domingo, 5 de abril de 2015

Quia fecit mihi magna qui potens est, et sactum nomen eius - Pois me fez grandes coisas aquele que é poderoso, e santo é seu nome


"Aqui Maria canta, de uma só vez, todas as obras que Deus fez nela. Ela observa uma sequência conveniente. No versículo anterior, ela cantou o fato de Deus a ter contemplado e a sua misericordiosa vontade para com ela. Aliás, isso é o mais importante e o principal em toda a graça. Maria fala de obras e dons (...). Seu contemplar misericordioso é a herança que dura para sempre (...). Nos bens, Deus dá o que lhe pertence, na contemplação misericordiosa, ele doa a si mesmo. Nos bens recebemos sua mão, na misericordiosa contemplação ganhamos seu coração, Espírito, sua mente e vontade. Por isso a bem-aventurada virgem atribui o mais importante e principal à contemplação (...). 
Maria também não cita bens específicos, mas restringe todos a uma expressão: "Ele me fez grandes coisas". Isso quer dizer que tudo o que Deus fez nela é grande. Assim nos ensina: quanto maior a devoção no espírito, menos palavras ela precisa para se expressar. Maria sente que não pode expressá-lo em palavras, por mais que tente e queira. Por isso essas poucas palavras do espírito sempre são tão grandes e profundas, que ninguém é capaz de entendê-las. Exceto aquele que tenha o mesmo espírito. Tais palavras parecem insignificantes, sem substância e sem sabor para aqueles que não têm esse espírito. Eles próprios promovem suas causas com grande fluência e alarde. Cristo ensina em Mateus 6:7: não devemos usar muitas palavras quando oramos. Isso é próprio dos descrentes, que acham que serão ouvidos por causa de suas muitas palavras (...).
Então nos comportamos como se Deus fosse surdo e de nada soubesse, como se o quiséssemos acordar e instruir. Esse falso conceito a respeito de Deus colabora mais para sua desonra do que para sua honra. A situação é bem diferente quando alguém medita, bem no fundo do coração, sobre seus feitos divinos e os observa com admiração e agradecimento. Esse cai no entusiasmo e geme mais do que fala. As palavras fluem por si mesmas, sem serem pensadas, nem elaboradas. O próprio espírito borbulha com elas. É como se as palavras tivessem vida, mãos e pés, sim, como se todo o corpo e toda a vida, juntamente com todos os membros, quisessem falar. A isso se chama de louvar Deus em espírito e verdade (...).
As "coisas grandes" nada são senão o fato de Maria ter chegado a ser mãe de Deus. Foram dadas a ela tantas e tão grandes obras, que ninguém as pode compreender. Nisso está toda a sua honra e bem-aventurança. Por essa razão ela é uma pessoa especial dentre todo o gênero humano. Ninguém se iguala a ela, porque ela tem um filho com o Pai celeste. E que filho! Ela própria é incapaz de descrever esse acontecimento por ser muito grande (...). Por isso, toda a honra de Maria foi resumida numa única palavra: Mãe de Deus. Ninguém pode dizer coisa mais nobre dela e para ela, mesmo que tivesse tantas línguas quanto existem folhas e ervas, estrelas no céu e areia no mar. Também é preciso meditar no coração sobre o que significa ser mãe de Deus. 
Maria também atribui isso totalmente à graça de Deus, não a seu méritoEmbora tivesse sido sem pecado, essa graça era tão superior a tudo que, de modo algum, era digna dela. Como poderia uma criatura ser digna de ser a mãe de Deus? Alguns escritores falam muito sobre sua dignidade para essa maternidade. Mas eu acredito mais nela própria do que neles. Ela diz que sua nulidade foi contemplada e que Deus não recompensou com isso seu mérito, mas: "Ele me fez grandes coisas". Ele o fez por iniciativa própria, sem mérito de minha parte (...).
