quinta-feira, 26 de março de 2015

ELE VEIO PARA SALVAR - PARTE 2




Não quero nem posso ser intérprete das Escrituras.

O Espírito Santo eu possuo para isso, mas não tenho conhecimento do grego e do hebraico, que são imprescindíveis para quem se propõe a interpretar a Palavra de Deus.

No entanto, sou cristão. Frequentemente sou visitado por dúvidas. E fui instruído a buscar nas Escrituras consolo e salvação (2 Timóteo 3:15-17).

Embora não conheça as línguas clássicas, conheço Jesus, não só por experiência própria, mas também através das pessoas que amo. Todas elas são Jesus para mim. Ele dialoga comigo em casa, na igreja e no trabalho, através dessas pessoas. 

Tenho mais de 400 pacientes, eu acho. Cada um deles é Jesus para mim.

Então, quando me deparo com algum texto de difícil compreensão, embora quisesse sinceramente recorrer ao hebraico e ao grego, para poder entendê-lo melhor, eu só posso recorrer ao Deus que se revelou em Jesus.

Digo isso porque a visão sobre Deus está condicionada à nossa cultura, às nossas limitações de compreensão, à experiência pessoal de cada um e à época.

Nós achávamos que conhecíamos a Deus, no Antigo Testamento. Hoje o conhecemos bem melhor, através do meigo e humilde Jesus. Ele é a própria palavra de Deus encarnada. Ele veio nos mostrar quem Deus de fato é, para que não mais nos confundamos.

Estou com um texto difícil, que me provoca desconforto toda vez que o leio. Mas com a ajuda de Deus quero meditar sobre ele e reconciliar-me com ele. 

Quem me ler não entenda como interpretação. Não sou teólogo! Medito sobre este texto como cristão, que sou.

É um texto de S. Paulo. Todos sabemos que ele não só era um teólogo, como foi o mais preparado de todos os teólogos de todos os tempos e também foi um verdadeiro filósofo.

São Pedro, iletrado que era, confessou que tinha dificuldade para entender alguns textos de S. Paulo (2 Pedro 3:14-16). Bem, se S. Pedro, que tocou na pele de Jesus, respirou o mesmo ar que ele, abraçou-o, comeu com ele e teve seus pés lavados por ele, tinha dificuldades para entender S. Paulo, imagine eu, que só conheço Jesus pela fé.

Mas vamos lá. O texto está na carta aos Romanos, capítulo 9, versículos 6-23. Que Deus perdoe a cobiça que visita todas as minhas obras. Amém!



"E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa".



Deus elegeu para si um povo. Dentre todos os povos, Israel se tornou para Deus um povo separado. Não posso restringir o amor de Deus a essa nação. Deus salvou muitas pessoas que não eram israelitas. Entretanto, a eleição de Israel como povo de Deus prevaleceu.

Deus revelava seu amor, perdão e misericórdia através de um povo. Os gentios olhavam para Israel e percebiam o quanto ele era amado e cuidado por seu Deus. Foi assim que muitos se converteram ao judaísmo, os chamados prosélitos.

Pois bem, Israel prefigurava a Igreja. Como um israelita não era salvo por seu nascimento, mas pela sua fé, havia uma nação dentro de outra nação: Um Israel corporal, definido pelo nascimento carnal, e um Israel espiritual, nascido de Deus. Também hoje existe uma igreja corporal, que o mundo vê, e uma Igreja espiritual, que somente Deus vê. Israel espiritual ou a Igreja espiritual é a verdadeira descendência de Abraão, o pai da fé. Nós, que cremos, somos os filhos de Isaque ou filhos da promessa. Somos o remanescente fiel.



"Porque a palavra da promessa é esta: Por esse tempo, virei, e Sara terá um filho. E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque, nosso pai. E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal, já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú".



O que separa Israel corporal de Israel espiritual? A fé! Também a fé separa hoje a Igreja corporal da Igreja espiritual.

