quinta-feira, 2 de abril de 2015

Magnificat anima mea Dominum - Minha alma enaltece a Deus, o Senhor


"Esta palavra nasce de um amor intenso e de uma alegria excessiva, nos quais alma e vida erguem-se inteiramente de dentro do espírito. Por isso, Maria não diz: "Eu enalteço a Deus", mas "minha alma", como se quisesse dizer: Minha vida, com todos os meus dons, se movimenta no amor de Deus, em louvor e grande alegria. Deixo de ser dona de mim mesma. Antes sou engrandecida do que exalto a mim mesma para o louvor de Deus. Isso acontece a todos os que são invadidos pela doçura de Deus e por seu Espírito, assim que sentem mais do que conseguem expressar. Pois louvar a Deus não é obra humana. Antes é um sofrer alegre a obra exclusiva de Deus, que não se pode ensinar com palavras, mas somente através de experiência própria (...).
Vamos analisar palavra após palavra. A primeira é: "minha alma". A Escritura divide o ser humano em três partes. São Paulo diz no último capítulo de Tessalonicenses: "Deus, que é Deus de paz, vos santifique inteiramente, para que todo o vosso espírito, juntamente com corpo e alma, seja preservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo"(1 Tessalonicenses 5:23). Além disso, cada uma dessas três partes, assim como também o ser humano todo, divide-se ainda de outra forma em duas partes: espírito e carne (...). Elas podem ser todas boas ou más, o que significa ser "espírito" ou "carne".
A primeira parte, o espírito, é a mais elevada, mais profunda e mais nobre do ser humano. O espírito capacita o ser humano para entender coisas incompreensíveis, eternas. Em resumo, ele é a casa onde moram a fé e a Palavra de Deus (...).
A alma é, segundo sua natureza, o mesmo espírito. Mas em outra função, ou seja, na função de dar vida ao corpo e atuar por meio dele (...). A razão é a luz nessa casa. Onde essa luz da razão não for governada pelo espírito iluminado pela fé, como por uma luz superior, ela nunca pode estar livre de erro. É medíocre demais para tratar de assuntos divinos (...).
A terceira parte é o corpo com seus membros. Suas obras restringem-se à execução e aplicação daquilo que a alma reconhece e o espírito crê (...).
Agora Paulo pede que Deus, que é Deus da paz, nos santifique não apenas em uma dessas partes, mas totalmente, de forma que o espírito, a alma e o corpo sejam santos. Muito poderia ser dito sobre o motivo dessa súplica. Em resumo: se o espírito deixa de ser santo, nada mais é santo. Agora, a santidade do espírito é aquela que está mais exposta e corre maior perigo. Ela consiste exclusivamente na simples e pura fé, visto que a fé não lida com coisas que  podem ser vistas. Aparecem então falsos mestres e enganam o espírito. Um sugere as obras; outro, métodos de como tornar-se justo (...).
Apenas a fé nos torna justos, unidos e pacíficos (...).
A paz tem somente uma origem: quando se ensina que nenhum obra, nenhuma prática externa nos torna retos, justos e bem-aventurados, mas somente a fé, isto é, a boa confiança na graça invisível de Deus, que nos é prometida (...). Onde não existe esta fé, tem que haver muitas obras. Estas têm por consequência a discórdia e a desunião, de modo que ali não há mais lugar para Deus (...). Por isso São Paulo não se satisfaz em dizer: "para que vosso espírito, vossa alma, etc", mas diz: "todo o vosso espírito". Tudo depende inteiramente dele (...). Somente o cristão tem o espírito por inteiro. Tudo depende da fé do espírito. A esse espírito que possui toda a herança peço que Deus nos livre das falsas doutrinas, que querem provocar confiança em Deus por meio de obras (...).
Quando esse espírito, possuidor de toda a herança, é preservado, então também corpo e alma podem ficar livres de engano e obras más. Do contrário, se o espírito não tem fé, é impossível que a alma e toda a vida não se desencaminhem e se percam(...).
