sexta-feira, 27 de maio de 2016

ORAÇÃO: CAMINHO DE SANTIDADE

"E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará" (S. Mateus 6:5-6).




A oração, ao ser um instrumento de confissão acerca do que sabemos de Deus, torna-se poderoso instrumento de piedade. Ao conhecer a vontade de Deus, que está claramente revelada nas Escrituras, o cristão ganha confiança e perseverança em suas orações, como também se torna colaborador de Deus.
O marido, ao orar pela esposa e pelo matrimônio, preserva o matrimônio. Os pais, ao orarem pelos filhos, resguardam a família. O jovem, ao clamar a Deus por um bom casamento, mantém-se casto. E assim por diante.
É impressionante o poder santificador da oração. Enquanto aguardamos aquilo que indubitavelmente Deus quer e fará, obrigamo-nos a viver em santidade, não permitindo que algum pecado grave venha estorvar o projeto de Deus. É assim que oração se soma à vigilância.
Penso que a oração baseada na vontade de Deus tem preservado muitos casamentos e muitas famílias. Talvez seja esse poder santificador da oração um dos motivos pelos quais Deus retarda a sua resposta. Enquanto esperamos, somos levados à resistência, pois não queremos ser empecilho à obra de Deus. Enquanto resistimos, nossa fé é fortalecida, nossa carne é mortificada e, por conseguinte, avançamos em santidade.
A primeira coisa que devo concluir é que Deus quer. As Escrituras revelam com muita clareza a vontade de Deus para o gênero humano. Eu preciso ter essa convicção para que persevere em oração. Se eu não tiver tal certeza, em algum momento deixarei de orar. 
A segunda coisa que devo concluir é que, se Deus quer, acontecerá, mais cedo ou mais tarde, ainda que não viva o suficiente para ver.
A terceira coisa que concluo é que se Deus quer e irá acontecer, farei o que me for possível para não impedir a concretização da vontade de Deus. É assim que luto por manter o matrimônio, não abro mão de meus filhos, não desisto de meus projetos e prossigo ousadamente.
Então a oração se transforma em vida cotidiana, em "orar sem cessar", pois ora a Deus o marido que cuida da esposa doente por anos a fio. Também ora a Deus o jovem que se guarda casto para o casamento, resistindo às tentações da carne. É pura oração procurar um emprego, na convicção que Deus haverá de provê-lo. Ora também a mãe que trata docemente o filho que está longe do Senhor, muitas vezes dissimulando sua contrariedade. 
É pura oração viver enquanto se espera. Isto também é orar em silêncio, pois é silenciosamente que as obras mais lindas são realizadas, que as lágrimas são derramadas, que o olhar cansado se direciona ao céu estrelado, em busca de um sinal. É no silêncio da vergonha, do medo, da solidão e do desamparo, que somos ouvidos secretamente por nosso Deus. Em silêncio o cristão se propõe a viver, com base na esperança.
Por outro lado há aqueles que cedem à tentação do amargor e da murmuração. Estes não oram em silêncio, mas fazem muito barulho com seus queixumes; não vivem, não constroem, não colaboram com Deus, não se santificam. Dizem para todos que oram, mas já perderam o sentido da oração, que é nos firmar na vontade do Senhor.
Se você conhece a vontade de Deus, mas não a vê concretizada em sua vida, ore, espere, mas não se esqueça de caminhar. Caminhe silenciosamente na estrada que você já conhece.
Gostaria de concluir, parafraseando o que Jesus ensinou: "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e fechada a porta, VIVERÁS".

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

ORANDO SEGUNDO A VONTADE DE DEUS

"Tornou Moisés ao SENHOR e disse: Ora, o povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste" (Êxodo 32:31-32).



