sábado, 13 de junho de 2015

FÉ: O VERDADEIRO CULTO





A conversa de Jesus com a samaritana é um exemplo de como Deus atua na salvação humana. O relato dessa conversa está no Evangelho segundo S. João, capítulo 4.
Jesus dirigiu-se a uma mulher samaritana e lhe pediu água (versículo 7). Ela estranhou que um homem judeu lhe pedisse algo, porque judeus e samaritanos eram inimigos (versículo 9).
Assim Deus age na humanidade. Ele não faz acepção de pessoas e deseja que todos sejam salvos. Deus não é inimigo de ninguém, nem se distanciou de ninguém. Nós é que, por natureza, somos seus inimigos e nos distanciamos dele.
Deus quer também nos mostrar que é necessário que procuremos nossos inimigos para reconciliação. Não devemos esperar que nossos inimigos venham até nós, para que possamos perdoá-los. Deus é exemplo de perdão porque vai humildemente atrás de seus inimigos para lhes propor reconciliação.
Jesus disse àquela mulher o seguinte: "Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva" (versículo 10).
Aqui Jesus revela que a fé salvífica é dom de Deus e que ele a quer dar. É muito errado afirmar que Deus pretende dar a fé somente a alguns. Não concordo - embora em outros tempos tenha concordado - com a predestinação individual. Deus quer a salvação de todos. O único meio estabelecido por Deus para salvar é a fé, que ele dá, somente ele dá e ele deseja muito dar. "Se conheceras o dom de Deus", com isso ele fala acerca da fé. Ao dizer: "e quem é o que te pede", ele quer mostrar a natureza amorosa e reconciliadora de Deus. Com as palavras: "e ele te daria", quer mostrar a sinceridade de seu chamado, sua disposição em salvar a todos, indistintamente.
A razão humana, depravada pelo pecado, não aceita essa oferta de Deus. De maneira muito arrogante, a razão deseja ser nossa redentora. Como não produz fé, mas somente sabedoria carnal e obras, ela não admite que a salvação seja exclusivamente pela fé e esteja fora de seu alcance. A mulher samaritana imediatamente rebateu a oferta de Jesus: "Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado?"
Ela interpretou de maneira carnal o que Jesus disse e recorreu à autoridade de Jacó. Nós também fazemos o mesmo quando Deus nos chega com o dom da salvação. Nós relutamos, recorremos à sabedoria humana, interpretamos o que ele nos diz de maneira viciosa, querendo adequar suas palavras às nossas expectativas. 
Mesmo Jesus explicando com maior detalhamento a sua oferta de amor (versículos 13-14), a samaritana ainda insistia em sua interpretação carnal. No entanto, ela pediu algo que todos os incrédulos deveriam pedir: "Senhor, dá-me dessa água" (versículo 15).
Jesus respondeu: "Vai, chama teu marido e vem cá". Ele conhecia a sua história. Ela não tinha marido. Então Jesus deu seu último golpe: "Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade".
Deus quer nos mostrar o pecado que há em nós, cuja amplitude e gravidade nós recusamos aceitar, para que possa agir misericordiosamente conosco. É impossível ser misericordioso com alguém que não carece de misericórdia. 
Quando Deus nos mostra quem somos, é certo que uma crise muito grave se instala em nós. Assim como Adão e Eva, ao perceberem que haviam pecado, procuraram se esconder de Deus, nós fazemos a mesma coisa, quando descobrimos o nosso pecado e nossa miséria. A primeira reação humana é a fuga. No entanto, é impossível fugir de Deus. É então que o homem assassina Deus em seu coração, esconde-se em sua religião, em preceitos humanos, ou torna-se declarado inimigo de Deus.
A reação da samaritana foi se esconder na religião, em coisas exteriores (versículo 20). A mesma coisa muitos de nós fazemos, procurando preceitos religiosos como meio de apaziguar a vergonha que sentimos de nós mesmos.
Então Jesus disse a ela: "Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade" (versículos 22-23).
Deus quer que, diante do dilema do pecado, corramos até ele, para que seja nosso Deus. A única maneira de tocar Deus é através da fé. Somente a fé nos permite tocar a pele de Deus, abraçá-lo, sentir seu cheiro, ouvir sua voz e descansar em seu regaço. Somente a fé nos traz segurança e paz. Somente a fé adora a Deus "em espírito e em verdade". Nossa fé fabrica nosso Deus. Por isso, devemos pedir a Deus: "Dá-me dessa água". Porque sem fé, inevitavelmente iremos fabricar ídolos.
Como sempre, Lutero: "Ora, toda a Escritura diz que Deus é maravilhoso em todas as suas obras e o chama de fazedor de maravilhas. O mundo, no entanto, não o acredita, até que o experimenta. Cada qual inventa em seu coração um Deus conforme seu parecer: que Deus deverá agir desta ou daquela forma, prescrevem-lhe todas as palavras e obras às quais deverá se ater; (...). Eles não desistem de suas ideias e lavram e talham um Deus a seu gosto. Um monge fabrica para si um Deus que está sentado lá no alto e pensa: Quem observar a regra de São Francisco a esse darei a bem-aventurança. A freira o talha do seguinte modo: Se sou virgem, Deus é meu noivo. E o sacerdote: Quem oferece o sacrifício da missa e lê as horas, a este Deus quer dar o céu. Ninguém se lembra de que Deus escolheu somente a pedra angular rejeitada e que condena todos os seus compartimentos e construções".



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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