sábado, 27 de dezembro de 2014

LIBERDADE DE SER - PARTE 2





"Para a liberdade foi que Cristo nos libertou" (S. Paulo).

Ser livre não é uma tarefa simples. Temos que cultivar dia após dia a liberdade de sermos quem nós somos.

Somos expostos todo dia a muitas críticas e elogios.

As críticas e elogios muitas vezes partem de visões superficiais e equivocadas de nós mesmos. As pessoas deliram em nós aquilo que esperam de nós ou de si mesmas. Jogam sobre nós o fardo da expectativa. Outros querem simplesmente exaltar em nós qualidades suas. 

Alguns criticam por não suportarem o que não são em nós. Outros criticam por verem em nós coisas que não aceitam em si mesmos.

A pior crítica, no entanto, costuma vir de nós mesmos, que, levados pelo perfeccionismo ou pelo temor da rejeição, não aceitamos o que somos e não respeitamos nossa história, nossas limitações, nosso processo de amadurecimento e o tempo que as transformações desejadas demandam. 

É claro que existem as boas críticas, sem as quais não crescemos. Geralmente elas vêm dos verdadeiros amigos. Lembrem-se que os verdadeiros amigos criticam! Mas o fazem por amor, com respeito e misericordiosamente. Nesse caso, não criticam e saem. Eles nos apontam o que em nós precisa ser melhorado, mas se dispõem a nos ajudar e estão muito próximos, quando as lágrimas vêm. Não é próprio do verdadeiro amigo nos atacar com suas carências afetivas. Por isso, a crítica de um amigo, verdadeiramente construtiva, é chamada de conselho. E nossa alma recebe o que o amigo tem a dizer não como crítica, mas como conselho.

Mas não sejamos românticos! É importante lembrar que a crítica irrefletida e sem misericórdia pode vir de quem amamos e de quem nos ama, visto que somos frágeis e carregamos expectativas, carências, traumas, etc. E quem está mais próximo de nós que o amigo? Quem está mais próximo de nós, que nós mesmos?
A crítica sem misericórdia pode ter inúmeras consequências. Mas acredito que a pior consequência é o rótulo. Interessante é que o rótulo não vem do outro. Somos nós que nos rotulamos, a partir de uma crítica desamorosa.
Pacientes meus, que sofrem de AIDS, muitas vezes confessam sentirem-se sujos. E de onde vem esse terrível rótulo de impureza? Deles mesmos, que não se aceitam como são.
Não podemos tomar por verdade opiniões superficiais a nosso respeito, não importa de quem tenham vindo. 
Todo dia é necessário que nos voltemos à nossa verdade interior, fruto do que vivemos, fruto de uma história que ainda não terminou. 
O tempo é como o vento, que passa, modifica o ambiente e se vai.
O resultado da passagem do tempo por nós é o que enxergamos no espelho e na alma, recôndito da memória.
Não somente as rugas. É importante lembrarmos que o tempo modifica nossa alma, de maneira mais intensa que o corpo.
O tempo vai marcando nossa alma com sabores e dissabores, alegrias e tristezas, esperanças e decepções. E a partir desse trabalho do tempo, vai aparecendo a verdade acerca de nós mesmos.
Não podemos nos deixar levar por análises superficiais, ainda que estas venham de nossa mente!
Não aceitemos rótulos! Somos muito complexos para sermos rotulados com uma palavra. Quem se define com mil palavras, está muito perdido com relação a si mesmo.
Em meio a tantas críticas e elogios, quem é você?
Somos o resultado do tempo em nós. Somos o resultado da mão de Deus através desta sua criatura, o tempo. E acredite: Envelhecer faz bem! Cada vez mais tenho gostado disso! Vendo o que os últimos dois anos fizeram em mim, olho com esperança para meus próximos dois.
Toda vez que se sentir cansado e abatido, reflita. Muito provavelmente você está pesado porque recebeu críticas, senão de si, de outros. Peça a Deus discernimento e reflita honestamente sobre a crítica. De onde ela veio? Para que ela veio? Mereço essa crítica? Estou sendo autocomplacente? Estou sendo rígido demais comigo mesmo?
O próximo passo é perdoar. Perdoar-se e perdoar ao outro.
O terceiro passo é ter paciência.Como é importante dar tempo ao tempo! Não tenho que ser perfeito, desde que eu esteja caminhando rumo à perfeição. O desejo da perfeição, que é legítimo, porque procedemos de Deus, que é perfeito, e para ele queremos retornar, deve contextualizar-se no perdão e na paciência. A perfeição é uma esperança. Por ser esperança, é necessário que esperemos.
Aprenda com o erro a acertar!
O quarto passo é não permitir que a crítica, construtiva ou não, nos rotule, fazendo com que um erro, real ou não, apegue-se a nós como vício ou defeito. Eu não sou mentiroso porque menti! Não sou irresponsável porque agi com irresponsabilidade! 
Quando se sentir demasiado feliz, devido a um elogio, também reflita! O elogio pode ser mais danoso que a crítica. Porque se nos revestimos da crítica, também podemos nos revestir de um elogio, que poderá cegar-nos com a soberba. Quantas vezes recebemos com alegria um elogio que não merecemos e acreditamos nele! É assim que muitas pessoas não percebem que estão sendo bajuladas. Elas acreditam cegamente ter a virtude e acomodam-se nessa impressão, agindo com bondade para quem lhes mantém essa cegueira.
Um elogio pode ser construtivo, quando nos motiva, mas pode ser um veneno, quando nos paralisa e nos torna satisfeitos. Também é um veneno quando me torno dependente dele, de maneira que o reconhecimento se torna algo que passo a buscar compulsivamente. O elogio, pela sensação agradável que produz, pode agir em nós como um entorpecente, viciando-nos. E como todo vício, surge daí a necessidade de doses cada vez mais altas de elogio, para que nos mantenhamos de pé.
O ideal é que recebamos elogios e críticas com a mesma serenidade. Quem hoje se alegra por um elogio, irá entristecer-se amanhã por uma crítica, pois toma por verdade opiniões que se baseiam tão somente em imagem.
Mas confesso que isso é muito difícil! Acredito que só os perfeitos possuem essa capacidade. Mas nada impede que avancemos nesse sentido.
Para concluir, somos o que somos. Em nós, corpo e alma,  estão a "dor e a delícia de ser o que é".


Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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