quarta-feira, 24 de junho de 2015

A SABEDORIA DA DESISTÊNCIA




Sou uma pessoa muito teimosa. Herdei isso de minha mãe. Quando é com Deus, então, a coisa não muda. Ele sabe de minha teimosia. Quando quero muito algo, eu peço insistentemente a Deus, sem descanso nem trégua. Procuro conforto na parábola da viúva inoportuna (Lucas 18:1-8) e vou adiante com minha teimosia. 
Tenho percebido ultimamente que minhas orações são muito parecidas. Todas as manhãs, enquanto me dirijo ao trabalho, oro a Deus e apresento a ele sempre as mesmas súplicas. Quando vou comungar, levo a Jesus as mesmas petições. Não considero errado agir assim, porque estou teimando com a pessoa certa, que pode de fato mudar o rumo das coisas. Não estou teimando com homens, mas com o próprio Deus. Muitas graças eu já obtive de Deus mediante essa insistência.
O problema envolvido na teimosia é a falta de descanso em Deus. Muitas vezes me questiono se estou pedindo o mesmo que o Espírito Santo está pedindo em mim. Porque se minha vontade não for a do Espírito Santo, certamente não valerá insistência de minha parte. Também não quero que minha vontade prevaleça sobre a dele, porque ele me ama e me conhece muito mais que eu.
Dias atrás, enquanto tomava banho, envolvido por pensamentos acerca de questões íntimas, que insistentemente venho apresentando perante Deus em oração, fui visitado pela ideia da desistência. Mas como assim, desistência? Fiquei admirado comigo mesmo. Aprendi, ao longo da vida, que o cristão não desiste nunca e que deve permanecer em constante luta. Mas tenho aprendido a analisar o avesso das coisas. Qual o avesso da desistência? Ela é de todo ruim? 
Pois bem, eu acho que não. Eu não sei o que é melhor para mim. Também não quero permitir que minha vontade me oprima. Então vejo que a desistência muitas vezes alivia nosso fardo existencial. Quando eu desisto de algo, abro mão de minha vontade de vez, permitindo que Deus entre com a sua. 
Toda a minha história tem testemunhado que a vontade de Deus é sempre melhor que a minha. Da vontade de Deus nunca irei desistir. Muito pelo contrário, continuarei orando com fervor, diariamente: "Seja feita a tua vontade, assim na terra, como no Céu". Se não houver fervor, continuarei proferindo tais palavras mecanicamente, desafiando minha carne e o diabo, ciente que minha fé é oculta a mim mesmo. Vou continuar fiando da oração do Espírito Santo em mim, que ora segundo a boa vontade de Deus, continuamente, mesmo quando estou dormindo, trabalhando ou fazendo qualquer outra coisa (Romanos 8:26-27).
É da minha vontade que ando disposto a desistir. Se sou teimoso, outra característica minha é apreciar as surpresas. Estou me disciplinando a desistir de projetos meus em favor da surpresa de Deus. Quando me flagro desejando muito alguma coisa e me sinto desanimado pela demora de Deus em me atender, tenho procurado me consolar da seguinte maneira: "Eu já desisti. Por que ando dando voltas em torno disso?"
Bem, tomara que a oração de amanhã seja um pouco diferente da de hoje, porque se não mudar, eu juro que irei recorrer aos livrinhos de oração, até que saia dessa crise.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

sábado, 20 de junho de 2015

PRESENÇA





Tua presença me dói como ausência
Tua presença é saudade
Saudade do que não senti

Tua presença me dói como ausência
Tua presença é um ideal
Ideal do que não conheci

Tua presença me dói como ausência

Tua presença é dor
Dor de não sentir

Tua presença me dói como ausência
Tua presença é anseio
Anseio de não ser

Tua presença me dói como ausência
Tua presença é entrega
Entrega do sempre querer



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

domingo, 14 de junho de 2015

VASOS DE DESONRA



A questão da predestinação tem me incomodado muito nesses últimos anos. É que já professei uma das várias teses acerca dela e hoje não suporto mais ouvir falar disso. Confesso que todas as teses sobre a predestinação atualmente me horrorizam, por não encontrar nelas nada do Deus que se revelou em Jesus Cristo, nada do Deus que amo com todo o meu ser. 
No entanto, como luterano, não posso deixar de sentir algum desconforto ao rechaçar todas essas teses de vez, porque o próprio Lutero tinha a sua. Em sua obra Da Vontade Cativa, endereçada ao humanista Erasmo de Roterdã, ele deixa claro que Deus escolheu alguns para serem salvos, tendo rejeitado os demais. Fala que é próprio do Deus revelado convidar, chamar, entristecer-se, mas o Deus não revelado ou abscôndito nem sempre quer salvar. Vou deixar aqui alguns trechos da obra: 


