Em certa fase da caminhada, todo cristão, em sua busca pela santidade,
depara-se com a força das letras: "Não cobiçarás".
A experiência de S.
Paulo com essas letras está relatada na carta aos Romanos: "Que diremos,
pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado,
senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não
dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento,
despertou em mim toda sorte de concupiscência".
Cobiça é o desejo por aquilo que não é nosso.
Podemos desejar algo de nosso próximo. Isso se chama inveja. Mas podemos
desejar algo muito maior, que pertence somente a Deus.
Cobiçamos o que pertence a Deus quando nos
envaidecemos através de nossas obras. Recebemos alegres os elogios, que
deveríamos render a quem agiu em nós.
Cobiçamos o que pertence a Deus quando julgamos nosso próximo. Nesse caso, nós
pretendemos ser a verdade, sendo que somos mentira.
Cobiçamos o que pertence a Deus quando tentamos agradá-lo com boas obras.
Destarte, queremos ser o mediador de nós mesmos perante ele.
Cobiçamos o que é de Deus quando, muito ocultamente, amamos mais a nós do que
ao próximo, em nossas obras de misericórdia.
Cobiçamos o que é de
Deus quando enxergamos somente nós mesmos no outro. É o egoísmo. É dele que vêm
a luxúria, a ganância e a lassidão.
Portanto, a usurpação
do amor que pertence a Deus é cobiça, que nos leva à idolatria de nós mesmos.
"Sereis deuses". Com essa proposta, o
diabo seduziu nossos pais, Adão e Eva.
Ah se pudéssemos ouvir essa tentação e resisti-la, como nossos pais tiveram a
oportunidade de fazer!
Infelizmente, esse desejo de ser deus, que é a cobiça, hoje faz parte de nossa
natureza.
De maneira muito sutil, ele aparece em nossos pensamentos e ações. Quantas
vezes intencionamos o bem e o praticamos, mas depois percebemos que havia um
sentimento ou intenção impura?
Vontade de aparecer,
de ser elogiado ou de obter algo em troca podem facilmente se esconder por trás
de boas ações.
É
necessária muita honestidade para lidar com o dilema da cobiça. O pai de
família pode ocultar sua avareza de si mesmo e dos outros, alegando que
trabalho é virtude e que deseja dar aos filhos o que não teve. Quantas pessoas
ajudam ao próximo não porque o amam, mas para alívio de consciência ou por
publicidade. Muitas pessoas vão com regularidade à igreja, mas para cumprir um
papel social.
Já
percebeu o quanto somos resistentes e hostis às críticas? Por outro lado,
amamos os elogios e tendemos a ser mais amigos de quem aprecia talentos que
possuímos.
A cobiça
é também o pecado oculto citado por Davi, no salmo 19:"Quem há que possa
discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas". É que,
por mais honestos que sejamos conosco mesmos, nem sempre podemos detectar
malícia ou falta de amor em nossas boas ações.
Portanto,
cobiça é a pedra no calçado de quem deseja ser santo.
Sabemos
que quem transgride um só mandamento é transgressor da Lei inteira e, portanto,
réu perante Deus. Assim diz S. Tiago: "Pois qualquer que guarda toda a
lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos".
Por isso,
não devemos confiar em nossa obediência. Devemos confiar tão somente na
misericórdia divina. Essa confiança se chama fé.
A Bíblia
deixa claro que o homem não é tornado justo perante Deus através de sua
obediência, mas através da fé.
"O
homem é justificado pela fé, independentemente das obras" (Carta de S.
Paulo aos romanos 3:28).
Fé é o
descanso da alma em seu Deus misericordioso.
Se você
está sentindo a força da Lei, não consegue ter paz, nem dormir, recorra à
misericórdia de Deus.
Quem crê
em Deus (e não em suas obras) não tem pecado, embora peque continuamente. É que
Deus perdoa continuamente o pecado de quem crê.
"Quem
vive unido com Cristo não continua pecando" (1 João 3:6).
Eu posso
me esforçar por honrar pai e mãe. Posso aumentar minha vigilância para nunca
usar em vão o nome de Deus. É possível que nunca mate alguém. Mas é impossível
fugir da cobiça, porque ela está implantada em nossa natureza. Como disse, é
próprio do ser humano caído querer ser como Deus. Isso é tão natural no homem
quanto comer, beber ou dormir.
Portanto,
desistamos de nós mesmos e aceitemos a justiça que Deus deseja nos dar.
Deus,
através de Cristo, obedeceu à Lei por nós e levou sobre si a culpa de nosso
pecado, para que pudéssemos obter dele o perdão.
Veja que
troca maravilhosa! Deus levou consigo nossos trapos e deseja nos dar suas
vestes de santidade.
Como se
apropriar delas? Crendo!
Lembre-se que
fé não é algo que brota de nossa natureza pecaminosa. Nós somos árvore ruim,
que só produz cobiça e outros pecados. Árvore ruim não pode gerar um fruto tão
bom, como a fé.
A fé é
dom de Deus. Mas não é algo que Deus não gosta de dar. Ele deseja dá-la a todos!
Se você
não crê, peça a Deus. Quem busca encontra. Vá em busca de uma cura ao seu
coração. Mas procure essa cura em Deus. Livros de autoajuda, meditação e rigor
ético somente servirão para fomentar seu desejo de ser Deus, fazendo com que se
desvie cada vez mais dele.
Deixe de
procurar vida onde só há morte.
Deixo
aqui as palavras de Jesus para aqueles que já não suportam mais o peso dos
pecados e desejam recomeçar: "Vinde a mim todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei".
Autoria:
Carlos Alberto Leão.
Imagem
extraída da internet.
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