sábado, 30 de maio de 2015

É VER PARA CRER... OU OUVIR!



"Todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia" (2 Timóteo 1:12).

É possível ao cristão ter certeza de sua salvação? Se olharmos para nós, para o que somos, é claro que não. Se eu pensar em minha fraqueza, nas inclinações de minha carne ou no testemunho de meu coração, é certo que nunca terei essa certeza.
No entanto, São Paulo nos mostra a necessidade de termos essa certeza, sem a qual não podemos encontrar paz. Só poderei descansar quando eu tiver certeza de minha salvação. Afinal, estou abrindo mão deste mundo porque creio em um mundo vindouro. Estou deixando muitas possibilidades em nome da possibilidade de ser de Deus. 
A possibilidade do Céu e de ser de Deus pode ser muito concreta neste mundo, sem que haja soberba em nós. Aliás, deve ser concreta. A fé é esperança, mas não uma esperança vaga, baseada num talvez, ela é também uma "convicção de fatos que se não veem". Esperança, porque tenho em parte e não vejo, mas não uma esperança vaga. Trata-se de certeza! Por isso, é necessário que o cristão tenha certeza de sua salvação.
Para que se possa ter certeza da salvação, é necessário compreender bem como se deu a nossa salvação. Quem ainda não se dispôs a refletir sobre a origem de sua fé não poderá descansar nela, nem nela confiar.


"Eu sei em quem tenho crido".

De fato, é necessário para quem crê desviar os olhos de si mesmo e voltar-se para a Palavra de Deus, de onde veio a sua fé e salvação. Assim como a minha fé não veio de mim, igualmente não devo esperar que sua manutenção dependa de mim. 
Quem nos salvou é imutável: "Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos" (Malaquias 3:6).
Pergunto então: Como Deus nos salvou? 
Fé não é conhecimento acerca de Deus, nem aceitação passiva de doutrinas. Não se aprende fé em lugar algum. A fé é exclusiva obra de Deus, que ele realiza sozinho no coração inteiramente vazio de si. 
Nós, luteranos, não somos sinergistas, ou seja, não acreditamos que o homem colabore com Deus na sua fé e salvação. Do princípio ao fim, do inferno ao Céu, consideramos que a salvação humana é obra exclusiva de Deus. É ele quem convence o homem de seu estado miserável, confronta-o com o tamanho de seu pecado, faz com que ele se sinta nada ou pior que o nada (porque o nada não é mau), para que ele então se manifeste com sua Palavra salvadora.
Portanto, é necessário que Deus retire o homem de seu estado de alienação, para que ele possa se ver da maneira como Deus o vê. Ainda que Deus ame de maneira profunda a todos, ele vê o pecado com indizível horror. Esse pecado que nós toleramos e achamos desprezível, coisinha à-toa, para Deus é visto como dura afronta ao seu amor, sendo manifestação do pecado de Adão e Eva, que é um mal muito mais vasto que imaginamos. 
Então é necessário que Deus faça com que o homem veja o seu pecado com o mesmo horror que ele vê. É fundamental que o homem se sinta perverso, mau e indigno. Se o homem sentir em si qualquer vestígio de bondade, não estará totalmente pronto para ser curado por Deus. 
A esse ponto de humilhação nenhum homem chega se não for tomado pela mão pelo próprio Deus. Creio firmemente que quem busca de coração a verdade haverá de encontrá-la, mas só depois de Deus o tomar pela mão e fazer com que ele atravesse esse vale tenebroso, que é a verdade sobre si mesmo.
A primeira verdade que salva é a verdade sobre nós mesmos. Ninguém chega a ela senão pelo próprio Deus. Enquanto Deus não intervém em nossa história, temos a tendência de subestimar grandemente nosso pecado e sua gravidade perante ele. 
É uma enorme "ironia do destino" que o homem, ao buscar o conhecimento do bem e do mal, tenha perdido completamente a noção do que é bem e mal. Na verdade, nada é "ironia do destino". Essa alienação foi o castigo que Deus infligiu ao homem, como consequência de seu primeiro pecado.
"Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores" (Marcos 2:17).
Quando o homem já não encontra mais esperança em si e no mundo, sente-se enfermo e perdido, é que Deus lhe oferece a sua Promessa. É então que a fé surge a partir da Promessa de Deus e agarra-se a ela como verdade.
Uma das mais ofensivas estratégias do diabo é desviar a atenção do ser humano de sua real condição. Deus se vê impossibilitado de agir onde só há dinheiro, lazer, diversões e oba-oba. Infelizmente, não há obstáculo maior à fé que a prosperidade, seja ela financeira ou cultural. É por isso que a fé está ocorrendo nos hospitais, nas favelas e nos lugares mais pobres que há no mundo, onde o homem não tem mais como fugir à reflexão e onde todo o contexto favorece o reconhecimento de sua precariedade.
A fé não pode ser obra humana. Mesmo a um homem alquebrado pela consciência de seu pecado, não é de se esperar que aceite a Promessa de Deus como verdade, visto que não vê o promitente e quem lhe anuncia é um simples homem. Que valor o testemunho de um homem tem para alguém que aprendeu, ao ser confrontado consigo mesmo, com sua verdade, a não mais acreditar no homem?
São Paulo nos ensina que: "o próprio Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus". É o próprio Deus que se aproxima do homem e diz ao coração dele que o ama como Pai e que deseja muito reconstruí-lo. Ao ouvir: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei", o homem somente acreditará nessas palavras como verdade se Deus testemunhar ao seu coração que essas palavras são verdade, e não mais uma mentira dentre tantas.
Não pense, porém, que essa Pregação interior ocorre dissociada da Palavra de Deus exterior. O testemunho interior de Deus faz com que o homem creia no testemunho exterior, seja ele falado: "a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo" (Romanos 10:17); seja ele escrito: "estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (João 20:31).
A primeira verdade que o homem é levado a conhecer é a verdade acerca de si mesmo. A segunda verdade é o amor de Deus e seu desejo ardente de salvar e restaurar o gênero humano.
Nós, luteranos, negamos a geração da fé sem a Palavra de Deus exterior. Não que seja impossível a Deus salvar por meio de sua pregação íntima, mas porque ele revelou não querer salvar senão por meio de sua Palavra exterior: "APROUVE a Deus salvar os que creem PELA loucura da pregação" (1 Coríntios 1:21); "e, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo" (Romanos 10:17); "pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, MEDIANTE a palavra de Deus, A QUAL vive e é permanente" (1 Pedro 1:23). 
Deus poderia ter anunciado sua Palavra diretamente ao coração dos macedônios, sem a necessidade de lhes enviar S. Paulo. A Bíblia, porém, narra que S. Paulo recebeu a visão de um macedônio que lhe rogava, dizendo: "Passa à Macedônia e ajuda-nos" (Atos 16:9). Também a Bíblia nos diz que o diácono Filipe foi conduzido pelo Espírito Santo a um etíope, para pregar-lhe o Evangelho (Atos 8:26-40). Deus poderia ter instruído o coração daquele etíope, sem necessidade da Pregação de Filipe, mas não o fez.
Portanto, Deus convence intimamente o homem que é verdade o que lhe é pregado. É Deus que testifica ao coração humano que o anúncio não é enganoso, destarte criando a fé no que é anunciado. Como a fé não vê ou ouve esse testemunho interior, mas somente o exterior, ela se agarra ao testemunho exterior como sendo verdade pura.
Por que Deus quer que a fé surja dessa maneira, com a participação da Igreja, é algo que não nos foi revelado. Fica valendo o princípio de que Deus quis contar com a Igreja para salvar os homens, através de sua Palavra exterior.
Como afirmei acima, com base nas Escrituras, que a Palavra de Deus exterior é igualmente eficaz em sua forma escrita ou pregada, também é importante não omitir a eficácia dessa Palavra quando ela nos vem através de sinais.  Na verdade, a própria linguagem é um sinal. Deus, no entanto, estabeleceu outros sinais para sua Palavra, a saber: a água do Batismo e o corpo e sangue de Jesus Cristo sob o pão e o vinho, na Eucaristia. 
É próprio de Deus associar suas Promessas a sinais visíveis, como arco-íris, circuncisão e Páscoa. Desde o início de sua revelação, Deus promete algo e institui um sinal. Deus atinge nossa interioridade através de algo exterior, um sinal, que pode ser a linguagem, pão, vinho ou água. Em seguida, ele testifica ao coração do homem que aquele sinal exterior é verdadeiro e digno de confiança. Assim, o homem passa a crer e, não tendo consciência da Pregação interior de Deus, para crer nela, direciona sua fé ao sinal que lhe é apresentado como verdade. É dessa maneira que a fé surge no espírito humano e não de outra forma.
Portanto, não espere que Deus salve sem os sinais por ele estabelecidos: Palavra falada, Palavra escrita e sacramentos.
Se você não crê, busque a fé em Deus, não em livros. Não há outro caminho.


