segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O JUSTO - PARTE 1


"Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar" (Gálatas 3:13).

Grande mistério é o amor de Deus. Amor que se revela, mas que, ao se revelar, torna-se mais misterioso ainda, dada a complexidade envolvida nessa revelação. Quem há que possa entender como Deus e a humanidade inteira estavam num pobre rapaz galileu, chamado Jesus?
Jesus é verdadeiro Deus, igual a Deus Pai, e verdadeiro homem, igual a qualquer um de nós. Para S. Paulo, ele é o segundo Adão (Romanos 5:12-21). Ao mesmo tempo em que nos revela Deus Pai, ele nos revela Adão, o homem perfeito que Deus criou.
Então em Jesus encontramos Deus Pai e nós mesmos. Por isso ele é o mediador entre Deus e os homens: Profeta que nos revela a boa vontade de Deus, sacerdote que nos representa perante ele. É a escada posta entre Jacó e o Céu (Gênesis 28:10-17).
Jesus é tão humano quanto nós. Aliás, ele é mais humano que nós, pois a nossa humanidade se encontra deformada pelo pecado. Como ser humano, novo Adão, ele nos representou perante Deus Pai como perfeito sacerdote. Não sendo pecador, cumpriu a Lei de Deus de maneira perfeita, amando a Deus com todo o coração, toda a alma e toda a força em cada uma de suas obras. Aquilo que Adão bem poderia ter feito, mas infelizmente não fez, foi cumprido cabalmente por Jesus.
Portanto, em Jesus, Deus recriou o homem, começando tudo de novo, para que tudo acontecesse da maneira correta. 
Através de Jesus, que nos representava, todos nós estávamos cumprindo a Lei de Deus de maneira perfeitíssima.
De tal maneira Deus se encantou com o amor e obediência de Jesus, que exclamou do Céu, cheio de satisfação: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mateus 3:17). Mas como Jesus nos representava perante Deus, essas doces palavras de aceitação foram dirigidas também a nós, que estávamos nele. É como se Deus dissesse: "Este é o meu filho Carlos ou Maria ou Pedro ou Tiago ou Davi, em quem me comprazo".
Embora Deus não impute ou atribua o pecado do pai aos seus filhos, conforme nos ensina o profeta Ezequiel, misericordiosamente ele aceita fazer o oposto: atribuir-nos a obediência de Jesus, como se nós tivéssemos obedecido sozinhos, sem ele. 
Foi Jesus quem viveu a nossa santidade. Todos os méritos que temos perante Deus vêm exclusivamente dele. No Jesus obediente estava a humanidade inteira obedecendo a Deus, inclusive eu e você.
É assim que temos vida em Jesus. Porque enquanto houver pecado em nós é impossível que vivamos. Mas se cumprimos com perfeição divina a vontade de Deus, por meio de Jesus, então somos cheios de vida até transbordar.
Contudo, há um aspecto nessa obediência de Jesus que devemos ter sempre diante dos olhos. Se me fosse possível cumprir a Lei de Deus de maneira perfeita, ainda assim não herdaria a vida eterna. Toda a vida dessa obediência de Jesus e todo o mérito auferido se devem ao fato de ele ser verdadeiro Deus. Nenhum homem mereceria tal recompensa, ainda que lhe fosse dado ser tão perfeito quanto Adão. Assim lemos em Gálatas 3:16: "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo".
Por isso, toda vez que alguém tenta separar a divindade da humanidade de Jesus em suas obras, dividindo-o em duas pessoas, esbarra-se na doutrina da salvação. Não fosse Jesus verdadeiro Deus a cumprir sua própria Lei, certamente estaríamos perdidos, pois a Adão não foi prometida recompensa alguma por aquilo que fizesse ou deixasse de fazer.
Jesus é verdadeiro homem para nos representar perante Deus e verdadeiro Deus, para que nossa obra, realizada por meio dele, merecesse a vida eterna.
Assim como Deus aceitou a obra de Jesus e a recompensou com a vida eterna, por ser seu Filho Unigênito encarnado, também nos aceita como justos e nos recompensa, desde que estejamos ligados a ele. Está escrito: "Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão". São Paulo chama os cristãos de COerdeiros com Cristo.
Entramos então em uma questão seríssima. Jesus obedeceu a Deus e, por ser seu Filho encarnado, foi recompensado. Toda a humanidade se encontrava na humanidade de Jesus, obedecendo a Deus através dele e sendo recompensada através dele. Entretanto, para que isso se torne realidade em minha vida e na vida de quem quer que seja, é necessário estar ligado a esse Jesus, ser um com ele. E a única maneira de aderir a Jesus, de tornar-se um com ele, é através da fé. Não há outro jeito.
