domingo, 21 de agosto de 2016

COMO COMPREENDER O ANTIGO TESTAMENTO?

"Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais, pois não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado. Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo! Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel" (Hebreus 12:18-24).


A leitura do Antigo Testamento muito estranha quem não é experiente na fé. A impressão que se tem é que o Deus do Antigo Testamento é diferente do Deus do Novo Testamento. Eu mesmo fui tentado a pensar assim diversas vezes, razão pela qual estou relendo a Bíblia.
Para se compreender a unidade que há na Bíblia, é necessário ter em mente a distinção entre as duas pregações de Deus: Lei e Evangelho. Quem não conhece essa distinção, transfere a distinção para Deus: o Deus do Antigo Testamento e o Deus do Novo Testamento. Portanto, deve-se manter a distinção clara entre Lei e Evangelho para que, ao invés de distinguirmos Deus de Deus, façamos uma correta distinção entre suas duas pregações.
A Lei é a primeira pregação de Deus. Ela consiste de ordenanças e ameaças. Não tem o propósito de salvar. Não justifica absolutamente ninguém. A quem a cumpre, Deus promete recompensas temporais. A quem não a cumpre, Deus ameaça com punições temporais e eternas. 
Ninguém pode cumprir o que é exigido pela Lei, porque ela quer algo que não está sob o nosso controle: o coração. Ela não se contenta com obras exteriores, mas quer que tudo seja feito como expressão de amor sincero a Deus. Mas ainda que alguém pudesse cumprir a Lei, não seria justificado por ela, porque a Lei não foi dada para justificar.
A Lei também ameaça terrivelmente quem não a cumpre. Com isso Deus está revelando a seriedade do pecado. Deus não permitirá que pecado algum fique impune.
Qual seria, então, a razão de ser da Lei? São Paulo nos ensina que a Lei foi acrescentada por causa do pecado (Gálatas 3:19). Deus a instituiu entre os israelitas para que esse povo aprendesse o quão pecador era, o quanto estava distante da vontade de Deus e a seriedade com que Deus lida com o pecado. A Lei, ao nos ordenar que façamos algo que está acima de nossa capacidade de fazer, ela quer nos mostrar o quão indigentes, maus e miseráveis nós somos, o quanto carecemos de Deus e o quanto estamos condenados perante ele. Ela nos amedronta com um Deus irado, do qual queremos fugir e que não podemos amar, distanciando-nos ainda mais dele. Portanto, a Lei, em seu uso próprio ou teológico, quer nos mostrar o quão perdidos nós estamos, retirando de nós qualquer vaidade e autossuficiência.
O Evangelho é uma pregação totalmente distinta da Lei. Aqui Deus promete salvar gratuitamente todo aquele que se sente pecador. Não quer que façamos nada, senão que creiamos nele, em seu amor e misericórdia. Ele quer que tão somente confiemos nele, quando nos promete a gratuita remissão de pecados. Se a Lei nos despe, o Evangelho nos veste. Se a Lei nos humilha, o Evangelho nos dignifica. Se a Lei nos fere e mata, o Evangelho nos cura e vivifica.
O pregador da Lei e do Evangelho é o mesmo Deus Pai, revelado em seu Filho, Jesus Cristo. Ele primeiro ordena o que não podemos cumprir, ameaça terrivelmente os transgressores de sua Lei, ferindo nossa presunção e fazendo-nos fugir dele, desesperados. Depois ele revela seu amor pelos pecadores, o perdão e sua Justiça, atraindo-nos a si. Embora sua Lei nos revele seu rigor com relação ao pecado, seu Evangelho nos revela o quão gracioso ele é para quem se arrepende. São as duas faces do mesmo Deus.
Este é o modo "estranho" de Deus agir. Ele nos revela quem somos, através da Lei. Depois revela quem ele é, através do Evangelho. Dificilmente alguém aceitaria tomar algum remédio caso não esteja certo de sua doença. Portanto, Deus revela a doença, para depois revelar o remédio.
Isso que Deus faz com o homem individualmente, ele fez com um povo inteiro, Israel.
No Antigo Testamento, Deus pregou principalmente a Lei. No Novo Testamento, Deus prega principalmente o Evangelho.
É claro que há Evangelho no Antigo Testamento. Caso contrário, ninguém teria sido salvo. Também há Lei no Novo Testamento, porém muito menos. O importante é que se mantenha que Deus é o único pregador na Bíblia inteira, inicialmente ameaçando mais, depois socorrendo mais. 
Quem fica somente com a Lei, não conhece o Deus benevolente e gratuito, misericordioso e justificador. Quem fica somente com o Evangelho, não conhece a realidade e gravidade de seu pecado, não consegue ser grato, faz pouco caso das dádivas que recebe. Quem, porém, apropria-se de ambas as pregações, tem ciência de seu pecado e da misericórdia de Deus. Portanto, é necessário que as duas pregações sejam ouvidas, cada qual a seu tempo. A primeira nos tira sempre da presunção e da autossuficiência. A segunda nos socorre quando nos vemos caídos.
É assim que a correta distinção entre Lei e Evangelho nos permite compreender a unidade que há na Bíblia. Quando lemos que Deus provocou mortandades em Israel, consumiu povos e a todos aterrorizou com sua glória, devemos saber que ali Deus está revelando a Lei. Não devemos permanecer nessa figura de Deus, mas avançar para o Evangelho, onde Deus nos revela Jesus Cristo crucificado para remissão de nossos pecados. Só assim teremos o Deus inteiro.

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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