O texto reforça a fé não como fruto da natureza humana, mas como dom ou presente de Deus. Jacó não fez nada para merecer a fé. Também a fé não veio de seu coração corrupto. Na verdade, Jacó e Esaú vieram da mesma massa corrompida pelo pecado. Chama a atenção o fato de serem gêmeos, para nos mostrar que nada os distinguia quanto à sua natureza carnal. Um, porém, creu. O outro, não.

Um grande mistério há por trás disso. Convivemos hoje com o mesmo questionamento: Por que Deus dá a fé a alguns, negando-a a outros?



"Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, ele tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz".



Se alguém crê é porque Deus agiu misericordiosamente nele. Ninguém fez nada, absolutamente nada para crer. Deus nos escolheu para crer. De fato, não fomos nós que optamos por Deus. Ele nos escolheu. 

Nossa natureza sem Deus é escrava do pecado e, embora queira Deus, não o aceita da maneira como ele é. Como disse na publicação anterior, nossa alma conserva alguma memória do Éden, lugar de profunda intimidade entre o homem e Deus. Queremos essa intimidade de novo. Ouso dizer que isso é instintivo em nós. Daí o fato de existirem tantas religiões no mundo. Porém, buscamos Deus fazendo uso de nossa razão, que é o que temos. Por isso, não chegamos ao conhecimento de quem ele é.

Deus então nos socorre com a fé, para que possamos aceitá-lo e amá-lo da maneira como ele é.

Mas não devemos nos esquecer que Deus é livre para agir misericordiosamente. E se ele não agir misericordiosamente, não haverá chance alguma de salvação.

Uma palavra, porém, me aflige nesse texto. É a palavra "endurecer".

Deus não é autor ou promotor do pecado. O pecado vem exclusivamente de nossa natureza corrompida. Seremos sempre responsáveis pelo nosso pecado, nunca podendo atribuir a Deus a culpa.

É que pecamos muito menos que nosso potencial de pecar. Não somos nós que refreamos a fúria de nossa cobiça e a torrente de nossas paixões. Não fosse a mão graciosa de Deus, nossa sociedade se desfaria em pecado. Imagine se cada um de nós, bilhões de pessoas, pudesse dar vazão total à sua maldade interior? O que seria de nós? Até o inferno seria lugar melhor para se viver.

Portanto, Deus refreia a maldade humana. Faz isso através de sua graça. 

Mas Deus pode retirar sua mão por alguns instantes, para que possamos enxergar quão maus nós somos e o quanto necessitamos dele. É então que o coração do homem se endurece: Quando Deus retira sua graça.

Temos hoje visto os horrores praticados pelo Estado Islâmico e pelo Boko Haram. Terroristas ameaçando o mundo inteiro. Muitos refugiados vivendo em condições extremamente precárias. E a indiferença do mundo em relação a tudo isso chega a ser mais brutal ainda. 

Nós lamentamos. Mas Deus quer que lamentemos mesmo! Tudo isso é fruto de nossa maldade. Basta Deus retirar sua graça por alguns instantes, que o homem comete todo o tipo de selvageria possível.

Deus, no entanto, tem um propósito por trás disso. Não posso imaginar que o Deus revelado em Jesus queira permitir que todas essas atrocidades ocorram sem ter um propósito muito digno. Ele certamente quer que nos humilhemos e nos voltemos para ele. Ele haverá de agir misericordiosamente com quem proceder assim. 

Infelizmente, somos muito otimistas em relação a nós mesmos. Achamos que estamos evoluindo ética e moralmente. Pensamos que uma grande distância nos separa do homem primitivo, das barbáries. Fechamo-nos em nossos "valores", em nossa "bondade", em nossos "direitos humanos", a ponto de acharmos que Deus e sua Lei são coisas obsoletas e ultrapassadas. Queremos afastar das crianças o obscurantismo da Bíblia. Então Deus nos faz acordar, quando ele retira a sua mão e permite, por algum tempo, que o homem faça o que ele pode fazer, ou seja: pecar horrivelmente contra si mesmo e contra o próximo. Ele espera, com tudo isso, que nos voltemos de novo para ele.

