sexta-feira, 31 de julho de 2015

UMA NOVA ALIANÇA



"Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.
Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim" (1 Coríntios 11:23-25).

A instituição da Eucaristia teve um aspecto muito peculiar, que nunca devemos perder de vista: Jesus Cristo, revelação do amor de Deus por nós, estava selando conosco uma nova aliança.
A aliança que Deus fez com Moisés, quando lhe entregou os preceitos ou a Lei, chamada aliança da Lei, foi selada pelo sangue de animais. "E tomou o livro da aliança e o leu ao povo; e eles disseram: Tudo o que falou o SENHOR faremos e obedeceremos. Então, tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o SENHOR fez convosco a respeito de todas estas palavras" (Êxodo 24:7-8).
Há uma semelhança chocante entre o que Moisés disse: "eis aqui o sangue da aliança" com o que Jesus disse: "este cálice é a nova aliança no meu sangue". Fico impressionado com isso.
A primeira aliança, firmada através de Moisés, não foi estabelecida para salvar. Em momento algum Deus prometeu remissão de pecados e vida eterna a quem a cumprisse. Quando Deus firmou essa aliança com o povo de Israel, sua promessa de salvar o homem através de Cristo, e não de outro modo, permaneceu inabalável (Gálatas 3:6-9, 16-17). 
Além disso, era uma aliança muito frágil, pois se baseava no ato humano. Como era de se esperar, ninguém cumpriu a promessa: "TUDO o que falou o SENHOR faremos e obedeceremos". O homem caído não tem condições de cumprir tal promessa, mesmo que o queira do fundo do coração. Portanto, todos os israelitas transgrediram a aliança da Lei e foram encurralados por Deus (Gálatas 3:19,22).
Entretanto, Deus não agiu maldosamente com eles. O doente precisa saber que está doente para que aceite o remédio. Quando alguns em Israel se deram conta de sua grave enfermidade e desejaram o remédio, foi que Deus começou a anunciar uma nova e eterna aliança, esta sim para remissão dos pecados e vida eterna. Assim profetizou Jeremias: "Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá (...). Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei" (Jeremias 31:31,34).
Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, verdadeiro descendente da mulher, verdadeiro descendente de Abraão, selou essa aliança (Hebreus 9:15). Para tanto, não utilizou sangue de animais, mas seu próprio sangue, que foi oferecido aos discípulos através do vinho. Os discípulos não foram aspergidos por esse sangue, mas o beberam. Jesus também ofereceu seu próprio corpo sob o pão. 
Veja que a antiga aliança era temporal. O povo deveria obedecer todos os mandamentos da Lei para que fosse devidamente recompensado com bênçãos temporais (Levítico 26:3-13; Deuteronômio 28:1-13). Por se tratar de uma aliança temporal, foi selada com coisa temporal: sangue de animais. Essa aliança não pôde tocar o espírito, mas somente a carne, sobre a qual o sangue foi só aspergido. Além disso, foi firmada somente com os israelitas e não diz respeito a nós.
A nova aliança foi selada pelo sangue e pelo corpo eterno do próprio Deus que se fez homem. Esse mesmo corpo seria oferecido na cruz como expiação dos pecados, bem como o sangue. Essa nova aliança não se baseia no homem, mas na misericórdia divina, que nunca acaba, que se renova diariamente, que não se cansa, que é imutável e incondicional. Deus não depende do homem para continuar sendo quem é. Por isso, essa nova aliança, que podemos chamar de aliança da Graça ou aliança do Evangelho, é perene, assim como Deus é perene. A participação humana nessa aliança é totalmente receptiva. Em aspecto algum podemos afirmar que ela seja ativa de nossa parte. Por isso mesmo veio para ficar e não será rompida nunca. Ademais, não é uma aliança nacional, mas universal, não excluindo ninguém.
Para demonstrar de maneira dramática que essa nova aliança é puramente receptiva de nossa parte, Deus nos deu para COMER e BEBER seu verdadeiro corpo e seu verdadeiro sangue. Não quis que seu sangue ficasse sobre nossa pele, mas desejou que entrasse por nossa boca e atingisse nosso coração, nosso âmago e enchesse nossa fé sobejamente de tudo o que ele é.
Venho pensando muito, ultimamente, sobre a conversa que Jesus teve com seus discípulos após a primeira Eucaristia, muito bem detalhada por S. João. Jesus disse: "Porque eu vivo, vós também vivereis". Essa doce Palavra de Jesus encheu de alegria a minha semana.
Jesus selou a nova aliança com seu próprio ser, com sua própria vida. Sabemos bem o que significa o sangue para o povo judeu: vida! A vida de Deus deve ser engolida para exterminar nossa morte. Sua vida se funde à nossa vida, tornando-se o maior penhor que já existiu. Que garantia maior você quer de Deus de que é amado por ele e que viverá eternamente com ele, do que ter em você a própria vida de Jesus?
Se eu, ao morrer, perecer para sempre, comigo perecerão o corpo e o sangue de Cristo, que hoje fazem parte de mim. Mas isso não é possível. Davi profetizou: "Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta; até o meu corpo repousará seguro. Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção" (Salmo 16:9-10). Todos sabemos que Santo é esse. É o mesmo Santo que se torna literalmente um conosco quando o engolimos. Deus não permitirá que seu dileto Filho se perca para sempre, juntamente com nossa carne e espírito.
Acredito que por isso Jesus ordenou que essa mesma aliança fosse repetida pelos cristãos até o último dia. Todo cristão deve ser lembrado frequentemente que seu Deus firmou uma nova aliança consigo e que dá seu próprio corpo e seu próprio sangue como garantias de que essa aliança não será violada. Deus não deixará perecer quem agora é uma só carne com Cristo. E não afirmo isso de maneira figurativa ou poética, mas de maneira literalíssima. Através da Eucaristia, Deus consuma seu matrimônio com a Igreja.
É tão bom quando nos flagramos poéticos ao tratar da realidade! 



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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