quinta-feira, 10 de setembro de 2015

PECADO ORIGINAL - PARTE 2


Pelágio considerou somente o que há de mais superficial na realidade do pecado. Ele não levou em conta os pecados involuntários, ocultos e a inclinação persistente para o mal que, como veremos, é pecado gravíssimo.
Portanto, pecado não é somente um ato deliberado. Na verdade, há muito mais pecado por baixo do ato deliberado que se pode imaginar. Inclusive em nossas boas obras o pecado se esconde. É improvável que amemos a Deus de todo o nosso coração, alma e força quando realizamos uma obra. Por outro lado, é muito provável que amemos mais a nós mesmos quando realizamos algo bom: desejo de ser recompensado, orgulho, idolatria e outros males que, graças a Deus, nos são tão ocultos, por isso ainda realizamos o bem.
Mas aqui quero chamar a atenção para esta inclinação para o mal que há em todo o homem.
São Paulo nos deixou o seguinte desabafo e ensinamento: "Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à ESCRAVIDÃO do pecado. Porque nem mesmo compreendo O MEU PRÓPRIO MODO DE AGIR, pois NÃO FAÇO O QUE PREFIRO E SIM O QUE DETESTO (...). Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço (...). Então, ao querer fazer o bem, ENCONTRO A LEI DE QUE O MAL RESIDE EM MIM" (1 Coríntios 7:14-15, 19, 21).
É S. Paulo quem diz isso? Não é o velho Saulo, assassino de cristãos? Não, é S. Paulo, convertido ao Evangelho, homem cheio do Espírito Santo, que confessa ser escravo do pecado, que peca mesmo a contragosto. Ele deixa claro que parte de sua vontade está livre para obedecer a Deus e outra parte está presa a um poder irresistível, que ele chama de "pecado". S. Paulo é quem nos ensina que a vontade humana nunca é completa para o bem. Ela pode ser completa para o mal, como ocorre com os ímpios, mas nunca completa para o bem, por conta dessa inclinação persistente e terrível, que não tem outro nome senão "Pecado". E não só o nome, mas natureza e culpa.
Então existe no homem uma compulsão pelo mal, de maneira que, para pecar, não há necessidade de vigor algum de sua parte, mas para fazer o que é reto, há necessidade de lutar contra a correnteza. Esta é a razão porque é muito mais fácil pecar que obedecer. Na verdade, obediência a Deus só se torna possível no contexto da fé, quando então somos declarados justos por Deus (justificação) e recebemos o Espírito Santo, que contra essa compulsão pelo pecado inicia uma luta renhida.
Sobre essa árdua luta, S. Paulo escreveu aos gálatas: "Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer"
A palavra "inclinação", se formos pensar bem, não faz jus a essa realidade apresentada por S. Paulo. Ele deixa claro que é uma dominação, uma força brutal contra a Lei de Deus, verdadeira rebelião.
Assim descobrimos que o pior pecado está em nós como se não estivesse. Ficamos preocupados com os frutos que brotam dessa árvore e tentamos arrancá-los um a um, como inveja, ira, ódio, luxúria, mas nos esquecemos da árvore que silenciosamente os frutifica. E quando nos damos conta disso e nos arremetemos contra essa árvore, descobrimos que suas raízes são tão profundas quanto a humanidade.
Esse gravíssimo pecado, essa permanente rebelião contra a vontade de Deus, é chamado de concupiscência, carne ou cobiça. Antes mesmo da vontade e da decisão, ele já está lá, desejando o que é proibido pelo simples fato de ser proibido. E é pouca coisa essa rebelião contra Deus? Basta que se pondere no destino de Lúcifer e de seus anjos.
Acho importante enfatizar que a questão da concupiscência não é lógica. É uma questão espiritual, assim como a Lei de Deus é espiritual, conforme atesta S. Paulo: "Porque bem sabemos que a lei é ESPIRITUAL" (Romanos 7:14). Então se a Lei de Deus é espiritual, sua desobediência também é espiritual, sendo tudo matéria de fé, razão pela qual o homem incrédulo ainda insiste no rigor moral e ético como forma de alcançar a justificação.
A questão é: se Deus se ativesse somente ao nosso exterior, facilmente nos justificaria, assim, como penso eu, sou justificado pela sociedade, amigos e família, que só enxergam o meu exterior. Mas Deus quer o nosso coração e enxerga a concupiscência que há nele, atrevida e obstinada contra sua vontade.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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