"Estou certo que ele é poderoso para guardar o meu depósito".

Voltando ao assunto inicial, que é a certeza da salvação, é necessário que saibamos que a mesma fonte da fé é também sua mantenedora. A fé surge da Promessa de Deus e é exclusivamente alimentada por ela, sendo como um rio que sai da nascente. 
A fé que surgiu a partir do testemunho externo, sinalizado pelo pão e pelo vinho: "Tomai, comei; isto é o meu corpo" e "bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados" é exatamente a mesma fé que, toda vez que contempla o pão e o vinho em cada Eucaristia, apreende a Promessa que há neles e a ela se agarra.
A fé que surgiu a partir da verdade: "Quem crer e for batizado será salvo" é a mesma que, ao contemplar a água do Batismo, volta a se deleitar na promessa que está contida nela, agarrando-se fortemente a essa promessa por toda a vida.
Uma mesma fé faz com que o homem, quando se vê perturbado pelos seus pecados e tentado a descrer em sua salvação, volte-se para a Promessa, sinalizada pela fala ou escrita: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus".
Enquanto nossos sentidos se voltam para sinais exteriores, nosso espírito se volta para a verdade contida neles, atestada pelo próprio Deus.
Portanto, a única maneira de ter certeza da salvação é recebendo os sinais que nos comunicam o favor de Deus, não duvidando deles. Em outras palavras, a certeza da salvação é certeza da Promessa de Deus e a dúvida quanto à salvação é dúvida quanto à Promessa de Deus.
Ora, ter certeza da promessa de Deus é honrá-lo segundo sua própria natureza imutável, como verdadeiro Deus; é a legítima obediência ao primeiro mandamento do Decálogo. Duvidar de sua promessa é desonrá-lo, como se ele fosse mutável ou mentiroso.
Mesmo que não sintamos absolutamente nada, é importante termos em mente que o Deus que promete na Pregação, na absolvição e nos sacramentos não está de brincadeira, está falando seriamente conosco e com certeza dá o que promete. É algo objetivo, isto é, acontece de fato, mesmo que não sintamos nada e mesmo quando achamos que nada aconteceu. Só assim poderemos ter certeza da salvação: quando deixarmos de buscá-la em nós, em nossos sentimentos, em nosso fervor, em nossa devoção, em nossas obras ou em nossa fé, para buscá-la exclusivamente em Deus, que nunca mente e sempre, sempre e sempre dá o que promete. Quando assim procedemos, não só o Céu se abre para nós, como também honramos a Deus como veraz.
É importante que conheçamos quem nos concedeu a fé ("eu sei em quem tenho crido") e que não duvidemos de seu amor por nós, que deseja sinceramente a nossa salvação, nem de sua imutabilidade e poder ("estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro").
Ter certeza de salvação é questão de crer. Quem não tem essa certeza, das três, uma: ou está dando muito ouvido ao diabo, que deseja que ele duvide; ou crê sem saber o que é fé; ou definitivamente não crê. 
Tomemos, portanto, como algo muito sério a certeza da salvação. Se não a temos, é importantíssimo que a busquemos e não nos acomodemos com isso; muito menos transformemos isso em virtude, como se essa descrença fosse modéstia. Não! Duvidar da salvação não é modéstia, mas pecar contra o primeiro mandamento de Deus, porque eu faço de Deus um mentiroso quando me deixo convencer pela dúvida quanto ao que ele promete dar.
Como sempre, quero deixar um trecho de Dr. Martinho Lutero que reflete bem essa luta pela certeza da salvação, que sempre existiu, existe e continuará existindo, mas não podemos "baixar a guarda".