"Mas se te agrada o Deus que coroa os indignos, também o que condena os que não merecem não deve te desagradar. Se ele é justo lá, por que não será justo aqui? Lá ele esparge a graça e a misericórdia sobre os indignos, aqui esparge a ira e a severidade sobre os que não o mereceram; em ambos os casos é desmesurado e iníquo aos olhos dos homens, mas justo e veraz consigo mesmo". "Assim não quer a morte do pecador, a saber, de acordo com sua palavra, mas a quer de acordo com aquela vontade imperscrutável". "Assim dizemos: o bom Deus não deplora a morte do povo que opera nele, mas deplora a morte que descobre no seu povo e que ele se esforça para afastar (...). O Deus abscôndito em sua majestade, porém, não deplora nem abole a morte, mas opera vida, morte e tudo em todos". "Do mesmo modo é próprio desse Deus encarnado chorar, lamentar-se e gemer por causa da perdição dos ímpios, embora a vontade da majestade divina deixe para trás e reprove propositadamente alguns, de modo que perecem. Não nos cabe perguntar por que ela procede assim, mas deve-se reverenciar a Deus que tanto pode como quer tais coisas".
Esta era a opinião de Lutero acerca da predestinação. Quanto à Fórmula de Concórdia, ela aborda a questão de outra maneira, bem mais cuidadosa: 



"Essa eterna eleição ou ordenação de Deus para a vida eterna também não deve ser considerada no conselho secreto e inescrutável de Deus tão nuamente como se nada mais compreendesse, ou como se nada mais a ela pertencesse, e nada mais houvesse de ser considerado nela, senão isso que Deus previu quem e quantos deveriam ser salvos, quem e quantos deveriam ser condenados, ou que apenas passou em revista assim: este deve ser salvo; aquele, não; este há de perseverar; aquele, não"; "e a essa vocação de Deus, que é feita mediante a pregação da palavra, não a devemos considerar burla, mas saber que, por meio dela, Deus revela a sua vontade, a saber, que naqueles que, dessa maneira, chama, ele quer operar pela palavra de forma que possam ser iluminados, convertidos e salvos"; "a causa, porém, de 'muitos serem chamados, mas poucos escolhidos', não é a vocação divina, que é feita por intermédio da palavra, como se Deus dissesse: exteriormente, por meio da palavra, deveras, chamo ao meu reino a todos vós a quem proponho a minha palavra; no coração, porém, não penso em todos, mas apenas em alguns poucos"; "assim, a santa Trindade inteira, Deus Pai, Filho e Espírito Santo, dirige todos os homens a Cristo como o livro da vida, no qual devem procurar a eleição eterna do Pai"; "a razão, entretanto, por que nem todos os que ouviram creem, sofrendo, por isso, condenação tanto maior, não é que Deus não lhes haja consentido a salvação. Eles mesmos são culpados nisso, eles, que ouviram a palavra não de forma que aprendessem, mas, unicamente, para desprezar, blasfemar e profaná-la, e resistiram ao Espírito Santo, que, neles, quis operar mediante a palavra, como no tempo de Cristo sucedeu no caso dos fariseus e seus asseclas".