Quem acompanha meus textos, sabe que este blog é uma espécie de diário. Aqui não trato de teologia, mas de como encontro na teologia soluções para meus dilemas. Cada texto é fruto de minha vivência com Deus, através do que sei dele, ou seja, através da teologia.
Algum tempo atrás, quando estava muito abatido por questões pessoais, escrevi um texto intitulado "A Sabedoria da Desistência", que eu próprio não vivi. Propus ali que não se deve insistir com Deus, mas assumir uma postura passiva diante dos acontecimentos da vida. Eu não acho  que estava completamente errado, mas eu próprio não consegui colocar nada daquilo em prática. Não me resignei diante de algumas situações, mas continuei e continuo insistindo com Deus.
Semanas atrás recebi a bênção que, com tanta insistência, pedi a Deus, ao longo de anos. Tudo isso me fez ver algumas coisas, que desejo compartilhar.
A oração não é algo que fazemos para Deus, com o intuito de mantê-lo informado ou dar-lhe a saber. Ele é onisciente e conhece profundamente nossas necessidades e desejos. Como disse Jesus: "Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais" (S. Mateus 6:8). A oração é comunhão com Deus, exercício da fé, autoconhecimento e conhecimento de Deus.
Comunhão com Deus porque falo com ele e coloco-me em atitude de escuta. Portanto, a oração é um verdadeiro diálogo. Todo diálogo é um encontro, é comunhão!
Exercício da fé porque reconheço minhas necessidades, minha indigência e impotência, enquanto reconheço o amor de Deus, seu poder e sua preocupação paternal comigo. Ao apresentar a Deus minhas necessidades, eu estou declarando a ele que confio nele, não em mim, não em homens.
Autoconhecimento porque a oração é também uma organização de pensamentos e uma análise crítica deles. Nesse sentido, podemos considerar oração qualquer meditação que fazemos cotidianamente sobre nossas necessidades, se de fato são necessidades, se estamos no estado correto, se estamos sendo egoístas, se estamos buscando proveito próprio, etc. Creio que Deus Espírito Santo direciona nosso pensamento para que possamos discernir melhor nossas reais necessidades, em um mundo tão voltado a si mesmo, tão cheio de vaidade e narcisista. Creio que esta é uma das formas pelas quais Deus Espírito Santo ora em nós. Assim prega S. Tiago: "Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres" (S. Tiago 4:3).
Mas a oração tem um aspecto extremamente relevante, que muitas vezes negligenciamos: ela evidencia o que conhecemos de Deus. Moisés nos dá boas aulas acerca disso. Quando Deus disse a Moisés que haveria de destruir Israel, suscitando dele uma nova descendência (Êxodo 32:9-14), este replicou imediatamente, recorrendo ao que conhecia de Deus: "O Senhor é muito bom e sábio para envergonhar-me dessa maneira. Tu nos tiraste da terra do Egito de maneira milagrosa, para depois nos matar no deserto? Isso vai ser uma vergonha perante os povos! Também não é próprio de tua natureza misericordiosa fazer algo assim. Somos pecadores, mas tu já sabias disso e mesmo assim nos tratas bem, porque és misericordioso e não nos tratas segundo o que merecemos". Essa ousadia não foi reprovada por Deus, por ser fruto de um aprendizado acerca dele. 
Quando pais que não conseguem engravidar oram por um filho, não estão pedindo algo para o qual não estejam prontos. Deus uniu homem e mulher para que se completem, para que vivenciem o amor, mas para que gerem filhos também. "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" (Gênesis 1:27-28). Um casal não deve desistir do projeto de gerar vida, pois é certo que Deus deseja isso, pois para isso uniu homem e mulher. Neste momento, o casal não deve assumir uma postura fatalista, mas recorrer à fidelidade de Deus à sua Palavra e dizer: Queremos a bênção que concedeste a Adão e Eva. Queremos ser fecundos. Enquanto não nos concederes tal bênção, não arredaremos o pé, porque sabemos que sua vontade é esta e confiamos em ti. Não vamos desistir! Nós conhecemos a tua Palavra e confiamos nela! Ademais, não estamos vivendo em adultério, mas estamos vivendo o matrimônio, em fidelidade e amor um para com o outro. Quanto ao sustento do filho, temos certeza que tu o proverás. 
