sábado, 27 de dezembro de 2014

SEREIS DEUSES








Em certa fase da caminhada, todo cristão, em sua busca pela santidade, depara-se com a força das letras: "Não cobiçarás".
A experiência de S. Paulo com essas letras está relatada na carta aos Romanos: "Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência".
Cobiça é o desejo por aquilo que não é nosso. Podemos desejar algo de nosso próximo. Isso se chama inveja. Mas podemos desejar algo muito maior, que pertence somente a Deus.
Cobiçamos o que pertence a Deus quando nos envaidecemos através de nossas obras. Recebemos alegres os elogios, que deveríamos render a quem agiu em nós.
Cobiçamos o que pertence a Deus quando julgamos nosso próximo. Nesse caso, nós pretendemos ser a verdade, sendo que somos mentira.
Cobiçamos o que pertence a Deus quando tentamos agradá-lo com boas obras. Destarte, queremos ser o mediador de nós mesmos perante ele. 
Cobiçamos o que é de Deus quando, muito ocultamente, amamos mais a nós do que ao próximo, em nossas obras de misericórdia.

Cobiçamos o que é de Deus quando enxergamos somente nós mesmos no outro. É o egoísmo. É dele que vêm a luxúria, a ganância e a lassidão.
Portanto, a usurpação do amor que pertence a Deus é cobiça, que nos leva à idolatria de nós mesmos.
"Sereis deuses". Com essa proposta, o diabo seduziu nossos pais, Adão e Eva. 
Ah se pudéssemos ouvir essa tentação e resisti-la, como nossos pais tiveram a oportunidade de fazer!
Infelizmente, esse desejo de ser deus, que é a cobiça, hoje faz parte de nossa natureza. 
De maneira muito sutil, ele aparece em nossos pensamentos e ações. Quantas vezes intencionamos o bem e o praticamos, mas depois percebemos que havia um sentimento ou intenção impura?

Vontade de aparecer, de ser elogiado ou de obter algo em troca podem facilmente se esconder por trás de boas ações.
É necessária muita honestidade para lidar com o dilema da cobiça. O pai de família pode ocultar sua avareza de si mesmo e dos outros, alegando que trabalho é virtude e que deseja dar aos filhos o que não teve. Quantas pessoas ajudam ao próximo não porque o amam, mas para alívio de consciência ou por publicidade. Muitas pessoas vão com regularidade à igreja, mas para cumprir um papel social.
Já percebeu o quanto somos resistentes e hostis às críticas? Por outro lado, amamos os elogios e tendemos a ser mais amigos de quem aprecia talentos que possuímos.
A cobiça é também o pecado oculto citado por Davi, no salmo 19:"Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas". É que, por mais honestos que sejamos conosco mesmos, nem sempre podemos detectar malícia ou falta de amor em nossas boas ações.
Portanto, cobiça é a pedra no calçado de quem deseja ser santo.
Sabemos que quem transgride um só mandamento é transgressor da Lei inteira e, portanto, réu perante Deus. Assim diz S. Tiago: "Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos".
Por isso, não devemos confiar em nossa obediência. Devemos confiar tão somente na misericórdia divina. Essa confiança se chama fé.
A Bíblia deixa claro que o homem não é tornado justo perante Deus através de sua obediência, mas através da fé.
"O homem é justificado pela fé, independentemente das obras" (Carta de S. Paulo aos romanos 3:28).
Fé é o descanso da alma em seu Deus misericordioso.
Se você está sentindo a força da Lei, não consegue ter paz, nem dormir, recorra à misericórdia de Deus.
Quem crê em Deus (e não em suas obras) não tem pecado, embora peque continuamente. É que Deus perdoa continuamente o pecado de quem crê.
"Quem vive unido com Cristo não continua pecando" (1 João 3:6).
Eu posso me esforçar por honrar pai e mãe. Posso aumentar minha vigilância para nunca usar em vão o nome de Deus. É possível que nunca mate alguém. Mas é impossível fugir da cobiça, porque ela está implantada em nossa natureza. Como disse, é próprio do ser humano caído querer ser como Deus. Isso é tão natural no homem quanto comer, beber ou dormir.
Portanto, desistamos de nós mesmos e aceitemos a justiça que Deus deseja nos dar.
Deus, através de Cristo, obedeceu à Lei por nós e levou sobre si a culpa de nosso pecado, para que pudéssemos obter dele o perdão.
Veja que troca maravilhosa! Deus levou consigo nossos trapos e deseja nos dar suas vestes de santidade.
Como se apropriar delas? Crendo!
Lembre-se que fé não é algo que brota de nossa natureza pecaminosa. Nós somos árvore ruim, que só produz cobiça e outros pecados. Árvore ruim não pode gerar um fruto tão bom, como a fé.
A fé é dom de Deus. Mas não é algo que Deus não gosta de dar. Ele deseja dá-la a todos!
Se você não crê, peça a Deus. Quem busca encontra. Vá em busca de uma cura ao seu coração. Mas procure essa cura em Deus. Livros de autoajuda, meditação e rigor ético somente servirão para fomentar seu desejo de ser Deus, fazendo com que se desvie cada vez mais dele.
Deixe de procurar vida onde só há morte.
Deixo aqui as palavras de Jesus para aqueles que já não suportam mais o peso dos pecados e desejam recomeçar: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei".


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.