Com todo o respeito que devo a Lutero, eu fico com a Fórmula de Concórdia e não vou arredar o pé dela. Eu cheguei ao ponto de meu itinerário em que é necessário vencer em mim esse ranço de predestinação, de uma vez por todas.
A razão quer respostas para as seguintes perguntas: Se a fé é dom de Deus, por que Deus não a concede a todos, para que sejam salvos? Se Deus é todo-poderoso, como pode alguém não ser salvo, se ele assim o quer? De questionamentos assim, surgiram as teses que tratam da predestinação e da expiação limitada, restringindo a um determinado número de pessoas a obra vicária de Cristo, bem como sua aplicação. Como nunca é demais racionalizar as coisas, surgiu a tese da dupla predestinação, duplamente odiosa, que assevera Deus ter criado alguns homens para a salvação eterna e outros para a perdição eterna, de maneira proposital. Não há doutrina mais grosseira do que essa, em todo o cristianismo! É maniqueísmo! É heresia! Ressalto que Lutero nunca pensou assim. Embora acreditasse que Deus escolheu alguns para salvar, nunca afirmou que Deus criou homens para a perdição eterna.
Deus quer salvar toda a humanidade. Não se encontra nas Escrituras um versículo sequer que demonstre o desejo de Deus de salvar somente alguns. Por outro lado, elas demonstram claramente o desejo de Deus que TODOS sejam salvos: "Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? - diz o SENHOR Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?" (Ezequiel 18.23). Com sincero pesar, Jesus clamou: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes"(Mateus 23.37). "Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pedro 3:9). 
É Deus quem nos chama e salva, através da fé, que é obra exclusiva dele em nós e sem nós. Quando a Bíblia fala em predestinação ou eleição, ela se refere ao modo pelo qual Deus estabeleceu a salvação: não por obras, não por mérito, não por iniciativa humana, mas unicamente por sua graça, que outorga a fé. É Deus quem sempre quis, não nós. Nesse sentido devemos entender a eleição de Deus e parar por aí. 
Na verdade, predestinação é um grande mistério, que S. Paulo só mencionou para que não nos sentíssemos responsáveis por nossa salvação, nem colaboradores de Deus. A verdadeira predestinação é de TODO incognoscível, conselho do Deus abscôndito, o qual não conhecemos e jamais iremos conhecer, a não ser que nos tornemos iguais a ele. A verdadeira predestinação não cabe em nenhuma tese, em nenhuma confissão e em nenhum papel.
Como me assusta a ousadia do homem em tentar investigar esse Deus abscôndito! Essa investigação se torna ainda mais perigosa (e até sacrílega) quando ela atinge verdades que Deus revelou com muita clareza, principalmente o seu amor incondicional pela humanidade, a sinceridade de sua vocação e a expiação de todos os pecados humanos. Deixamos de lado o Deus revelado em Jesus Cristo e voltamo-nos imprudentemente para o Deus abscôndito, filosofando sobre predestinação, dupla predestinação, supralapsarianismo, infralapsarianismo, expiação limitada e outras coisas mundanas, não satisfeitos até que transformemos Deus em um monstro, do qual todos devem ter pavor.
Ao debater com um humanista, Lutero infelizmente discursou como um humanista. Sabemos bem o quanto Lutero combateu o racionalismo teológico, mas ninguém está imune ao seu tempo, nem mesmo Lutero. Definitivamente, é inadmissível uma discordância de caráter e vontade entre o Deus abscôndito e o Deus revelado. Se é assim, não poderei confiar no que Cristo me revela e continuarei sem Deus algum. 
É então que, ao refletir honestamente sobre o assunto, como uma questão de vida ou morte, confesso que três capítulos das Escrituras me afligem e preciso vencê-los. Na verdade, eles mesmos não me atormentam, mas a interpretação que recebi deles, da qual não tenho conseguido me desvencilhar. Refiro-me aos capítulos nono, décimo e décimo primeiro da carta de S. Paulo aos romanos. 
Esses três capítulos são as principais armas usadas pelos defensores da dupla predestinação, sobretudo o nono. Por isso, vejo-me obrigado a reler com redobrada atenção esses textos, para que não me confunda mais e me livre desse estorvo para sempre.
Ele diz: "Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz" (9.18), para depois afirmar: "Porque Deus a TODOS encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com TODOS" (11.32). Portanto, a misericórdia de Deus continua sendo universal e temos que interpretar de outra maneira o que S. Paulo afirma no capítulo nono.
Ele diz: "Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?" (9.21). Em seguida, ele completa: "Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita LONGANIMIDADE os vasos da ira, preparados para a perdição?" (9.22). Ora, se Deus preparou vasos de ira para serem vasos de ira, não é de se esperar que ele os suporte "com muita longanimidade". Somente suportamos com muita paciência aquilo que contraria a nossa vontade. 
