quinta-feira, 9 de junho de 2016

QUEM É SUA MÃE...



Pedro, há tanta coisa que preciso lhe dizer, que nem sei por onde começar. Então vou começar pelo começo: você tem um pai e uma mãe. É importante que você guarde isso. Infelizmente, nem toda criança tem pai e mãe. O mundo está cada vez mais confuso.
Não só você tem pai e mãe, como também tem um lar. Antes mesmo de sua chegada, eu e mamãe já éramos uma família. Portanto, você irá nascer no seio de uma família. Você não é uma produção independente.
Outra coisa, Pedro: você é fruto de muito amor entre um homem e uma mulher. Papai e mamãe se amam, dividem tudo: dores e alegrias, conquistas e fracassos, riquezas e pobrezas, sabores e dissabores; amparam-se um no outro, participam das lutas um do outro, constroem juntos e permanecem juntos. Papai e mamãe são fecundos porque se amam. Desse amor resulta vida. Desse amor resultou a sua vida. 
Não se esqueça nunca, nunca que você é fruto do amor. O amor o concebeu antes de sua concepção, porque você já existia no coração de Deus e em nosso coração.
Papai e mamãe nunca gritaram um com o outro. Nunca nos ofendemos com palavrões. Nós nunca levantamos o braço um contra o outro. Nós nos respeitamos. E com o mesmo respeito mútuo que com zelo cultivamos, iremos respeitá-lo também. Isso é outra coisa muito importante, que eu faço questão de lhe contar.
Hoje vou falar um pouco da mamãe, de nosso namoro, noivado e casamento. Há coisas que você precisa saber. 
Filhinho, haverá sempre uma primeira vez e uma última para tudo na vida. Por isso é necessário viver com intensidade cada momento. Pode não ser a primeira vez, mas sempre existirá a possibilidade de ser a última.
O meu namoro com sua mãe começou numa noite de sábado, dia 22 de setembro de 2007. Como foi nosso primeiro encontro? Um diálogo pela internet. Pela primeira vez conheci a inteligência de sua mãe, clareza de expressão e sinceridade. Você tem uma mãe muito inteligente, culta, observadora, perspicaz e sincera.
Na semana seguinte, numa quarta-feira, conheci a voz dela. Sim, nós nos falamos por telefone pela primeira vez. Que voz doce! Dulcíssima! Era impossível não me apaixonar por essa voz! Um dia você conhecerá essa voz e então irá se sentir muito acolhido, querido e seguro, como me senti naquele dia. Até mais, porque você é uma criança e filho. Eu, que já tinha meus 27 anos, senti-me assim. Imagine você! Uma mãe terna. Que privilégio hein, Pedro? 
As coisas tiveram prosseguimento, porque sua mãe é corajosa. Somente uma mulher corajosa escreveria isto: "Não sei o que acontecerá daqui em diante, mas tudo isso que tem acontecido em minha vida já tem valido a pena (...). Confesso que não quero que isso acabe. Confesso que quero mais". Você terá uma mãe corajosa, que não desiste do que vale a pena, que avança, que insiste, mas que também tem a coragem de dizer: não consigo, isso não é para mim, estou cansada. Essa mãe irá defendê-lo e lutar por você até quando você tiver condições de lutar sem ela.
Dia 12 de outubro daquele ano, sexta-feira, vim a São Paulo para conhecê-la e oficializar nossa situação. Nós nos encontramos na estação de metrô da Vila Madalena através de um abraço demorado e silencioso. Depois saímos de mãos dadas em direção ao táxi, como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Sua mãe fala pouco com a boca, mas é eloquente no olhar. Você terá que treinar sua sensibilidade para apreender os sentimentos e pensamentos dela, que ela só deixa transparecer pelo olhar. Acredito que pessoas muito complexas são assim. Nem tudo pode ser expresso por palavras, sobretudo os sentimentos complexos. Daí o recurso do olhar. Falar com os olhos também é o recurso dos sinceros, porque os olhos nunca mentem. Nunca, meu filho! O olhar não pode ser premeditado. 
