sábado, 16 de abril de 2016

O BOM PASTOR E OS MERCENÁRIOS

"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas" (S. João 10:11-15).


Jesus nos declara ser o bom pastor e compara-nos a ovelhas, a quem ele quer salvar e conduzir. Ele falava ao povo de maneira simples, tão simples que os sábios da época não podiam entender. Jesus utilizava cenas do cotidiano dos judeus para comunicar-lhes a Verdade, de maneira que todos pudessem apreendê-la.
O que mais me encanta no Bom Pastor é seu compromisso com as ovelhas e com a vida. Ele dá a sua vida voluntariamente para salvação de suas ovelhas. Ele as deseja vivas e empenha-se até à morte para mantê-las vivas. Este compromisso não encontramos em outros pastores.
Vivemos em um mundo onde há diversos pastores. A difusão de pensamentos nunca foi tão grande quanto nos dias atuais. É muito mais simples que outrora espalhar pensamentos e obter seguidores. Se antes era necessário ter algum tipo de reconhecimento acadêmico para obter a publicação de ideias, hoje o procedimento é muito mais simples, bastando um blog ou site para isso.
Neste aspecto é que podemos pensar nos muitos pastores que têm surgido, pessoas com ideias próprias, formadoras de opinião, que arregimentam seguidores com muita facilidade. Mas será que esses pastores têm compromisso com suas ovelhas e estão dispostos a morrer por elas? Eles conhecem a consequência do que ensinam? Estão preocupados com o destino de seus seguidores ou com seu próprio ventre?
Por favor, não pensem que estou me referindo aos pastores religiosos, mas refiro-me aos pastores ideológicos, religiosos ou não. Eles não possuem qualquer conhecimento de consequência do que ensinam e não estão preocupados com isso. Se suas ovelhas se perderem para sempre, que assim seja, contanto que tenham o lucro devido.
Há sempre pastores mercenários controlando a máquina da intolerância religiosa, da xenofobia e da paganização de nossa sociedade. Quando nos deparamos com a tragédia de adolescentes grávidas e desamparadas pela sociedade, com a triste realidade das drogas, da imoralidade, da descrença em Deus e na vida, da desesperança; quando somos visitados pela violência verbal, moral ou física impingida em nome de Deus; quando ficamos aterrados diante do racismo e da xenofobia, do desprezo aos mais fracos, temos que ter certeza que muitos pastores contribuíram e contribuem por estabelecer e fomentar ideologias que nos condicionam a tudo isso.
Quantos se empenharam no passado por retirar Deus da sociedade? A origem e significado da existência, único consolo dos pobres, padrão de moralidade, base para a fraternidade e para a paz, foi removida sem qualquer pudor, abrindo espaço ao individualismo, ao relativismo, ao niilismo, à imoralidade, à legitimação da perversidade e ao desprezo pela vida alheia. Ninguém mais consegue ter esperança, trabalhar e sorrir como antes. Vazios e tristes, caminhamos por este mundo sem um ideal, senão aquele que criamos para nós mesmos e que sabemos ser falso. As maiores atrocidades se revelaram a partir de então, com seu ápice no holocausto de judeus, memória que nos é sempre terrificante porque sabemos que outros holocaustos vieram e tornarão a vir, já que a fundamentação ideológica está muito bem estabelecida; esta "operação do erro" e "mistério da iniquidade". Então pergunto: cadê os pastores que iniciaram todo esse processo? Tiveram sua inteligência reconhecida e receberam seus aplausos, o que já é suficiente ao mercenário.
Hoje há muitos pastores espalhando intolerância e ideologias desumanizantes pelo mundo, em busca de fama, de reconhecimento acadêmico ou dinheiro. Repudie as instituições, principalmente a Igreja, então será aplaudido como gênio. Espalhe a dúvida e ficará muito rico. Desarticule e será um sábio perante um mundo cego.
Os piores pastores, infelizmente, têm sido os pais, que têm incutido na mente dos filhos o individualismo e seus frutos desumanizantes. Como é lastimável ver os próprios pais conduzindo seus filhos à destruição! Estão querendo ensinar a seus filhos que é possível um mundo sem Deus, não se atentando ao fato que, ao retirarem Deus da família, estão transformando seus filhos em ególatras inférteis, que irão buscar no outro a si mesmos, com uma amplitude de visão muito restrita, por não saberem se encontrar em sociedade.
Esses filhos são a infertilidade de hoje e de amanhã. Mas pergunto de novo: quem é responsável por eles? Cadê seus pastores?
O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Ele não vem ao encontro das ovelhas pensando em si mesmo, mas pensando somente nelas, em seu bem-estar, em sua paz, em sua felicidade: "O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (S. João 10:10). Doa-se por elas, para que sejam libertas do cativeiro satânico. Caminha com elas, para que continuem livres, não permitindo que sejam enredadas e apartadas do rebanho. 
O Bom Pastor não desarticula, mas conduz cada um de nós como ovelha de um rebanho. Ele nos quer unidos, convivendo pacificamente. 
O Bom Pastor inspira suas ovelhas ao bem. Vá aos campos de refugiados, aos países que estão se autodestruíndo em guerras civis, aos hospitais onde o mundo padece as consequências de suas extravagâncias, às favelas e guetos e confira se não há pelo menos uma ovelha desse Bom Pastor dando sua vida pelos irmãos. Vá e depois me chame de mentiroso, se não encontrar pelo menos uma pessoa defendendo os mais fracos, em nome desse Bom Pastor. 
Não é uma boa ideia defender os fracos. Isso não leva à glória ou lucro. Muitos estão se beneficiando às custas dos fracos, usando-os para obter lucro, como a indústria da moda, do turismo, da música e da política. Mas envolver-se com os pobres e cuidar deles, defendendo sua integridade física, emocional e espiritual não gera um centavo sequer. Muito pelo contrário, espera-se de quem segue o Bom Pastor ter seu mesmo fim: a crucificação. Mas assim como o trabalho do Bom Pastor foi profundamente fecundo, também o trabalho de quem o segue é fecundo, pois é feito para o outro, como filho de Deus e verdadeiro irmão, como ente da família, como ovelha do rebanho, não como fonte de dinheiro, prestígio e prazer.
Amanhã a cristandade irá celebrar o Bom Pastor. Que possamos refletir sobre o fruto de nossas ideologias e comportamento. Amém!

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.



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