segunda-feira, 8 de junho de 2015

TESTE SUA FÉ!





"Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (São Paulo).

Na postagem anterior, refleti sobre a necessidade de se ter a certeza da salvação, não com base em nós mesmos, mas na fidelidade de Deus, com quem nos relacionamos somente através da fé. A fé agarra-se ao que Deus promete como sendo a única verdade. Essa fé é comunicada e mantida por sinais exteriores: linguagem escrita ou falada, pão, vinho e água, porque assim Deus quis.
Quando vamos à igreja, nada mais devemos querer senão alimentar nossa fé com a verdade de Deus, que chega aos nossos sentidos e, deles, ao nosso espírito, através da linguagem e dos sacramentos. Damos à nossa fé a Promessa que a sustenta.
Quem é cristão sabe, porém, que a certeza da salvação não é tão simples assim, na prática. Se minha certeza de salvação se ancora nas promessas imutáveis de Deus, através da fé, é necessário que eu sinta a minha fé para que haja em mim tal convicção, que, como afirmei, não é só salutar, mas fundamental à vida cristã.
Daí o crente entra em crise muitas vezes. É que não temos consciência de nossa fé. Ela não é atividade intelectual e consciente, mas espiritual e inconsciente. Ela certamente frutifica em boas obras, mas a presença do pecado em nós dificulta o reconhecimento desses bons frutos. Como saber se de fato creio, para que possa descansar em minha fé e ter certeza da salvação? Novamente, não é sensato que me volte para as minhas obras, sempre muito imperfeitas.
Dr. Martinho Lutero afirmou que as verdadeiras obras, como fruto da fé que são, justificam-nos diante dos outros. Concordo plenamente com ele. No entanto, quem conhece os "bastidores" dessas obras não se sente tranquilo.
Quando leio S. Paulo afirmando que é o "principal dos pecadores", eu questiono: e quanto a mim? Estou perdido. Mas S. Paulo não fala de sua perdição. Muito pelo contrário, ele está tratando de salvação. Ele parte da consciência de seu pecado para a certeza de que Jesus veio salvar os pecadores. Se Jesus veio salvar pecadores, ele certamente está no rol daqueles a quem Jesus veio salvar, pois ele tem consciência plena de seu pecado. Em momento algum duvida dele. Inclusive se sente o pior pecador do mundo.
Eu não tenho consciência de minha fé. Por outro lado, tenho plena consciência de meu pecado. Ele está patente diante de meus olhos. Dorme e acorda comigo; vê, come, ouve, cheira e toca comigo. Está mais presente à minha consciência que minha própria pele.
No entanto, essa vívida percepção do pecado, que poderia muito bem me levar ao desespero e ao ódio de Deus, tem efeito paradoxal, porque me faz voltar para Deus todos os dias, como o filho pródigo (Lucas 15:11-32).
De onde é que me vem essa coragem de diariamente voltar-me para Deus com os meus pecados, quase sempre os mesmos, não temendo sua rejeição, mas sempre esperando o perdão?
De onde é que me vem a coragem de todos os dias pedir a Deus que me perdoe os pecados, mesmo sabendo que não tenho conseguido perdoar meu próximo como me é ordenado?
É aí que está a fé. Ela se revela muito mais no pecado que nas boas obras, a meu ver. Veja que S. Paulo tem sua fé exercitada não na contemplação de suas obras, que aliás são muitas! mas na contemplação de seu pecado, que o impele a Deus todos os dias.
Por isso, deixei de procurar minha fé nas obras. Se insistir nisso, é bem provável que serei confundido pela imperfeição delas. Tenho procurado a minha fé na contradição do pecado.
Quem diariamente não se sente um filho pródigo, não deve ter fé. Afirmo isso com muita honestidade. Por isso, peço a Deus que sempre me sinta um filho pródigo, para que não me falte a convicção de que tenho fé e, a partir dela, a salvação eterna.
Se alguém está padecendo a busca de sua fé, pare e questione quantas vezes lamentou seus pecados ao longo da semana, quantas vezes pediu a Deus perdão por eles com sincero pesar. Somente a fé pode se voltar para Deus diante do dilema do pecado. 
Este é o teste que aplico em minha vida toda vez que me sinto sem fé: continuo me sentido um filho pródigo? Se a resposta for afirmativa, e sempre é, graças a Deus! então sim, eu possuo fé ainda. Se creio, já estou salvo, independentemente de minhas obras.
Concluindo a reflexão de hoje, fé não deve ser certificada por evidências, como muitos incautos têm feito, mas pelas sombras, contradições e avessos.

"Esse ponto (creio em uma santa Igreja Cristã) é um artigo da fé como os outros. Por isso, intelecto nenhum pode reconhecê-lo, ainda que bote um monte de óculos, pois o diabo pode muito bem encobrir a Igreja com escândalos e divisões, de modo que só podes mesmo ficar indignado com ela (...). Da mesma forma, também o cristão está oculto diante de si mesmo, de modo que não enxerga sua santidade e virtude, mas somente percebe desvirtude e falta de santidade em si mesmo" (Dr. Martinho Lutero).



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

Um comentário:

  1. Maravilhoso, Carlinhos! Vou levar esse textos para os alunos da EBD.

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