Igualmente, quando um cristão ora pela conversão de um amigo ou familiar, não deve orar assim: "Se for da tua vontade, converte este meu amigo ou familiar". Isso não está certo! Denota desconhecimento de Deus. Deus quer a salvação de todos, não quer que ninguém se perca. É muito terrível essa postura fatalista que alguns assumem, como se nosso Deus não nos houvesse revelado seu bom propósito para conosco. 
Quando pedimos algo a Deus dentro daquilo que sabemos acerca dele, devemos insistir, cientes que ele quer, porque o revelou nas Escrituras. Ele não quer que eu ande de Ferrari, tenha uma mansão, não adoeça nunca e viva para sempre. Ele não quer que eu abandone a cruz e viva prosperamente neste mundo, sem sofrer nenhum dissabor. Entretanto, é certo que ele quer a minha salvação e a salvação de quem eu amo. É certo que ele quer que permaneça unido à minha esposa. Ele quer que eu e minha esposa sejamos pais. É claro que ele quer que o jovem se case. É evidente que ele quer prover cada família do que lhe é necessário para viver, através da graça do emprego. Também ele quer a paz no mundo e a unidade dos cristãos. Em situações assim, é descabido assumir uma postura passiva, resignada, fatalista. Também não soa bem dizer-lhe: "Se for da tua vontade", porque é! Antes, deve-se insistir, ainda que não vivamos o suficiente para receber a graça. Quando o que pedimos está de acordo com a Palavra de Deus, devemos insistir até à morte, se preciso for, porque a fidelidade de Deus à sua Palavra não morrerá conosco e haverá de se cumprir.
Quero concluir com Dr. Martinho Lutero, com quem aprendi isso: "É claro que ele não nos manda orar para instruí-lo sobre o que nos deve dar, e, sim, para que reconheçamos e professemos os benefícios que ele nos concede e que ele, ainda, quer e pode dar muito mais, isto é, para que , através da nossa oração, nos instruamos mais a nós próprios do que a ele. Assim, eu passo por uma transformação, de modo que não procedo como os ímpios, que não o reconhecem nem agradecem; desta forma, meu coração se volta para ele e é despertado para louvá-lo e agradecer-lhe, nele buscando refúgio nas aflições e dele esperando ajuda. E tudo serve para que eu aprenda, cada vez mais, a reconhecer que Deus ele é (...). Se tiveres esse conhecimento, sê sábio e dá um impulso a teu coração para que logo comeces a pedir, dizendo: amado Senhor, eu tenho tua Palavra e estou no estado que te agrada. Eu sei disso. Agora, vê todas as minhas carências, é que não conheço ninguém que me pode ajudar senão a ti. Por isso, ajuda tu, porque disseste e ordenaste que devemos pedir, procurar e bater e que, então, receberemos, encontraremos e teremos, com certeza, o que desejamos. Se aceitares isso e se te acostumares a orar confiantemente e não receberes [o que pedes], então, vem e chama-me de mentiroso (...). Por isso, Cristo quer livrar-nos dessa timidez e desses pensamentos, para que não tenhamos nenhuma dúvida e para que avancemos confiantes e atrevidamente (...). Sobretudo, porém, assegura-te que crês verdadeiramente em Cristo e que te encontras num estado conveniente, que agrada a Deus, não como o mundo, que não dá atenção a seu estado e que dia e noite procura unicamente como praticar seus vícios e suas patifarias (...). Por isso, assim como a necessidade sempre bate à tua porta, bate tu também e não desistas, porque tens sua palavra" (Prédicas Semanais sobre Mateus 5-7, Martinho Lutero: Obras selecionadas, volume 9, editoras Concórdia e Sinodal. Tradução: Ilson Kaiser). 