Quem não crê continua em rebelião contra Deus, recusando sua oferta de amor e idolatrando a si mesmo. A adesão a Cristo em sua vida de obediência meritória não pode ser imposta ao homem. É um presente oferecido a todos, sem acepção de pessoas. Aceita-o quem acha que precisa. Quem continua insistindo no contrário, que arque com a consequência de seu pecado e faça por onde de merecer algo de Deus. Como declarou o profeta Habacuque: "Eis o soberbo! Sua alma é reta NELE; mas o justo viverá pela sua fé" (Habacuque 2:4).
Depois de Jesus ter obedecido a Deus em nosso lugar, como se nós mesmos tivéssemos obedecido, ele se entregou à morte de cruz para nos redimir, como representante nosso. São Paulo ensinou: "E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida JUNTAMENTE com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz " (Colossenses 2:13-15).
No mês de setembro, a cristandade celebra a Santa Cruz, o maior símbolo de sua fé. Não exalta pedaços de madeira, mas o sacrifício que ocorreu ali, sem o qual ninguém poderia ser redimido de seu pecado.
Apesar de ter crescido na Igreja, confesso que demorei muito para compreender o que de fato ocorreu na cruz. Já tinha meus vinte anos quando fui atingido por essa sabedoria que vem de Deus e nunca mais fui o mesmo.
Se através de Jesus eu me torno santíssimo e merecedor do Céu, através de mim pequei, continuo pecando e não mereço nada de Deus, exceto morte eterna. Esse meu pecado precisa ser julgado, condenado e destruído, para que então eu inteiro me torne Jesus. E esta é a minha vontade e necessidade. Um dia quero dizer como S. Paulo: "Estou crucificado com Cristo. Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2:19-20).
Quando Jesus padeceu no Getsêmani, foi condenado por Pôncio Pilatos, humilhado, crucificado, desamparado por Deus, arrojado ao inferno como demônio e morto, com ele a humanidade inteira estava sendo condenada, duramente castigada e morta. Junto com Jesus todos os homens morreram física e espiritualmente, foram apartados de Deus e lançados no inferno. Através de Jesus na cruz, a humanidade inteira teve seu calcanhar ferido pela serpente do pecado. Todo o seu pecado foi julgado, condenado e destruído juntamente com Jesus, de maneira que não restou mais nenhum pecado a ser julgado.
Muito se fala de Jesus como tendo se tornado um pecador para salvar pecadores. Entretanto, São Paulo aprofunda essa questão ao chamar Jesus de "pecado": "Aquele que não conheceu pecado, ele (Deus) o fez PECADO por nós" (2 Coríntios 5:21).
Mesmo que isso não tenha nos custado um fio de cabelo sequer, fomos julgados, condenados e destruídos com Jesus.
Mais uma vez é importante que se diga que acaso eu me oferecesse para ser crucificado pelos meus próprios pecados, não querendo precisar de Jesus e recusando-me a tornar-me devedor dele, eu não poderia expiar o meu pecado.
O sacrifício de Jesus na cruz só foi considerado suficiente para destruir nosso pecado por ser ele Deus. Não houvesse Deus mesmo morrido na cruz por nós, continuaríamos sendo destruídos por nosso próprio pecado, sem cessar, por toda a eternidade, ainda que tivéssemos cumprido toda a Lei, através de Jesus.
O segundo propósito do sacrifício de Jesus foi destruir a morte. Jesus foi passivamente destruído por seu pecado, que na verdade era o nosso. Tudo o que o pecado humano merece de Deus foi aplicado nele. Estávamos lá com ele, sendo igualmente destruídos na cruz, embora não tenhamos sentido nada, sequer a dor de uma só bofetada.
À destruição do pecado, porém, não se segue a destruição da morte, que é consequência dele. Eu posso me tornar justo com Jesus, ser julgado, condenado e morto com ele, mas não fosse a morte vencida, eu continuaria morto para sempre.
Foi por isso que Jesus ressuscitou. Ele venceu a morte através de sua ressurreição e estávamos unidos a ele, quando ele ressurgiu. Sobre isso S. Paulo deixou um belo texto, do qual destaco o seguinte versículo: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados" (1 Coríntios 15:17).
Obra tão grandiosa como essa não tem preço. Por isso Deus a oferece de graça a quem quer. Quem se indispõe a receber essa obra como sua, continua sozinho com seu pecado e com a morte sem fim, que ele provoca. Quem, porém, anela estar com Jesus em sua obediência, julgamento, condenação, morte e ressurreição, seu lugar na humanidade de Jesus é reconhecido e preservado. Esse desejo se chama fé, por meio da qual nós nos unimos a Jesus em toda a sua obra, tornando-nos Jesus perante Deus, ou seja, seu Amado Filho Unigênito, herdeiro de tudo.
Dr. Martinho Lutero: "Assim, pois, pela fé Cristo está em nós, sim, é uno conosco. Mas Cristo é justo e cumpre todos os mandamentos de Deus, razão pela qual também nós cumprimos todos eles através de Cristo, uma vez que ele se tornou nosso pela fé".



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


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