São Paulo fala sobre o endurecimento do coração como sentença de morte aplicada aos judeus que não creram (11.7). Eles são chamados de ramos quebrados da oliveira (11.17). Aos gentios que creram, São Paulo os chama de ramos de oliveira brava, que foram enxertados no lugar dos ramos quebrados. Depois afirma que esses mesmos judeus, que foram arrancados da oliveira, poderão ser enxertados de novo (11.23). Se foram preparados para a perdição eterna, como é que S. Paulo afirma que poderão vir a crer e ser enxertados novamente? Por outro lado, se os gentios crentes foram predestinados à salvação eterna, qual é o perigo que S. Paulo lhes apresenta de serem extirpados da oliveira (11.21)? De acordo com a doutrina da dupla predestinação, jamais um predestinado poderia ser extirpado, nem um réprobo enxertado de novo.
Com certeza S. Paulo escreveu esses capítulos após estudo de Isaías 45. Há muita semelhança entre o capítulo nono da carta aos romanos com esse texto do profeta. Pois no mesmo texto de Isaías, Deus clama: "Olhai para mim, e sede salvos, vós, TODOS OS TERMOS DA TERRA; porque eu sou Deus, e não há outro" (versículo 22). Novamente, Deus afirma sua graça universal, clamando a todos que olhem para ele (e isso só pode ser feito pela fé) e sejam salvos, indistintamente.
Portanto, este é o contexto que deve nos guiar, quando formos estudar os capítulos nono, décimo e décimo primeiro da carta de S. Paulo aos romanos: Israel se vangloriava de sua origem carnal, por ser descendente de Abraão. São Paulo vem advertir que Esaú também era descendente de Abraão e foi rejeitado por Deus. Portanto, não basta ser descendente de Abraão segundo a carne, é necessário crer. O que o povo de Israel rejeitou, ou seja, a salvação revelada em Jesus Cristo, os gentios vieram a aceitar, pela fé. Por isso, Deus deixou Israel. E quando Deus deixa, é certo que o coração se endurece de vez. No entanto, São Paulo ainda acena para a possibilidade de o povo de Israel vir a crer em Jesus Cristo e ser novamente aceito.
Também S. Paulo deixa claro que a salvação humana se dá pela fé na Palavra de Cristo. Os defensores da dupla predestinação parecem pular o capítulo décimo, que fala do anúncio do Evangelho como forma de suscitar a fé. Eles negam a necessidade dos meios da graça para outorga da fé, como, por exemplo, o uso salvífico do Batismo infantil. Basta uma criança ter sido predestinada à salvação que tudo está resolvido, com ou sem Batismo. Se, porém, uma criança não foi predestinada à salvação, de nada vale seu Batismo. Com isso, não é possível crer no Batismo, nem na Promessa contida nele. Igualmente com relação à Pregação do Evangelho. Ela é meio pelo qual Deus suscita a fé no coração dos predestinados, dizem. Ora, se Deus quer operar a fé através do Evangelho somente no coração dos predestinados, em última análise, não é o Evangelho que suscita a fé, mas a predestinação, baseada na qual o Espírito Santo age secretamente. Se é assim, São Paulo deveria, então, afirmar que a fé vem pela predestinação, não pela Pregação (10.17), ainda que um convite tenha que ser formalmente realizado. A Pregação do Evangelho se torna, então, mero convite, proclamas de casamento ou menos ainda. Cadê o poder de Deus que está em seu Evangelho?
Deus não salva o homem através de suas obras, mas unicamente através da fé, que ele mesmo opera misericordiosamente no homem. Quando S. Paulo diz que Deus usa de misericórdia com quem quer e endurece a quem lhe apraz, é importante que entendamos que Deus quer agir misericordiosamente com todos, embora possa endurecer a quem resiste obstinadamente à sua graça. Esse endurecer não é forçar ao pecado, mas deixar o pecador seguir seu próprio caminho de obras, pecado e desgraça. Ainda assim, São Paulo não deixa essa situação como definitiva, pois logo após falar de endurecimento, ele fala sobre a possibilidade de Deus enxertar de novo os ramos que havia cortado, caso viessem a crer. 
Ao ler sobre vasos preparados para desonra, é inevitável lembrar de um outro texto de S. Paulo em que ele fala de utensílios de desonra de maneira mais clara: "Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra" (1 Timóteo 2:20-21). São Paulo então diz que um vaso de desonra poderá tornar-se vaso de honra, através da justificação, que é pela fé. Deus não prepara um vaso para desonra com o intuito de deixá-lo eternamente assim. Esse Deus eu desconheço, sinceramente.
Concluindo, é próprio do homem resistir a Deus, devido ao seu pecado. Deus primeiro revela ao homem a dimensão de seu pecado, confrontando-o com a Lei. Nesse momento, o homem diz: "Eu não careço de misericórdia, porque sou bom". Caso alguém se curve perante Deus, reconhecendo seu pecado e precariedade, Deus imediatamente lhe oferece o socorro do Evangelho, da graça, da fé, para reerguê-lo. Mas ainda o homem tapa os ouvidos e diz: "Eu não acredito nessa misericórdia. Meu pecado é muito grande!". Alguns poucos, porém, vão-se deixando conduzir por Deus, passando por todas as etapas até chegar à fé. 
É no Deus que age assim que eu creio. Qualquer problema que ocorre entre o anúncio da Lei e a outorga da fé deve ser atribuído unicamente ao homem, não a Deus; nunca! Seja lá o que for predestinação, ela não poderá remover de mim a certeza que Deus é amor e jamais, sob hipótese alguma, será encontrado ódio ou falsidade em sua natureza (1 João 1:5).
Pronto! Agora sinto que posso virar esta página de minha vida e prosseguir. Não quero nunca mais voltar a esse assunto. Basta para sempre!

