"Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente" (S. Tiago 2:21-24).
"Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus. Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. E é assim que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribuiu justiça, independentemente de obras. Vem, pois, esta bem-aventurança exclusivamente sobre os circuncisos ou também sobre os incircuncisos? Visto que dizemos: a fé foi imputada a Abraão para justiça. Como, pois, lhe foi atribuída? Estando ele já circuncidado ou ainda incircunciso? Não no regime da circuncisão, e sim quando incircunciso. E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça" (Romanos 4:1-3, 6, 9-11).
Supondo que a carta de S. Tiago tenha de fato origem apostólica, o que não é certo, isso é notório, é de se esperar que houvesse um debate entre S. Tiago e S. Paulo, por suas opiniões divergentes.
São Tiago parece afirmar que o homem não é justificado somente pela fé, mas que deve colaborar com boas obras. Desenvolvendo a ideia, concluiríamos que a justificação seria fruto não só da fé, mas da bondade humana, que seria aceita por Deus como bondade absoluta à qual lhe cabe recompensar. Duas justiças atuariam juntas: a Justiça de Cristo, que é imputada ao homem por Deus, e a justiça humana. Em outras palavras, levando o raciocínio às últimas consequências, haveria uma equivalência entre Justiça divina e justiça humana ou a Justiça divina teria que ser complementada pela justiça humana.
Por outro lado, está S. Paulo que atribui tudo à fé. Somente ela justifica e toda a justiça válida perante Deus vem dele mesmo, é Deus quem imputa ao homem a perfeita Justiça de Cristo, tornando-o tão justo quanto Cristo. Nenhuma obra anterior a esse ato de Deus, nenhuma obra posterior a esse ato de Deus, tem o poder de justificar, mas somente a fé, que apreende a Justiça de Cristo. É necessário ao homem participar de Cristo para ser justo perante Deus. Essa participação só é possível ao que crê. Não há duas justiças que justificam, mas uma só: a de Cristo, que é perfeita. Também cita Abraão como exemplo, mas de maneira diferente do que fez S. Tiago, porque diz que Abraão foi declarado justo por Deus antes mesmo de ele ser circuncidado, antes da Lei, antes das obras da Lei, quando ele somente creu. Aqui S. Paulo nega enfaticamente o poder da Lei de justificar e salvar. Em outra parte, ele diz: "E é evidente que, pela Lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé" (Gálatas 3:11).
Não devemos esperar por um debate entre esses dois, porque cremos que Deus Espírito Santo dirige a história da Sagrada Escritura e foi ele quem colocou em seu cânon as epístolas paulinas e essa epístola atribuída a S. Tiago. Dentro deste espírito, não devemos afirmar que um dos dois está errado, que um dos dois é herege, que a carta de S. Tiago não deveria estar nas Escrituras, muito menos que as epístolas paulinas fossem extirpadas. O lógico é concluir que S. Tiago deve ser entendido à luz do que afirmou S. Paulo, e vice-versa. São Tiago e S. Paulo devem estar dizendo a mesma coisa. Caso contrário, um dos dois é herege, o que é inadmissível. Portanto, a contradição entre S. Tiago e S. Paulo é apenas aparente, fruto de uma leitura rápida, desatenta e tendenciosa. Quer dizer, a contradição se encontra no leitor e não nos autores.
Não devemos esperar por um debate entre esses dois, porque cremos que Deus Espírito Santo dirige a história da Sagrada Escritura e foi ele quem colocou em seu cânon as epístolas paulinas e essa epístola atribuída a S. Tiago. Dentro deste espírito, não devemos afirmar que um dos dois está errado, que um dos dois é herege, que a carta de S. Tiago não deveria estar nas Escrituras, muito menos que as epístolas paulinas fossem extirpadas. O lógico é concluir que S. Tiago deve ser entendido à luz do que afirmou S. Paulo, e vice-versa. São Tiago e S. Paulo devem estar dizendo a mesma coisa. Caso contrário, um dos dois é herege, o que é inadmissível. Portanto, a contradição entre S. Tiago e S. Paulo é apenas aparente, fruto de uma leitura rápida, desatenta e tendenciosa. Quer dizer, a contradição se encontra no leitor e não nos autores.
Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.
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