Um texto de Deuteronômio me consola muito:

"Quando, pois, todas estas coisas vierem sobre ti, a bênção e a maldição que pus diante de ti, se te recordares delas entre todas as nações para onde te lançar o Senhor, teu Deus; e tornares ao Senhor, teu Deus, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda a tua alma, e deres ouvidos à sua voz, segundo tudo o que hoje te ordeno, então o Senhor, teu Deus, mudará a tua sorte, e se compadecerá de ti, e te ajuntará, de novo, de todos os povos entre os quais te havia espalhado o Senhor, teu Deus. Ainda que os teus desterrados estejam para a extremidade dos céus, desde aí te ajuntará o Senhor, teu Deus, e te tomará de lá. O Senhor, teu Deus, te introduzirá na terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te fará bem e te multiplicará mais do que a teus pais. O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas" (Deuteronômio 30).

Aqui Deus promete circuncidar o coração de quem se voltar para ele, diante do inferno produzido pela maldade humana.

Portanto, creio firmemente que Deus, quando permite que o homem cometa atrocidades, ele quer que reconheçamos nossa culpa e nossa miséria e que nos voltemos para ele, para que ele nos circuncide o coração. Ora, o que é circuncisão do coração senão regeneração e fé?

É exatamente isto o que ele pretende, quando nos permite viver segundo nossa maldade: Que o busquemos e sejamos sarados através da fé. 

Com Faraó e os egípcios não foi diferente, pois é certo que Deus gostaria de tê-los recebido em misericórdia. Houvesse Faraó voltado para Deus, seria aceito em misericórdia, creria e, como consequência de sua fé, haveria de amigavelmente libertar o povo judeu.

Mas alguém poderá questionar: Deus quer nos salvar depois de permitir que nos destruamos? Deus abate, para depois levantar?

Bem, é a maneira como Deus trata nossa soberba e nos atrai. Aqui os questionamentos são tratados da seguinte maneira:



"Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?"



Eu já me questionei muito acerca disso. Por que Deus pode dar a fé e salvar, mas não a dá? Por que nascemos com o pecado original? Deus não poderia ter-nos feito sem esse pecado?

Eu não tenho respostas a perguntas assim. Quem sou eu?

Fato é que nasci em pecado. Fato é que esse pecado me impossibilita de chegar a Deus, por meus próprios meios. 

Mas minha mente deve permanecer cativa a Cristo e confiar que bom ele é. Não é autor do pecado. Não gerou em mim o pecado original. Sua ação foi, no máximo, permissiva.

Eu acredito que o pecado original seja um castigo que Deus infligiu ao gênero humano, devido ao pecado de Adão. Entretanto, por ser bondoso e por nos amar sem medida, ele nos oferece  insistentemente o antídoto do Evangelho, para que sejamos curados.

Não creio que ele vá recusar esse remédio a quem o busca desesperadamente, atraído pela memória do Éden e sufocado pela maldade que vê em si mesmo e no mundo que o cerca.

Não vejo Deus separando quem irá salvar de quem irá condenar.

Se a resposta não for boa o suficiente para você, tenha sua opinião. Quando se trata de mistério, o máximo que podemos ter é opinião. Prefiro opiniões que se baseiam no Deus Revelado e que fogem do Deus Abscôndito.



"Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?"



Deus nos criou. Ele é o criador de quem crê e de quem não crê. Sua mão bondosa esteve na formação do mais vil e do mais santo dos homens. A mesma mão que fez a Virgem Maria também fez Adolf Hitler. O mesmo amor fez ambos!

Em todos nós permitiu a corrupção proveniente do pecado de Adão. A alguns resgatou, através do Evangelho, transformando-os em vasos para honra. A outros, não. Estes continuaram e continuam sendo vasos de desonra, a desonra do pecado original.

