quarta-feira, 12 de agosto de 2015

MOISÉS E JESUS - PARTE 2


O Evangelho é a revelação da misericórdia de Deus a quem está caído. Não há preceito, nem exigência, nem observância, nem condições, nem preço, somente misericórdia, dádiva e gratuidade. Aqui Deus revela o seu desejo de reconciliar o homem consigo. Deus mesmo é o Evangelho, pois ele se encarnou, tornando-se um de nós, cumpriu rigorosamente sua própria Lei, foi condenado por nossos pecados, tornando-se o pior pecador de todos os tempos; precipitou-se ao inferno em nosso lugar, morreu e ressurgiu para nos outorgar tudo isso, como se nós, e não ele, tivéssemos realizado e padecido todas essas coisas que a Lei ordena e castiga. Ele agora oferece humildemente tudo o que obteve à humanidade inteira e deseja somente uma coisa: receptividade ou fé. Ele não quer colocar preço, porque não há preço que pague. 
O Evangelho é o único caminho da salvação. Aliás, ele opera a salvação. Não é mero convite ou ingresso, nem colar valioso que se pendura ao pescoço. O Evangelho tem o poder de ressuscitar quem está morto e assim o faz. Como disse Jesus: "O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida" (João 6:63).
Onde houver Lei, há sempre morte. Onde houver Evangelho, ali há vida. A Lei deve nos conduzir ao Evangelho assim como a enfermidade corporal nos conduz à morte e a Deus. Com a Lei, Deus quer nos matar para nós mesmos, esvaziar-nos de nós mesmos, para nos preencher com tudo o que ele quer dar. Ora, Deus quer dar a si mesmo, sem qualquer reserva, sem qualquer limite, sem qualquer medida, sem qualquer preço (Romanos 8:32). Por isso ele utiliza a Lei, para expurgar de nós a nossa justiça, que ele chama de "pano de menstruada" (Isaías 64:6), e ser nossa Justiça inteira.
Então percebemos que a Lei, embora seja diametralmente oposta ao Evangelho em sua natureza e ofício, é ferramenta valiosa de Deus para nos conduzir à salvação e está a serviço do Evangelho, como serva obediente. É por isso que S. Paulo a trata respeitosamente de "aio que nos conduz a Cristo" (Gálatas 3:24-25).
Jesus principiou seu ministério público pregando a Lei. Embora tenha vindo ao mundo com o propósito de anunciar o Evangelho, ele não abriu mão da Lei (Mateus 5:17-18). O que os fariseus consideravam justiça perfeita, e por causa dela se envaideciam perante os pagãos e supunham agradar a Deus, Jesus veio questionar. Adultério não é apenas sexo, mas pode ser cometido pela mente (Mateus 5:27-28). Amar o próximo não é amar somente quem nos agrada ou é igual a nós, mas também significa amar nossos inimigos (Mateus 5:43-44). Ao pregar que devemos perdoar sempre e não entrar em disputa com nosso próximo, ele estava interpretando a Lei: "Não aborrecerás teu irmão no teu íntimo; mas repreenderás o teu próximo e, por causa dele, não levarás sobre ti pecado. Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR" (Levítico 19:17-18). 
Até mesmo ao ordenar que abandonássemos tudo, tomássemos a sua cruz e o seguíssemos, Jesus estava apregoando a Lei, chamando todos à verdadeira conversão (Mateus 16:24-25). O mesmo se deve dizer do "amarás a Deus e ao teu próximo" (Lucas 10:26-28) e acerca do "novo mandamento" (João 13:34-35). Tudo isso é Lei. Não confunda com Evangelho. Até mesmo na cruz Jesus proclamou a Lei de maneira veemente: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Sua dor, vexame, desamparo e inferno nos revelam a gravidade de nosso pecado perante Deus e a consequência dele, descrita em Levítico 26:14-39.
Jesus não veio trazer uma nova Lei. O que muitos pensam ser uma "nova Lei" nada mais é que uma interpretação profunda da velha Lei. Jesus também não queria outro resultado ao proclamar a Lei, senão aquele que sempre quis: tornar-nos cônscios de nossa realidade perante ele.
Então onde está o Evangelho nos evangelhos? Essa pergunta deve estar na mente de alguns, porque aprenderam ao longo da vida que amar ao próximo como a si mesmo é Evangelho, bem como oferecer a outra face a quem lhe esbofeteia o rosto. Para muitos, Evangelho é uma nova Lei, dada por Cristo, preceituando o amor ao próximo e humildade.
Antes de mais nada, é importante que fique claro que o Deus revelado em Jesus Cristo é o próprio Evangelho. O relato de sua encarnação, de seus milagres, de sua misericórdia, de sua morte vicária, ressurreição e ascensão ao Céu é Evangelho. O próprio nome "Jesus" é Evangelho, pois significa: "Jeová salva" (Mateus 1:21). 
Fazer citações textuais é difícil, porque praticamente tudo o que Jesus ensinou é Evangelho, pois para isso ele veio ao mundo. Mas deixo alguns exemplos de anúncio puramente evangélico, para que a distinção entre pregação da Lei e pregação do Evangelho fique clara: 

"Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei".  

"Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus".  

"Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou?".  

"Tomai, comei; isto é o meu corpo (...). Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados".  

"Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados". 

"Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos".  

"Quem crer e for batizado será salvo"

"Eu sou a videira verdadeira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer". 

"Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas". 

"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá" 

Outro exemplo magnífico é a parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-32). Em tudo isso veja que não há preceito nem ordenança, mas somente misericórdia, gratuidade, promessa, dádiva e fé.
Para que um doente venha a desejar o remédio é necessário primeiramente convencê-lo de sua doença. É só por isso que Jesus fez uso da Lei. Se havia algumas poucas pessoas terrivelmente atribuladas pela culpa, havia inúmeras outras que se julgavam muito santas e sem necessidade de redenção. 
Entretanto, Jesus não veio ao mundo para anunciar a Lei ou uma "nova Lei". Ele é o próprio Evangelho e sua pregação é essencialmente evangélica. "Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele" (João 3:17).



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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