Desconheço uma catequese sobre o Batismo melhor que esta. Biblicamente, o Batismo é meio da graça, meio pelo qual Deus transmite a salvação, assim como a Pregação, a absolvição, a Eucaristia e o próprio Cristo, que é homem, o verdadeiro Sacramento, o Sacramento por excelência. Dr. Lutero debate aqui contra aqueles que consideram o Batismo mero sinal de uma graça invisível de Deus. Deus não opera a salvação de maneira imediata, ou seja: sem meios, à parte de sua Palavra. Assim como Deus deu o homem Jesus como meio da graça, ele dá o texto do Evangelho, a Pregação do Evangelho, o Batismo e a Eucaristia como meios de transmissão de sua graça. O sinal não tem valor em si mesmo, mas por ser o portador da Palavra de Deus, assim como a humanidade de Cristo é portadora da Palavra de Deus, encontrando nela todo o seu valor. Portanto, Dr. Lutero enlaça a doutrina dos sacramentos à cristologia de maneira muito impressionante e comovente.
Vai além! Ele dá valor sacramental a tudo o que o cristão faz em obediência à Palavra de Deus e em confiança à sua Promessa. Assim como o Batismo é uma coisa externa, a água, acrescida da Palavra de Deus, que confere poder a essa água, a esposa, o marido, os filhos, os pais, o próximo, as autoridades civis e eclesiásticas são coisas externas às quais Deus acresce a sua Palavra. Nossa fé é fortalecida pela Palavra de Deus quando a recebemos por meio desses muitos sinais que Deus nos apresenta. Até a pessoa mais vil do mundo pode ser um sinal para mim e um verdadeiro sacramento quando distingo nela a Palavra de Deus.
Vai além! Ele dá valor sacramental a tudo o que o cristão faz em obediência à Palavra de Deus e em confiança à sua Promessa. Assim como o Batismo é uma coisa externa, a água, acrescida da Palavra de Deus, que confere poder a essa água, a esposa, o marido, os filhos, os pais, o próximo, as autoridades civis e eclesiásticas são coisas externas às quais Deus acresce a sua Palavra. Nossa fé é fortalecida pela Palavra de Deus quando a recebemos por meio desses muitos sinais que Deus nos apresenta. Até a pessoa mais vil do mundo pode ser um sinal para mim e um verdadeiro sacramento quando distingo nela a Palavra de Deus.
"Não a partir das obras [v.5]. Banho regenerador. Tendes, aqui, o enaltecimento do Batismo, que é feito de um modo que dificilmente encontro no Novo Testamento. Ocultos sob o simulacro do amor, os inimigos da graça de Deus chegaram antes de nós e perverteram todas essas passagens. Por essa razão, esta passagem é um resumo das demais e uma conclusão. Entretanto, somos salvos pela misericórdia, diz ele. Mas por que caminho a misericórdia chega até nós? 'Pelo banho regenerador'. Eles argumentam: 'Banho regenerador pode referir-se à Palavra, ao Evangelho, ao Espírito Santo - a saber, ao fato de sermos batizados no Espírito. Ademais, se [o Espírito] é conferido, a afirmação de que o Batismo é lavar da regeneração significa que ele é o sinal daqueles que são regenerados'. Em outras palavras: atribui-se o banho dos regenerados àqueles que são regenerados por meio do Espírito Santo. E, se então, perguntamos através de que autoridade eles estabelecem essa interpretação, não tem ninguém em casa [para atender-nos]. Daí dizerem que nenhuma obra externa justifica ou traz algum benefício. E, contudo, o Batismo com água é uma 'coisa' desse tipo. Logo, sempre quando se faz menção do Batismo, [dizendo] que ele justifica, eles o glosam, como, [por exemplo], em Pedro [1 Pe 3:21]. Leem, ali, que o 'Batismo é o selo impresso pelo qual se declara que sois batizados pelo Espírito'. Também eu posso fazer uso dessa arte, até melhor, mas prefiro buscar obter deles uma prova quanto ao que dizem. Eu bem poderia dizer o seguinte: 'O sangue de Cristo não traz nenhum benefício, visto que é uma coisa externa. Cristo foi concebido pelo [Espírito