Em seguida vem a palavra magnificat, que significa "engrandecer", "enaltecer" e "ter em alta estima". Essa expressão é usada para aquela pessoa que pode, sabe e quer fazer muitas coisas grandes e boas, como segue nesse cântico de louvor. Assim como a palavra magnificat pode lembrar o título de um livro que trata desse assunto, também Maria revela nessa palavra o assunto do qual falará em seu cântico de louvor: dos grandes feitos e das obras de Deus para fortalecer nossa fé, consolar todos os humildes e incutir medo em todos os maiorais da terra (...). Mas não é possível alguém assustar-se ou consolar-se por causa dessas grandes obras de Deus quando não crê que Deus é capaz de fazer grandes obras. Porém não somente isso. Também tem que crer que Deus quer fazê-las e que lhe agrada muito fazê-las. Também não basta que você creia que Deus as quer fazer em outros, mas não em você, excluindo-o dessa obra divina (...). Você deve colocar diante de seus olhos, sem vacilar, a vontade de Deus para com você, para que creia firmemente que ele fará e quer fazer grandes coisas também em você. Essa fé é viva e ativa, penetra e transforma toda a pessoa. Ela obriga você a temer quando está por cima e a sentir consolo quando está por baixo. Quanto mais alto você está, tanto mais deve temer. Quanto mais oprimido está, tanto mais pode consolar-se (...).
Nós não enaltecemos Deus por causa de sua natureza, pois ele não muda. Mas ele cresce em nosso reconhecimento e percepção, isto é, quando o estimamos muito e pensamos grande a seu respeito, em relação à sua bondade e graça. Por isso, a santa mãe não diz: "minha voz" ou "minha boca", também não: "minha razão" ou "minha vontade" engrandece o Senhor. Existem muitos que louvam a Deus em voz alta, pregam-no com palavras preciosas, falam, discutem, escrevem, pintam muito sobre ele. Existem muitos que pensam sobre ele e que o buscam por meio da razão e das especulações. Além disso, são numerosos os que o engrandecem com falsa devoção e vontade. Muito antes, a santa mãe diz: "minha alma o engrandece". Isso quer dizer, toda a minha vida, todo o meu ser, meus sentidos e minhas forças atribuem grandes coisas ao Senhor (...). Algo semelhante acontece conosco, quando alguém nos faz algo especialmente bom, toda a nossa natureza parece voltar-se para essa pessoa e dizemos: "Oh, eu o aprecio muito". Isso, na verdade, significa: "Minha alma o enaltece". Esse sentimento ficará mais forte quando notamos a bondade de Deus, que é imensamente grande em suas obras. Todas as palavras e pensamentos vão parecer insuficientes para nós. E toda a vida e a alma devem emocionar-se, como se tudo quisesse cantar com alegria e dizer o que vive em nós (...).
Os benefícios de Deus revelam a natureza dos corações orgulhosos e complacentes consigo próprios. Por isso é necessário observar a última palavrinha: "Deus". Maria não diz: "Minha alma engrandece - a si mesma" ou "me tem alto apreço". Ela também não queria que se fizesse muito caso dela. Muito antes, ela engrandece exclusivamente a Deus, atribui tudo somente a ele. Ela se desfaz de tudo e devolve tudo a Deus, do qual o havia recebido. Maria notou a grande obra de Deus nela, mas ela não se considerou maior do que a pessoa mais humilde da terra. Se o tivesse feito, teria caído no inferno com Lúcifer. 
Maria teve apenas este pensamento: se outra jovem tivesse sido beneficiada por Deus, ela também desejaria alegrar-se e querer tudo de bom para essa jovem (...). Maria também teria se conformado se Deus lhe tivesse tirado esses benefícios e dado a uma outra jovem (...). Ela não se atribui nada de tudo isso. Não foi mais do que um alegre albergue e uma serviçal anfitriã desse hóspede. Por isso ficou com tudo para sempre.
Engrandecer Deus significa: pensar grande somente dele e não pedir nada para nós mesmos. Disso se pode concluir que Maria teve muitos motivos para cair e pecar (...). Você não percebe o quanto é maravilhoso esse coração? Como mãe de Deus, Maria se vê elevada acima de todas as pessoas. Mesmo assim, ela continua tão simples e serena, que não teria considerado nenhuma empregada inferior a si". (Dr. Martinho Lutero). Os grifos são meus.
Vídeo extraído do Youtube.

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