domingo, 19 de julho de 2015

O ÓPIO DO POVO




"Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial" (2 Coríntios 5:1-3).

Acabo de retornar do culto. Ali me encontrei com o meu Amado, que me tomou como criança em seu regaço e amorosamente me absolveu de toda a culpa. Depois acariciou meus cabelos, enquanto falava comigo e, por fim, beijou-me através do Sacramento do Altar. Momentos de êxtase, que me aliviam o fardo da existência. 
Alguém disse que religião é o "ópio do povo". Essa pessoa queria dizer que o povo se anestesia de suas dores cotidianas através da religião. Não vou discordar dessa pessoa totalmente. Eu lamento o cinismo dessas palavras, mas não o seu conteúdo cru.
De fato, não há precariedade maior do que ser humano neste mundo. Somos como os animais, com um enorme diferencial: temos a percepção de nossa realidade e das realidades que nos cercam. Temos um espírito que geme dentro de nós, querendo algo que não podemos lhe dar. Somos muitos, mas estamos sempre sozinhos. Sobre nós está a expectativa da morte, não como fenômeno, mas como terror, como sinônimo de juízo. Criamos a filosofia para aliviar esse fardo de existir, mas os filósofos nos atolaram ainda mais em nossa precariedade, não apresentando solução alguma para o nosso dilema. Nossa existência aqui é verdadeiro inferno.
O ópio, por sua vez, alivia. Pode ser um narcótico, utilizado com o intuito de nos desconectar da realidade de nós mesmos e do mundo, mas pode ser utilizado para acalmar e para aliviar a dor. A religião pode ser um narcótico, quando nos ensina a alienação das obras e da justiça própria. Ela, porém, se torna ópio medicinal quando nos conduz a Deus e nos põe a descansar em seus braços, nem que seja por alguns minutos.
No texto acima, São Paulo trata da precariedade de nossa existência neste mundo e fomenta a esperança em uma realidade superior, em que não mais haverá pecado, nem medo, nem juízo, nem solidão, nem dor. A essa esperança os cristãos se agarram e, por causa dela, abandonam o resto. Até porque esse resto não vale tanto assim. Aliás, não vale nada.
Vou à igreja em busca de meu ópio, que me faça suportar esta minha peregrinação, que me faça aguentar viver com minhas feridas, até o dia em que esse ópio não mais será necessário. 
Sabe, vejo muita inveja no mundo contra esse ópio. Todos gostariam de ter o que a fé nos proporciona, como cristãos. Quando veem um cristão indo à igreja para receber seu ópio, revoltam-se e consideram isso uma grande e insuportável tolice, que a sociedade não deveria tolerar em seu meio. Tudo isso é inveja.
Gostaria eu que todos cressem e provassem o que provo. Deus está entre nós, oferecendo o que há de mais precioso no universo como se fosse pipoca e amendoim torrado nos semáforos. Aliás, está nas praças como aqueles palhaços que nos fazem parar para que entremos e vejamos o que há na loja a ser vendido. A diferença é que esse palhaço não quer que compremos nada. Quer somente que paremos, ouçamo-lo e recebamos de graça o que ele já comprou. Nós, porém, o ignoramos e vamos buscar coisa melhor em nossa própria imundície. 
Lamento muito a situação do homem.
Como me disse Jesus: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus".


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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