Lutero: "É perigoso querer perscrutar e compreender a divindade nua sem o mediador Cristo, pela razão humana, como o fizeram os sofistas e monges e como o ensinaram outros. A Escritura diz: "Não me verá o homem, e viverá"; e a fim de evitarmos tal perigo, foi-nos dado o Verbo encarnado, colocado num presépio e suspenso na madeira da cruz. Este Verbo é a Sabedoria e o Filho do Pai, e nos revelou qual é a vontade do Pai conosco. Aquele que, tendo posto de lado este Filho e segue suas cogitações e especulações, este se escondeu da majestade de Deus e desespera".





Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagens extraídas da internet.


sábado, 13 de junho de 2015

FÉ: O VERDADEIRO CULTO





A conversa de Jesus com a samaritana é um exemplo de como Deus atua na salvação humana. O relato dessa conversa está no Evangelho segundo S. João, capítulo 4.
Jesus dirigiu-se a uma mulher samaritana e lhe pediu água (versículo 7). Ela estranhou que um homem judeu lhe pedisse algo, porque judeus e samaritanos eram inimigos (versículo 9).
Assim Deus age na humanidade. Ele não faz acepção de pessoas e deseja que todos sejam salvos. Deus não é inimigo de ninguém, nem se distanciou de ninguém. Nós é que, por natureza, somos seus inimigos e nos distanciamos dele.
Deus quer também nos mostrar que é necessário que procuremos nossos inimigos para reconciliação. Não devemos esperar que nossos inimigos venham até nós, para que possamos perdoá-los. Deus é exemplo de perdão porque vai humildemente atrás de seus inimigos para lhes propor reconciliação.
Jesus disse àquela mulher o seguinte: "Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva" (versículo 10).
Aqui Jesus revela que a fé salvífica é dom de Deus e que ele a quer dar. É muito errado afirmar que Deus pretende dar a fé somente a alguns. Não concordo - embora em outros tempos tenha concordado - com a predestinação individual. Deus quer a salvação de todos. O único meio estabelecido por Deus para salvar é a fé, que ele dá, somente ele dá e ele deseja muito dar. "Se conheceras o dom de Deus", com isso ele fala acerca da fé. Ao dizer: "e quem é o que te pede", ele quer mostrar a natureza amorosa e reconciliadora de Deus. Com as palavras: "e ele te daria", quer mostrar a sinceridade de seu chamado, sua disposição em salvar a todos, indistintamente.
A razão humana, depravada pelo pecado, não aceita essa oferta de Deus. De maneira muito arrogante, a razão deseja ser nossa redentora. Como não produz fé, mas somente sabedoria carnal e obras, ela não admite que a salvação seja exclusivamente pela fé e esteja fora de seu alcance. A mulher samaritana imediatamente rebateu a oferta de Jesus: "Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado?"
Ela interpretou de maneira carnal o que Jesus disse e recorreu à autoridade de Jacó. Nós também fazemos o mesmo quando Deus nos chega com o dom da salvação. Nós relutamos, recorremos à sabedoria humana, interpretamos o que ele nos diz de maneira viciosa, querendo adequar suas palavras às nossas expectativas. 
Mesmo Jesus explicando com maior detalhamento a sua oferta de amor (versículos 13-14), a samaritana ainda insistia em sua interpretação carnal. No entanto, ela pediu algo que todos os incrédulos deveriam pedir: "Senhor, dá-me dessa água" (versículo 15).
Jesus respondeu: "Vai, chama teu marido e vem cá". Ele conhecia a sua história. Ela não tinha marido. Então Jesus deu seu último golpe: "Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade".
Deus quer nos mostrar o pecado que há em nós, cuja amplitude e gravidade nós recusamos aceitar, para que possa agir misericordiosamente conosco. É impossível ser misericordioso com alguém que não carece de misericórdia. 
Quando Deus nos mostra quem somos, é certo que uma crise muito grave se instala em nós. Assim como Adão e Eva, ao perceberem que haviam pecado, procuraram se esconder de Deus, nós fazemos a mesma coisa, quando descobrimos o nosso pecado e nossa miséria. A primeira reação humana é a fuga. No entanto, é impossível fugir de Deus. É então que o homem assassina Deus em seu coração, esconde-se em sua religião, em preceitos humanos, ou torna-se declarado inimigo de Deus.
A reação da samaritana foi se esconder na religião, em coisas exteriores (versículo 20). A mesma coisa muitos de nós fazemos, procurando preceitos religiosos como meio de apaziguar a vergonha que sentimos de nós mesmos.
Então Jesus disse a ela: "Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade" (versículos 22-23).
Deus quer que, diante do dilema do pecado, corramos até ele, para que seja nosso Deus. A única maneira de tocar Deus é através da fé. Somente a fé nos permite tocar a pele de Deus, abraçá-lo, sentir seu cheiro, ouvir sua voz e descansar em seu regaço. Somente a fé nos traz segurança e paz. Somente a fé adora a Deus "em espírito e em verdade". Nossa fé fabrica nosso Deus. Por isso, devemos pedir a Deus: "Dá-me dessa água". Porque sem fé, inevitavelmente iremos fabricar ídolos.
Como sempre, Lutero: "Ora, toda a Escritura diz que Deus é maravilhoso em todas as suas obras e o chama de fazedor de maravilhas. O mundo, no entanto, não o acredita, até que o experimenta. Cada qual inventa em seu coração um Deus conforme seu parecer: que Deus deverá agir desta ou daquela forma, prescrevem-lhe todas as palavras e obras às quais deverá se ater; (...). Eles não desistem de suas ideias e lavram e talham um Deus a seu gosto. Um monge fabrica para si um Deus que está sentado lá no alto e pensa: Quem observar a regra de São Francisco a esse darei a bem-aventurança. A freira o talha do seguinte modo: Se sou virgem, Deus é meu noivo. E o sacerdote: Quem oferece o sacrifício da missa e lê as horas, a este Deus quer dar o céu. Ninguém se lembra de que Deus escolheu somente a pedra angular rejeitada e que condena todos os seus compartimentos e construções".



