domingo, 3 de maio de 2015

CADÊ O BOBO FELIZ?


Certa vez, um paciente meu, portador do vírus HIV, lamentou o fato de sofrer mais que outras pessoas, por pensar muito na vida. Ele desejava não ter a consciência que tinha da vida e ser menos culto, para sofrer menos, porque ele constatou que pessoas que pensam muito, que problematizam muito a vida, sofrem mais.
Perguntei a ele se gostaria de viver alienado. Ele rapidamente respondeu que não.
Quero então abordar a questão da felicidade, que sempre procuramos, sem saber exatamente o que ela é. Confundimos muito alegria com felicidade. Como nossa passagem por este mundo é marcada por muitas perdas, dor e lágrimas. Como é recorrente a sensação de vazio e desamparo na alma. Como há um frequente desconforto de viver em nosso âmago, somos levados a pensar que nunca somos felizes e, em busca dessa tal felicidade, expomo-nos a muitos perigos, principalmente ao perigo de trairmos a nós mesmos.
Não devemos confundir felicidade com alegria. A felicidade é estável, a alegria não. A felicidade nos plenifica, enquanto que a alegria só nos distrai. A felicidade coexiste com nossa angústia, alegria e contradições, ao passo que a alegria é arisca, é como o fogo de uma vela, qualquer vento apaga. A mesma felicidade que hoje nos faz sorrir, amanhã nos fará chorar. Eu vou explicar por quê.
Para sabermos o que é felicidade, esse bem precioso que todos procuramos, temos que perguntar ao próprio Deus, que nos criou para ela.
Jesus nos ensina: "FELIZES as pessoas que sabem que são espiritualmente pobres, pois o Reino do Céu é delas. FELIZES as pessoas que choram, pois Deus as consolará. FELIZES as pessoas humildes, pois receberão o que Deus tem prometido. FELIZES as pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele as deixará completamente satisfeitas. FELIZES as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia delas. FELIZES as pessoas que têm coração puro, pois elas verão a Deus. FELIZES as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos. FELIZES as pessoas que sofrem perseguições por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do Céu é delas. FELIZES são vocês, quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e FELIZES, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês. Porque foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês" (Mateus 5:3-12).
Jesus então nos explica que a felicidade está na carestia, nas lágrimas, na nulidade, na miséria, no despojamento de espírito, na  guerra e nas perseguições. O que há em comum a tudo isso? São as carências. Jesus apresenta nossas debilidades, para que nos voltemos a ele e uns aos outros, para nos socorrermos mutuamente. É assim que a felicidade se concretiza no amor e no serviço. Fora do amor e do serviço, não pode haver felicidade. Quando muito, alegria alienada.
Nós já estamos familiarizados com a figura do "bobo alegre". Quem é o "bobo alegre"? É aquela pessoa alienada, que não reflete a vida, não presta atenção às suas necessidades e às necessidades dos outros e vive um eterno carnaval. Alienação não deve ser entendida como falta de instrução, mas como desinteresse. Enfim, alienação é falta de amor.
Pergunto agora: onde está o "bobo feliz"? Eu não sei se ele existe. Felicidade e alienação não podem andar juntas. Se felicidade é amor a Deus e ao próximo, é certo que terei de estar muito ciente das minhas carências e das carências que me cercam, para que possa de fato amar e ser feliz. Definitivamente, não é possível ser um "bobo feliz".
É nas carências da vida que temos a oportunidade de vivenciar o amor. O que é o amor senão saciar as carências ou fomes que nos cercam? Logo, a verdadeira felicidade não deve estar na abundância, mas na carência, onde o amor tem espaço para agir. 
É óbvio que alguém não pode saciar outro com o que não possui. É então que Deus entra em cena. São João nos ensina que "o amor procede de Deus". Também afirma: "Nós amamos porque Deus nos amou primeiro". Portanto, é necessário que tenhamos o amor de Deus para podermos amar.
Embora Deus nos ame sempre, só é possível ao homem apropriar-se de seu amor através da fé. Somente a fé nos torna proprietários do amor de Deus, para poder distribuí-lo. 
Então eu amo porque Deus me ama, porque ele me sacia abundantemente, de maneira a sobrar, permitindo que sacie outros. O amor que vem de Deus é generoso e gratuito. Ao reparti-lo também é necessário que o façamos generosa e gratuitamente. Não há necessidade de poupar, porque Deus nos dá muito e incessantemente. Desse amor fruído e partilhado só pode resultar a felicidade. Louvor, holofotes, premiações ou qualquer recompensa material ou imaterial nada vale diante dessa alegria do espírito. Está aí uma adequada definição da felicidade: alegria do espírito!
Santo Agostinho de Hipona disse o seguinte, a respeito da felicidade: "Longe de meu coração, longe do coração de teu servo, que se confessa a ti, Senhor, o pensamento de encontrar a felicidade, não importa em que alegria! Porque a felicidade é uma alegria que não é dada aos ímpios, mas àqueles que te servem de modo desinteressado: tu és a alegria". Coisa linda de se crer! É então que a felicidade se torna clara, a trazer-nos alento, a nos mostrar que estamos no caminho certo.
Você que ama e está sofrendo porque ama, não lamente sua condição. Ela é melhor que a de muitos, porque você é feliz ou bem-aventurado. Você pode não sorrir à toa, como o fazem os "bobos alegres", mas creia que o sorriso que lhe falta na carne, certamente existe em seu espírito crente e tem feito toda a diferença, tanto na sua vida, quanto na dos outros; mas principalmente na dos outros!
Se você não é feliz, busque a Deus. Ele é a fonte do verdadeiro amor e da felicidade. Nós, cristãos, confessamos o Deus da felicidade. Busque esse Deus, desafie-o, lute com ele. O Deus revelado em Cristo não está de brincadeira e não haverá de se esconder de você.
Amém!


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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