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


domingo, 22 de maio de 2016

DEUS: MISTÉRIO DE AMOR


Hoje quero refletir um pouco não sobre a Santíssima Trindade, mas sobre o meu Deus, o Deus dos cristãos e único Deus, Deus da revelação, esse Deus que é uno e trino. Nesse Deus eu creio!
Interessante é que, em todo ato litúrgico, sempre os verbos são conjugados na primeira pessoa do plural, exceto nos credos, em que cada qual afirma: Eu creio!
A fé nesse Deus uno e trino deve ser ousadamente professada por cada pessoa. Quem não crê nesse Deus uno e trino não o tem. Quem não tem esse Deus uno e trino não tem Deus algum. Neste ponto, nós, que somos cristãos, temos que ser categóricos. Embora haja no mundo inteiro algum conhecimento acerca de Deus, oriundo da razão, nosso Deus não é fruto da razão, mas da revelação. Aliás, a doutrina da Santíssima Trindade é a maior prova de que o Deus dos cristãos não é produto do intelecto, mas da revelação.
Eu creio! Não se diz: Eu entendo, eu concluo ou eu concordo. Simplesmente se diz: eu creio! Não posso entender, por isso digo que creio.
Eu creio no Deus da revelação. A razão natural não poderia jamais chegar ao conhecimento do verdadeiro Deus. É necessário, portanto, que esse Deus se revele ao homem.
Creio que Deus é um ser pessoal. Ele pensa, agrada-se, desagrada-se, tem sentimentos e vontade. Não conhecemos nada sobre sua essência. "Deus é espírito" (S. João 4:24), mas não sabemos o que isso significa. Portanto, Deus é um ser inescrutável em sua essência. Obviamente, se não posso saber nada de sua essência, muito menos saberei como sentimentos, pensamentos e vontade subsistem nele. No entanto, uma coisa se pode dizer, com base na revelação: Deus é um ser pessoal. Por isso, não creio no Deus impessoal de Aristóteles. Deus não é primeiro motor, primeiro princípio ou pensamento que pensa a si mesmo. Nisto eu não creio! Deus é um ser pessoal que me ama e me quer.
Creio que Deus é absolutamente um, não com base na filosofia, mas com base na revelação: "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (Deuteronômio 6:4); "Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus" (Isaías 45:5); "porquanto há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem" (1 Timoteo 2:5). A essência de Deus é única e incognoscível. 
Creio que Deus é um só, porém subsiste em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Uma só essência sublime e imperscrutável é encontrada no Pai, no Filho e no Espírito Santo, de acordo com a revelação: "Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros" (Êxodo 3:14); "por isso, eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados" (S. João 8:24); "mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que está nele? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus" (1 Coríntios 2:10-11); "ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (S. Mateus 28:19). Creio que o Pai é Deus, que o Filho é Deus e que o Espírito Santo é Deus, não obstante haja um só Deus, uma única essência divina. Não creio que há três Deuses idênticos ou três indivíduos, mas um só Deus indiviso. Novamente quero lembrar que eu creio! Não tenho condições de compreender isso.
Creio que o único Deus é revelado através do Filho, que se encarnou. Obviamente, não é a razão que me fez chegar a uma conclusão tão absurda. Eu creio! Eu creio que Jesus Cristo é verdadeiro homem, igual a mim e você, exceto no pecado, e verdadeiro Deus, igual ao Pai e ao Espírito Santo. Ele revela o Deus abscôndito através de sua humanidade. É por causa do homem Jesus que conhecemos a paternidade de Deus, seu amor, ternura, olhar, lágrimas, paciência e vontade. Não há outro modo de se chegar a Deus senão por Jesus Cristo, Deus encarnado, Deus que se torna um de nós sem deixar de ser quem é.
Deus já havia se tornado manifesto antes de sua encarnação, quando se revelou a Abrão, a seu filho Isaque e a seu neto, Jacó. Deu prosseguimento à sua revelação ao povo que nasceu de Jacó, o povo hebreu. Durante essa era, Deus se manifestou como homem, como fenômenos estupendos, como Anjo do SENHOR, como cicio suave, como tabernáculo e Templo, como reis, profetas e sacerdotes do povo. Tudo isso lhe deu "corpo", para que pudesse interagir conosco. Por fim, encarnou-se na pessoa de Jesus Cristo, tornando-se plenamente visível, palpável e passível de ser recebido e fruído. 
Fora do homem Jesus Cristo, nada é possível saber sobre Deus. Fora do homem Jesus Cristo, é impossível relacionar-se com Deus, recebê-lo, fruí-lo e permanecer nele. Fora do homem Jesus Cristo, não temos Deus algum, substância divina alguma, mas apenas uma tese. Por isso, disse Jesus: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" (S. João 14:6).
Creio que a encarnação do Filho ergueu a Deus nossa condição precária. Ao encarnar-se, Deus nos divinizou. Participamos de Deus graças à humanidade do Filho, ainda que jamais entendamos o que é isso. Ao tornar-se homem, o Filho nos tornou Deus. Portanto, creio que somos um só ser com Deus. Assim orou Jesus: "Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos" (S. João 17:22). Participamos da glória de Deus, através do homem Jesus Cristo. É um mistério insondável, mas o simples conceito de deificação do homem nos permite vislumbrar a intimidade que há entre o homem e Deus, entre a Igreja e seu esposo. Esse conceito nos faz considerar cada homem um ser sagrado, tão sagrado quanto o próprio Deus, visto que no homem Jesus estão todos os homens, sem exceção alguma. Neste sentido é que devemos entender as palavras de Jesus: "E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também" (S. João 14:3).
No entanto, não sou panteísta. Nossa deificação se dá através da encarnação de Deus. Não creio que Deus está em minha carne, mas que minha carne está em Deus, por intermédio do homem Jesus. Deus não nos criou deuses, mas nos recebeu graciosamente em si mesmo. Portanto, a deificação humana na qual creio não é algo necessário, mas voluntário e por amor. Trata-se de uma glória transmitida, não inerente, natural ou essencial.
Creio que o Espírito Santo é quem permite à nossa humanidade comungar a de Cristo. Sem o Espírito Santo, não teríamos comunhão com Cristo. Sem Cristo, não teríamos comunhão com Deus e estaríamos alheios à sua vida para sempre. São Paulo declara: "Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito" (1 Coríntios 12:12-13). Portanto, o Espírito Santo é que possibilita a comunhão entre a humanidade e a Divindade: "Há somente um corpo e um Espírito" (Efésios 4:4).
Por fim, creio que sou morada do Deus uno e trino, conforme a revelação de Jesus: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada" (S. João 14:23). Também tenho S. Paulo a me ensinar: "Não sabeis que sois santuários de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado" (1 Coríntios 3:16-17).
Diante de tão assombroso mistério de amor, a única palavra que posso dizer é: Amém! Que assim seja!

