"Fiel é esta palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (São Paulo).
Na postagem anterior, refleti sobre a necessidade de se ter a certeza da salvação, não com base em nós mesmos, mas na fidelidade de Deus, com quem nos relacionamos somente através da fé. A fé agarra-se ao que Deus promete como sendo a única verdade. Essa fé é comunicada e mantida por sinais exteriores: linguagem escrita ou falada, pão, vinho e água, porque assim Deus quis.
Quando vamos à igreja, nada mais devemos querer senão alimentar nossa fé com a verdade de Deus, que chega aos nossos sentidos e, deles, ao nosso espírito, através da linguagem e dos sacramentos. Damos à nossa fé a Promessa que a sustenta.
Quem é cristão sabe, porém, que a certeza da salvação não é tão simples assim, na prática. Se minha certeza de salvação se ancora nas promessas imutáveis de Deus, através da fé, é necessário que eu sinta a minha fé para que haja em mim tal convicção, que, como afirmei, não é só salutar, mas fundamental à vida cristã.
Daí o crente entra em crise muitas vezes. É que não temos consciência de nossa fé. Ela não é atividade intelectual e consciente, mas espiritual e inconsciente. Ela certamente frutifica em boas obras, mas a presença do pecado em nós dificulta o reconhecimento desses bons frutos. Como saber se de fato creio, para que possa descansar em minha fé e ter certeza da salvação? Novamente, não é sensato que me volte para as minhas obras, sempre muito imperfeitas.
Dr. Martinho Lutero afirmou que as verdadeiras obras, como fruto da fé que são, justificam-nos diante dos outros. Concordo plenamente com ele. No entanto, quem conhece os "bastidores" dessas obras não se sente tranquilo.
Dr. Martinho Lutero afirmou que as verdadeiras obras, como fruto da fé que são, justificam-nos diante dos outros. Concordo plenamente com ele. No entanto, quem conhece os "bastidores" dessas obras não se sente tranquilo.
Quando leio S. Paulo afirmando que é o "principal dos pecadores", eu questiono: e quanto a mim? Estou perdido. Mas S. Paulo não fala de sua perdição. Muito pelo contrário, ele está tratando de salvação. Ele parte da consciência de seu pecado para a certeza de que Jesus veio salvar os pecadores. Se Jesus veio salvar pecadores, ele certamente está no rol daqueles a quem Jesus veio salvar, pois ele tem consciência plena de seu pecado. Em momento algum duvida dele. Inclusive se sente o pior pecador do mundo.
Eu não tenho consciência de minha fé. Por outro lado, tenho plena consciência de meu pecado. Ele está patente diante de meus olhos. Dorme e acorda comigo; vê, come, ouve, cheira e toca comigo. Está mais presente à minha consciência que minha própria pele.
No entanto, essa vívida percepção do pecado, que poderia muito bem me levar ao desespero e ao ódio de Deus, tem efeito paradoxal, porque me faz voltar para Deus todos os dias, como o filho pródigo (Lucas 15:11-32).
De onde é que me vem essa coragem de diariamente voltar-me para Deus com os meus pecados, quase sempre os mesmos, não temendo sua rejeição, mas sempre esperando o perdão?
De onde é que me vem a coragem de todos os dias pedir a Deus que me perdoe os pecados, mesmo sabendo que não tenho conseguido perdoar meu próximo como me é ordenado?
É aí que está a fé. Ela se revela muito mais no pecado que nas boas obras, a meu ver. Veja que S. Paulo tem sua fé exercitada não na contemplação de suas obras, que aliás são muitas! mas na contemplação de seu pecado, que o impele a Deus todos os dias.
Por isso, deixei de procurar minha fé nas obras. Se insistir nisso, é bem provável que serei confundido pela imperfeição delas. Tenho procurado a minha fé na contradição do pecado.
Quem diariamente não se sente um filho pródigo, não deve ter fé. Afirmo isso com muita honestidade. Por isso, peço a Deus que sempre me sinta um filho pródigo, para que não me falte a convicção de que tenho fé e, a partir dela, a salvação eterna.
Se alguém está padecendo a busca de sua fé, pare e questione quantas vezes lamentou seus pecados ao longo da semana, quantas vezes pediu a Deus perdão por eles com sincero pesar. Somente a fé pode se voltar para Deus diante do dilema do pecado.
Este é o teste que aplico em minha vida toda vez que me sinto sem fé: continuo me sentido um filho pródigo? Se a resposta for afirmativa, e sempre é, graças a Deus! então sim, eu possuo fé ainda. Se creio, já estou salvo, independentemente de minhas obras.
Concluindo a reflexão de hoje, fé não deve ser certificada por evidências, como muitos incautos têm feito, mas pelas sombras, contradições e avessos.
"Esse ponto (creio em uma santa Igreja Cristã) é um artigo da fé como os outros. Por isso, intelecto nenhum pode reconhecê-lo, ainda que bote um monte de óculos, pois o diabo pode muito bem encobrir a Igreja com escândalos e divisões, de modo que só podes mesmo ficar indignado com ela (...). Da mesma forma, também o cristão está oculto diante de si mesmo, de modo que não enxerga sua santidade e virtude, mas somente percebe desvirtude e falta de santidade em si mesmo" (Dr. Martinho Lutero).
"Esse ponto (creio em uma santa Igreja Cristã) é um artigo da fé como os outros. Por isso, intelecto nenhum pode reconhecê-lo, ainda que bote um monte de óculos, pois o diabo pode muito bem encobrir a Igreja com escândalos e divisões, de modo que só podes mesmo ficar indignado com ela (...). Da mesma forma, também o cristão está oculto diante de si mesmo, de modo que não enxerga sua santidade e virtude, mas somente percebe desvirtude e falta de santidade em si mesmo" (Dr. Martinho Lutero).
Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.
Maravilhoso, Carlinhos! Vou levar esse textos para os alunos da EBD.
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