"A todos aqueles que se querem deixar advertir, quero apresentar, como exemplo, minha própria experiência, para que se fique sabendo que o diabo é um velhaco bem esperto. Diversas vezes, dispus-me a ir ao sacramento em determinado dia. Quando o dia chegava, minha vontade vinha sumindo ou aparecera algum obstáculo ou me sentia despreparado. Então falei: "Tudo bem, daqui a oito dias eu o farei". Mas acontece que, no oitavo dia, eu ainda estava despreparado e impossibilitado tal qual antes: "Tudo bem, mais uma vez dentro de oito dias eu o farei". Repetiram-se tantas vezes esses oito dias, que eu praticamente acabaria nunca mais indo ao sacramento. Mas quando Deus me concedeu a graça de enxergar a manha do diabo, eu disse: "Quer ver, Satanás? Vá tomar banho com o seu e o meu preparo!" Fui lá, algumas vezes provavelmente também sem ter feito uma confissão (o que geralmente não é meu estilo), desafiando o diabo, particularmente porque não tinha consciência de qualquer pecado importante. Portanto, notei o seguinte em mim mesmo: Quando alguém não tem vontade nem disposição para o sacramento, mas ainda assim se dispõe seriamente a ir, esses pensamentos sobre si mesmo também provocam disposição e vontade suficientes. Também servem muito bem para expulsar essa atitude preguiçosa e indisposta que impede e deixa a gente despreparado. Trata-se de um sacramento vigoroso e cheio de graça. Basta pensar nele com alguma seriedade e dirigir-se a ele, que já se inflama, estimula e puxa para si mais um coração. Experimente uma vez. Se não for assim com você, pode chamar-me de mentiroso" (Exortação ao sacramento do corpo e sangue de nosso Senhor).



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.



terça-feira, 26 de maio de 2015

TEMPO DE COSTURAR


Alma impaciente,
De onde provém tanta sofreguidão?
Tu és imortal,
Podes bem esperar teu galardão.

Enquanto esperas,
Tu aprendes que o tempo
Te molda em confiança
Naquele de onde vem o teu sustento.

Aprende a descansar,
Pois da inquietação o sofrimento
Te distrai da boa obra
Que de contínuo te faz o Divino Provimento.

Enquanto com o futuro te ocupas,
Tu te esqueces que não dorme
Aquele que hoje trabalha
 Em teu favor, com amor enorme.

A tua necessidade,
Que no seu todo não podes conhecer,
Está muito clara perante quem
O teu único Deus deseja ser.

Do que tu és e sabes
Não queiras em momento algum lamentar.
A tua realidade tem lugar
Em outra realidade que não podes imaginar.

Não temas estar errada
Em tua intolerância com o tempo.
Bem te conhece o teu Amado
Que de caída conhece teu padecimento.

Mas traze à tua memória
Que teu Amado não te quer esmorecida.
O teu vazio a ele dá a chance
De te preencher com graça sem medida.

Por tudo isso, não desanimes!
Se te é dura neste mundo a existência,
Não te esqueças que é incessante o amor
Que te empenha a Divinal Benevolência.

Alma impaciente,
De onde provém tanta sofreguidão?
Tu és imortal,
Podes bem esperar teu galardão.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.





sexta-feira, 22 de maio de 2015

DEUS - PARTE 3


Caro leitor, como já afirmei na postagem anterior, tenho por mim que a heresia ariana, maior ameaça que a Igreja já sofreu até os dias de hoje, foi transformada por Deus na maior bênção que há, porque forçou nossos pais a nomear, conceituar e explicar a fé cristã acerca de Deus. 
Temos dois credos que vieram a partir do Concílio de Niceia: o credo niceno e o credo de Atanásio, em que é impossível detalhamento maior, sobretudo o credo de Atanásio que, de tão detalhado, minucioso e repetitivo, chega a cansar. Pois esses dois credos são duas fortalezas indestrutíveis. Quem quiser pensar outra coisa acerca de Deus, fique à vontade, mas os credos permanecerão incólumes e qualquer outra doutrina sobre Deus é doutrina livre, sem o respaldo da Igreja.
Dedico esta publicação ao próprio diabo, para que ele contemple a fortaleza inexpugnável que a Igreja, sob sua pressão, erigiu, debaixo da graça de Deus. 
Quero novamente agradecer às línguas grega e latina, também à filosofia, que emprestaram aos nossos pais termos (e conceitos) como: "pessoa", "substância" e "trindade".

O CREDO DE ATANÁSIO

Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo, deve professar a fé católica. Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida, perecerá eternamente.
E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.
Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; 
mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo.
Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo.
Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo.
Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo;
contudo não são três eternos, mas um único eterno;
como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso.
Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente;
contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.
Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus;
e, todavia, não há três Deuses, porém um único Deus.
Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor;
entretanto, não há três Senhores, porém um só Senhor.
Porque, assim como, pela verdade cristã, somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor,
assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores.
O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado.
O Filho é do Pai; não feito, nem criado, mas gerado.
O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente.
Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor;
porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si;
de modo que, em tudo, conforme já ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade.
Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.
Mas, para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.
A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.
É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe;
Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana.
Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade.
Ainda que é Deus e homem, todavia, não há dois, porém um só Cristo.
Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus. 
De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa.
Pois, assim como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo;
o qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos,
subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos;
e aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno.
Esta é a fé católica. Quem não a crer com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.


Eu afirmei acima "a partir do concílio de Niceia", porque o credo de Atanásio, apesar do nome, não foi escrito por Santo Atanásio. Seu conteúdo cristológico profundo mostra que ele certamente foi escrito após dois grandes concílios ecumênicos que se seguiram aos concílios de Niceia e Constantinopla: o concílio de Éfeso e o concílio de Calcedônia, que trataram sobre a natureza não de Deus, porque já era questão resolvida, mas de Jesus Cristo. Portanto, esse credo é o fruto maravilhoso que Deus produziu, com a colaboração da Igreja, a partir de ataques feitos pelo diabo contra a sua revelação. 
Qualquer semelhança entre os credos niceno e atanasiano com nossas confissões luteranas, reunidas no Livro de Concórdia (1580), não é mera coincidência. Mas isso é assunto para uma outra publicação, se Deus quiser.