Autoria: Carlos Alberto Leão
Imagem extraída da internet.




sábado, 21 de maio de 2016

EU VI SEU CORAÇÃO


Hoje eu vi seu coração!
Deus é mesmo um poeta.
Antes de formar suas mãos, pés,
olhos, cabelos, dentes e nariz,
ele formou seu coração.

Fico pensando em como você será.
Não me refiro à aparência física,
pois é certo que será lindo,
ao menos para mim.
Refiro-me ao seu caráter.

Será fiel a Deus?
Olhará para seu próximo com misericórdia?
Terá um coração acolhedor?
Será leal ao cônjuge e amigos?
Será honesto e trabalhador?

Sabe, eu vi seu coração!
Descobri que antes de ser belo 
você já é vida.
Deus primeiro formou o seu coração
para que você entenda 
que o mais importante 
não é ter um rosto, cabelo e corpo bonitos,
mas ser vida e doar vida.

Eu vi seu coração!
Como esse pequeno coração encheu
minha vida de alegria e esperança!

Espero que esse mesmo coração,
sede da vida,
possa trazer alegria e esperança a muitos.

Eu vi seu coração!
Ali está o começo de tudo...
E também o fim.


Autoria: Carlos Alberto Leão
Imagem extraída da internet.




sábado, 14 de maio de 2016

A MEMÓRIA

Por que você ora a Deus? Por que chama a Cristo de Senhor? Quem lhe diz que na Eucaristia há mais do que pão e vinho? Quem lhe ensina que o Batismo não é mera água? De onde vem o ímpeto para lutar contra o pecado? Aliás, quem lhe informa que seus erros são mais do que erros, são pecados? Certamente não é o intelecto. Quando S. Pedro confessou Jesus como Messias, Filho do Deus vivo, ouviu dele o seguinte: "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai que está nos céus" (S. Mateus 16:17).
Deus é abscôndito e não pode ser apreendido pela razão natural. Por mais arguta que seja a mente humana, nada poderá saber dele além daquilo que ele lhe permite saber. Nosso intelecto sabe que somos revelação de Deus, bem como todas as suas criaturas, mas isso não é suficiente. As montanhas e mares me revelam um Deus grandioso, a história me revela um Deus soberano, as catástrofes naturais me revelam um Deus justo, meu pecado me revela um Deus santo; alimento, ar, água, semeadura, colheita, luas e estações me revelam um Deus bondoso e providente. Mas nada disso me revela um Deus que me ama, que me quer, que me vê, que me ouve, que se atenta às minhas lágrimas, que me vê como filho, que se compadece de mim, que me socorre em meu profundo anonimato. Isso a criação não me revela. A criação me revela Deus, porém não o meu Deus, muito menos o meu Pai.
Então Deus se revela ao homem desde a criação como seu Deus e Pai através de sua Palavra, de seu Anjo, de antropomorfismos, de seu tabernáculo, de seus reis, profetas e sacerdotes. Deus se deu a conhecer ao homem como seu Deus e Pai através de seu único Filho, Jesus Cristo, que é a Palavra, o Anjo, o antropomorfismo, o tabernáculo, o Rei, Profeta e Sacerdote. Jesus é a revelação do amor paternal de Deus por todos os homens, é seu olhar compassivo para os pobres, é seu pesar e choro diante da tragédia humana, coletiva e individual. Jesus é a revelação do amor pessoal de Deus por cada pessoa. Através de Jesus, descubro que Deus me ama até à morte. Através de Jesus, descubro em Deus o meu Deus. O homem Jesus é o acesso seguro ao meu Deus e Pai. Se permaneço com meus olhos fitos no homem Jesus, estou vendo o meu Deus. 
Entretanto, quem foi capaz de encontrar em Jesus seu verdadeiro Deus? Anjo e antropomorfismos podiam ser lendas do povo judeu. O tabernáculo era uma simples tenda consagrada a Deus. Reis, profetas e sacerdotes eram homens. Jesus também era um homem; na melhor das hipóteses, um profeta. Hoje é um personagem histórico controverso. Quem pode enxergar em Jesus o seu Deus?
É então que chegamos ao Deus Espírito Santo. São Paulo nos ensina: "Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo" (1 Coríntios 12:3). 