O local que escolhemos para nosso primeiro encontro foi o Shopping Villa Lobos. Conversamos demoradamente. Sua mãe fala pouco, mas é excelente ouvinte. Ela é capaz de ouvir por longo tempo. Isso é bom, meu filho! É tão bom ter uma mãe que sabe ouvir. Você terá alguém para ouvir suas queixas, desabafos, histórias e estórias. Outra coisa: sua mãe é tão boa ouvinte, que ela é capaz de ouvir até o silêncio e respeitá-lo. Ela sabe o que quero dizer com o meu silêncio e o interessante é que ela não o quebra. Ela dialoga com o meu silêncio através de seu silêncio. A única coisa que quebra esse diálogo de silêncios é a lágrima.
Por falar em lágrima, sua mãe chora, viu?! Não frequentemente. Por isso, nunca suas lágrimas deverão ser banalizadas. Se um dia a vir chorando, não despreze essas lágrimas, porque elas são raras e necessárias. Ouso dizer que sua mãe sangra pelos olhos. Por isso, filho, aprenda desde cedo a valorizar as lágrimas de sua mãe. 
Sua mãe é compreensiva e empática. Ela está sempre disposta a entender e a sentir junto.
De onde vem a força dos empáticos, filho? Do amor. Só o amor nos torna empáticos. Portanto, sua mãe ama. Sua grande distinção é a capacidade de amar verdadeiramente. 
Filho, sempre alguém lhe dirá que o ama. As pessoas declaram isso umas às outras o tempo todo, mas aprenda que o amor está na compreensão e na empatia. Você pode não concordar com o outro, mas quando há amor verdadeiro, é certo que irá compreendê-lo e sentir-se no seu lugar. Isso sua mãe vivencia muito bem. 
Ao longo de todos estes anos de namoro, noivado e casamento, aprendi que sua mãe é superficialmente uma pessoa forte e dura. Intimamente, porém, é frágil e medrosa. Veja que é possível ser frágil e medroso, mas ao mesmo tempo corajoso. Coragem e destemor não podem ser a mesma coisa, porque é plenamente possível sentir medo e ser corajoso. Creio até que o mais corajoso é aquele que admite seu medo e enfrenta-o, decidindo o que é necessário decidir e fazendo o que é preciso fazer.  Com medo e muita coragem ela decidiu noivar-se e casar-se comigo com apenas 6 meses de namoro. Com medo e muita coragem foi viver com papai em Uberaba. Com medo e muita coragem decidiu vir comigo para São Paulo. Com medo e muita coragem disse sim à sua vinda. Com medo e muita coragem está enfrentando esta gravidez.
Filhinho, que mãe é essa que Deus lhe deu? Um grande amigo meu, ao conhecê-la, sintetizou-a da seguinte maneira: ela é simples e sofisticada ao mesmo tempo. Sinceramente falando, nunca consegui uma síntese melhor de sua mãe.
Mas há o mais importante: ela é cristã. É uma mulher extremamente honesta, virtuosa e cheia de fé. Sua mãe não nasceu assim. Ela se tornou assim devido a uma interação entre fé e mundo. Ela é uma interpretação de si mesma e do entorno pelos olhos da fé, assim como todos os cristãos autênticos. A fé de sua mãe a construiu. Ela não foi construída pelo mundo, mas por uma feliz interação entre fé e mundo. Daí os valores de sua mãe, que lhes são essenciais. A fé tornou a ética e moral de sua mãe coisas essenciais, das quais ela não pode abrir mão. Não é ética e moral quando quer, mas essencialmente. É assim que ela ajuda seu pai a viver uma vida honrada e casta. 
Meu filho, aprenda com sua mãe a erguer o edifício de suas virtudes sobre uma rocha chamada Cristo. Não erga seu edifício de virtudes sobre a areia do mundo. Quem é feito virtude por Cristo suporta tudo. Quem só aprende a virtude não suporta os temporais da vida. A fé nós iremos lhe dar, porque com gosto nós o batizaremos. Depois caberá a você cultivar essa fé e deixar que ela o construa sobre Cristo, como sua mãe o fez e continua fazendo.
Filhinho, honre essa mãe assim como tenho procurado honrá-la. 

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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