Temos, no entanto, que separar a vontade ativa da vontade permissiva de Deus. Deus foi ativo ao nos criar. Também é ativo ao nos dar o Evangelho, para que sejamos curados. Mas foi permissivo com relação à corrupção proveniente do pecado de Adão. Quer dizer, no caso do pecado, a vontade ativa não é de Deus, mas do diabo e do homem. Qualquer pensamento que se eleve além disso irá cair no maniqueísmo.

Assim como Deus tem o direito de nos fazer, tem também o direito de nos salvar, tudo isso livremente. Ele nos fez pecadores, criou-nos a partir de semente pecaminosa, o que é muito melhor que não nos criar, sobretudo quando meditamos sobre o fim, que é a redenção.

Há, porém, duas coisas que limitam a liberdade de Deus: Seu amor e sua imutabilidade. Deus é amor, ele não é ódio. Também não pode passar do amor ao ódio, pois é imutável.



"Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas de sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?"



Alguns imaginam o mundo como sendo um espetáculo. Deus é autor da peça teatral e nós, os atores. Devemos fazer exatamente o que o autor determinou. Determinou que sejamos maus, assim seremos. Determinou que seremos bons, assim será. Ele coloca os personagens na peça como bandidos e mocinhos.

Não! Deus não determinou vasos de honra e vasos de desonra, como personagens de uma tragédia, por meio da qual quisesse apresentar a seguinte moral: Eu sou poderoso e glorioso.

Por vontade permissiva dele, todos nós nascemos vasos de desonra, devido ao pecado original. Ele suporta essa maldade com muita paciência ou longanimidade.

Quem preparou essa maldade não foi Deus. Os vasos de ira foram preparados por si mesmos e pelo diabo para a perdição. Aqui a vontade de Deus é permissiva.

Deus quer esses vasos para si, a fim de que sejam vasos de misericórdia. Aguarda-os ou os suporta com muita paciência. Abate sua soberba. Mostra-lhes sua maldade não somente através de sua Lei, que anda esquecida, mas através de fatos, quando retira sua mão graciosa e um homem devora literalmente ao outro. Isso é suportar com longanimidade.

Mas o que fazer com quem se endurece cada vez mais? O inferno já começa para essa pessoa em vida. Por isso, é chamado de "vaso de ira". Se apesar de tudo o que Deus fez e faz, o homem não se arrepende, antes se isola e continua mais mau do nunca, não há outra consequência senão o inferno. Dúvidas, porém, eu não tenho do amor sincero de Deus por essas almas.

No entanto, àqueles que o buscam, que são recebidos através da fé que Deus dá àqueles que o buscam, a esses Deus dá o privilégio de serem seus filhos (S. João 1:12).

Deus tem poder de fazer um vaso de honra ou vaso de misericórdia, usando a mesma massa com que todos os homens foram feitos. Massa esta suja, podre e fétida. Massa ruim não porque Deus quis, mas porque permitiu. 

Deus poderia não nos ter feito. Mas ele quis nos dar uma chance, que é a chance de existir. Para isso ele pôs suas mãos santas na massa fétida com que nos fez, todos vasos de desonra. Depois nos socorre com a fé, por meio da qual nos transforma em lindos vasos de misericórdia, com valor incomensurável.











Autoria: Carlos Alberto Leão.

Imagem extraída da internet.