Deus Espírito Santo é quem nos revela Deus através do homem Jesus. No Antigo Testamento, o povo judeu era conduzido pelo Espírito Santo ao conhecimento do amor paternal de Deus através da Palavra, do Anjo, dos antropomorfismos, do tabernáculo, dos reis, profetas e sacerdotes de Israel, que eram o próprio Jesus. No Novo Testamento, é ele quem nos conduz ao conhecimento do amor paternal de Deus através do homem Jesus. O Espírito Santo sempre gerou fé no coração humano, para depois descortinar diante dela o homem Jesus, única revelação do amor paternal de Deus. 
É o Espírito Santo quem nos dá a conhecer o homem Jesus, que, por sua vez, revela o sentimento de Deus pelo homem. Em outras palavras, o Espírito Santo revela o homem Jesus, que revela Deus. 
O Espírito Santo é Deus abscôndito. Não sabemos quem ele é, nem jamais tomaríamos conhecimento de sua existência, não fosse a Palavra de Deus, que é Jesus. O próprio Espírito Santo, sendo Deus, revela-se através de Jesus. Então Deus Espírito Santo se revela ao revelar Jesus. Ele é conhecido por nós à medida em que nos dá a conhecer Jesus.
Muitos buscam uma experiência com o Espírito Santo à parte de Jesus, como se isso fosse possível. Toda experiência com o Espírito Santo é necessariamente uma experiência com o Deus encarnado, Jesus Cristo. 
De tal maneira a manifestação do Espírito Santo está ligada à revelação de Jesus que ele, não sendo Filho de Deus, clama "Aba, Pai" (Gálatas 4:6). Também é chamado de Advogado (S. João 14:16) e de Intercessor (Romanos 8:26-27). Ora, não é Jesus o Advogado e Intercessor da Igreja? Sim, mas o Espírito Santo revela o Filho, o Advogado e Intercessor não como um homem faria, mas essencialmente, encarnando-o na Igreja (S. João 14:23; 17:20-23). Por causa do Espírito Santo, a Igreja é o corpo de Cristo. A função do Espírito Santo na economia divina é tornar Jesus realidade concreta ao seu povo, tanto no âmbito coletivo, quanto no pessoal. Foi por isso que Jesus disse, a respeito dele: "Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar" (S. João 16:14).
O Espírito Santo nos mortifica ao nos revelar a morte de Jesus. Ele nos regenera ao nos fazer lembrar a ressurreição de Jesus. Opera em nós toda a sorte de boas obras ao nos fazer lembrar as obras de Jesus. Ele nos ensina quem é Jesus ao fazer Jesus habitar em nós. 
Ao mesmo tempo, o Espírito Santo se manifesta ao manifestar Jesus. Daí as palavras de S. Paulo: "Ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo". Reconhecemos a presença do Espírito Santo quando experimentamos o homem Jesus. Sabemos que ele está em nós quando sentimos Jesus em nós. Sabemos que ele frutifica em nós quando identificamos em nós as mesmas obras de Jesus.
O Espírito Santo é a memória da Igreja. Como disse Jesus a seu respeito: "Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito" (S. João 14:26). Ele nos faz lembrar de Jesus ao torná-lo muito presente entre nós, fazendo esvaecerem tempo e espaço. Ele mantém Cristo entre nós, não nos deixando órfãos. Se temos conosco o Espírito Santo, temos o homem Jesus. Igualmente, se temos conosco o homem Jesus, é certo que o Espírito Santo está conosco.
O Espírito Santo é quem falou pelos profetas, que deu habilidade aos artífices para construção do tabernáculo, que deu sabedoria aos reis e ungiu os sacerdotes do Antigo Testamento. Em tudo isso, o Espírito Santo estava erigindo Cristo no meio de Israel. Foi o Espírito Santo que milagrosamente operou a concepção de Jesus no ventre da virgem Maria, dando-nos o homem Jesus. Também conduziu a Jesus muitas pessoas contritas, para que pudessem experimentar a misericórdia de Deus. Pelo seu poder, Jesus ressuscitou dos mortos. Por fim, preserva Jesus no mundo através da Igreja, a quem transforma em corpo de Cristo. 
Algumas liturgias eucarísticas invocam o Espírito Santo para que transforme o pão e o vinho em corpo e sangue de Cristo. A isso chamamos de epiclese. Em que pese a polêmica sobre quando é que o pão se torna o corpo de Cristo e que o vinho se torna o sangue de Cristo, a epiclese nos ensina que sem o Espírito Santo não é possível que o homem Jesus esteja entre nós. 
Percebemos então que a obra própria do Espírito Santo é trazer Jesus ao homem, fazendo-o experimentar a paternidade de Deus, sua misericórdia e ternura. Nunca se deve dissociar o Espírito Santo do homem Jesus, pois ele próprio nada significa para nós se não nos trouxer Jesus. 
Pentecostes vem nos mostrar que o Espírito Santo não é derramado sobre um povo, mas sobre cada pessoa, fazendo-a experimentar Jesus pessoalmente. É assim que o Espírito Santo me revela que o Deus da criação é meu Deus e Pai, ama-me até à morte e tem o nome de Jesus.
Celebremos, nesta festa de Pentecostes, aquele que torna Jesus presente entre nós, para que experimentemos a boa vontade de Deus para conosco e para cada um de nós.

"Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim" (S. João 17:20-23).

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


sábado, 7 de maio de 2016

CONSUBSTANCIAÇÃO: É NISSO QUE CREMOS?


Algumas coisas aprendemos nas aulas de história que precisam ser desaprendidas depois. A consubstanciação como doutrina luterana é uma delas. 
Nós, luteranos, não acreditamos na transubstanciação nem na consubstanciação. Em nada disso nós cremos!

O que é transubstanciação? É a transformação da substância do pão e do vinho em substância de Cristo. Permanecem os acidentes do pão e do vinho, mas a sua substância é milagrosamente transformada na substância de Cristo. 

Substância e acidentes são termos filosóficos. Substância é aquilo que define o ser. A substância do pão é aquilo que é necessário para que o pão seja pão, assim como a substância de Cristo é aquilo que o define, sendo necessária para que Cristo seja Cristo. Acidentes são os atributos que são acrescentados às substâncias e são dispensáveis ao ser, como grande e pequeno, estreito e largo, branco ou negro, culto ou inculto, etc. Um pão pode ser fermentado ou ázimo, mas é pão. Pão é a substância do pão fermentado e do pão ázimo. Um homem pode ser culto ou inculto, mas é homem. Homem é a substância do homem culto e do homem inculto. Portanto, substância é o que há de mais elementar no ser, que estabelece o ser. É um conceito puramente metafísico e abstrato. Não se deve confundir substância com matéria. Substância é algo que não se pode apreender com os sentidos, mas somente com o intelecto.

A transubstanciação explica que a substância do pão (aquilo que o define como pão) e que a substância do vinho (aquilo que o define como tal) são transformadas na substância de Cristo (aquilo que o define como Cristo), permanecendo os acidentes do pão e do vinho, como sabor, cor, quantidade, forma, etc. Como o pão se transformou em Cristo, dispensa-se a entrega do cálice, por considerar racionalmente que o Cristo inteiro é recebido sob os acidentes do pão. Também se defende a adoração contínua ou perpétua do pão, que já não é mais pão, mas apenas preserva os acidentes ou atributos sensíveis do pão. Isso é trans-substanciação.

A consubstanciação explica que a substância de Cristo passa a coexistir com a substância do pão e do vinho. A origem dessa tese não está nas Escrituras, mas na seguinte questão filosófica: como os acidentes do pão e do vinho podem permanecer sem sua substância? Diante da constatação de uma impossibilidade filosófica, nasceu a com-substanciação. 

Veja-se que transubstanciação e consubstanciação são explicações filosóficas de um mistério. Surgiram em um período da baixa Idade Média em que se recorreu ao pensamento de Aristóteles para explicar os mistérios de Deus. São frutos do apogeu do escolasticismo cristão.

Nós, luteranos, recusamos, o quanto nos é possível, qualquer intromissão da filosofia grega no mistério eucarístico. Sabemos que pão e vinho permanecem, pois S. Paulo nos ensina isso com clareza em 1 Coríntios 10:16 e 11:26. Professamos também que as palavras de Cristo: "Isto é o meu corpo" e "isto é o meu sangue" são verdadeiras e que de forma alguma devem ser interpretadas de maneira alegórica, pois não estamos autorizados a isso. Não se tratam de metáforas por razões óbvias, também não podemos seguramente entender pão e vinho como tipos ou símbolos de Cristo, pois nenhuma explicação nesse sentido nos foi legada por Cristo e seus apóstolos. É perfeitamente possível a Cristo estar sob o pão e o vinho e isso não contraria nenhuma outra verdade revelada nas Escrituras. Além disso, toda a história da Igreja depõe contra a interpretação alegórica. É por isso que quem assume tal interpretação também costuma declarar a apostasia da Igreja Católica desde seus primeiros séculos.

