sábado, 20 de fevereiro de 2016

A TENTAÇÃO DA IGREJA NO DESERTO - PARTE 3

"Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto. Com isso, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram" (S. Mateus 4:8-11).


Como ousou o diabo propor algo do tipo a Deus? Como pôde passar por sua mente que o próprio Deus haveria de adorá-lo? Repito que o diabo certamente não acreditava na união mística entre a humanidade e a Divindade de Jesus em uma única pessoa, absolutamente indivisa. Com certeza ele acreditava que o Homem Jesus não era Deus e que poderia cair em tentação grosseira, coisa que jamais aconteceria com Deus. Aqui está o primeiro nestoriano da História. Novamente convido quem tiver interesse no assunto, que leia os textos: "Eis que estou convosco até à consumação do século partes 1, 2 e 3", publicados neste blog nos meses de abril e maio do ano passado.
Após ter tentado Jesus a usar seu poder com o intuito de saciar uma fome sua, sem um propósito redentor, ele apelou à sua humanidade, tentando-a à soberba espiritual. Nada conseguindo, lançou a última tentação, a mais grosseira de todas, em que recorreu aos sentidos de Jesus, com o propósito de fazê-los fervilhar. Ofereceu dar a Jesus o seu reino, que é este mundo, com toda a sua glória e pompa, contanto que o adorasse. O diabo inicialmente foi sutil, querendo provocar incredulidade na Palavra de Deus e soberba espiritual. Agora recorre ao prazer dos sentidos.
Muitos nos criticam por termos as Escrituras como única autoridade doutrinária, não aceitando qualquer doutrina que não tenha firme fundamento escriturístico, ainda que venha do maior santo que pisou esta terra, mas não estamos sozinhos nessa! Percebemos que Jesus também tinha as Escrituras como autoridade doutrinária única, subordinando-se a elas. Ele, que é a Verdade em pessoa, nunca discursou à parte das Escrituras, não introduziu uma doutrina sequer sem recorrer à autoridade delas. Com o diabo, Jesus lidou com as Escrituras, não com uma argumentação livre, embora seja ele verdadeiro Deus e pudesse fazê-lo. Mas não é essa a questão de hoje.
Jesus foi tentado à idolatria do prazer sensível. O prazer da alma está em Deus, através da fé. No entanto, o corpo se deleita naquilo que é sensível. Não é pecado dar prazer a este nosso corpo. O problema está em privar a alma de seu prazer. A alma crente deve assumir a dianteira! Caso contrário, a razão corporal irá voltar-se ao mundo sensível, munida de seus sentidos, para transformá-lo em objetivo último, ou seja: em seu deus. É por isso que Jesus nos ensinou: "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (S. Mateus 6:34).
O diabo tenta a Igreja a não confiar na Palavra de Deus, desviando-a para seu conhecimento e obras. No entanto, quando a Igreja cai nessa tentação, não perde sua forma e o onipotente Evangelho permanece no mundo. A Igreja fica fragilizada, mas seu testemunho continua. É claro que o diabo não se dá por satisfeito diante desse resultado. Seu objetivo principal é destruir a Igreja em sua forma, aniquilando seu testemunho evangélico. O que ele não consegue fazer contra a Santa Assembleia, ele o faz contra cada um de nós, em nosso cotidiano. Assim, ele procura destruir a Igreja por completo através de suas partes, provocando baixas. São Pedro nos alertou sobre isso: "Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar" (1 Pedro 5:8).
Portanto, o diabo primeiro fragiliza a Igreja, desviando-a da Palavra de Deus. Depois inicia o assalto: alma por alma.
Hoje com tristeza contemplamos igrejas que foram transformadas em bares e museus. O diabo não poderá destruir a Igreja, porque há Promessa quanto a isso: "Também eu te digo que és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (S. Mateus 16:18). Podemos descansar nessa Promessa! Mas ele pode destruir paróquias inteiras. Para isso ele tem uma estratégia excelente: primeiro enfraquece a fé, aparta do bando, para depois atacar. 
Vivemos em um mundo pagão, onde se busca o prazer como fim. É um mundo terrivelmente hedonista! A verdade é que o mundo sempre foi assim. Onde a verdadeira fé ou, pelo menos, um conhecimento intelectual de Deus não existem, hão de imperar os sentidos, agarrando-se ao único prazer que conhecem, que é o prazer sensível, transformando-o em seu deus. Isso se chama hedonismo.
Qualquer cristão está sujeito à tentação dos sentidos, porém os mais vulneráveis são aqueles que estão fracos na fé. O diabo primeiro enfraquece a fé dos cristãos, fazendo com que os mistérios desapareçam, que as ciências humanas substituam as Escrituras, que as confissões de fé sejam desprezadas; enfim: fazendo com que a Igreja se secularize. Depois amontoa escândalos nela, fazendo com que caia em descrédito. Por fim, diante de um rebanho enfraquecido e sem pastor, ele ataca ovelha por ovelha com a arma da sensualidade, dando o golpe final. Dificilmente se salva uma alma que dessa forma cai nas mãos do diabo, porque o prazer dos sentidos é escravizante.
O homem deixa de ser homem quando cai na idolatria do prazer? É claro que não! Continua tão racional quanto antes! Então procura justificar seu comportamento através da flexibilização da moralidade. Trata-se de uma sequência lógica: secularização, individualismo, subjetivismo, niilismo e hedonismo, que condiciona e reconcilia o pensamento humano. Todo esse processo não ocorre da noite para o dia.
Por favor, não reduza o conceito de hedonismo a uma vida dissoluta, como sendo algo distante de sua realidade. O culto ao prazer é, antes de mais nada, o culto à felicidade, que é compreendida como fruição solitária e egoísta de um bem-estar. O hedonismo, obviamente, não comporta o outro, senão como meio para se alcançar a felicidade.
Como os prazeres do mundo têm preço, o dinheiro torna-se o sacramento do hedonismo. Na opinião popular, dinheiro traz felicidade. Toda essa corrida desenfreada pelo dinheiro que percebemos no mundo é mantida pelo hedonismo, pelo culto ao prazer. Aqui sim está o fanatismo, porque a obtenção desse sacramento leva o hedonista a fazer qualquer coisa, inclusive matar. 
A resposta de Jesus deve ser  a nossa, principalmente no âmbito privado: "Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto"
Em tempos de crise é fundamental que nos voltemos à nossa essência, à nossa fé. Se a Igreja perde seu brilho perante o mundo, devido à sua secularização e aos escândalos, devemos individualmente assumir uma postura mais radical e agressiva: Eu tenho um Deus e somente a ele prestarei culto! Deus não quer nosso fanatismo, mas nossa firmeza contra os ventos do mundo. Quanto mais fortes forem esses ventos, mais profundas deverão ser nossas raízes, para que não sejamos levados por eles. É uma questão de sobrevivência não fazer concessão alguma a este mundo.
Deus continuará sendo o meu Deus. Eu continuarei sendo filho desse Deus. O outro continuará sendo meu irmão. Nada irá me demover dessa fé e desse pensamento! 

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.




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