sábado, 21 de março de 2015

ELE VEIO PARA SALVAR - PARTE 1




A semana santa está se aproximando e então a cristandade terá uma nova oportunidade de relembrar a paixão de Cristo e celebrar sua ressurreição.
Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, morreu em uma cruz para expiação de nossos pecados. Sendo Deus e homem, reconciliou Deus com o homem. Jesus Cristo será sempre a nossa conexão com Deus, pois ele é um de nós e também é Deus.
Mas por quem Cristo morreu? É uma pergunta, a meu ver, muito fácil de ser respondida: Por toda a humanidade! "É por meio do próprio Jesus Cristo que os nossos pecados são perdoados. E não somente os nossos, mas também os pecados do mundo inteiro" (S. João). Entretanto, ainda aqui encontramos opiniões divergentes. Alguns têm uma visão estranha sobre a predestinação e consideram que a morte vicária de Cristo foi para salvar somente alguns predestinados à salvação. Outros acreditam que Cristo morreu por todos e que temos alguma liberdade para escolher, que é o livre-arbítrio.
"Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? - diz o Senhor Deus. Não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?" (Ezequiel 18:23).
Deus não quer a morte de ninguém. É desejo dele que todos sejam salvos. Não posso afirmar, com base bíblica, que Deus morreu para salvar somente alguns. 
São Pedro ensina: "Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada. Pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que NENHUM pereça, senão que TODOS cheguem ao arrependimento" (2 Pedro 3:9).
Estas palavras não se referem a quem já está salvo, porque quem já crê está perdoado e não irá perecer. São Pedro trata do fim do mundo e fala sobre a paciência com que Deus lida com o pecado humano. Ele deseja que todos sejam salvos, não excetuando ninguém. Ele quer que todos cheguem ao arrependimento. Por isso mesmo, espera. 
A paciência de Deus é tanta, que nos impacienta, às vezes. Sobretudo em tempos de grande tribulação, ansiamos desesperadamente pelo retorno de Cristo e ficamos impacientes com a demora de Deus em cumprir o que prometeu.
É que Deus é longânimo, ou seja, muito paciente. E de onde procede tanta paciência? De seu infinito amor. 
Olhamos ao nosso redor e percebemos quanta injustiça vem sendo tolerada por Deus. Ele trata com amor seus inimigos e aguarda seu arrependimento, quando gostaríamos que ele nos levasse consigo e a tudo destruísse atrás de nós. Isso porque não amamos da maneira como ele ama.
Ninguém nunca poderá entender o amor de Deus. Falamos que Deus ama, odeia e arrepende-se. Mas tomemos cuidado com isso! Deus é amor por essência e é imutável. Ele não gosta para depois desgostar. Não há mudança ou variação em Deus. É impossível para Deus deixar de amar, já que ele é amor. Ele não contém amor, de maneira que possa dá-lo em maior ou menor quantidade ou retê-lo. Ele é amor por natureza! Ou Deus nunca amou ou ele amará sempre, porque é imutável. Entretanto, Deus é amor; não é ódio, nem indiferença. "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus É amor" (São João). Deus não ama porque quer, mas porque é.
Também não é correto afirmar que Deus ama mais. Ele ama de maneira perfeita. É possível acrescentar algo àquilo que é perfeito? Acaso o acréscimo não tornará a perfeição imperfeita? E caso seja possível acrescentar algo àquilo que é perfeito, não seria uma mudança?
Portanto, cuidado ao afirmar que Deus ama e deixa de amar. Também tome cuidado em afirmar que Deus ama de maneira especial. Ele ama e ponto final!
Eu poderia especular se Deus ama quem está no inferno, mas não acho prudente. É ir longe demais!
Fato é que Deus é amor imutável e, por isso mesmo, incondicional. Pode irar-se, mas continua amando. Ele é justiça, mas é amor. Justiça imutável e amor imutável. Por isso mesmo, Ezequiel diz que Deus não tem prazer na morte do ímpio. Ele dá ao ímpio aquilo que ele merece, mas não o faz de bom grado, porque ama. 
Dizer que Deus se entristece, arrepende-se e odeia são formas humanas de se expressar. Na verdade, Deus não muda e é amor. Aqui a verdade de Deus se esbarra em nossa muito limitada capacidade de compreensão.
