quinta-feira, 1 de outubro de 2015

CREIO NA SANTA IGREJA CATÓLICA



"Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16:17-18).

Se há dois anos atrás me perguntassem: Ei, você é católico? Eu acho que me sentiria incomodado. Vez ou outra me aborreci com algum comentário do tipo: luterano é "católico alegre", sua igreja é muito parecida com a católica, etc. Mas hoje cheguei ao ponto de meu itinerário em que não me aborreço mais com isso. Pelo contrário, se me perguntarem se sou católico, terei prazer em dizer que sim. Eu sou católico de fato. Aliás, sou mais católico que luterano. Antes de ser luterano, eu preciso ser católico e vou explicar por quê. 
Todos os domingos nós confessamos CRER na SANTA IGREJA CATÓLICA. Nós não confessamos crer na Santa Igreja Católica Romana, nem confessamos crer no papado, mas na Santa Igreja Católica. Onde houver Evangelho e fé, ali está a verdadeira Igreja Católica. Essa Igreja é una e santa, porém sua unidade e santidade estão escondidas de nossos olhos sob o manto do pecado, dos escândalos e das divisões, daí declararmos que "cremos". Os nossos olhos enxergam uma Igreja pecadora e esfacelada em várias instituições. Por isso mesmo, a Igreja deve ser crida, porque é uma realidade que enxergamos e não enxergamos. 
Entretanto, essa mesma Igreja, ao mesmo tempo una, santa, dividida e pecadora, é visível ao mundo e tem que ser. O mundo necessariamente tem que ver a Igreja, ouvir seu anúncio, ser batizado através dela, receber o Sacramento do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo através dela. Por meio dela, as pessoas devem ser absolvidas de seus pecados e aprender as verdadeiras obras. Então a Igreja é uma sociedade visível ao mundo. Sem essa visibilidade da Igreja, não seria possível a fé, porque a fé vem pelo Evangelho, que S. Paulo chama de "pregação de Cristo" (Romanos 10:17). Se a Igreja não fosse visível, não haveria Evangelho, nem pregação, nem sacramentos, nem absolvição e o mundo iria perecer sem fé. 
Jesus ensinou o seguinte a respeito da Igreja: "Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a CIDADE edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus" (Mateus 5:14-16). E ao enviar seus discípulos, deu-lhes a seguinte ordem: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mateus 28:19).
Jesus profetizou que haveria muitos escândalos (Mateus 18:7), falsos cristos e falsos profetas (Mateus 24:24) dentro da Igreja. São Paulo nos advertiu sobre o Homem da Iniquidade, que haveria de surgir dentro da Igreja (2 Tessalonicenses 2:3-4). No entanto, Cristo prometeu guardar sua Igreja, torná-la vencedora sobre as portas do inferno, de maneira que o mundo nunca deixará de ter a Igreja por perto, instando com ele para que se converta ao Evangelho.
Foi por causa dos pecados e escândalos da Igreja que muitos se embaraçaram e caíram no erro de afirmar que a Igreja apostatou da fé. Essa heresia já estava presente no segundo século da era cristã, com os montanistas, e desde então nunca desapareceu. Sempre houve alguém que reivindicou a verdade para si e considerou o restante mentira e apostasia.
O que difere Dr. Martinho Lutero de outros reformadores é exatamente a certeza de que Deus guardou sua Igreja no mundo, representada pela igreja de Roma e pelas igrejas orientais. Os outros reformadores consideraram essas igrejas apóstatas e verdadeiras sinagogas de Satanás. Até hoje muitos protestantes mantêm essa opinião, infelizmente. Estão dispostos a aceitar que sempre houve uma Igreja invisível no mundo, representada por um "remanescente fiel", um grupinho anônimo e sem expressão que não aceitou aliar-se a essas igrejas, nem corromper-se com suas práticas pagãs, conforme ensinam. Um punhado de rebeldes ou agentes secretos, que o mundo desconheceu durante mais de mil anos.
Fico pensando: como é que esse "remanescente fiel" pôde se tornar fiel e manter-se fiel sem o clero, sem o anúncio do Evangelho, sem o Santo Batismo, sem o Sacramento do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Jesus e sem a absolvição de pecados?
Quem acredita na apostasia da Igreja por mais de mil anos terá, como consequência, que concluir que as portas do inferno prevaleceram sobre a Igreja por mais de mil anos, destruindo a pregação pública do Evangelho, o Batismo, a Ceia do Senhor e as chaves, o que é, sem dúvida, uma grande heresia.
Não fossem as igrejas medievais a pregar o Evangelho NA LÍNGUA VERNÁCULA, a desligar penitentes e a administrar os sacramentos, assistidas por Deus Espírito Santo, certamente não haveria fé no mundo e esse chamado "remanescente fiel" seria fictício. Vou além: se alguém disser que esse "remanescente fiel" existiu sem as igrejas medievais, respondo que é um entusiasta, duas vezes montanista, porque acredita que Deus abandonou sua Igreja, deixando-a perecer sob o poder do diabo, e ainda acredita na possibilidade de uma fé imediata, sem Evangelho e sem sacramentos.