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


DEUS - PARTE 2


A Igreja cristã, como cisão do judaísmo, começou a difundir a nova fé de que Jesus Cristo é Deus, igual ao Pai. Jesus havia ensinado: "Eu e o Pai somos um" (João 10:30). "Quem me vê a mim vê o Pai" (João 14:9). "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá" (João 11:25). "E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo" (João 17:5). "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida" (João 14:6). "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, CREDE também em mim" (João 14:1). "Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus" (João 5:17-18). "Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo" (João 5:26). "E tudo quanto pedirdes em meu nome, ISSO FAREI, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho (João 14:13). São João foi o evangelista mais destemido, ao citar as diversas vezes em que Jesus Cristo se apresentou como sendo igual ao Pai, ou seja: a Deus. 
No início, ainda havia muitos judeus que criam em Jesus Cristo como sendo o Messias, não Deus. No entanto, conforme os apóstolos começaram a ensinar a divindade de Jesus Cristo, eles foram deixando a Igreja, escandalizados, de maneira que esta passou a ser constituída basicamente de gentios.
Além de revelar a divindade de Jesus Cristo, Deus revelou à Igreja cristã um "terceiro Deus", a saber: o Espírito Santo. Ele é citado diversas vezes no Antigo Testamento, mas até Pentecostes, quando ele foi derramado sobre os crentes em Jesus Cristo, não era conhecido como um ser pessoal. São Lucas cita crentes em Cristo que nada tinham ouvido falar acerca do Espírito Santo como pessoa (Atos 19:1-2).
Jesus Cristo ensinou que o Espírito Santo é um ser pessoal, que ensina, convence e consola: "Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito" (João 14:26). "Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo" (João 16:7-8). Também ensinou que pecar contra o Espírito Santo era diferente de pecar contra ele e contra o Pai (Marcos 3:28-29).
No batismo de Jesus Cristo, o Espírito Santo veio ao mundo na forma de pomba, dissociado do Pai (Mateus 3:16-17). No dia de Pentecostes, assumiu a forma de línguas de fogo (Atos 2:3). 
Os apóstolos e S. Lucas continuaram ensinando a personalidade do Espírito Santo. Por exemplo: "Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais" (Atos 15:28). "Defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu" (Atos 16:7). "Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossas fraquezas; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis" e ainda: "e aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos" (Romanos 8:26-27). "O Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2:10). "Não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção" (Efésios 4:30).
Somente um ser pessoal pode ter opinião, não permitir, ajudar, interceder, gemer, pensar de acordo com a vontade de Deus, perscrutar e entristecer-se. 
Esse meu esforço em demonstrar a personalidade do Espírito Santo parte da seguinte ideia: para o povo de Israel (e para a Igreja cristã primitiva) não havia dúvidas que o Espírito Santo, citado inúmeras vezes no Antigo Testamento, era Deus. Entretanto, ninguém o imaginava como sendo uma pessoa. A grande surpresa para a Igreja cristã foi a revelação do Espírito Santo como ser pessoal.
Mas vamos lá! A Bíblia prova que o Espírito Santo é Deus? É claro que sim. Como disse, nunca isso foi questionado pelo povo de Israel e pelos primeiros cristãos. Acho muito cansativo apanhar os atributos de Deus e buscar textos bíblicos que atribuem ao Espírito Santo cada um desses atributos. Fica valendo o seguinte silogismo: Deus não é criatura e criatura não é Deus. Não é possível ser Deus e criatura ao mesmo tempo. Logo, o que não for criatura completa é Deus completo.
São Paulo nos ensinou: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito A TODAS AS COISAS PERSCRUTA, ATÉ MESMO AS PROFUNDEZAS DE DEUS. Porventura qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que está nele? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus" (1 Coríntios 2:10).
Deus é incognoscível, apreendido somente pelo espírito humano, através da fé, não da razão. O que dele sabemos é o que foi revelado por ele. Deus não nos revelou quem ele é para que o conheçamos. Ele revelou o suficiente para que possamos amá-lo, crer nele e para que sejamos salvos.
Deus é inefável, incompreensível e habita em "luz inacessível". Somente ele pode conhecer inteiramente a si mesmo. Em outras palavras, a onisciência de Deus lhe permite conhecer a si mesmo. São Paulo destacou que o Espírito de Deus a tudo conhece, inclusive o próprio Deus. Aqui está provada a onisciência do Espírito Santo, que não pode ser atribuída a nenhuma criatura. Se o Espírito Santo é onisciente, ele é necessariamente Deus. Sendo Deus, não o é em parte, mas Deus completo. 
São Paulo faz uma analogia belíssima e muito ousada. Compara a relação entre Espírito Santo e Deus com a relação entre nosso espírito e corpo. Assim como somente a alma humana compreende o homem, somente o Espírito Santo compreende Deus. Mas veja a beleza da analogia: a unidade entre Deus e Espírito Santo é comparada por S. Paulo à unidade entre corpo e alma.