O fato de se cantar no hino "Rainha do céu, alegra-te": "...ao qual mereceste carregar" e, em outra passagem: "ao qual foste digna de carregar, etc" nada prova. As mesmas palavras são cantadas a respeito da santa cruz, que era feita de madeira e nada podia merecer. Isso deve ser entendido assim: para ser mãe de Deus, Maria tinha que ser mulher, uma virgem, da tribo de Judá e crer na mensagem do anjo, a fim de se prestar para tanto (...). A madeira não teve nenhum mérito ou dignidade, exceto o de servir para a cruz e de ter sido destinada para isso por Deus. Assim também Maria não teve outra dignidade para essa maternidade, exceto a de se prestar e ser destinada para isso, para que fosse somente graça e não se tornasse mérito e não fossem diminuídos a graça, o louvor e a honra de Deus, atribuindo demais a ela. É preferível anular os méritos de Maria a diminuir a graça de Deus. Na verdade, não se pode anular méritos em demasia, já que ela foi criada do nada, como todas as criaturas. Mas a graça de Deus é desmerecida com grande facilidade. Isso é perigoso e com isso não se prova amor a ela. De fato, é necessária moderação, para não exagerar com os nomes, chamando Maria de rainha do Céu. Isso está certo. Mas nem por isso ela é um ídolo que possa conceder algo ou ajudar alguém, como acreditam alguns que clamam mais a ela do que a Deus e nela buscam refúgio. Maria nada dá, mas somente Deus, como veremos logo em seguida.
"Aquele que é poderoso". Com isso Maria despe todas as criaturas de todo poder e força e os atribui somente a Deus. É muita coragem por parte de uma mocinha tão jovem e insignificante: com uma única palavra ela é capaz de tornar fracos todos os poderosos, impotentes todos os fortes, loucos todos os sábios e detestáveis todos os afamados (...). A expressão "aquele que é poderoso" significa que não há ninguém que faça algo, mas somente Deus realiza tudo em todas as coisas (...). As obras de todas as criaturas são obras de Deus (...).
Portanto, a santa mãe de Deus quer dizer o seguinte com essas palavras: nada de todas essas coisas e grandes bens é meu. Aquele que é o único que faz todas as coisas e cujo poder exclusivo atua em tudo, fez essas grandes coisas (...). Por isso eu disse que Maria não quer ser um ídolo. Ela nada faz. Deus é que faz todas as coisas. Devemos suplicar a ela para que, por amor a ela, Deus faça o que pedimos (...).
Por isso Maria acrescenta: "E santo é seu nome". Isso significa: assim como não me atribuo a obra, também não me imputo o nome e a honra (...). Não é justo que um faça a obra e outro leve a fama e receba a honra. Eu sou apenas a oficina na qual ele trabalha, mas nada contribuí para a obra. Por isso, ninguém me deve louvar, nem me dar a honra por me ter tornado a mãe de Deus. Mas se deve honrar e louvar Deus e sua obra em mim. Basta que as pessoas se alegrem comigo e me declarem bem-aventurada, porque Deus me usou para realizar em mim essas suas obras. Maria atribui todas as coisas inteiramente a Deus. Não reclama para si nenhuma obra, nenhuma honra, nenhuma glória (...).
Oh, que coração simples e puro! Que pessoa admirável! Coisas muito grandes escondem-se atrás de uma aparência tão humilde! Muitas pessoas entraram em contato com ela, conversaram, comeram e beberam com ela. Talvez a desprezaram e a julgaram uma pobre e simples cidadã comum e teriam se assustado se tivessem sabido essas coisas sobre Maria (...).
Portanto, é isso o que significa: "santo é o seu nome". "Santo" significa aquilo que foi separado, consagrado a Deus, o que não se deve tocar, nem manchar, mas honrar. "Nome" significa, por sua vez, boa reputação, fama, louvor e honra. Todos devem ficar longe do nome de Deus. Ninguém deve tocá-lo, nem apropriar-se dele (...). Pois ofendemos o nome de Deus quando nos vangloriamos e aceitamos honra ou quando nos agradamos conosco mesmos e nos vangloriamos de nossas obras ou bens, como faz o mundo, que blasfema e profana o nome de Deus sem parar. Ao contrário, como as obras são exclusivas de Deus, também o nome cabe exclusivamente a ele. Todos os que santificam seu nome dessa forma e renunciam à honra e à glória honram Deus de verdade (...).
Quando alguém nos elogia e nos conquista boa reputação, devemos tomar por exemplo a mãe de Deus e estar preparados para responder sempre com este versículo (...). (Dr. Martinho Lutero). Os grifos são meus.
Vídeo retirado da internet.

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