Uma vez posto que Deus ama a todos e deseja a salvação de todos, não tendo prazer na morte de ninguém, antes desejando ou ansiando ardentemente que todos sejam salvos, vejamos a maneira como Deus executa seu plano de salvação no tempo.
Deus chama, através da Pregação do Evangelho. Deus concede fé no Evangelho. Portanto, Deus se doa através da Pregação e através da fé. 
A fé não é fruto da razão humana. Muito pelo contrário, razão e fé são opostas. A razão analisa o que os sentidos captam. Ela vê semelhanças, agrupa, separa, organiza, levanta hipóteses (Gênesis 2:19). A fé, por sua vez, é plantada por Deus na escuridão do espírito. Ali não há visão, nem cheiro, nem tato, nem paladar. Ali tudo é invisível e misterioso. 
Pois é na escuridão do espírito humano que Deus põe a fé. Logo, a fé é dom ou presente de Deus. Nossa natureza imunda não pode gerar a fé verdadeira (Efésios 2:8). Ninguém pode colaborar com Deus para ter fé. Ninguém pode se predispor a isso, através da virtude ou boas obras. Daí dizermos com tanta convicção que fomos escolhidos por Deus. Não foi nosso intelecto que o escolheu. Ele nos escolheu, quando pôs a fé em nosso espírito.
Jesus disse: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! QUANTAS VEZES QUIS EU reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós NÃO O QUISESTES"(S. Mateus 23:37).
Veja que Deus quer, mas nós não queremos.
É então que percebemos o quão servil é nosso "livre-arbítrio". Não queremos Deus tal como ele é. Embora haja no espírito humano uma busca incessante de Deus, não o aceitamos da maneira como ele é, a não ser pela fé.Isso porque a razão haverá de prevalecer, enquanto o vazio da alma não for preenchido pela fé.Como nossa razão haveria de aceitar um Deus uno e trino, um Deus que se encarnou e morreu devido ao nosso pecado? Nossa razão poderá aceitá-lo como glorioso criador e mantenedor de todas as coisas, mas não como salvador.
Portanto, não somos livres para querer a salvação gratuita de Deus. Nosso pecado nos condiciona a não querer.
Mas o que me encanta muitíssimo é que Deus quer. Não só quer, como quer muito! "Quantas vezes eu quis". Quando Jesus pregava o Evangelho ao povo, ele não estava iludindo ninguém com uma salvação que não queria dar, senão a alguns predestinados. Ele quis e ainda quer salvar a todos, indistintamente, abundantemente e profundamente.
Entretanto, se a fé, que vem de Deus, não nos socorrer, inevitavelmente iremos recusar.
Quando penso que Deus predestinou alguns para a salvação, tendo rejeitado os demais, caio na terrível contradição de colocar Deus como alguém que oferece sem intenção sincera de conceder. Pois quantos são evangelizados no mundo inteiro, todos os dias? Quantos ouvem falar do amor de Deus? Porém pouquíssimos creem e são salvos. Não posso concluir que Deus iludiu tanta gente com um presente que não deseja dar.
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei", diz Jesus a todos. Porém, ele só dará descanso perene àqueles que predestinou. Se outro, que não foi predestinado, chegar cansado e sobrecarregado, atraído por esse consolo, não terá o que quer plenamente. Talvez goze algum descanso por algum tempo, mas por fim cairá, pois nunca foi predestinado à salvação. Ouvirá a Palavra, será confortado por ela, receberá os sacramentos, mas por nunca ter sido escolhido, inevitavelmente irá cair em pecado e, por isso, há de perecer. Que é tudo isso senão iludir?
Fico pensando na intenção do semeador, quando deitou sementes à beira da estrada, sobre terra pedregosa e sobre espinhos (S. Lucas 8:4-15). Ora, quem semeia é Deus, através de seus cristãos. A semente é a Palavra de Deus e a terra é o coração humano. Deus semeia sua Palavra sobre terra ruim porque ama e quer salvar? Ou semeia simplesmente para aumentar a culpa?
Peço que sua resposta se baseie naquilo que você conhece sobre Deus, que É amor. 