O dilema então era o seguinte: Deus é um só, não obstante seja Deus, Jesus Cristo e Espírito Santo. Em momento algum os cristãos primitivos conceberam a ideia de três Deuses. Continuaram firmes na convicção de que havia somente um Deus, aquele mesmo que havia iniciado sua revelação a Abrão, no Antigo Testamento. São Paulo ensinou: "Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" (Efésios 4:6). Também: "Para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos" (1 Coríntios 8:6a). Entretanto, passaram a confessar que esse único Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
Fé é coisa simples. Não há necessidade de ser explicada. A fé agarra o que lhe é revelado e não busca uma explicação ou harmonizações. Quem nos obriga a explicar e harmonizar, com a assistência do Espírito Santo, são os hereges, ou seja, o próprio diabo. 
Por muitos anos, a Igreja cristã creu e confessou que o único Deus de Israel é Pai, Filho e Espírito Santo. Não conhecia o termo "trindade", nem os termos "substância" e "consubstancialidade". De nada disso a fé necessitava para aceitar a revelação de Deus.
Quero deixar claro que, embora o termo "trindade" não conste das Escrituras, até porque não houve essa demanda durante a era apostólica, o artigo de fé nomeado por ela foi ensinado pelo próprio Jesus: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mateus 28:19). 
Está claro que Jesus Cristo ordenou que se batizasse em nome de Deus, mas não ordenou que se batizasse em nome do "Pai" ou em "meu nome", como costumava falar, toda vez que se dirigia à divindade. Aqui ele distingue as três pessoas da divindade. 
Nesse ensinamento a Igreja primitiva se firmou, sem explicar, de maneira muito singela, até que surgiu Ário (256-335 DC). 
Nunca uma heresia ameaçou tanto a existência da Igreja como o arianismo. Ário ensinava, de maneira muito palatável à razão, aquilo que os judeus-cristãos criam: Que Deus é um só, que Jesus Cristo é criatura e que o Espírito Santo não é um ser pessoal. Ardiloso como sempre, o diabo usou Ário para ensinar que a designação de "Deus" poderia ser atribuída à pessoa de Jesus Cristo, embora este não fosse Deus em sua essência. Se perguntassem a Ário: "Você crê que Jesus Cristo é Deus?", ele responderia que sim. "Você crê que o Pai e Jesus Cristo são um?", ele igualmente afirmaria que sim, muito embora ensinasse que Jesus Cristo não era Deus de fato, mas criatura.
Essa heresia ganhou muitos adeptos, espalhando-se rapidamente pelo Império Romano, colocando em ameaça o cristianismo autêntico. Até mesmo o filho do Imperador Constantino, Constâncio, foi seduzido pelos arianos e passou a perseguir os bispos cristãos que permaneceram na ortodoxia apostólica, como, por exemplo, Santo Atanásio, bispo de Alexandria. 
Quando o diabo apareceu com essa heresia, a fé simples da Igreja cristã na existência de três pessoas na divindade teve que ser explicada, caso contrário os arianos venceriam e a fé cristã seria destruída. Mas como explicar uma doutrina como essa?
Fico admirado com a Providência Divina, que faz com que tudo aconteça no tempo certo e no lugar certo. Quem me lê, sabe que tenho muitas reservas quanto ao uso da razão na teologia. O que Deus ensina não deve ser entendido, somente crido. Mas quando a heresia vem, a razão e a linguagem têm que auxiliar a fé, para que se possa definir e deixar tudo muito claro; obviamente, com o auxílio do Espírito Santo. Foi assim que a doutrina cristã sobre Deus teria perecido, não fosse o auxílio da língua grega, da língua latina e da filosofia grega. As línguas e a filosofia não criaram a doutrina de Deus, mas permitiram a sua defesa, através de definições muito claras. Mais um motivo para Deus se revelar em Jesus Cristo nos tempos do Império Romano e não antes. A Igreja haveria de precisar das línguas grega e latina, bem como de termos e conceitos da filosofia grega, para defender a revelação de Deus.
Graças ao latim, ao grego e à filosofia, a Igreja cristã pôde defender sua fé, no Concílio de Niceia e mesmo depois, porque a heresia ariana persistiu por muito tempo, influenciou o pensamento de Maomé, recidivou várias vezes dentro da cristandade e até hoje está bem presente entre nós. Os debates de Niceia permitiram a estruturação da doutrina cristã de Deus sob o credo niceno, com grande detalhamento.
É bom destacar que o diabo, ao investir contra a Igreja, deu um tiro no pé, porque a heresia ariana forçou a Igreja cristã a nomear, conceituar e explicar a sua fé sobre Deus de maneira tão abrangente, detalhada e clara, que hoje é impossível alguém pegar o credo niceno e lhe dar uma interpretação indevida no que tange à doutrina da Santíssima Trindade. Sobre Deus, pode-se pensar o que quiser, mas não com o respaldo desse credo.
Sinceramente, eu não sei quando o diabo irá levar mais a sério estas palavras de Jesus: "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16:18). 
Não quis me ocupar aqui com o Concílio de Constantinopla, porque ele foi simplesmente a conclusão do Concílio de Niceia.


