sexta-feira, 30 de outubro de 2015

ONDE ESTÁ TEU IRMÃO?


"Mas a todos que o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome" (João 1.12).

Há pessoas que, quando leem esse versículo, imaginam que somente os que creem são filhos de Deus. Negam enfaticamente a paternidade de Deus aos descrentes e aos réprobos. 
Eu não penso assim. Para mim esse raciocínio é mais um fruto da Teologia da Glória, que insiste em distanciar Deus do homem. São Paulo ensinou que "há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e PAI DE TODOS" (Efésios 4.5-6).
Jesus Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Ele é a única informação confiável e inerrante que temos acerca de Deus. Como afirmou S. João no mesmo texto: "Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único de Deus, que está junto ao Pai, foi quem no-lo deu a conhecer" (João 1.18). Fora de Jesus, Deus é à nossa razão um Leviatã, que nos amedronta e nos conduz ao desespero. Jesus é o verdadeiro Deus, a verdadeira Divindade. Portanto, para conhecermos a boa vontade de Deus é necessário recorrermos a Jesus; caso contrário, estaremos perdidos em nossos delírios.
Por outro lado, Jesus é O verdadeiro homem. Não só porque encarnou-se, tornando-se homem, dotado de ossos, tendões, ligamentos, pele e vísceras, como nós; dotado de alma humana. Não, o entendimento da humanação do Filho deve ir além, muito além. Jesus é o verdadeiro homem, a verdadeira humanidade: eu, você e quem está ao seu lado. 
Jesus não representou uma parcela da humanidade, não há fundamentação bíblica para isso. Jesus representou todos os homens, do mais santo ao mais vil, do mais sadio ao mais doente, do mais pobre ao mais rico. Ele de fato representou toda a humanidade em sua obediência, paixão, morte, inferno e ressurreição. Ele nos representou naquilo que nos é impossível: amar a Deus de verdade, acima de nós mesmos, com todo o coração, alma e força. Ele nos representou ao obedecer a Deus estando em seu seio, amando-o e sendo amado de maneira sublime. 
Jesus também nos representa agora, estando assentado à destra de Deus Pai. Portanto, nós estamos com força mergulhados no coração do Pai.
Na pessoa de Jesus, a humanidade se encontra com Deus de maneira perfeita. Não se misturam, mas se tornam inseparáveis, literalmente uma pessoa. Deus não quer que o homem se aproxime dele. Ele quer que o homem faça parte de sua intimidade, mergulhe nele, torne-se um com ele, inseparável dele, um só ser com ele, uma só pessoa com ele. Daí a humanação do Filho. 
Todos os homens, sem exceção, estão congregados em Deus, através de Jesus. Isso nos torna irmãos.
São João não ensinou que crer em Jesus nos torna filhos de Deus. Ele nos ensinou que a fé nos dá esse "poder", ou seja: ela põe a realidade em nossas mãos, para que possamos fruí-la.
Jesus disse: "E quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também" (João 14.3). A isso devemos nos agarrar, pela fé. Essas palavras de Jesus são nossa arma contra nossa carne, contra o mundo e contra o diabo.
Exatamente porque Jesus representa toda a humanidade, ele nos irmana. Todos os homens estão em Jesus e, portanto, somos todos irmãos, filhos de um mesmo Pai. É dessa percepção que deve nascer a vontade de ganhar almas para Jesus. As pessoas têm que saber disso. Os "filhos pródigos" têm que saber disso: que são filhos amados!
Todos nos emocionamos quando alguém doa um órgão para salvar a vida de um irmão. Vez ou outra isso é noticiado pelo Fantástico e nos arranca lágrimas. É então que penso: se todos os seres humanos forem nossos verdadeiros irmãos e estiverem morrendo, sendo-nos possível fazer algo para evitar essa morte, ficaremos de braços cruzados? O que o Fantástico noticia como algo extraordinário deve ser nosso ordinário, porque todos os homens são nossos irmãos, estão morrendo e nos é possível fazer algo para salvá-los da morte.
Então veja que muito da preguiça da Igreja nos dias de hoje é que estamos fechados demais. Não estamos conseguindo identificar nosso verdadeiro irmão no próximo. Nós enxergamos nosso verdadeiro irmão dentro de nossas famílias, amigos íntimos e comunidades religiosas. Então, ao reduzir a percepção de irmandade, fechamo-nos em nós mesmos, em nosso âmbito afetivo. Deus se torna limitado por nosso egoísmo, por nossas amizades, por nossos afetos naturais, não lhe sendo possível atingir quem ele quer: colegas chatos de trabalho, pessoas desagradáveis que convivem conosco, vizinhos de condomínio; a moça que vende trufas no semáforo; o bêbado escornado na rua, presidiários, mendigos que dormem à nossa porta, prostitutas se exibindo nas ruas, e assim por diante. Deus quer chegar a essas pessoas, mas não consegue, porque não as enxergamos como verdadeiros irmãos sentenciados à morte.
Vez ou outra Deus coloca um mendigo para dormir à nossa porta. Ele espera que identifiquemos esse mendigo como irmão, que lhe demos comida e bebida, que lhe ofereçamos coberta, que lhe falemos do amor de Jesus por ele, de seu inestimável valor; que busquemos um lugar seguro onde ele possa dormir, etc. Mas o que fazemos? Damos um jeito de lançá-lo para longe de nossa casa. Erguemos muros materiais e afetivos que nos apartem dele. Não nos passa pela cabeça que ele está conosco no Jesus que sofreu, morreu, ressuscitou e agora está assentado à destra do Pai.
Jesus disse: "Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor" (João 10.16).
Cada pessoa que perece sem salvação é um pedaço da humanidade de Jesus que se perde para sempre. Cada alma que perece é uma chaga viva em Jesus. Lembre-se disso.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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