quinta-feira, 26 de maio de 2016

ORANDO SEGUNDO A VONTADE DE DEUS

"Tornou Moisés ao SENHOR e disse: Ora, o povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste" (Êxodo 32:31-32).



Quem acompanha meus textos, sabe que este blog é uma espécie de diário. Aqui não trato de teologia, mas de como encontro na teologia soluções para meus dilemas. Cada texto é fruto de minha vivência com Deus, através do que sei dele, ou seja, através da teologia.
Algum tempo atrás, quando estava muito abatido por questões pessoais, escrevi um texto intitulado "A Sabedoria da Desistência", que eu próprio não vivi. Propus ali que não se deve insistir com Deus, mas assumir uma postura passiva diante dos acontecimentos da vida. Eu não acho  que estava completamente errado, mas eu próprio não consegui colocar nada daquilo em prática. Não me resignei diante de algumas situações, mas continuei e continuo insistindo com Deus.
Semanas atrás recebi a bênção que, com tanta insistência, pedi a Deus, ao longo de anos. Tudo isso me fez ver algumas coisas, que desejo compartilhar.
A oração não é algo que fazemos para Deus, com o intuito de mantê-lo informado ou dar-lhe a saber. Ele é onisciente e conhece profundamente nossas necessidades e desejos. Como disse Jesus: "Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais" (S. Mateus 6:8). A oração é comunhão com Deus, exercício da fé, autoconhecimento e conhecimento de Deus.
Comunhão com Deus porque falo com ele e coloco-me em atitude de escuta. Portanto, a oração é um verdadeiro diálogo. Todo diálogo é um encontro, é comunhão!
Exercício da fé porque reconheço minhas necessidades, minha indigência e impotência, enquanto reconheço o amor de Deus, seu poder e sua preocupação paternal comigo. Ao apresentar a Deus minhas necessidades, eu estou declarando a ele que confio nele, não em mim, não em homens.
Autoconhecimento porque a oração é também uma organização de pensamentos e uma análise crítica deles. Nesse sentido, podemos considerar oração qualquer meditação que fazemos cotidianamente sobre nossas necessidades, se de fato são necessidades, se estamos no estado correto, se estamos sendo egoístas, se estamos buscando proveito próprio, etc. Creio que Deus Espírito Santo direciona nosso pensamento para que possamos discernir melhor nossas reais necessidades, em um mundo tão voltado a si mesmo, tão cheio de vaidade e narcisista. Creio que esta é uma das formas pelas quais Deus Espírito Santo ora em nós. Assim prega S. Tiago: "Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres" (S. Tiago 4:3).
Mas a oração tem um aspecto extremamente relevante, que muitas vezes negligenciamos: ela evidencia o que conhecemos de Deus. Moisés nos dá boas aulas acerca disso. Quando Deus disse a Moisés que haveria de destruir Israel, suscitando dele uma nova descendência (Êxodo 32:9-14), este replicou imediatamente, recorrendo ao que conhecia de Deus: "O Senhor é muito bom e sábio para envergonhar-me dessa maneira. Tu nos tiraste da terra do Egito de maneira milagrosa, para depois nos matar no deserto? Isso vai ser uma vergonha perante os povos! Também não é próprio de tua natureza misericordiosa fazer algo assim. Somos pecadores, mas tu já sabias disso e mesmo assim nos tratas bem, porque és misericordioso e não nos tratas segundo o que merecemos". Essa ousadia não foi reprovada por Deus, por ser fruto de um aprendizado acerca dele. 
Quando pais que não conseguem engravidar oram por um filho, não estão pedindo algo para o qual não estejam prontos. Deus uniu homem e mulher para que se completem, para que vivenciem o amor, mas para que gerem filhos também. "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" (Gênesis 1:27-28). Um casal não deve desistir do projeto de gerar vida, pois é certo que Deus deseja isso, pois para isso uniu homem e mulher. Neste momento, o casal não deve assumir uma postura fatalista, mas recorrer à fidelidade de Deus à sua Palavra e dizer: Queremos a bênção que concedeste a Adão e Eva. Queremos ser fecundos. Enquanto não nos concederes tal bênção, não arredaremos o pé, porque sabemos que sua vontade é esta e confiamos em ti. Não vamos desistir! Nós conhecemos a tua Palavra e confiamos nela! Ademais, não estamos vivendo em adultério, mas estamos vivendo o matrimônio, em fidelidade e amor um para com o outro. Quanto ao sustento do filho, temos certeza que tu o proverás. 