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

DEUS - PARTE 1



Há três grandes religiões monoteístas no mundo: judaísmo, cristianismo e muçulmanismo. Todas elas concebem a Divindade como sendo tudo aquilo que a criatura não é. Somos compostos, finitos, estamos sujeitos ao tempo, apenas transformamos o que já existe, temos compreensão limitada das coisas e somos mutáveis. Deus então é concebido como sendo simples, infinito, eterno, todo-poderoso, onisciente e imutável. Deus e criatura são diametralmente opostos. Retire de Deus qualquer um de seus atributos e ele deixará de ser Deus. Atribua à criatura o que é exclusivo de Deus e ela deixará de ser criatura.
Para chegar a essa conclusão, não há necessidade de fé. A existência de Deus é uma conclusão lógica e sua concepção como ser inefável, em tudo oposto ao que criou, também é lógica, conforme nos provaram os gregos e romanos. Deus necessariamente tem que ser muito maior e melhor do que aquilo que criou. Mas o quanto Deus é superior àquilo que criou? Deixemos que a razão nos instrua, por enquanto.
Quem criou a matéria certamente é imaterial. Portanto, Deus é imaterial. 
Sabemos que somente a matéria ocupa espaço. Logo, o que antecede a matéria e a criou não deve ocupar espaço algum, pelo simples fato de não ser matéria. Se não há espaço para esse criador, ele deve estar em todo lugar ou em lugar algum. Se medito, porém, na complexidade da criação e de sua manutenção, chego à conclusão que esse criador e mantenedor deve estar muito junto ao que criou, para preservá-lo.
Não possuindo matéria e forma, conclui-se também que Deus é simples.
Que substrato Deus utilizou para criar a matéria? Absolutamente nada. Portanto, Deus é todo-poderoso. Somente um criador com poder ilimitado poderia criar a matéria do nada, o ser do não ser.
Se antes da criação somente Deus existia, isso significa que ele é suficiente a si mesmo. Somente um ser perfeito pode ser autossuficiente. 
Sendo Deus perfeito, deve ser necessariamente imutável. Nenhum acréscimo se pode fazer ao que é perfeito. Por outro lado, qualquer subtração ao que é perfeito irá torná-lo imperfeito. 
Se Deus é imutável, para ele o tempo não existe. O tempo existe a partir da mutabilidade. Portanto, Deus é eterno.
Se Deus é imutável e, como afirmei, está muito junto ao que criou, deve-se também concluir que ele é onipresente, porque qualquer deslocamento é mudança.
Somente o infinito pode ser onipresente. A razão disso é que não pode haver algo que seja menor que Deus, de maneira que não o caiba, nem tão grande, de maneira que Deus não esteja no seu todo. Portanto, Deus é infinitamente maior e menor que tudo o que foi criado.
Sendo Deus um ser perfeito e imutável, ele é puro ato. Não se deve pensar em potência ao referir-se a Deus. Então Deus é simples, enquanto que todas as criaturas são compostas, pois existem como ato e potência, ou seja, elas são o que são (ato) e tendem a ser outra coisa (potência). Deus simplesmente é (ato) e não tende a nada.
E assim por diante, quanto mais o homem reflete sobre quem é o criador, que chamamos de Deus, e procura diferenciá-lo da criação, mais sublime esse Deus se torna. Não é por acaso que temos em mente conceitos de sublimidade, como infinitude, imutabilidade, eternidade e simplicidade, embora nós e tudo o que nos cerca sejamos finitos, mutáveis, efêmeros e compostos. Quem criou a razão humana semeou nela tais conceitos, porque a experiência não lhe ensina isso. Inclusive, considero que o que distingue o homem das demais criaturas é a percepção de uma realidade sublime.
Portanto, concluir que Deus existe é fazer uso da razão natural. Com todo o respeito aos ateus que, porventura, me leem, o ateísmo é fruto de um tremendo esforço contra a razão, geralmente induzido e alimentado por algum tipo de ressentimento contra Deus e as religiões. 
O primeiro problema do ateísmo é explicar a origem da matéria. Ela é eterna? Caso seja eterna, como é de se esperar da Divindade, onde está sua sabedoria? Sim, porque o acaso não explica como a matéria pôde se transformar em tudo o que existe hoje, tão perfeito e harmônico. Qual é a probabilidade de madeiras, cordas e metais por acaso se organizarem em instrumentos musicais perfeitos e tocarem sozinhos, sem auxílio humano, a sinfonia número 6 de Beethoven? Qualquer criancinha diria que a probabilidade é nula. Pois o ateu se fia na impossibilidade da autoconstrução de  obras sumamente superiores a essa sinfonia, que são a razão humana e o universo. 
É por isso que racionalmente nós preferimos atribuir a Deus o que, de outra maneira, teríamos que atribuir à matéria: eternidade e sabedoria. Nós não sabemos quem é Deus por natureza, também não é de se descartar a possibilidade de a matéria ser eterna, mas sabemos bem que a matéria não tem sabedoria alguma para se autotransformar até chegar ao que é hoje. Sem sabedoria, somente por força do acaso, a matéria jamais seria o que é. Isso se pode afirmar com certeza.
Se a matéria não é eterna e Deus é seu criador, então é lógico concluir a personalidade de Deus, porque a criação tem que ser necessariamente um ato da vontade. Só tem vontade quem é pessoa. 
Outra conclusão lógica é a bondade de Deus. Ela pode ser depreendida das leis da natureza, das estações do ano, do dia e noite, da maternidade, alimento, ar e água para manutenção da vida. Somente um ser bom poderia oferecer tudo isso às suas criaturas, para conservá-las vivas.
É claro que as concepções sobre Deus não param por aí. Eu apresento a concepção mais madura ou mais evoluída de Deus. Há concepções mais primitivas, que deduzem a existência de vários deuses, com sentimentos humanos, volúveis e até maldosos. A filosofia, com o tempo, foi aperfeiçoando a visão de Deus.
Agora, quem é Deus? Isso a razão não é capaz de nos informar. É então que a revelação desse Deus se faz necessária, caso contrário nunca saberemos quem ele é. É de se supor que esse Deus, sendo um ser pessoal, dotado de vontade, criador da razão humana, em algum momento busque uma forma de se revelar à razão humana. Caso contrário, teria feito o homem como os outros animais, seres irracionais, que não têm qualquer percepção de uma realidade sublime, que transcenda a matéria. Se Deus fez o homem racional, certamente é para se relacionar com ele. Pelas razões aludidas acima, não estou disposto a aceitar a razão humana como coisa autoconstruída ou obra do acaso. Ela foi criada. Então é necessário recorrer à história e tentar entender quando Deus quis se revelar à razão humana.
