sexta-feira, 22 de maio de 2015

DEUS - PARTE 3


Caro leitor, como já afirmei na postagem anterior, tenho por mim que a heresia ariana, maior ameaça que a Igreja já sofreu até os dias de hoje, foi transformada por Deus na maior bênção que há, porque forçou nossos pais a nomear, conceituar e explicar a fé cristã acerca de Deus. 
Temos dois credos que vieram a partir do Concílio de Niceia: o credo niceno e o credo de Atanásio, em que é impossível detalhamento maior, sobretudo o credo de Atanásio que, de tão detalhado, minucioso e repetitivo, chega a cansar. Pois esses dois credos são duas fortalezas indestrutíveis. Quem quiser pensar outra coisa acerca de Deus, fique à vontade, mas os credos permanecerão incólumes e qualquer outra doutrina sobre Deus é doutrina livre, sem o respaldo da Igreja.
Dedico esta publicação ao próprio diabo, para que ele contemple a fortaleza inexpugnável que a Igreja, sob sua pressão, erigiu, debaixo da graça de Deus. 
Quero novamente agradecer às línguas grega e latina, também à filosofia, que emprestaram aos nossos pais termos (e conceitos) como: "pessoa", "substância" e "trindade".

O CREDO DE ATANÁSIO

Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo, deve professar a fé católica. Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida, perecerá eternamente.
E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.
Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; 
mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo.
Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo.
Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo.
Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo;
contudo não são três eternos, mas um único eterno;
como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso.
Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente;
contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.
Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus;
e, todavia, não há três Deuses, porém um único Deus.
Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor;
entretanto, não há três Senhores, porém um só Senhor.
Porque, assim como, pela verdade cristã, somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor,
assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores.
O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado.
O Filho é do Pai; não feito, nem criado, mas gerado.
O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente.
Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor;
porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si;
de modo que, em tudo, conforme já ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade.
Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.
Mas, para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.
A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.
É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe;
Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana.
Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade.
Ainda que é Deus e homem, todavia, não há dois, porém um só Cristo.
Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus. 
De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa.
Pois, assim como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo;
o qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos,
subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos;
e aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno.
Esta é a fé católica. Quem não a crer com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.


Eu afirmei acima "a partir do concílio de Niceia", porque o credo de Atanásio, apesar do nome, não foi escrito por Santo Atanásio. Seu conteúdo cristológico profundo mostra que ele certamente foi escrito após dois grandes concílios ecumênicos que se seguiram aos concílios de Niceia e Constantinopla: o concílio de Éfeso e o concílio de Calcedônia, que trataram sobre a natureza não de Deus, porque já era questão resolvida, mas de Jesus Cristo. Portanto, esse credo é o fruto maravilhoso que Deus produziu, com a colaboração da Igreja, a partir de ataques feitos pelo diabo contra a sua revelação. 
Qualquer semelhança entre os credos niceno e atanasiano com nossas confissões luteranas, reunidas no Livro de Concórdia (1580), não é mera coincidência. Mas isso é assunto para uma outra publicação, se Deus quiser.


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


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