Igualmente, quando um cristão ora pela conversão de um amigo ou familiar, não deve orar assim: "Se for da tua vontade, converte este meu amigo ou familiar". Isso não está certo! Denota desconhecimento de Deus. Deus quer a salvação de todos, não quer que ninguém se perca. É muito terrível essa postura fatalista que alguns assumem, como se nosso Deus não nos houvesse revelado seu bom propósito para conosco. 
Quando pedimos algo a Deus dentro daquilo que sabemos acerca dele, devemos insistir, cientes que ele quer, porque o revelou nas Escrituras. Ele não quer que eu ande de Ferrari, tenha uma mansão, não adoeça nunca e viva para sempre. Ele não quer que eu abandone a cruz e viva prosperamente neste mundo, sem sofrer nenhum dissabor. Entretanto, é certo que ele quer a minha salvação e a salvação de quem eu amo. É certo que ele quer que permaneça unido à minha esposa. Ele quer que eu e minha esposa sejamos pais. É claro que ele quer que o jovem se case. É evidente que ele quer prover cada família do que lhe é necessário para viver, através da graça do emprego. Também ele quer a paz no mundo e a unidade dos cristãos. Em situações assim, é descabido assumir uma postura passiva, resignada, fatalista. Também não soa bem dizer-lhe: "Se for da tua vontade", porque é! Antes, deve-se insistir, ainda que não vivamos o suficiente para receber a graça. Quando o que pedimos está de acordo com a Palavra de Deus, devemos insistir até à morte, se preciso for, porque a fidelidade de Deus à sua Palavra não morrerá conosco e haverá de se cumprir.
Quero concluir com Dr. Martinho Lutero, com quem aprendi isso: "É claro que ele não nos manda orar para instruí-lo sobre o que nos deve dar, e, sim, para que reconheçamos e professemos os benefícios que ele nos concede e que ele, ainda, quer e pode dar muito mais, isto é, para que , através da nossa oração, nos instruamos mais a nós próprios do que a ele. Assim, eu passo por uma transformação, de modo que não procedo como os ímpios, que não o reconhecem nem agradecem; desta forma, meu coração se volta para ele e é despertado para louvá-lo e agradecer-lhe, nele buscando refúgio nas aflições e dele esperando ajuda. E tudo serve para que eu aprenda, cada vez mais, a reconhecer que Deus ele é (...). Se tiveres esse conhecimento, sê sábio e dá um impulso a teu coração para que logo comeces a pedir, dizendo: amado Senhor, eu tenho tua Palavra e estou no estado que te agrada. Eu sei disso. Agora, vê todas as minhas carências, é que não conheço ninguém que me pode ajudar senão a ti. Por isso, ajuda tu, porque disseste e ordenaste que devemos pedir, procurar e bater e que, então, receberemos, encontraremos e teremos, com certeza, o que desejamos. Se aceitares isso e se te acostumares a orar confiantemente e não receberes [o que pedes], então, vem e chama-me de mentiroso (...). Por isso, Cristo quer livrar-nos dessa timidez e desses pensamentos, para que não tenhamos nenhuma dúvida e para que avancemos confiantes e atrevidamente (...). Sobretudo, porém, assegura-te que crês verdadeiramente em Cristo e que te encontras num estado conveniente, que agrada a Deus, não como o mundo, que não dá atenção a seu estado e que dia e noite procura unicamente como praticar seus vícios e suas patifarias (...). Por isso, assim como a necessidade sempre bate à tua porta, bate tu também e não desistas, porque tens sua palavra" (Prédicas Semanais sobre Mateus 5-7, Martinho Lutero: Obras selecionadas, volume 9, editoras Concórdia e Sinodal. Tradução: Ilson Kaiser). 

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.