Tanto a transubstanciação, quanto a consubstanciação e a visão alegórica da Eucaristia são subterfúgios da razão humana para aceitar um mistério, como se fosse possível isso, visto que a razão humana foi criada por Deus somente para as coisas cognoscíveis, para as realidades sensíveis, não para apreensão de seus mistérios. Para isso Deus criou a fé.

Quando Lutero se viu em situação de combate, foi obrigado a elaborar melhor seu pensamento, obviamente recorrendo à razão. Foi aí que ele apareceu com o conceito de união sacramental. Lutero ensinou que o pão consagrado está em comunhão com o corpo de Cristo, cuja presença no pão não é material ou local, mas sobrenatural e celeste. Semelhantemente, o vinho consagrado está em comunhão com o sangue de Cristo, cuja presença no vinho não é material ou local, mas sobrenatural ou celeste. A isso chamou de união ou unidade sacramental. Lutero procurou se abster o quanto pôde do termo filosófico "substância" (em grego, ousia). Teve muito pouca ou nenhuma consideração por Aristóteles.

Assim afirma Lutero, em sua Confissão da Ceia de Cristo: "Pois, na verdade, corpo e pão são, cada um por si, duas naturezas distintas e, quando separadas, uma não é a outra. Quando, porém, se unem e se tornam um ser novo e inteiro, perdem suas diferenças no que diz respeito a esse novo e único ser. E, tal como se tornam e são uma só coisa, assim também os conceituamos e chamamos de uma coisa só, de modo que não é necessário que uma das duas desapareça e pereça, mas que ambos, pão e corpo, fiquem, e que, de acordo com a unidade sacramental, se possa dizer corretamente: 'Isto é o meu corpo', sendo que a palavrinha 'isto' indica para o pão. Pois já não é mais simples pão do forno, mas pão-carne, ou pão-corpo, quer dizer, um pão que se tornou uma só essência sacramental e uma só coisa com o corpo de Cristo. O mesmo vale a respeito do vinho no cálice: 'Isto é o meu sangue', onde a palavrinha 'isto' indica para o vinho. Pois já não é mais simples vinho da adega, mas vinho-sangue, portanto, um vinho que se tornou uma só essência sacramental com o sangue de Cristo".
É essa unidade sacramental que nós, luteranos, professamos.

Mas para ser sincero, eu não aprecio qualquer explicação desse mistério, nem mesmo a de Lutero. Ele estava em situação de combate quando escreveu isso. Minha situação é outra e prefiro abster-me de qualquer explicação. Como luterano, creio que o pão se torna corpo de Cristo e creio que o vinho se torna sangue de Cristo e ponto final. Creio também que toda paróquia se transforma nO bendito cenáculo, que Cristo é o verdadeiro e único celebrante e que estamos ao seu redor como os apóstolos estiveram. Creio também que essa oferta de Cristo é para nossa salvação. 

Eu creio! Não quero nenhuma explicação do que acontece ali. Não quero que me expliquem como essa presença ocorre, em que momento ocorre ou em que momento deixa de ocorrer. O que sei é que ela ocorre. Também não me interesso por presença localiter ou definitive. Minha fé se dá por muito satisfeita em saber que, juntamente com o pão e o vinho consagrados, estou recebendo o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de meu Salvador. Minha fé se dá por satisfeita em saber que minha boca recebe e mastiga o corpo de Cristo, o mesmo que foi imolado na cruz e que ressuscitou ao terceiro dia. Minha fé se dá por satisfeita em saber que minha boca engole o sangue de Cristo, o mesmíssimo sangue que jorrou em sua face, que pingou na terra e que verteu no madeiro. Minha fé se dá por muito satisfeita em saber que o homem Cristo está de fato presente em cada celebração eucarística, a conceder-me o pão e o vinho com suas próprias mãos. Por fim, minha fé está muito satisfeita em saber que este comer e beber são salutares a mim, garantem-me a remissão dos pecados e, por conseguinte, minha salvação eterna.
Importa-me lá o que meus olhos veem ou deixem de ver! O importante é o que a minha fé experimenta. Quanto ao meu pensamento, trago-o cativo à obediência de Cristo (2 Coríntios 10:5).

Autoria: Carlos Alberto Leão.

Imagem extraída da internet.