sábado, 23 de fevereiro de 2019

SACRAMENTOS: VALIDADE E EFICÁCIA

Sempre houve na cristandade duas situações: sacramentos válidos e sacramentos eficazes. Um sacramento pode ser válido ou não. Uma vez válido, ele pode ou não ser eficaz. Este artigo pretende discutir sucintamente esta questão tão importante.

Um sacramento consiste em um sinal visível ao qual é acrescida a Palavra de Deus. O Pai une o seu Verbo Eterno, seu bom propósito para o homem, suas estupendas promessas a uma coisa material, que nossos sentidos podem apreender. Enquanto os sentidos captam os sinais e remetem ao intelecto o que significam, o espírito apreende o Verbo eterno de Deus, por meio da fé. Acontece algo na esfera material, envolvendo sentidos e razão. Paralelamente, ocorre outra coisa muito mais sublime no âmbito espiritual, em que espírito e Verbo ocultamente se encontram e unem-se, por meio da fé.
Aos textos e prédicas que chegam pelos olhos e ouvidos ao intelecto, Deus une seu Verbo eterno, alimento da alma. À água que toca o corpo e é rememorada pela mente, Deus une sua graciosa Promessa de salvação. Ao pão e vinho consagrados que ingerimos, Deus une a substância de seu Filho unigênito.
Para que um sacramento seja válido, é necessário, portanto, que ele contenha os sinais instituídos por Deus, sem nenhuma adulteração. Também é fundamental que a Palavra de Deus seja proferida sobre eles. Logo, uma Eucaristia com pão e água, como se verificou entre os encratitas, não é válida, porque não contém os sinais que Deus instituiu. Também não é válida a Eucaristia em que o vinho é substituído por suco de uva. Igualmente, uma vez omitida a Palavra de Deus, ou modificada maliciosamente, também não haverá sacramento.
Uma vez o sacramento seja válido, tanto em seus sinais, quanto no uso da Palavra, resta-nos saber se é ou não eficaz. A eficácia do sacramento depende sempre da fé. O sacramento é uma oferta de Deus que precisa ser aceita, o que se dá mediante a fé. Destarte, o Batismo é eficaz enquanto se crê nele. O mesmo se deve afirmar acerca da Eucaristia. 
Repudiamos veementemente o Ex opere operato (*). A Graça é o conteúdo, a fé é o continente. Deus dá, a fé aceita.
A principal objeção é a suposta ausência de fé nos infantes batizados. Bem, as Escrituras revelam com clareza que não só bebês creem, mas embriões e fetos também. Lemos no Salmo 22: "A ti fui entregue desde o meu nascimento; TU ÉS O MEU DEUS desde o ventre de minha mãe". São João Batista creu ainda no ventre de sua mãe (S. Lucas 1:41). Cristo coloca as crianças como exemplo a ser seguido, certamente não de obras, mas de fé (S. Mateus 18:3-4). De fato, é da fé que procedem as obras que o Senhor elogiou. Logo, os infantes creem, e é com base nessa fé que são batizados. Um dia terão condições de compreender e confessar a fé, mas o mais importante é que creem e são modelos de fé.
Concluindo, a garantia da validade dos sacramentos está na Palavra e nos sinais. Os sacramentos são, por assim dizer, a Graça divina revestida de matéria. Quer se creia, quer não se creia, os sacramentos são válidos quando sobre os sinais corretos se proclama a Palavra de Deus. Entretanto, a eficácia depende da fé. Onde ela não existir, não será possível a apropriação da Graça sacramental.

(*) Doutrina tomista que ensina o sacramento ser eficaz quando executado segundo os preceitos da Igreja, independentemente da fé.

Autoria: Carlos Alberto Leão.