quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O MONERGISMO E OS SACRAMENTOS - PARTE 1

"Ao SENHOR pertence a salvação" (Jonas 2:9).
"Porque Deus a todos encerrou  na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos" (Romanos 11:32).
"Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Filipenses 2:13).


Quero começar com uma pergunta: A justificação é algo que Deus opera sozinho, que nós operamos sozinhos ou colaboramos com Deus?
Para o mundo, onde Deus não tem mais espaço, a justiça é algo inteiramente humano. Justo é aquele homem propenso à justiça ou é aquele homem que pratica a justiça, que habituou-se a ela. É claro que, para o mundo, não há outra justiça senão a exterior. Ninguém é considerado injusto porque sente inveja, rancor, movimentos íntimos libidinosos ou porque despreza a Deus. Nada disso torna um homem injusto perante a sociedade, mas somente a desobediência às suas leis. Religiões pagãs também acrescem às leis civis suas próprias leis, porém não requerem nada do homem justo além de obras exteriores de justiça. É assim que um ateu, um espírita, um budista, um muçulmano e um judeu são justificados: obras exteriores os justificam. 
Na Igreja, porém, não podemos dizer que a justiça é obra exclusivamente humana. Conhecemos a amplitude do pecado e a amplitude da justiça. Sabemos que o homem não pode tornar-se justo apenas por intermédio de obras exteriores, pois o homem verdadeiramente justo não cobiça nada, não sente rancor, ama o próximo como a si mesmo, ama a Deus sobre todas as coisas e nunca busca o seu próprio interesse. Ora, o homem tem controle sobre os seus membros, de maneira a evitar pecados exteriores, mas é incapaz de dominar seus sentidos e seu coração. Isso porque o homem é mau e injusto por natureza. A bondade para o homem não é fruto da natureza, mas de esforço e disciplina. Portanto, a Igreja sabe que é impossível a justiça sem a participação de Deus.
É então que entram duas maneiras de enxergar a justificação: Deus opera a justiça no homem sem o homem, ao que chamamos de monergismo, ou o homem colabora com Deus, ao que chamamos de sinergismo. 
No monergismo, Deus opera a fé no homem caído. Por meio dessa fé, o homem é tornado justo por Deus. A fé, que é obra divina no homem, apropria-se de Cristo e de tudo o que ele é e tem. A justiça perfeita de Cristo é então comunicada ao homem que dele se apropriou por meio da fé. Em outras palavras, Cristo é tornado nosso através da fé. Se ele é nosso, sua justiça é transferida para nós. Por isso, somos tornados justos ou somos justificados no momento em que cremos. 
No sinergismo, é defendido que o homem não está tão inteiramente corrompido pelo pecado que não possa colaborar com Deus através da vontade. Os defensores do sinergismo falam do livre-arbítrio, em que o homem colabora com Deus em sua justificação quando decide por Deus. Então nós decidimos por Deus, que intervém com sua graça, ajudando-nos a crer e a amar. A justiça viria como resultado de um esforço conjunto do homem com Deus. 
A ideia de sinergismo parece mais razoável. Ela combate o relaxamento moral dos que dizem crer, salvaguarda a responsabilidade humana no pecado e a graça universal. Também protege o princípio racional do livre-arbítrio ou da liberdade inerente ao homem.
No entanto, as Escrituras deixam claro que o homem não pode decidir por Deus sem Deus. O homem é profundamente mau e rebelde contra Deus. Mesmo quando faz o que é reto, busca seus próprios interesses e despreza a Deus. Quando Deus o interpela em sua presunção, ele se volta cheio de ódio. Prefere as sombras da hipocrisia à luz da verdade. Ele mesmo inventa seu próprio deus, que o aceite da maneira como é, que exija dele somente o que ele pode dar. 
O homem é incapaz de ter um sentimento puro sequer. Tudo o que ele pensa e faz está contaminado pela autossuficiência, pela soberba, pelo desamor e pela rebeldia contra Deus.
Como disse S. Paulo: "Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus" (Romanos 3:9-12, 19). Também: "E ainda não eram os gêmeos [Esaú e Jacó] nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela [Rebeca]: O mais velho será servo do mais moço. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia" (Romanos 9:11-12, 16). 
Em assuntos espirituais, o homem é tão inapto quanto um morto (Efésios 2:10). Portanto, não é possível ao homem colaborar com Deus, a não ser que Deus o transforme primeiro. Somente quando o homem é mudado por Deus ele pode responder a esse Deus.
Embora a razão natural seja, na melhor das hipóteses, sinergista, as Escrituras são monergistas. A fé é dom de Deus (Efésios 2:8). É Deus quem cria a fé no homem, sem participação do homem, por meio do Evangelho. Essa mesma fé apropria-se de Cristo e de sua Justiça, tornando o homem tão justo quanto Cristo. Essa fé também transforma toda a natureza humana, fazendo com que ela se volte para Deus. Então é Deus que transforma o não querer em querer, a rebeldia em obediência e o ódio em amor, quando opera a fé na alma humana. O homem só pode desejar Deus de fato quando é agraciado pela fé, justificado por ela e transformado por ela. Assim, só é possível falar que o homem decide por Deus quando esse homem recebe antes a fé e é inteiramente modificado por ela. 
Toda vez que as Escrituras chamam o homem à conversão, a decidir-se por Deus, a escolhê-lo, elas chamam àqueles que creem, àqueles que receberam a fé de Deus e foram transformados por ela. O homem incrédulo jamais pode atender a esse chamado. Muito pelo contrário, quando o incrédulo é chamado à conversão, este responde com uma fé intelectual, com uma conversão de fachada e com justiça exterior. O que é tudo isso senão a mais terrível rebeldia contra Deus? Faz-se Deus de bobo! Logo, o homem, quando se propõe a ser de Deus, mais demoníaco ele se torna. Como disse Jesus: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia" (S. Mateus 23:27). 
"O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito" (S. João 3:6). Nascer do Espírito significa nascer do Espírito. Ninguém delibera nascer. São nossos pais que decidiram por nosso nascimento e em nada contribuímos para isso.

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


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