É claro que houve muitos escândalos e apostasias dentro da Igreja. Isso não é nenhuma novidade, pois Jesus nos advertiu que seria assim, bem como seus apóstolos. O Sacramento do altar foi transformado em uma obra para reconciliar um Deus irado, o papa erigiu a si mesmo governante da Igreja, após truculentas disputas de poder entre bispos. O pagão Aristóteles foi honrado como verdadeiro doutor da Igreja e dele se aprendeu muito acerca do livre-arbítrio, da preparação para a graça e da justificação através das obras. Nenhuma dessas doutrinas tem autoridade apostólica. Muito pelo contrário, são doutrinas humanas, escandalosas e até apóstatas. Mas a apostasia nunca foi da Igreja ou das igrejas medievais, para ser mais exato, porque a Igreja não é o papa, nem a cúria, nem os escolásticos, nem as universidades, de onde tudo isso saiu.
Enquanto todas essas doutrinas apóstatas eram aceitas como verdade por Roma, sendo ensinadas nas universidades, o povo continuava indo às missas ouvir a pregação do Evangelho, trazendo seus filhos para serem batizados, recebendo o corpo de Cristo e sendo instruído pelo Credo, quanto à verdadeira fé, e pelos Dez Mandamentos, quanto às verdadeiras obras, com as quais a fé deve se exercitar. Sempre foi assim! A maioria do povo desconhecia o que era ensinado pelos escolásticos e ordenado pelo papa. Mas até entre os instruídos, muitos guardavam consigo a verdadeira fé. Por exemplo, quem nega a fé do monge católico romano Stauptiz, confessor de Dr. Martinho Lutero, que tanto o ajudou na fé evangélica? Quem há de duvidar da fé sincera de S. Bernardo de Claraval, cuja obra foi fundamental para Dr. Martinho Lutero encontrar a vereda da fé? Eu não tenho coragem de negar. Portanto, até entre os monges e professores, todos eles versados no Direito Canônico e nos concílios da Igreja de Roma, podemos encontrar a verdadeira fé.
Dr. Martinho Lutero foi condenado à morte na Dieta de Worms, pelo Imperador Carlos V. Qualquer alemão estava autorizado a matá-lo. Por que será que ninguém quis executar essa ordem do Imperador, que nunca foi revogada? Porque havia muita gente verdadeiramente cristã na Saxônia, que até então era fiel a Roma, mas reconheceu em Dr. Martinho Lutero a verdadeira fé, com a qual se identificou.
A Igreja é conhecida através do Evangelho que ela anuncia e através dos sacramentos. Essa Igreja é detentora da Verdade de Deus, conforme nos ensina S. Paulo: "Coluna e baluarte da Verdade" (1 Timóteo 3:15). Ela é apostólica não porque foi fundada pelos apóstolos, mas porque crê naquilo que os apóstolos ensinaram, porque foi erigida sobre a fé deles. Portanto, a apostolicidade da Igreja está no Evangelho, sempre esteve e sempre estará. Onde houver o autêntico Evangelho, ali estão S. Pedro, S. Paulo e todos os outros apóstolos, com seu selo.
A preservação do Evangelho na Igreja não é coisa humana, mas divina. É Deus quem defende sua Igreja diante das portas do inferno e a livra de seus escândalos. Ele promete fazê-lo, de maneira que ao mundo não faltará o anúncio do Evangelho, nem o Batismo, nem o Sacramento do altar, nem as chaves, ainda que todos os diabos se levantem contra a Igreja. A essa mesma Igreja que Deus enviou ele prometeu acompanhar até à consumação dos séculos (Mateus 28:18-20). Também deixou claro que não a acompanharia por algum tempo, mas TODOS OS DIAS até à consumação dos séculos. É nisso que devemos crer e nunca duvidar. Caso contrário, é melhor pularmos o "creio na Santa Igreja Católica", quando formos professar nossa fé.

"Mas nós ensinamos o seguinte: a Igreja não tem mácula nem ruga, mas é santa, todavia,  pela fé em Jesus Cristo. Além disso, ela é santa em sua vida no sentido de que ela se abstém das concupiscências da carne e se exercita nos frutos espirituais. Mas, ainda não é santa no sentido de que esteja libertada de todos os maus desejos e os tenha suprimido, nem de que tenha se expurgado de todas as ímpias opiniões e erros. Pois a Igreja sempre confessa seu pecado e ora que 'que lhe sejam perdoadas as suas dívidas'. Da mesma forma, ela crê na remissão dos pecados. Por isso, os santos pecam, caem e também erram, mas, por ignorância, pois não querem, de bom grado, negar a Cristo,  perder o Evangelho, revogar o Batismo, etc. Assim, pois, têm a remissão dos pecados e, mesmo, se, por ignorância, erram na doutrina, isso lhes é perdoado, porque, enfim, reconhecem seu erro e se apoiam unicamente na verdade e na graça em Cristo, como fizeram Jerônimo,  Gregório, Bernardo e outros" (Dr. Martinho Lutero, Comentário da Epístola aos Gálatas).


Autoria: Carlos Alberto Leão.

Imagem extraída da internet.







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