terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O BATISMO SALVA

"Fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, que é a garantia de nossa herança, para redenção do povo que Deus adquiriu, em louvor de sua glória" (Efésios 1:13b-14).


Um bebezinho de poucos dias foi trazido à pia batismal pelos pais, juntamente com alguns padrinhos. O pastor benzeu a criança com o sinal da cruz na fronte e no peito, questionou aos pais e padrinhos sua fé apostólica e, em seguida, derramou sobre a cabeça dela um pouquinho de água, dizendo: "Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Quer coisa mais simples que isso? 
A criança continuou a mesma de sempre. Aparentemente nada mudou em sua vida. No entanto, a criança deixou a pia batismal cristã, filha de Deus, verdadeira crente, justificada por SUA FÉ em Cristo, salva em sentido absoluto e desde então está morrendo literalmente para o pecado. Ela foi justificada pela fé dela mesma - não de seus pais - mediante o Batismo que recebeu.
A razão natural, quando ouve algo do tipo, esperneia e grita histericamente, porque não faz sentido algum que um rito tão banal possa operar tão grandiosas coisas. Aliás, como uma criança pode crer, se não entende nada? É uma sandice afirmar tal coisa! Isso é pura superstição, mágica e paganismo! Assim grita a razão.
As coisas de Deus são assim. Elas simplesmente são o que são, segundo a natureza da fé. Deus se precaveu de cobrir cada milagre que realiza com um véu bem grosso, de maneira que nossa fé se exercite, em detrimento da razão adâmica. Sempre esse véu será posto sobre cada milagre que ele realiza cotidianamente. 
O Batismo é um verdadeiro Pentecostes, porém sem som de vento impetuoso, sem línguas de fogo, sem louvores em línguas estranhas, sem Pregação, consistindo apenas de Evangelho compreendido na água. Aliás, pouca água, pouquíssima água! Por isso mesmo a razão não aceita o Batismo como milagre, mas como coisa ordinária ou cotidiana, simbólica, sem nenhuma eficácia. Também procura ornamentá-lo, para que impressione pelo menos um pouco: imersão, exorcismos, velas, sal, etc. Como nos é difícil aceitar a simplicidade que convém à fé!
O Batismo foi instituído por Cristo para salvar, assim como a pública Pregação do Evangelho e a Eucaristia. Tudo isso é Evangelho. Um mesmo Evangelho está na Pregação, no Batismo e na Eucaristia.
Aceitar que o Evangelho esteja nas páginas da Bíblia e na boca do pregador é fácil. Acredito que ninguém duvida da presença do Evangelho na Bíblia e nos púlpitos. Entretanto, por não saberem exatamente o que é Evangelho, muitos não conseguem distingui-lo no Batismo, na absolvição de pecados e na Eucaristia, como se não houvesse promessa de salvação eterna ao que crê - o que outra coisa não é senão Evangelho puro - em todas essas coisas. De fato, não há menos Evangelho no Batismo que no púlpito. O mesmo Evangelho que toca os corações a partir da boca do pregador, toca também o coração a partir da boca e mãos de quem batiza.
Não sabemos por quê, mas Deus quis comunicar a fé através do Evangelho e não de outra forma. Sem Evangelho, sem fé! Não se deve crer num agir secreto do Espírito Santo no coração humano, sem Evangelho. Deus sempre envia o Espírito Santo e a fé através do Evangelho e nunca de outro modo. Nunca! Não há um exemplo sequer de fé que tenha surgido à parte do Evangelho em todas as Escrituras e em toda a história. Isso está muito bem estabelecido nas Escrituras e fugir disso é entusiasmo. 
São Paulo declara: "E, assim, a fé vem PELA Pregação, e a Pregação, pela Palavra de Cristo (ou seja: pelo Evangelho)" (Romanos 10:17); "aprouve a Deus salvar os que creem PELA loucura da Pregação ("pregação da cruz" ou Evangelho)" (1 Coríntios 1:21b);  "aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz PELAS obras da lei ou PELA Pregação da fé (Evangelho)?" (Gálatas 3:5). São Pedro também ensina: "Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, MEDIANTE a Palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (1 Pedro 1:23).
