quarta-feira, 12 de agosto de 2015

OVELHAS INTOCÁVEIS



"O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados" (Isaías 61:1).


Como tem sido difícil ser cristão e ter um foco nos dias de hoje! Num mundo globalizado, onde a informação cruza o mundo na velocidade da luz, com excesso de informação e avanço sem precedentes das ciências, tem sido cada vez mais difícil saber o que é certo ou errado, o que defender, criticar e o que priorizar, como cristãos, chamados como representantes de Cristo na terra. Nossos pais, os santos apóstolos e mártires, lidaram com um volume muito menor de questões que nós. Sinto-me, às vezes, desamparado por eles e, honestamente, pela própria Bíblia, quando me ponho a meditar no caos em que vivemos. Quando abro minha boca para opinar, aconselhar ou advertir, sempre vem ao meu coração o seguinte questionamento: Estou sendo fiel ao meu Deus?
O Senhor Jesus veio pregar o Evangelho, curar e libertar (Mateus 4:14-21). Delegou à sua Igreja a mesma missão de pregar, curar e libertar: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre os enfermos, eles ficarão curados"
É aí onde me estribo: a Igreja mantém Cristo no mundo, ao realizar suas mesmas obras. Enquanto houver Igreja, Cristo não terá morrido para os pobres; ainda há esperança para eles. Como temos a promessa de que a Igreja permanecerá até o fim do mundo, Cristo permanecerá entre os pobres deste mundo até o fim.
De fato, a Igreja tem libertado muitas almas de Satanás, tem alcançado o mundo inteiro com o anúncio do Evangelho em diferentes línguas; tem pegado os hereges pela cabeça ou pelo rabo e, quando é mordida por eles, não tem sofrido dano algum. A Igreja tem levado cura a quem está enfermo espiritualmente, em consequência do pecado. Enfim, a Igreja tem dado continuidade ao que Cristo iniciou.
Embora haja muitos escândalos dentro da Igreja, é necessário crer, e todos nós que cremos testemunhamos isso em algum momento, que a Igreja está muito viva entre os pobres do mundo. Assim como Cristo não teve grande projeção no mundo da época, sendo, em seu tempo, um reles galileu, a verdadeira Igreja também não tem fama alguma. Assim como Cristo foi julgado, difamado e humilhado, também a verdadeira Igreja tem padecido todo o tipo de humilhação e vexame ao longo dos séculos. Mas essa Igreja nunca deixou de estar entre os pobres do mundo, libertando-os de seus cativeiros, assim como Cristo fez.
O mundo foi mudando e a verdadeira Igreja foi se adaptando aos dilemas que foram surgindo, mas sempre com o foco de continuar entre os pobres, pregando o Evangelho, curando e libertando.
Há vários tipos de pobreza. Eu quero mencionar cinco, frequentemente superponíveis: a pobreza material, de quem não possui bens; a pobreza física, de quem se encontra fisicamente enfermo ou deficiente; a pobreza étnica, de quem se torna odioso simplesmente por existir, como ocorre nos genocídios; a pobreza espiritual, de quem se sente abatido pela consciência do pecado e perdição e, por fim, a pobreza moral, de quem é escravo do pecado.
Das cinco formas de pobreza mencionadas, a pobreza que a Igreja mais reluta em alcançar é a moral, que abrange mendigos, usuários de droga, transexuais, travestis, profissionais do sexo, presidiários e moradores de rua. 
A razão disso é que não nos sentimos contaminados quando vamos ao socorro de idosos e crianças, enfermos, moradores de favelas, refugiados de guerra e indígenas. Afinal, são pessoas com vida decente e proba. Mas quando é para corrermos o risco de perder a reputação, de sermos malvistos, de pensarmos ou falarmos algo que vá contra nossos princípios; quando essa pobreza moral nos obriga a retirar a roupa de nosso bom nome e respeitabilidade, para socorrê-la nus, portando somente o Evangelho, temos tremenda dificuldade. Sem dúvida nenhuma, é menos difícil me tornar um idoso, órfão, índio, morador de favela ou enfermo, para socorrer quem vive (ou sobrevive) assim, que tornar-me um usuário de droga, mendigo, transexual, prostituto e presidiário para agir misericordiosamente com quem está perecendo dessa forma. É o medo de nos descaracterizarmos como cristãos que nos dificulta alcançarmos essas pessoas que Deus tanto ama.
De fato, não é tarefa para qualquer um. Há pessoas que Deus reserva especificamente para essa missão e as prepara para isso. Mas você, que não foi chamado para esse trabalho, não permita que o moralismo o descaracterize como cristão. Prefiro mil vezes me descaracterizar para socorrer do que me descaracterizar para julgar. 
Se você não recebeu de Deus a missão específica de ir ao encontro dessa pobreza moral, peço que, por favor, ore por quem o faz, não fofoque, não levante falso testemunho, nem julgue.
Se você não consegue fazer algo por essa pobreza moral, peço que, por favor, não entre nesse esquema individualista e pagão de censurar, julgar, rechaçar e deixar morrer à mingua quem é assim.  
Se você não consegue fazer algo por essa pobreza moral, peço que, por favor, ore sinceramente por essas pessoas, porque elas são muito preciosas para Deus.
E por favor, não revide eventuais ataques à sua fé e aprenda a oferecer a outra face, se de fato é cristão. Estamos falando de pessoas que não conhecem o amor de Deus, foram escorraçadas pela família e pela sociedade, têm muitos traumas, vivem atormentadas por sua consciência, aprenderam a não confiar na Igreja, não têm mais nada a perder e muitas provavelmente não aprenderam com seus pais como se deve sentar, falar e portar-se em sociedade. Quando fazem algo que nos soa muito escandaloso, releve, finja que nada aconteceu e seja Igreja, que, disciplinada pelo próprio Deus a não esperar nada de bom deste mundo, acostumou-se a ser humilhada e a pagar o mal com o bem.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


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