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

SACRAMENTO DA UNIDADE




"O cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós formamos um só corpo, embora sejamos muitos, pois todos participamos do mesmo pão (1 Coríntios 10:16-17).

Aprecio muito esse texto bíblico. É impressionante a capacidade que S. Paulo tinha de exprimir com poucas palavras realidades tão complexas. Seus textos são assim: curtos e densos. Veja que em somente dois versículos ele apresenta de maneira muito abrangente e completa todo o mistério da comunhão dos santos, sobre a qual os cristãos escrevem textos enormes, sem chegar aos joelhos dessa percepção. 
Aqui S. Paulo nos ensina que a cristandade é una ("um só corpo") porque participa do mesmo pão. Esse pão do qual o cristão participa não é um pão espiritual, mas pão material, que é partido e comido. Esse pão não é comunhão com a divindade isolada de Cristo, porque não há Cristo puramente divino em lugar algum. Esse pão não é comunhão apenas espiritual de Cristo, porque S. Paulo nos deixa claro que é comunhão do "corpo" de Cristo.
Entretanto, não é propósito de S. Paulo defender, neste texto, a presença real do corpo e do sangue de Cristo. Aliás, ele não se dispôs a provar isso em texto algum. Tal realidade é para S. Paulo muito óbvia em seu conceito e muito inacessível em seu conteúdo. Qualquer pessoa que se propuser a explicar a presença real de Cristo na Eucaristia age de maneira desrespeitosa e não chegará a lugar algum, senão a uma opinião. A ênfase de S. Paulo está na realidade espiritual desse sacramento. É o sacramento da unidade, que nos torna "um só corpo". Quando recebemos o corpo e sangue de Cristo, nós recebemos Cristo inteiro, com tudo o que ele possui. Recebemos suas honras, sua glória, seus méritos, sua ressurreição, mas também sua desonra, seu vexame, seus pecados e sua morte. 
É que não podemos dissociar Jesus Cristo de sua Igreja. Ela é o corpo espiritual de Cristo (1 Coríntios 12:27) e noiva dele (Apocalipse 21:2). Tudo o que é da Igreja pertence a Jesus Cristo: suas dores, suas tristezas, sua vergonha, seu pecado. Tudo o que é de Jesus pertence à Igreja: sua alegria, sua paz, sua santidade. É impossível receber o corpo e sangue de Cristo sem receber com eles tudo o que Cristo contém. Portanto, quem participa do corpo material de Cristo igualmente participa de seu corpo espiritual, que é a comunhão dos santos, a Igreja. É assim que a participação material de Cristo nos conduz à sua participação espiritual. Como afirmou S. Paulo: "Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele" (1 Coríntios 6:16-17). 
Dias atrás, antes de comungar, lembrei-me de irmãos nossos que estão comungando o mesmo corpo e sangue de Cristo em acampamentos de refugiados. Estava eu disposto a comungar a dor e vergonha deles, juntamente com o Senhor? Será que eles estão comungando nosso amor, nosso pesar e nossas orações? Descobri, então, que nem a presença física me aproximaria mais de sua realidade do que participar do corpo e sangue de Cristo. Se estivesse fisicamente entre eles, eu sentiria sua dor e vexame, o que me levaria somente à solidariedade. É provável que OS ouviria com pesar, choraria e oraria COM ELES. Quando, porém, eu participo do corpo e sangue de Cristo, eu recebo a dor deles, mastigo-a, engulo-a, de maneira que ela se torna parte de mim. Não é mais dor alheia, mas dor muito minha. É claro que minha consciência não irá perceber isso, porque a comunhão é espiritual. Meu espírito é que sente essa dor e clama por socorro.
