quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O DEUS HUMANO

O Filho único do Eterno Pai
Para uma manjedoura deixou seu trono;
Encoberto em nossa pobre carne e sangue
Está agora o eterno Bem.

Aquele a quem o mundo não podia receber
Agora no colo de Maria repousa;
Ele tornou-se uma criancinha
Que por seu poder sustenta tudo
(Dr. Martinho Lutero)



Sabe o que mais me encanta em Deus? Não é sua glória e soberania amplamente conhecidas, nem sua imensidão e sublimidade, nem seus conselhos secretos, nem mesmo seu amor eterno. O que mais me encanta em Deus é sua humanidade. 
A humanidade de Deus torna acessível tudo aquilo que é sublime e inefável. A humanidade de Deus traduz em nossa pobreza a sua riqueza e glória. A humanidade de Deus permite que o infinito e a eternidade sejam abraçados e levados ao colo pelos braços frágeis de uma virgem. Diz literalmente tudo em um olhar, em um gesto, em um toque, em uma palavra. 
A humanidade de Deus torna compreensível o incompreensível, exprimível o inexprimível, concreto o abstrato. Ali se encontra toda a verdade, toda a vida e todo o amor materializados, de maneira que tudo isso pode ser captado por um simples olhar.
A humanidade de Deus permite que eu toque nele e depois exclame: "Senhor meu e Deus meu!" (João 20:28). 
Deus é o filho do carpinteiro, o menino obediente, o homem que se cansa, que dorme profundamente, que chora, que se enraivece, que fica a sós com seu Pai, que dialoga; é o homem caluniado, castigado, condenado e morto injustamente. Deus é o jardineiro, o homem desconhecido que caminha rumo a Emaús. Deus é simples homem. Deus é como eu e você.
Ao assumir a humanidade, Deus quis sua forma mais precária: um menino indefeso, totalmente dependente dos pais. Ao escolher para si um contexto humano, Deus igualmente quis o que havia de mais precário: pobreza, anonimato, exclusão, tirania, hipocrisia e desesperança. Tudo isso ele quis colocar em seu contexto de vida.
Com esse Deus humano qualquer um de nós pode se identificar. Nele encontramos a realidade do favelado, da mãe solteira, do refugiado, do operário, do órfão, do incompreendido, do caluniado, do julgado e até do bandido. Nele identificamos a nossa realidade pobre.
Somente os fortes não encontram sua realidade solitária e triste em Deus. Todos os fracos, que andam por aí envergados pela opressão do pecado e do mundo, podem encontrar no homem Deus a sua realidade.
É essa humanidade de Deus que me fascina! Deus está muito perto de mim e conhece em sua própria carne os meus dilemas. Deus não é mais um conceito teológico, mas realidade concreta em nossa história. Um dia o poderemos ver e abraçar!
Como desdobramento disso, entendemos que a paternidade de Deus não é mais conceitual, mas muito humana e, portanto, concreta. Ele é o pai pobre do pobre, o pai operário do operário, o pai refugiado do refugiado, o pai órfão do órfão, o pai solitário do solitário, o pai incompreendido do incompreendido, o pai caluniado do caluniado, e assim por diante. Como é tão homem como nós, alegra-se, angustia-se e chora como nós, não menos que nós.
A humanidade de Deus é escândalo e blasfêmia para a razão, mas surpresa e motivo de prazer ao coração, onde reina a fé.
A humanidade de Deus o reduz, mas também o eleva. Reduz, porque Deus agora é simples homem, criatura, um animal como qualquer um de nós. Eleva, porque o Deus de Israel, sublime em sua essência, tornou-se simples homem. Nunca sua onipotência foi tão onipotente! Aqui, mais do que nunca, ele ensina o que é ser Deus.
O Deus de Israel é homem para quem está fraco, Deus para o soberbo. Ao fraco consola com sua fraqueza, ao soberbo abate com sua Divindade, para que se torne fraco também. Deus fraco de homens fracos. Por isso, é necessário que o homem se torne fraco para relacionar-se com ele.
Tendo Deus se tornado homem, ele quer se relacionar com homens, não com deuses. Ele ergue os indigentes, que não mais se sentem humanos, para que se tornem humanos, também derruba os poderosos, cheios de si, que se sentem deuses, para que possam se tornar homens também. O propósito do Deus humanado é humanar-nos em torno de sua humanidade. Que tipo de relacionamento o homem Deus quer ter com nossa humanidade? Ele quer lavar nossos pés. Também quer que o imitemos, lavando os pés uns dos outros. Por isso nos congrega como homens em torno de sua humanidade, como congregou os doze discípulos em torno de si, na última Ceia.
Vão os homens em busca de êxtases, de prosperidade, de milagres e glória. Eu fico aqui, com meu Deus humano e pobre, a olhar-me de frente. Este é o meu natal.  


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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