domingo, 27 de dezembro de 2015

NO RECÔNDITO DO LAR

"E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens" (S. Lucas 2:52).


Deus se fez homem no ventre de uma virgem chamada Maria. Um silêncio profundo envolvia aquele insondável mistério!
Sua mãe bendita casou-se com José e o deu à luz num curral de Belém. Novamente, silêncio, muito silêncio!
Tendo nascido, deram ao Deus humanado o nome de Jesus, conforme orientação do anjo. Mas de tal maneira a Divindade estava oculta e silenciosa em Jesus, que ele não passava de simples menino aos olhos de seus pais. O evangelista mostra claramente que José e Maria não sabiam da Divindade de seu filho. Assim narra S. Lucas: "Ele [Jesus] lhes respondeu [aos pais]: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai? Não compreenderam, porém, as palavras que lhes dissera" (S. Lucas 2:49-50). Obviamente, sabiam que aquele menino era o Messias, mas não o próprio Deus. 
Jesus foi criado por seus pais como todo menino judeu. Foi circuncidado, apresentado no templo e todos os anos era levado por eles a Jerusalém, para participar da Festa da Páscoa. Silêncio de uma família comum, com um filho aparentemente comum. Segredo!
Fico olhando para as casas daqui mesmo, de onde escrevo, e ponho-me a pensar: que segredos há no silêncio de cada lar? Problemas há com certeza. Não é fácil a vida matrimonial, menos ainda a incumbência de educar filhos. Muitos são os desgostos e dores que permeiam as relações familiares. Mas eu tenho certeza que o amor existe em cada uma dessas casas que avisto de meu escritório. 
Família é assim: ensaio da vida. Aprendemos a lidar com as perdas e com os ganhos, a respeitar, a impor limites; erramos e acertamos, reparamos os danos, tudo o que fazemos fora do lar, mas no contexto do amor. É necessário que eu aprenda a lidar comigo mesmo e com o outro em meu lar, onde o amor me dá a oportunidade de vivenciar cada erro e cada fracasso diante de pessoas que não irão me condenar. Os erros são permitidos e bem-vindos nos ensaios, não nos espetáculos. Família é local de ensaio, não de espetáculo.
Família é o mundo ideal. Lembro-me de quando deixei a casa de meus pais e morei por seis meses em um pensionato. Ali não havia a paciência e o perdão do lar, mas eu havia sido preparado para encarar essa nova realidade durante vinte anos. Em minha opinião, o ser humano precisa de condições ideais para crescer e florescer. Que seria de mim se crescesse em um ambiente hostil, sem amor, onde só há disputas e mentiras, como ocorre no mundo? Para enfrentar o desamor, a indiferença, o ódio e o egoísmo, é necessário que primeiramente eu aprenda o que é o amor, a atenção, o perdão e o altruísmo. Os valores devem ser formados na família, como mundo ideal. O conhecimento do amor me faz resistir ao desamor. Ter sido ouvido me auxilia a ouvir, a interessar-me pelo outro, contrapondo-me ao que o mundo é. Por isso, corretamente associamos valores humanos ao berço.
Família é amparo. Toda vez que nos machucamos, é no lar que são feitos os curativos. 
Família é descanso. Para ela retornamos após um dia exaustivo de lutas e ali encontramos o descanso do desabafo, do choro, da refeição, da risadaria, dos pés esticados no sofá, do filhinho dormindo serenamente.
Incrivelmente silenciosa é a vida familiar. Tudo isso acontece sem qualquer alarde. Muito pelo contrário, tudo ocorre de maneira discretíssima! Dos lares alheios só enxergamos as luzes que se acendem e que se apagam.
Deus teve uma família. De seu lar temos muito pouco, praticamente o acender e apagar das luzes. Dos trinta anos de convivência familiar, temos somente isto: "E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens".
De tal maneira a Divindade de Jesus se silenciou, que ele nem se dava conta dela. Viveu como simples menino e rapaz a vida familiar, sendo submisso aos seus pais, trabalhando, comendo, descansando e aprendendo. Os evangelistas não sabem dizer - aliás, quem sabe dizer algo de qualquer lar? - mas eu creio que ele se decepcionou com seus pais, teve que perdoá-los, brincou, esfolou-se, chegou chorando aos pais, reclamou dos curativos. Eu creio que ele teve medo dos relâmpagos, quis dormir com os pais; que tomou chuva, chegou em casa enlameado, foi corrigido diversas vezes, etc. Tudo aquilo que silenciosamente ocorre no ambiente familiar ele viveu, obviamente sem pecado algum.
Então fico surpreso ao perceber que Deus quis CRESCER numa família. Que estima Deus tem pela família! O Verbo eterno e a Sabedoria se calaram para ouvir seus pais, honrá-los, interagir com eles e aprender com eles. Preparou-se para sua missão durante trinta anos de convívio familiar!
Não à toa o diabo tem investido tanto contra as famílias. Sem alarde, as famílias têm formado pessoas de bem para o mundo, têm promovido tudo o que há de bom no mundo, absolutamente tudo! Tudo o que há de bom começou no silêncio de um lar. Sem alarde, uma família muito comum formou o próprio Deus.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


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