Ao participar do Senhor, lembro-me também dos santos que estão no Céu, ressurretos e plenos. É possível a mim comungar hoje a alegria deles, sua santidade e sua paz? Pois na comunhão, ao receber o corpo e sangue de Cristo, eu os recebo em mim, como e bebo sua excelsa realidade, para que se torne minha realidade também. Destarte, meu espírito é retirado de seu abatimento e consolado por esse indizível prazer.
É por isso que deixo o altar feliz e saciado, porque meu espírito recebe não só a dor atual da cristandade inteira, como o júbilo da cristandade redimida de seu pecado. Ora, a alegria da cristandade redimida sobrepuja infinitamente a sua dor atual, por mais que ela seja oprimida, humilhada e escorraçada pelo mundo. É por isso que a Eucaristia sempre nos fortalece e nunca voltamos para o assento prostrados. Nela, a vida sempre prevalece sobre a morte.
Quão sublime é esse sacramento! Muitos contextos, porém um só. Muitos sentimentos, porém um só. Muitas opiniões, porém uma só. Sacramento eterno, que me comunica não somente a realidade presente, mas a passada e a futura também. Sacramento que é benefício pessoal, encontro meu com Jesus, mas igualmente benefício coletivo, que nos reúne em um só pão.
Embora eu aprecie os diferentes nomes que foram dados a esse sacramento: Santa Ceia, Eucaristia, Sacramento do Altar ou simplesmente "Sacramento", o que mais me comove é o nome "Comunhão". É o pão que nos faz comungar fardos, alegria e lágrimas. Comunica-nos dádivas e dores, sendo pão ao mesmo tempo doce e amargo. É o pão da esperança, da dor e da luta, que irá nos manter unidos até o dia em que toda lágrima será enxuta. Então não haverá mais comunhão de pecado e dor, nem os sinais serão necessários, porque então "veremos face a face". No entanto, para todo o sempre, a comunhão de Cristo será a comunhão dos santos. Hoje essa comunhão se dá por sinais e pela fé, através do sacramento, tendo como obstáculo nossa carne, com sua individualidade. Amanhã, ela será face a face, sem carne e, portanto, sem necessidade de fé, pão e vinho. Então não mais seremos, porque Cristo será tudo. Ao mergulharmos no olhar bondoso de Jesus, deixaremos de ser realidades individuais, para nos tornarmos uma só realidade com ele. É difícil imaginar tal coisa, mas o sacramento da Comunhão me faz vislumbrar tudo isso.
Concluo com Dr. Martinho Lutero: "Neste sacramento, portanto, a pessoa recebe, através do sacerdote, um sinal certo da parte do próprio Deus de que, dessa forma, ela é unida a Cristo e a seus santos, participando de todas as coisas, de modo que o sofrimento e a vida de Cristo, bem como os de todos os santos, passam a ser dela própria (...). É para nos fortalecer e animar (...) que Deus nos dá esse sacramento, como se estivesse dizendo: "Olha, muitos são os pecados que te atribulam; toma este sinal, com o qual te afianço que o pecado atribula não somente a ti, mas a meu filho Cristo e a todos os seus santos no céu e na terra. Por isso, não percas o ânimo e fica confiante; não estás lutando sozinho. Ao teu redor há muita ajuda e assistência" (Um sermão sobre o venerabilíssimo sacramento do santo e verdadeiro corpo de Cristo e sobre as irmandades).


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


  

segunda-feira, 8 de junho de 2015

TESTE SUA FÉ!





"Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (São Paulo).

