quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

ESPERANÇA: DESCANSO NA DOR

"Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos" (Romanos 8:22-25).


Vou ser sincero com você: Não tenho muito interesse na comemoração de um ano que passa. Para mim, todas as festividades de hoje não fazem muito sentido. Para mim, dia primeiro de janeiro é apenas um feriado. Considero o meu aniversário como sendo o meu réveillon.
No entanto, devemos agradecer por cada dia que vivemos e, hoje à noite, estarei agradecendo a Deus por este dia também, se Deus o permitir, é claro. Também, por que não louvar a Deus por mais um ano que passa na história da humanidade ocidental? Viver é sempre o maior milagre, pelo qual nunca devemos nos cansar de dar graças.
Quando um ano termina e outro começa, um sentimento arrebata a massa: a esperança. E é sobre esse sentimento que quero comentar hoje.
São Paulo nos fala da criação que geme sob a corrupção do pecado, sujeita ao diabo. De fato o mundo inteiro padece o nosso pecado e o domínio de Satanás. Terremotos, tsunamis, enfermidades, sequidão e tantos outros males assolam os seres viventes. Também nosso pecado castiga o mundo: rios poluídos, inundações, aquecimento global, derretimento das geleiras, escassez de água, etc. Neste ano, o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco ceifou vidas e destruiu todo um ecossistema. O mundo deveras geme por causa de nosso pecado e devido à opressão satânica.
São Paulo fala também de nosso gemido, o gemido dos cristãos. Diz coisas estranhas: "AGUARDANDO a adoção de filhos, a redenção do corpo". Como assim, aguardando? Por acaso ainda não fomos redimidos e não somos filhos de Deus? São Paulo porventura quer nos tirar a certeza da salvação?
O cristianismo é marcado pelo paradoxo. O cristão convive com realidades opostas o tempo inteiro. O cristão é santo e pecador, salvo e perdido, filho de Deus e filho do diabo, Cristo e Adão, está na bem-aventurança celeste e padece horrores neste mundo, está junto de Deus e separado dele. Veja como é difícil a nossa condição!
O homem descrente não conhece esse paradoxo. Ele todo está sob o domínio do diabo. Nada dele pertence a Deus.
O homem salvo igualmente não conhece esse paradoxo. Ele todo está em Deus e pertence a Deus.
Mas o cristão está entre a terra e o Céu, está partido em carne e espírito. Crê em sua condição permanente, que é celestial, mas sua condição transitória, que é mundana. Ah, mas como é difícil resistir ao que nossos olhos veem! O cristão verdadeiro se vê péssimo todos os dias, porque não aceita o que vê. O cristão vive inconformado consigo mesmo e com o mundo. Afinal, a realidade do pecado e da corrupção enche seus olhos, sua mente e sua razão, acusando-o permanentemente de perdido e apartado de Deus.
Por que nos enxergamos assim tão péssimos? Quem nos torna inconformados com tudo o que nossa vista alcança? Certamente é a fé. Não tivéssemos fé, estaríamos reconciliados conosco e com o mundo, sem paradoxos, sem embates, sem pecados. Então seríamos pessoas honestas e boas, caminharíamos com a cabeça erguida, como pessoas de bem. Mas quem crê está condenado a sentir-se desonesto, mau e a caminhar cabisbaixo, gemendo. Sim, gemendo! "Igualmente gememos em nosso íntimo".
Veja que até a fé do cristão existe num contexto paradoxal: quem crê sente-se pecador e perdido. Quem não crê se sente santo e salvo, dentro daquilo que considera salvação.
É então que S. Paulo nos exorta à esperança. Não a qualquer esperança, mas a um tipo específico de esperança, que é a esperança cristã.
O que é esperança cristã? A esperança cristã consiste em considerar mentira o que se vê e ter por verdade absoluta o que não se vê. Vejo o presente e chamo-o de mentira deslavada. Em seguida, dirijo-me ao futuro como verdade. Vejo meu pecado como mentira, creio em minha santidade como verdade. Vejo minha carne como mentira, creio em meu espírito como verdade. Esperança cristã tem por base a fé. A esperança cristã é a ousada resposta da fé ao que se vê. Ela diz: "Não me importa a tua concretude, ó realidade, porque sei, tenho certeza que não és verdade. Tua concretude me tenta a crer em ti, mas não irei crer em ti, porque tu és mentira e, como eu, tu passarás. Eu tenho certeza que a verdade existe e que tu a queres esconder de mim. Enquanto isso, ponho-me a esperar a revelação da verdade. Não queiras que compre gato por lebre".
São Paulo declara que "na esperança fomos salvos". É a esperança que nos salva, porque é fé genuína em seu exercício. O que mantém o cristão é a fé, que o faz descrer na mentira tangível e crer na verdade intangível, o que outra coisa não é senão esperança. Se você sente essa esperança é porque você crê. Não queira buscar sua fé e, com ela, a certeza de sua predestinação e de sua salvação eterna fora dessa esperança. Eu a tenho! disso me glorio e nisso descanso. Descanso de lágrimas, de dor, de inquietude, de gemido, mas descanso!
São Paulo afirma o óbvio: "Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?" É então que declaro preferir mil vezes ou infinitas vezes meu descanso doído da esperança ao descanso epicureu da vista. 
Para mim, dia 31 de dezembro continuará sendo véspera de primeiro de janeiro, mas passo de um dia ao outro levando comigo a mais autêntica comprovação da fé, que é a esperança cristã.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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