O que me chama a atenção é que, antes mesmo de a filosofia e metafísica existirem, quando só havia concepções primitivas sobre Deus, um povo adorava um Deus que, em essência, reúne o que há de mais maduro e sofisticado em termos de conceituação da Divindade. Era o povo hebreu.
Esse povo se dedicava ao culto de um Deus todo-poderoso, inefável, infinito, perfeito, incriado, simples, imutável, incognoscível, onisciente, onipresente, eterno e santo. Não aprendeu que Deus era assim com os egípcios, com quem havia convivido por mais de quatro séculos (Êxodo 12:40). Enquanto todo o mundo da época tinha um conceito muito precário sobre Deus, fulgurava Israel, com seu único e todo-poderoso Deus. Aquilo que a civilização aprendeu ao longo de milênios, Israel já sabia. Portanto, o povo de Israel estava muito à frente de todas as civilizações.
Israel recebeu do próprio Deus a revelação de quem ele é. Eu não duvido disso. Somente algo sobrenatural poderia fazer com que esse povo chegasse a um nível tão profundo de consciência sobre Deus, considerando o contexto histórico em que se formou. Em nenhum outro povo eu encontro algo parecido.
O monoteísmo hebreu não se compara a qualquer monoteísmo primitivo. Deus não era o sol ou a lua, mas algo que transcendia todas as coisas, diametralmente oposto a toda criatura e inacessível à razão humana em sua essência. Deus era santíssimo e modelo de santidade para o homem, daí se dizer que o monoteísmo hebreu era um monoteísmo ético. "SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente, longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração" (Êxodo 34:6-7).
Desse conceito magnífico de Deus, que não pode ter vindo da mente humana, que não estava preparada para isso, porque caiu como um relâmpago sobre a evolução do pensamento humano, desse conceito sublime vieram o conceito cristão e o conceito islâmico. 
"Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros" (Êxodo 3:14). "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (Deuteronômio 6:4). "Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus" (Isaías 45:5). "Eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo" (Levítico 11:44). "Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? - diz o SENHOR; porventura, não encho eu os céus e a terra? - diz o SENHOR" (Jeremias 23:24). "Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo. Com quem comparareis a Deus? Ou que coisa semelhante confrontareis com ele?" (Isaías 40:17-18). "Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro" (Isaías 45:22). "Eu fiz a terra e criei nela o homem; as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens" (Isaías 45:12). "Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos" (Malaquias 3:6). Muito tempo depois veio a filosofia grega a trazer um conceito sobre Divindade que harmoniza com essas revelações, sobretudo Platão e Aristóteles.
É importante analisar até que ponto a razão humana pode conhecer Deus. Esse limite é demarcado pela filosofia grega. Ali se encontra o cume da conceituação da Divindade, segundo o esforço humano.
Para Israel, o tratamento desde o início foi outro. Esse povo recebeu de Deus a revelação de quem é. Os israelitas não chegaram ao nível mais avançado do conhecimento de Deus por meio da razão, até porque era impossível para a época e contexto. O conhecimento é cumulativo, é construído ao longo do tempo. As deduções humanas são erigidas sobre deduções prévias. De onde retirariam a terça parte do conhecimento que tinham sobre Deus? 
Deus se revelou a esse povo através da Palavra e através da história. Assim como a razão humana avançou, a revelação de Deus aos israelitas também avançou. Foi assim que, quando os gregos estavam colando grau em teologia, Israel, graças à revelação, já estava recebendo o título de doutor.
É então que veio Jesus Cristo, como divisor de águas, como pedra de tropeço, como "alvo de contradição" para os israelitas e para o mundo inteiro. Esse homem atribuía a si mesmo a Divindade e, para que não pensassem que era um louco ou falso profeta, realizou obras que somente Deus poderia realizar. Um falso profeta poderia ressuscitar um morto? É claro que não. Ele, portanto, em sua aparente blasfêmia, tinha o respaldo do próprio Deus. Foi Jesus o primeiro a ferir o dogma do monoteísmo entre o povo judeu, segundo a percepção da época. É claro que essa inusitada e escandalosa revelação levaria à divisão do povo, o que originou a Igreja cristã.
Muitos anos depois, S. João entregou à igreja a seguinte revelação: "No princípio era o Verbo (Logos), e o Verbo estava com Deus, e  o Verbo era Deus" (João 1:1).
Quando diz "no princípio era", S. João quer dizer que esse Verbo é eterno, pois antecede o tempo em sua existência. Ao afirmar que "o Verbo estava com Deus", separa Deus desse Verbo. Agora, são dois eternos, não somente um. Se o Verbo é eterno e somente Deus é eterno, o Verbo é também Deus. Sendo Deus, deve ser, em essência, tudo o que Deus é, porque não há meio termo entre Deus e criatura. Mas vá que alguém ainda levantasse a possibilidade de uma semidivindade, S. João, que não estava de brincadeira, declarou: "E o Verbo era Deus". Qualquer possibilidade de interpretar esse Verbo como algo que emana de Deus, não sendo propriamente um ser pessoal, foi bloqueada por S. João: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós". O Verbo, que é Deus, não possuiu um corpo humano. O Verbo se tornou o homem Jesus Cristo. 
A ideia de dois Deuses, não somente um, foi, indubitavelmente, um retrocesso do juízo humano. Partindo de um monoteísmo de vanguarda, maior prova de uma intervenção milagrosa de Deus na evolução do pensamento humano, alguns de Israel pareciam estar retrocedendo à ideia de dois Deuses, sendo um deles homem. Como era de se esperar, dado o tamanho do escândalo, esses "alguns" foram desertados pelo seu povo. 
Tendo Israel rejeitado a revelação de Deus na pessoa de Jesus Cristo, a Igreja cristã se tornou então possuidora da continuidade da revelação de Deus. Os limites da razão estavam transpostos novamente pela revelação. Se Deus transpôs a capacidade da razão humana, em seu processo de evolução, quando se revelou a Israel, ele novamente transpunha os limites da razão, que desde então havia avançado muito, para nos mostrar que não é pela razão que o podemos apreender. Quando a razão atingiu seu ápice, na filosofia grega, Deus foi além, para abater nossa soberba e para nos mostrar que não é por iniciativa própria que chegaremos a ele. Quando a razão segura Deus e diz, satisfeita: "peguei!", Deus escapa por entre seus dedos, para continuar sendo o Deus da revelação.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