Na postagem anterior, refleti sobre a necessidade de se ter a certeza da salvação, não com base em nós mesmos, mas na fidelidade de Deus, com quem nos relacionamos somente através da fé. A fé agarra-se ao que Deus promete como sendo a única verdade. Essa fé é comunicada e mantida por sinais exteriores: linguagem escrita ou falada, pão, vinho e água, porque assim Deus quis.
Quando vamos à igreja, nada mais devemos querer senão alimentar nossa fé com a verdade de Deus, que chega aos nossos sentidos e, deles, ao nosso espírito, através da linguagem e dos sacramentos. Damos à nossa fé a Promessa que a sustenta.
Quem é cristão sabe, porém, que a certeza da salvação não é tão simples assim, na prática. Se minha certeza de salvação se ancora nas promessas imutáveis de Deus, através da fé, é necessário que eu sinta a minha fé para que haja em mim tal convicção, que, como afirmei, não é só salutar, mas fundamental à vida cristã.
Daí o crente entra em crise muitas vezes. É que não temos consciência de nossa fé. Ela não é atividade intelectual e consciente, mas espiritual e inconsciente. Ela certamente frutifica em boas obras, mas a presença do pecado em nós dificulta o reconhecimento desses bons frutos. Como saber se de fato creio, para que possa descansar em minha fé e ter certeza da salvação? Novamente, não é sensato que me volte para as minhas obras, sempre muito imperfeitas.
Dr. Martinho Lutero afirmou que as verdadeiras obras, como fruto da fé que são, justificam-nos diante dos outros. Concordo plenamente com ele. No entanto, quem conhece os "bastidores" dessas obras não se sente tranquilo.
Quando leio S. Paulo afirmando que é o "principal dos pecadores", eu questiono: e quanto a mim? Estou perdido. Mas S. Paulo não fala de sua perdição. Muito pelo contrário, ele está tratando de salvação. Ele parte da consciência de seu pecado para a certeza de que Jesus veio salvar os pecadores. Se Jesus veio salvar pecadores, ele certamente está no rol daqueles a quem Jesus veio salvar, pois ele tem consciência plena de seu pecado. Em momento algum duvida dele. Inclusive se sente o pior pecador do mundo.
Eu não tenho consciência de minha fé. Por outro lado, tenho plena consciência de meu pecado. Ele está patente diante de meus olhos. Dorme e acorda comigo; vê, come, ouve, cheira e toca comigo. Está mais presente à minha consciência que minha própria pele.
No entanto, essa vívida percepção do pecado, que poderia muito bem me levar ao desespero e ao ódio de Deus, tem efeito paradoxal, porque me faz voltar para Deus todos os dias, como o filho pródigo (Lucas 15:11-32).
De onde é que me vem essa coragem de diariamente voltar-me para Deus com os meus pecados, quase sempre os mesmos, não temendo sua rejeição, mas sempre esperando o perdão?
De onde é que me vem a coragem de todos os dias pedir a Deus que me perdoe os pecados, mesmo sabendo que não tenho conseguido perdoar meu próximo como me é ordenado?
É aí que está a fé. Ela se revela muito mais no pecado que nas boas obras, a meu ver. Veja que S. Paulo tem sua fé exercitada não na contemplação de suas obras, que aliás são muitas! mas na contemplação de seu pecado, que o impele a Deus todos os dias.
Por isso, deixei de procurar minha fé nas obras. Se insistir nisso, é bem provável que serei confundido pela imperfeição delas. Tenho procurado a minha fé na contradição do pecado.
Quem diariamente não se sente um filho pródigo, não deve ter fé. Afirmo isso com muita honestidade. Por isso, peço a Deus que sempre me sinta um filho pródigo, para que não me falte a convicção de que tenho fé e, a partir dela, a salvação eterna.
Se alguém está padecendo a busca de sua fé, pare e questione quantas vezes lamentou seus pecados ao longo da semana, quantas vezes pediu a Deus perdão por eles com sincero pesar. Somente a fé pode se voltar para Deus diante do dilema do pecado. 
Este é o teste que aplico em minha vida toda vez que me sinto sem fé: continuo me sentido um filho pródigo? Se a resposta for afirmativa, e sempre é, graças a Deus! então sim, eu possuo fé ainda. Se creio, já estou salvo, independentemente de minhas obras.
Concluindo a reflexão de hoje, fé não deve ser certificada por evidências, como muitos incautos têm feito, mas pelas sombras, contradições e avessos.

"Esse ponto (creio em uma santa Igreja Cristã) é um artigo da fé como os outros. Por isso, intelecto nenhum pode reconhecê-lo, ainda que bote um monte de óculos, pois o diabo pode muito bem encobrir a Igreja com escândalos e divisões, de modo que só podes mesmo ficar indignado com ela (...). Da mesma forma, também o cristão está oculto diante de si mesmo, de modo que não enxerga sua santidade e virtude, mas somente percebe desvirtude e falta de santidade em si mesmo" (Dr. Martinho Lutero).



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.