Sabemos que a terra boa foi preparada por Deus para receber a semente. Não fosse esse preparo, nenhuma terra seria boa. De fato, Deus prepara o coração humano através da regeneração e fé. Então se a fé é dom de Deus, por que Deus, desejando tanto a salvação de todos, não concede a fé a todos? A razão humana exige uma resposta para isso.
Ouso ter uma opinião a respeito. Deus promete: "Pedi, e dar-se-vos-á. Buscai, e achareis. Batei, e abrir-se-vos-á".
Levo muito a sério toda promessa que Deus faz. Para mim pedir a Deus e receber é mais exato que a matemática. É mais fácil 2 mais 2 serem 3 ou 5 do que alguém buscar com sinceridade a Deus e não achá-lo. 
A busca de Deus é incessante. Embora muitos, mas muitos mesmo tenham desistido dessa busca e agora vivem indiferentes em relação a Deus, há outro tanto que persevera nessa busca.
"Buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte"(Jeremias 29:13-14a).
A fé vem de Deus, mas a busca é própria da natureza humana, pois fomos feitos à imagem de Deus. Essa imagem é a memória de Deus que nossa alma conserva. Daí essa inquietação interior, que nos faz buscar a Deus. Podemos inventá-lo, ser ludibriados ou desistir, mas quem busca a Deus de maneira sincera haverá de encontrá-lo. E como? Através da fé.
A fé não é um presente que Deus não queira dar. Ele a quer dar sempre. E embora seja livre para dá-la a quem não a busca, atrevo-me a dizer que ele não é livre para deixar de dá-la a quem a busca de todo o coração, devido à promessa que fez e por ser imutável.
A busca é algo interessante. Muitos que estão na Igreja nunca buscaram a Deus, enquanto que muitos que estão atolados no pecado estão em busca incessante de Deus. Deus não haverá de desprezar quem o busca com tanta sinceridade e insistência!
A própria experiência nos ensina. Excetuando os filhos dos crentes, que recebem a regeneração através do Batismo, desconheço alguém que tenha recebido a fé verdadeira sem a ter buscado. Que caminho cada um de nós percorreu até crer? 
Pode ser que alguém encontre o que nunca buscou, mas isso deve ser fato raro. Cada cristão tem seu itinerário.
Portanto, a oração que Deus mais atende, todos os dias, é aquela que vem da escuridão da alma humana, que pergunta aflita: Cadê você? É o gemido de quem anda pelo mundo buscando quem o criou e desejando reconciliação com ele.
Se você, que me lê, é descrente, provavelmente é descrente que está em busca. Caso contrário, não perderia seu tempo com esta leitura. Eu lhe aconselho a continuar buscando essa fé. Não desista! Se continuar batendo, a porta haverá de se abrir.
Foi assim com Santo Agostinho de Hipona. Que caminho ele percorreu do maniqueísmo ao cristianismo? Ele passou por várias crises até abandonar o maniqueísmo de vez. Percebeu sua incoerência. Assustou-se com o Antigo Testamento. Percorreu Platão. Ouviu vários sermões de Santo Ambrósio. Até que, subitamente, recebeu a fé verdadeira, ao ler a carta de S. Paulo aos Romanos.
Livre-arbítrio não é uma palavra que consta das Sagradas Escrituras. Duvidar da capacidade do "livre-arbítrio" é muito fácil, pois esse termo e a ideia que contém vieram de pensadores da antiguidade, não da Bíblia. No  entanto, predestinação e eleição frequentemente aparecem nas Escrituras, tanto do Antigo, quanto do Novo Testamento. Mas como devemos entender a predestinação?
Deus predestinou a Igreja Cristã para ser salva, da mesma maneira como predestinou Israel. Na verdade, Israel corporal prefigurou Israel espiritual, que é a Santa Igreja Católica ou a cristandade. 
"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus"(S. Pedro).
Portanto, sou eleito porque faço parte de um povo eleito. Poderia estar por aí sem Deus, buscando-o ou não, mas Deus me alcançou, enxertou-me na oliveira e hoje me faz parte dela.
A Igreja não é eleita porque é constituída de eleitos. Nós somos eleitos porque tomamos parte na Santa Igreja Católica, que Cristo elegeu para ser sua esposa e por ela morreu, derramando seu precioso sangue. O que está além disso se chama Deus Abscôndito e não deve nos interessar.
"Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém" (S. Paulo).





Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.