sexta-feira, 15 de maio de 2015

UM MUNDINHO CHAMADO IGREJA


"Estou crucificado com Cristo. Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (S. Paulo).
A vida só é de fato vivida quando refletida. Cada acontecimento de nossa vida, bom ou mau, deve ser mastigado devagar. Com isso, não quero propor que se procure pelo em ovo. Não, é que muitas vezes não damos a devida atenção ao que deveríamos dar e nos apegamos a coisas sem valor, assim permanecendo até que nos sobrevém a crise. 
A vida é uma experiência de aprendizado. Mas é necessário que haja disposição para aprender. Caso contrário, a vida será uma ficção, um mero passatempo.
Também a vida existe para ser saboreada. Eu posso engolir o vinho como se fosse água, sem degustá-lo. Nesse caso, o dinheiro investido naquele vinho não terá valido nada. Algo semelhante ocorre com a vida, quando os acontecimentos não são degustados pela reflexão, quando doce é sempre o mesmo doce, amargo é sempre o mesmo amargo.
O versículo bíblico acima, de S. Paulo, exorta-nos a refletir sempre sobre a qualidade de nossa vida cristã. De fato estou vivendo a vida de Jesus ou estou vivendo uma religião, uma filosofia, um estilo de vida ou uma comunidade? É muito perigoso cairmos no hábito de ser cristão, principalmente em um  país como o nosso, que nos dá ampla liberdade de culto.
Como tudo o que é bom no mundo, é muito fácil acostumar-se com a Igreja. Afinal aqui é local muito oportuno para amizades fecundas, para boas conversações; nela estamos protegidos de muita maldade que há no mundo, também protegemos quem amamos; ouvimos palavras bonitas, que nos encorajam a enfrentar nosso cotidiano doloroso. Igreja é um local de encontro, um local de pertença, um local de paz.
Regras, disciplina, estatuto servem ao bom propósito de nos pôr limites, de nos obrigar a uma vida proba, sem excessos; a lembrar-nos do outro. Quem vai à Igreja não desperdiça dinheiro, preserva sua saúde, é próspero, digno, respeitável cidadão, porque o ambiente eclesiástico favorece o crescimento ou a promoção humana, extrai o que há de melhor em nós.
Entretanto, a Igreja não pode ser um fim em si mesma. As motivações para ir à Igreja, para participar de uma comunidade cristã, não podem ser as mencionadas acima, porque tudo isso pode ser encontrado em qualquer religião do mundo e mesmo entre ateus.
Como as motivações são sorrateiras, toda vigilância é pouca para quem se propõe a viver coerentemente a realidade de ser Igreja.
A Igreja é fundamental para a salvação. Não é fundamental em si mesma, mas porque Deus a tornou fundamental, quando decidiu transmitir a fé que salva através dos meios da graça: Pregação do Evangelho e sacramentos, que só se encontram na Igreja e em nenhum outro lugar no mundo. É nesse sentido que se diz acertadamente que fora da Igreja não há salvação. Se alguém foi salvo sem ter tido tempo de filiar-se à Igreja, certamente foi salvo porque creu e, se creu, é porque o Evangelho lhe foi anunciado de alguma forma. A não ser que Deus lhe tenha anunciado o Evangelho em pessoa, como fez com Saulo, é certo que a Igreja esteve presente ali. Portanto, a Igreja salva por ser a boca de Deus, assim como suas mãos, ao pregar, batizar, absolver pecados e distribuir o corpo e o sangue de Cristo. "A fé vem pela pregação" (S. Paulo). Sem a Igreja, sem a Pregação, sem os sacramentos, as almas irão perecer.
A Igreja também é a morada da verdadeira fé, porque nela estão o Evangelho e os sacramentos, que são meios pelos quais Deus também conserva a fé.
Então, em meio a tantas religiões, onde é que está a verdadeira Igreja? Resposta: onde houver a verdadeira fé. Por favor, não tome por fé essa fé "brasileira" nos homens, na sorte ou em simpatias. Fé é a firme confiança em Deus como único salvador, que dá à alma o devido descanso. A verdadeira fé tem por único objeto a misericórdia de Deus, revelada em Jesus. É essa a fé que nos permite comungar tudo o que Cristo tem. Ela é um vazio que se abre em nós, para permitir a ocupação de Cristo, com seus méritos. E onde houver a verdadeira fé, ali está a Igreja do Senhor, com suas diferentes maneiras de pensar e ser.
Para mim, o momento em que Dr. Martinho Lutero foi mais feliz ao definir Igreja é quando afirmou: "Por isso, onde quer que se pregue a palavra de Deus e se creia nela, ali está a verdadeira fé, essa rocha irremovível; e onde está a fé, ali está a Igreja; onde está a Igreja, ali está a noiva de Cristo; onde está a noiva de Cristo, ali está tudo o que pertence ao noivo. Assim, a fé traz consigo tudo o que resulta da fé: as chaves, os sacramentos, o poder, e tudo o mais" (Debate e defesa do Fr. Martinho Lutero contra as acusações do Dr. João Eck). Veja quão deliciosamente Dr. Martinho Lutero conectou a Igreja à existência da fé.
A Igreja é a fé visível ao mundo. Sua existência é puro testemunho da fé.
É então que chego à seguinte questão: nós, primeiro, depois nossas comunidades, temos sido a visibilidade da fé no mundo?
Porque para muitos Igreja tem sido apenas um local de encontros e amizades, um espaço de filantropia, de debates teológicos e políticos, de mitologias, onde não há mais vestígio de fé, mas puro humanismo.
A Igreja hoje está se tornando humanismo visível. Sua existência está se transformando, no mundo ocidental, em testemunho das obras e sabedoria humanas.
Não é à toa que as Igrejas estão esvaziando. Boas obras e sabedoria podem ser muito mais abundantemente encontradas nas universidades e em religiões não cristãs, que oferecem respostas muito mais coerentes e coesas que a Igreja. Muitos que estão na Igreja, não mais estão. Não há mudança de vida. Pudera! Como haver nova vida onde não há fé? Muitos ainda insistem em ir à Igreja, mas por mero costume. Para eles a Igreja é um mundinho que lhes traz segurança, uma identidade perante um mundo plural e um grupo ao qual pertencer, que supra a necessidade de aceitação.
A Igreja de Éfeso era uma Igreja cheia de obras (Apocalipse 2:2-3), talvez mais cheia de obras que muitas Igrejas ocidentais, mas estava faltosa na fé (Apocalipse 2:4). Não há como progredir como Igreja se não houver fé, sem a qual ela se desconecta de Cristo ou abandona o seu primeiro amor, ou seja, quem a amou primeiro.
Enquanto as Igrejas da Ásia estão sofrendo a morte física, nós, como Igreja ocidental, estamos sofrendo um outro tipo de morte, muito pior: a morte da fé.
"Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?" (Lucas 18:8).
Não esperemos as crises chegarem. Aprendamos a refletir nossa vida, onde a fé deve ocupar lugar de destaque, o centro de tudo. É triste quando a fé começa a ocupar uma posição cada vez mais periférica na vida, até que, sem que se dê conta disso, ela é expulsa, restando apenas sabedoria humana, humanismo, obras... e igrejas! Mundinhos de "felicidade". 
Refletir a vida é ser vigilante. Nem sempre o diabo irá cortar o pescoço dos cristãos, como vem fazendo na Líbia. O tempo lhe ensinou maneiras bem sutis e muito mais eficazes de destruir a fé. Ele aprendeu que a árvore morre mais facilmente quando se mata suas raízes, não quando se serra o tronco.
Que esta nossa enorme Igreja de Éfeso, a Igreja ocidental, se fortaleça nessas palavras de Jesus: "Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus" (Apocalipse 2:7).
Só há uma maneira de a Igreja ser vitoriosa: crendo! "Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé" (S. João).



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.