sábado, 25 de abril de 2015

Sicut locutus est ad patres nostros, Abraham et semini eius in saecula - Como falou a nossos pais, Abraão e sua descendência para sempre



"Aqui estão deitados por terra todo o mérito e todo o orgulho e exaltadas a pura graça e misericórdia de Deus. Deus não aceitou Israel por causa de seus méritos, mas por causa de sua promessa. Ele o prometeu por pura graça e também o cumpriu por pura graça (...). A mãe de Deus louva e enaltece essa mesma promessa acima de todas as coisas. Ela atribui essa obra da humanização de Deus unicamente às graciosas e não merecidas promessas divinas feitas a Abraão. A promessa de Deus a Abraão encontra-se principalmente em Gênesis 12:3 e 22:18. Mas também é citada em muitas outras passagens. Ela diz: "Jurei por mim mesmo: em tua descendência serão benditas todas as gerações ou todos os povos da terra". São Paulo e todos os profetas têm estas palavras em alta conta, como é justo. Pois nessas palavras foi preservado e salvo Abraão, juntamente com todos os seus descendentes. Também todos nós seremos salvos nelas. Cristo está nelas e é prometido como Salvador de todo o mundo. Este é o "seio de Abraão"(Lucas 16:22), no qual estão guardados todos os que foram salvos antes do nascimento de Cristo. Ninguém foi salvo sem essas palavras, mesmo que tivesse feito todas as boas obras (...). 
Em primeiro lugar, conclui-se a partir dessas palavras que, fora de Cristo, todo o mundo encontra-se em pecado, condenação e maldição, juntamente com toda a sua obra e saber. Deus diz que todos os povos, não alguns, devem ser abençoados na descendência de Abraão. Então não haverá bênção em todos os povos sem essa descendência de Abraão (...). Os profetas extraíram muitas coisas dessas palavras e concluíram que todos os seres humanos são maus, orgulhosos, mentirosos, falsos, cegos, em resumo: estão sem Deus (...). O ser humano está tão corrompido pela queda de Adão, que a maldição faz parte de sua natureza. Sim, ela constitui sua natureza e essência.
Em segundo lugar, deduz-se que essa descendência de Abraão não podia nascer de homem e mulher. Esse nascimento é maldito e produz exclusivamente um fruto amaldiçoado, como acabamos de dizer(...).Por outro lado, Deus, que não pode mentir, promete e jura que será a descendência natural de Abraão, isto é, um filho natural, nascido de sua carne e seu sangue. Entre essa descendência tem que ser um ser humano natural verdadeiro, da carne e do sangue de Abraão. Aí uma coisa opõe-se à outra: ser carne e sangue naturais de Abraão e, mesmo assim, não ser nascido naturalmente de homem e mulher (...).
O próprio Deus o fez, pois ele pode cumprir o que promete, embora ninguém o entenda antes que aconteça. Sua palavra e obra não exigem argumentos da razão, mas uma fé franca e sincera. Ele conciliou estas duas coisas: por meio do Espírito Santo, sem a concorrência de um ser humano, fez nascer para Abraão a descendência, um filho natural de uma de suas filhas, da imaculada virgem Maria. Aí não existe nascimento natural, nem concepção sob a maldição que pudesse ter tocado essa descendência (...). É a abençoada descendência de Abraão, na qual todo o mundo se liberta de sua maldição. Pois quem crê nessa descendência a invoca, confessa e permanece nela (...).
Aqui enxergamos a razão do Evangelho, porque toda a doutrina e proclamação nele levam à fé em Cristo e à intimidade de Abraão. Onde não existe essa fé, não há outro recurso, nem remédio para entender essa bendita descendência. Na verdade, toda a Bíblia depende desse juramento, visto que toda a Bíblia trata somente de Cristo. Além do mais, constatamos que todos os pais do Antigo Testamento, juntamente com todos os santos profetas, tiveram a mesma fé e o mesmo Evangelho que nós temos, como diz São Paulo em 1 Coríntios 10:1. Todos permaneceram com fé firme neste juramento de Deus e na intimidade de Abraão e assim foram salvos. Apenas com a diferença de que eles creram na futura semente prometida, enquanto nós cremos na semente aparecida e entregue (...).
No entanto, o fato de que mais tarde foi dada a lei aos judeus não corresponde a essa promessa. Isso aconteceu para que, segundo a lei, os judeus reconhecessem tanto melhor sua natureza maldita e desejassem com tanto maior entusiasmo e cobiça essa prometida descendência da bênção. Com tudo isso, tiveram uma vantagem sobre os pagãos de todo o mundo. Alteraram a vantagem e a transformaram em desvantagem. Dispuseram-se a cumprir a lei por suas próprias forças ao invés de reconhecer através dela sua carência e maldição. Desse modo, fecharam a porta para si próprios, de forma que a descendência teve que passar longe, no que ainda insistem (...). Essa foi a luta de todos os profetas com os judeus. Pois os profetas compreenderam perfeitamente o sentido da lei: nela se deveria reconhecer nossa natureza amaldiçoada e aprender a invocar Cristo (...).
Quando Maria diz: "a favor de sua descendência em eternidade" (Lucas 1:55), deve-se entender por "em eternidade" que esta graça durará toda a descendência de Abraão (os judeus), desde aquele tempo até o dia final (...). Essa promessa de Deus não mente: aquilo que foi prometido a Abraão não dura um ano, nem mil anos, mas séculos, ou seja, de uma geração a outra, sem cessar (...).
Com isso basta, por enquanto. Pedimos a Deus uma compreensão adequada deste Magnificat, para que ele não apenas brilhe e fale, mas esteja aceso e viva em corpo e alma". (Dr. Martinho Lutero). Os grifos são meus.
Vídeo extraído do Youtube.

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