Se o Batismo fosse somente água compreendida em palavras humanas e realizado em nome do padre ou pastor, certamente não teria efeito algum. Mas se o Batismo consiste em água compreendida no Evangelho e sendo realizado em nome de Deus, então a coisa há de ser diferente. Aqui o Evangelho é poderoso para encher a pessoa do Espírito Santo e de fé, destarte salvando-a. O mesmo Evangelho que converte corações arrependidos quando pregado ou lido, suscitando fé, também converte corações batizados. Negar isso é negar o poder intrínseco do Evangelho. O Evangelho salva porque é o próprio Deus, já que não podemos dissociar as promessas salvíficas de Deus de sua essência.
Paremos de achar que Evangelho consiste em palavras humanas. Evangelho é a Palavra Eterna de Deus feito carne. Se alguém prega o Evangelho, está sendo a boca pela qual a Palavra Eterna de Deus adentra o tempo e realiza a sua obra no tempo. Acredito que o maior problema teológico do cristianismo atual é não saber o que é Evangelho, o que leva à redução de sua essência. 
Posto que o Batismo é Evangelho puro, seu efeito não há de ser outro senão gerar fé e salvar. Isso não é conclusão da Igreja de Roma nem das igrejas orientais ou da Igreja da Confissão de Augsburgo. Isso é bíblico! Negar a eficácia do Batismo é negar a eficácia do Evangelho.
O Batismo, sendo Evangelho puro, gera a fé ou é acolhido pela fé, fortalecendo-a. Em ambas as situações, ele não é mero rito, mas Evangelho em ação, meio da graça, meio pelo qual Deus transmite sua graça, que é a remissão dos pecados e a vida eterna.
Por mim, a defesa do caráter salvífico do Batismo terminaria aqui. Ele é Evangelho e realiza tudo o que o Evangelho realiza. Mas existem as pessoas que querem versículos bíblicos, o que não é inconveniente algum para quem defende o que é correto. Em nenhuma passagem bíblica sobre o Batismo - e são muitas! - encontramos o Batismo como mero rito, sem poder de justificar e salvar. 
São Pedro nos ensina que o Batismo remove a culpa do pecado: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados" (Atos 2:38). Ananias declarou a Saulo: "E agora, por que te demoras? Levanta-te, recebe o Batismo e lava os teus pecados" (Atos 22:16). Também professamos, no credo Niceno: "Confesso um só Batismo para remissão dos pecados"
Bem, se alguém é perdoado de seus pecados e não é mais culpado perante Deus, com certeza já está salvo. Eu me daria por satisfeito. No entanto, caso persista a dúvida, podemos ir além, afirmando que o Batismo verdadeiramente justifica, isto é: torna o homem justo perante Deus, não através de qualquer justiça, mas através da justiça de Cristo.
São Paulo, ao falar sobre justificação somente pela fé e não por obras, declara: "Porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes" (Gálatas 3:27). Ser revestido por Cristo é ter todos os pecados cobertos por seu manto de santidade. Deus não nos vê como pecadores, mas como Cristo, porque ele, ao nos declarar justos, revestiu-nos da justiça de Cristo. Em outras palavras, Deus imputou ou creditou em nós uma obediência ou justiça alheia, que é a de Cristo, como se essa justiça fosse nossa e é nossa! A isso chamamos de justificação. Sou justo perante Deus não porque obedeci, mas porque me apropriei da obediência de Cristo. O que é de Cristo foi tornado meu no dia em que cri no Evangelho. O Batismo é capaz de justificar e quem declara isso é o apóstolo S. Paulo.
O Batismo também nos insere em Cristo. Só posso participar da herança de Cristo se me for concedido estar nele ou ser inserido nele. A minha humanidade tem que encontrar a humanidade de Cristo e fundir-se nela. Só assim serei Cristo e participarei de sua bem-aventurança. É um mistério profundo do qual tomamos parte quando cremos, não com qualquer fé, mas com a fé que é suscitada pelo Evangelho. O Batismo, sendo Evangelho genuíno, realiza esse milagre. 
São Paulo ensina: "Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo Batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida" (Romanos 6:4). Então, a partir do Batismo começamos a morrer literalmente para este mundo e a viver para o mundo vindouro. A destruição de Adão tem início, enquanto Cristo vai sendo construído em nós. Quando é que isso terminará? Na ressurreição dos mortos. Até lá o Batismo continuará fomentando nosso cristianismo. 
Como pode não salvar aquilo que remite pecados, justifica e insere em Cristo? São Pedro, após fazer uma analogia entre as águas do dilúvio e o Batismo, afirma acerca deste: "agora também vos salva" (1 Pedro 3:21). 
