domingo, 22 de novembro de 2015

DESEJO DE DEUS

"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, E A VERDADE, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14.6).



Anteriormente colocamos a fé como sendo obra exclusiva de Deus no homem. Por natureza, o homem deseja somente o pecado e não quer Deus de forma alguma, senão aquele deus que sua razão pecaminosa fabrica. Então a fé é uma intervenção milagrosa de Deus para salvação humana. É a fé que traz o homem de volta a Deus, ao reconquistar aquilo que o pecado dominou: o desejo.
A fé é o desejo de Deus. Ela não quer nada que não seja Deus, não confia em nada que não seja Deus, não quer ter diante de si nada, absolutamente nada que não seja o próprio Deus. Para a fé, somente Deus existe e nada mais. Para a fé, somente Deus é verdadeiro e nada mais. Para a fé, Deus é tudo!
Embora o cristão não sinta sua fé, é ela que o faz voltar-se para Deus contra seu impulso inato para o pecado. É ela que o incomoda, que rouba sua alegria, que o torna insatisfeito e vazio no mundo. É ela que o torna aliviado, fortalecido e alegre quando está diante da Verdade. É ela que dá sabor de fel ao que delicia o mundo. É ela que dá sabor de mel ao alimento que o mundo odeia. Ela põe o filho contra seu pai, a filha contra sua mãe e a nora contra sua sogra, se necessário for. É ela que torna o cristão esquisito e indesejável, até diante de si mesmo. É um burburinho, uma inquietude, um desconforto, algo que lembra o pecado hereditário em seu modo de agir, porém arrastando a fome humana em sentido oposto.
Você sabe onde a concupiscência está? Pois ali também habita a fé.
A fé não se contenta com papel, teologia ou filosofia. Ela quer a Verdade. Essa Verdade, porém, é Deus. 
Por isso, tão complexo quanto seja definir o que é Verdade, porque a Verdade é Deus, assim é com a fé, em sua natureza.
Não pense que irá agradá-la com textos, com doutrinas, com confissões, com argumentação teológica! Ela quer a Verdade, que é Deus. E ela não erra! De tudo o que apresentar a ela, ela sugará somente a Verdade e desprezará o resto. Pode ser que sua razão queira esse resto, mas aí são outros quinhentos!
Qual, então, deve ser o papel da teologia e das confissões para a fé?
Teologia é um produto do intelecto e não requer fé. Incrédulos podem ser excelentes teólogos, desde que se dediquem. Penso, inclusive, que o maior teólogo de todos seja o diabo. Ele certamente é o maior conhecedor das Escrituras que existe!
Desse mesmo intelecto de onde brotam as teologias, brotam também os credos e confissões, que as sintetizam e preservam.  
De toda confissão existente, como construção humana, a fé irá sempre sugar a Verdade, deleitar-se nela e rejeitar o restante.
Então, a função da teologia e, por conseguinte, das confissões é intelectualmente definir a Verdade, purificá-la e preservá-la. Obviamente, nenhuma teologia ou confissão pode ser tão precisa neste aspecto. Entretanto, quanto mais a Verdade é purificada e preservada, tanto melhor é o trabalho do teólogo. 
Não quero negar o valor da teologia e das confissões. São importantíssimas! Porque se a razão carnal ataca a Verdade com argumentos, também é necessário que a razão espiritual, regida pela fé insensível, reaja com argumentos a favor da Verdade. Assim, a razão espiritual impede que as fontes da Verdade sejam entupidas. Aqui a fé usa toda a sua energia, pois sabe que seu verdadeiro alimento, a Verdade, está sendo disputado.
As teologias e confissões servem ao propósito de manter intactas as fontes da Verdade, porém são sempre atividade intelectual, mesmo que dirigida pela fé. Da mesma maneira como muitas mentes são conduzidas pela concupiscência, muitas são conduzidas pela fé. Mas como não há cristão que seja inteiramente espiritual, tudo o que pensa ou escreve está sujeito a erro.
Portanto, não queira reduzir o conceito de fé a uma ideologia, nem o objeto da fé a uma confissão. Não se envaideça de sua confissão, como se ela fosse a Verdade e tivesse o poder de fazer cristãos; isso é idolatria! A Verdade é Deus e somente ele faz cristãos, através da fé. Não se deixe levar pela arrogância espiritual, que é o maior mal que assola o cristianismo desde sempre. 
O que define o cristianismo é a fé. O objeto da fé se chama Verdade, mais precisamente Deus, mais precisamente o Deus encarnado, mais precisamente o homem Jesus Cristo, mais precisamente o EVANGELHO. Por isso, a Igreja é "criatura do Evangelho" (Comentários de Lutero sobre suas teses debatidas em Leipzig, tese 12), não de confissões ou credos, ainda que estes sejam primordiais para preservação da Verdade no mundo.


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.





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