segunda-feira, 2 de novembro de 2015

FÔLEGO


Hoje é dia de finados, mas acordei com uma vontade de viver! O que a morte tem que nos faz querer viver tanto? Quero comer, beber, respirar fundo, ler, dançar, pular, rolar; quero me esbaldar. Tudo o que é vida eu quero. Neste dia de finados, minha vontade é celebrar a vida.
Vida é algo tão precioso que ninguém quer abrir mão dela. A vida não foi feita para ser guardada, nem sequer em nós mesmos. A vida é livre, furtiva, escorregadia, voa, nada, ultrapassa, evapora, é como o pensamento. Tem a força da cachoeira e das ondas do mar, porém a sutileza do ar, ou melhor, a sutileza da alma. É tão teimosa que nem a morte pode com ela. Nem o mundo pode com ela. Nem o universo a contém. Nem a infinitude lhe põe limites. 
Quando está à vontade, sai pela avenida como linda porta-bandeira, espalhando sorrisos, brilhos e plumas. Quando é ameaçada, esconde-se como a sombra. Se é mais ameaçada ainda, fluidifica-se, evapora-se, mas persiste. A mesma vida é tudo isso.
Quando há corpo, ela dança. Quando há somente boca, ela canta. Quando há somente olhar, ela brilha. Quando não há sequer olhar, ela é quente. 
Quando acolhida, ela fica. Quando limitada, ela supera. Quando ameaçada, ela enfrenta. Quando perseguida, ela foge. Quem pode conter a vida?
Ela é nossa contradição. Toda pessoa que entra em contradição está resistindo à vida, pois todos a queremos, ainda que neguemos isso. Instintivamente, ESSENCIALMENTE a queremos. Amar a vida é ser homem. Os animais vivem, mas não amam a vida. O que nos torna humanos é o desejo de viver. Esse desejo só não existe em quem se des-humanizou ou foi des-humanizado. Mas como é impossível des-humanizar-se por completo, mesmo o suicida, que já não se sente mais humano, ainda é humano e ainda quer a vida. O que lhe resta de humanidade é desejo de viver.
Ninguém quer destruir sua vida. O problema é que nós queremos destruir a vida dos outros. Queremos decidir se a vida do outro deve continuar ou não, se ela vale a pena ou não. Mas a vida é um bem social. O ser humano é, antes de tudo, social. A Humanidade é social. Toda vez que alguém investe contra a vida do outro, seja este outro um pobre, um refugiado de guerra, um presidiário ou um simples embrião, toda a Humanidade perde um pouco de sua vida.
As múmias de Pompeia morreram abraçadas. Nós também vivemos ou morremos abraçados. Sempre foi uma questão de escolha.



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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