Enfim, as Escrituras falam muito acerca do Batismo, nunca dissociado da salvação como causa e efeito. Não há um versículo em que a palavra "Batismo" não esteja conectada à salvação humana como causa. 
Obviamente, Batismo não é a única causa da salvação. O Evangelho é a única causa da salvação, sendo o Batismo tão evangélico quanto a Pregação, a Eucaristia e a absolvição de pecados.
Para finalizar, vejamos as objeções que nos trazem a razão. Ela objeta o seguinte: se a justificação é somente pela fé e o Batismo é obra, então a justificação não é somente pela fé. Resposta: o Batismo é de fato obra, mas de Deus através dos cristãos. Por isso é realizado em nome de Deus e não em nome dos homens. Deus executa o Batismo através dos cristãos.
Outra objeção: como bebês não têm condições de crer, o Batismo opera a salvação por si só (ex opere operato), sem necessidade de fé. Resposta: o Batismo deve ser apreendido pela fé ou então ele próprio gera a fé que irá apreendê-lo, pois é Evangelho e é capaz disso. Somente a fé possui a salvação!
Ah, mas um bebê não entende nada e é impossível que creia em alguma coisa! Bem, se fé for atividade intelectual, é fato. Mas S. Paulo nos ensina que não se crê com a razão, mas com o coração, ou seja, com o espírito (Romanos 10:9). É nosso espírito que crê no Evangelho. Sabe-se lá qual seja a essência do espírito, mas certamente o espírito de um bebê não é diferente do espírito de um adulto, nem de um idoso demente, podendo crer perfeitamente, com ou sem atividade intelectual associada. Por fim, o próprio intelecto é um estorvo frequente ao exercício da fé. Creio muito mais na fé da criança que na fé do adulto.
As Escrituras também testemunham que crianças creem. São João Batista creu quando era feto (S. Lucas 1:44). Jesus também declarou: "Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar" (S. Mateus 18:6). Portanto, crianças creem no Batismo que recebem ou recebem a fé com que irão crer no Batismo. 
A razão, não satisfeita, quer lançar sua última objeção: as Escrituras ensinam com clareza que a fé é pré-requisito para o Batismo, conforme se lê em S. Marcos 16:16: "Quem crer e for batizado será salvo". Como batizar uma criança que ainda não crê?
A criança é batizada para crer, porque o Evangelho tem o poder de suscitar a fé no espírito e Batismo é Evangelho. Caso a criança ou adulto creia, essa fé é necessária para receber o Batismo, sem dúvida! Mas o que é fé? Aqui se deve tomar cuidado para não confundir fé com confissão de fé. Até mesmo o diabo pode confessar a fé para ser batizado, se perceber que isso lhe pode ser vantajoso. Então não devemos condicionar o Evangelho à confissão de fé, pois ela não é fé, é atividade intelectual e obra humana. 
Certamente seria um abuso batizar um incrédulo confesso. No entanto, não é correto condicionar o Batismo a uma confissão ou questionar a validade dessa confissão. Deve-se batizar por obediência a Deus e largar mão de ficar investigando a veracidade da fé alheia. No máximo iremos conseguir uma confissão e seremos obrigados a acreditar nela.
Quanto às crianças, que podem crer, mas não têm condições de confessar sua fé, é necessário que sejam batizadas, porque carecem do Evangelho, da fé e da salvação eterna tanto quanto os adultos. Todos sabemos que Cristo não ordenou o Batismo especificamente às crianças, como fez com a circuncisão do Antigo Testamento, mas a Igreja sempre as batizou, exatamente por crer na perdição humana desde sua concepção e no poder regenerador do Evangelho. Portanto, o Batismo infantil é uma tradição da Igreja com apoio escriturístico fortíssimo, razão pela qual nós o adotamos.
Concluindo, o Batismo é simples porque Deus quer que todos os seus milagres ocorram segundo a natureza da fé. A Igreja não deve apoiar-se no que vê ou pensa, mas unicamente na fé. Como fé e razão não se relacionam tão pacificamente como gostaríamos, uma das duas é obrigada a recuar em cada impasse. Então que recue a razão e que a fé reine. É assim que a Igreja não erra e torna-se "coluna e baluarte da verdade" (1 Timóteo 3:15). É assim que a Igreja se torna de fato apostólica. 



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.