sábado, 30 de abril de 2016

CULTOS RESSURRETOS

"Eu sou a videira verdadeira, vós os ramos. Quem permanecer em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (S. João 15:5).



Páscoa é vida! Durante sete semanas somos convidados a refletir sobre a vida que desfrutamos graças ao Deus que vive por nós e em nós. Deus está vivo, é fonte de vida e está conosco, de maneira muito mais íntima que a videira a seus ramos.
O culto a esse Deus deveria expressar essa profunda comunhão, pois é Deus visitando seu povo, doando-se a ele, pois para isso tornou-se carne. O culto cristão é essencialmente anamnesis. É na anamnesis que está a vida e ressurreição de Deus no culto cristão, diferenciando-o de qualquer outro existente.
Cada vez mais a presença de Deus no culto está sendo obscurecida pela razão humana. O culto tem sido cada vez mais intelectualizado, de maneira que, em muitos lugares, não passa de simples reunião onde se ouve falar de um Cristo histórico, onde se cultua um Deus incorpóreo e transcendente. A pregação há muito assumiu a forma de palestra e a fé na Palavra degenerou-se em aceitação intelectual do que é ensinado. Cristo não é mais comungado, mas somente seus símbolos: pão e vinho. Ele está tão longe que só podemos apreendê-lo através de símbolos.
Por outro lado, tem aumentado o apelo aos sentimentos, à experiência emocional com Deus, reforçando o princípio racional de que o Deus humanado não está presente no culto, mas somente o Deus não encarnado, com o qual nos relacionamos emocionalmente, extaticamente, fora do corpo. 
Perdoe-me a franqueza, mas Cristo não está mais no meio de seu povo de fato, mas só conceitualmente. Ele foi substituído pelo Espírito Santo, que nos fala dele como de alguém que está distante de nós. Qualquer relação com esse Deus deverá ser fora do corpo, intelectualmente ou extaticamente, não havendo muito espaço para a fé. Aliás, a fé está em vias de se transformar em superstição.
Um dos muitos motivos que têm levado o povo a desinteressar-se dos cultos é a falta do homem Jesus.
Cristo disse: "As palavras que eu vos tenho dito são ESPÍRITO  e são VIDA" (S. João 6:63). Cristo vem misticamente ao encontro de seus fiéis em cada celebração de sua ressurreição. Quer encontrar-se com seus irmãos, pessoalmente absolvê-los de seus pecados, instruí-los, consolá-los e cear com eles. Sua pregação não é um discurso intelectual e frio, mas "espírito e vida", que faz arder os corações (S. João 24:32).
Há quem acredite que Jesus está no Céu, distante de nós, tendo deixado como seu substituto o Deus Espírito Santo. Mas afirmo, com toda a convicção, que o Espírito Santo jamais substituiria o homem Jesus. A função do Espírito Santo é nos "fazer lembrar de tudo o que vos tenho dito" (S. João 14:26). O Espírito Santo traz à fé o homem Jesus, o mesmo que andou neste mundo visivelmente há dois mil anos atrás. A Bíblia diz que o homem Jesus foi OCULTADO da vista dos discípulos por uma nuvem (Atos 1:9). Ela não ensina que ele nos deixou, antes encontramos nela as seguintes promessas: "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles" (S. Mateus 18:20) e "eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos" (S. Mateus 28:20).
Jesus está presente no culto. Ele nos absolve dos pecados da mesma maneira como absolveu a adúltera. Ele nos prega da mesma maneira como pregou às multidões. Ele está conosco à mesa, parte o pão e entrega o cálice, da mesma forma como o fez na última páscoa. É ele quem nos batiza, quem nos abençoa e envia. Nossos olhos veem um simples ministro, um pobre pecador, indigente como qualquer um de nós, mas é o homem Jesus quem faz tudo através dele. O homem Jesus não é visível, mas está verdadeiramente presente, segundo sua Promessa.
A função do Espírito Santo é trazer-nos o noivo e preparar-nos para o banquete. É ele quem nos permite estar com o homem Jesus, desfrutar sua presença e nutrir-se dele de fato, ainda que não o vejamos. Ele é nossa verdadeira comunhão com o homem Jesus, pois desfaz qualquer barreira material ou imaterial que nos separa dele. Enfim, ele opera a anamnesis
Com o homem Jesus temos uma experiência. A vida do culto repousa nessa experiência com o Jesus ressurreto. O mesmo Jesus que visitou S. Tomé e os outros discípulos hoje nos visita a cada celebração e chama-nos de bem-aventurados, porque não o enxergamos, mas cremos que está presente. Bem-aventurados porque temos o consolo de saber que ele ressuscitou, que está entre nós, que continua pregando, perdoando e doando seu corpo e sangue para a remissão de nossos pecados. Bem-aventurados porque ele pessoalmente nos assiste em nossas fraquezas, pois não delegou essa função aos livros, à memória humana, à teologia, à oratória, nem mesmo ao Espírito Santo. 
Jesus é a videira que nutre os ramos. É dele que recebemos a vida e a capacidade de frutificar. Se os ramos estiverem desconectados da videira irão evidentemente secar. Por outro lado, não devemos crer numa ligação puramente espiritual, pois os ramos estão corporalmente conectados à videira e dela recebem a seiva material. Não há qualquer intermediário entre a videira e seus ramos. Aliás, a videira prolonga-se através dos ramos.
Quão bem essa metáfora sintetiza nossa relação com o homem Jesus! Nossa vida é extensão de sua vida. Ele vive em nós! Enquanto isso, um mesmo Espírito Santo passa da videira para os ramos, mantendo essa comunhão.
Nossos cultos precisam pôr em evidência essa comunhão de nossa humanidade com a humanidade de Cristo, vencer todas as distâncias que nos separam do homem Jesus, pelo poder do Espírito Santo. Só assim nossos cultos serão ressurretos.

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


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