domingo, 10 de abril de 2016

SEDE FECUNDOS!

"Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome; e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente" (S. Mateus 21:18-19).



É triste constatar a associação que muitas pessoas insistem em fazer entre Deus e a morte, como tem acontecido entre radicais islâmicos. Mas não só entre eles! Percebo essa associação de Deus à morte entre todos os fundamentalistas religiosos de qualquer tempo. Meditar em Deus paradoxalmente suscita neles ódio. As redes sociais estão cheias dessa perversidade. E como é lamentável que isso ainda exista entre cristãos!
Deus é vida! Ele é fonte de toda a vida. Deus não sabe fazer outra coisa que não seja vida. Todas as suas criaturas são vida; ao menos foi assim que as criou.
Também Deus dotou suas criaturas da capacidade de imitá-lo, concedendo-lhes fecundidade. "Disse também Deus: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves. Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" (Gênesis 1:22,28). 
Fecundidade é a capacidade de produzir vida. Da fecundidade de Deus todas as coisas procedem e são mantidas. Tornamo-nos seus colaboradores à medida em que  buscamos ser fecundos.
Ao falar em fecundidade, a primeira coisa que vem à mente é procriação. De fato, a mais bela fecundidade é a procriação. Nada nos torna mais semelhantes a Deus do que a capacidade de gerar filhos. Mas a fecundidade não se limita à procriação; qualquer atividade criativa é fecunda. Encontramo-la no trabalho, nas amizades, nas palavras, nos gestos, nos olhares, nos afagos, no perdão, nas artes e no pensamento humano.
O amor é sempre a origem da fecundidade.  Ninguém pode ser fecundo se não amar. Por outro lado, qualquer expressão do amor é pura fecundidade, pois o amor é invariavelmente fecundo.
Logo, o que leva a vida de Deus a não fechar-se em si mesma, mas em gerar mais vida, é o amor. Igualmente, nós somos levados à fecundidade pelo amor. Quando nos fechamos em nós mesmos, tornamo-nos infecundos. Somente o amor nos permite doar nossa vida em nossas criações.
No entanto, se Deus é vida e fonte de vida, a quem imitamos ao viver, ao conservar a vida e ao criá-la, existe o pecado, cujo intuito é "matar, roubar e destruir" (S. João 10:10). É o ódio, a inveja, a ganância, o egoísmo, a soberba, a lascívia e outros pecados que infecundam nossas obras. Nossa sociedade está cansada em seus trabalhos não por causa deles, mas da infecundidade que percebe neles. Uma sociedade profundamente individualista, narcisista e hedonista não consegue mais amar de verdade e, por isso, tornou-se estéril. 
Que sente o homem quando percebe que seu trabalho foi em vão? Ele, que foi feito à imagem de Deus, originalmente dotado da capacidade de criar, através do amor, tem que amargar a triste constatação de que tudo foi em vão porque nunca amou, senão a si mesmo. Não teve a ousadia de doar sua vida em suas obras, de maneira a viver nelas.
De que serve a vida quando não é doada? Todo o sentido da vida está na doação da vida em nossas obras, através do amor. Deus nos fez fecundos e quer-nos fecundos! Mas não há outro caminho senão o amor, que nos obriga à entrega. Fecundidade pressupõe entrega!
Entretanto, há algo ainda pior em nossa sociedade: ela tem destruído a vida. Políticas de controle de natalidade, legitimação do aborto, eutanásia, suicídio assistido, intolerância religiosa, injustiça social e xenofobia são formas mais escrachadas de luta contra a vida. Mas existem formas sutis: divórcios, fragilização da estrutura familiar, dissolução das sociedades (dentre as quais fulgura a Igreja), afastamento geográfico e afetivo de nossas origens, relaxamento e relativização dos vínculos afetivos, laicismo, desconstrução cultural, massificação, eugenia, vandalismo, uso irresponsável dos recursos naturais, etc. Cabe a cada um de nós refletir em que aspectos temos combatido a vida.
O homem está tendo que lidar com a frustração da infecundidade. Nunca trabalhou tanto, mas também nunca foi tão infecundo.
É assim que Deus nos castiga, permitindo que soframos a consequência de nossos pecados. Dá-nos o exemplo da figueira infrutífera, que não cumpriu sua missão de viver para o outro, oferecendo-lhe frutos. Fechou-se em si mesma, não quis doar sua vida, mas a guardou consigo.
Vida é frequentemente comparada à água, na Escritura. De fato, belo exemplo de vida, porque a tudo fecunda por onde passa. É vida que se entrega abundante e constantemente. Mas tente um dia guardar uma porção de água em uma vasilha fechada. Vá ao rio, pegue um pouco da água e tente guardá-la. A água apodrece! Também o maná, alimento vindo do Céu, vida ao povo de Israel, apodrecia quando era guardado.
O mesmo se dá conosco, quando resolvemos guardar a nossa vida em nós mesmos, recusando-nos à fecundidade da entrega, da feliz partilha da vida que recebemos, somos e temos. 
Que Deus se apiede de nós. Amém!

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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