Jesus aprendemos que Deus nos ama, que ele nos quer para si, que ele dá sua vida por nós. Através do homem Jesus, pudemos sentir o toque de Deus, seu olhar bondoso e seu hálito. Através do homem Jesus, fomos curados de nossas enfermidades, perdoados e restaurados. Através do homem Jesus, aprendemos que Deus não rejeita ninguém, que Deus chora, que Deus sinceramente se importa conosco, sobretudo com aqueles que nós mesmos rejeitamos. Através do homem Jesus, descobrimos que somos valiosos para Deus e objeto de sua infinita ternura. No homem Jesus pregado na cruz está a revelação máxima do amor de Deus por nós; amor este que não encontramos em nós mesmos, nem na natureza, pois estamos desfigurados pelo pecado. Com esse Deus humilde e amável, muitíssimo humano, não nos relacionamos através da obediência, mas através da fé e do amor legítimo.
Neste dia de todos os santos, queremos, como Igreja sem nome, portadora da Confissão de Augsburgo e da Fórmula de Concórdia, propor a todos os santos somente três maneiras de melhorar seu cristianismo.
Quem não ama, guarda consigo. Quem ama, reparte. Todo cristão deve ser como a mulher samaritana: deixar seu cântaro no chão e correr para a cidade, com o intuito de anunciar o que sabe.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagens extraída da internet.