Santo], como oramos; portanto, de nada serve seu sangue'. Tal é sua insensatez! Também nós dizemos que uma coisa externa nada é se ela estiver sozinha. Nesse caso, ela é totalmente inútil. E, no entanto, no momento em que estiver ligada à vontade de Deus, ela passa a servir e a trazer benefício por causa da vontade que lhe foi acrescentada (...). Diante desse argumento, não respondem com uma palavra sequer, continuando, apenas, a insistir no bordão da 'coisa externa'(...). Se, porém, Deus fixa sua Palavra a uma árvore, esta deixa de ser uma coisa meramente externa. Dá-se, antes, o contrário: surge aí, por meio da Palavra, a presença da vontade e da misericórdia de Deus, como ocorre no Batismo, que não é apenas água pura, pois [nele] está presente o nome ou todo o poder divino, o qual foi ajuntado ao Batismo pela Palavra, sendo o próprio Deus aquele que batiza. Atentai bem nisso, pois eles não ouvem, mas fixam-se rigidamente em sua ideia de que uma coisa externa nada vale. Acautelai-vos da loucura deles, pois uma coisa externa, quando tomada e ocupada pela Palavra de Deus, é salutar. Se a humanidade de Cristo fosse privada da Palavra, ela seria uma coisa vã. Agora, porém, somos salvos pelo seu sangue e corpo, uma vez que a esses foi juntada a Palavra. Assim, no Batismo, está presente a Palavra de Deus, pela qual é santificada a água, e, na água, nós.
Caso demonstreis que uma coisa externa não traz benefício por si mesma, mas pelo acréscimo da Palavra e da vontade divinas, tereis, também, destruído tanto o argumento deles como aquela sua glosa indevida. Trata-se do mesmo espírito de que Müntzer estava imbuído. Achava que era preciso isolar-se num canto qualquer, e que não se devia ler a Escritura nem ouvir a Palavra externa, mas olhar para o céu e, dali, receber o Espírito Santo. Só então haveria de olhar para o livro e, só então seria possível [ouvir], etc. Eles querem receber o Espírito Santo de modo puro e simples, sem nenhuma mediação, de sorte que Deus fale com eles à parte da Palavra e do Batismo. Aí temos os müntzerianos de hoje, visto que querem possuir o Espírito Santo por meio daquela solidão que esperam chegar ao seu coração. Não esperam, contudo, nada de fora (...). Pobres e míseros homens! Eles são forçados a confessar que nunca ouviram nada acerca de Cristo e dos sacramentos a não ser pela Palavra; e que jamais poderiam entender essas ideias senão por meio da Palavra. Mas aquilo que eles têm mediante seu próprio espírito, isso nós vemos: eles negam a humanidade de Cristo. Nós, porém, não chegamos a Deus a não ser por meio de Cristo. Deus o enviou ao mundo para que fosse Salvador, Is [62:11]. Se pudéssemos chegar ao Céu sem uma coisa exterior, Deus não teria tido a necessidade de enviá-lo. Mas Deus colocou-o na carne, na manjedoura. Depois, quando tirou o pecado e a morte, ele também o ofereceu através da sua Palavra no Batismo e no Sacramento, de modo que, por esses atos, tivéssemos certeza de que seu próprio Espírito chega até nós por esta Palavra, etc. Não busques o Espírito através dos exercícios da solidão ou por meio de preces. Antes, lê a Escritura. Quando uma pessoa sentir que as coisas que lê lhe são agradáveis, dê graças, pois esses são os primeiros frutos do Espírito. Essas coisas não te podem agradar a menos que o Espírito Santo tenha agido em ti. Quem ouve com prazer, ouve como uma nova [pessoa]. Isso é dom do Espírito Santo, e então é hora de orar: 'Senhor Jesus, tu me deste o conhecimento a teu respeito e a satisfação de conhecer-te. Aumenta [meus conhecimentos], preserva-os e fortalece-os'". (Dr. Lutero, Anotações de Lutero sobre a Epístola de Paulo a Tito, Obras Selecionadas volume 10, Editora Concórdia. Tradutor: Luís H. Dreher).
Autoria da introdução: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.
Caso demonstreis que uma coisa externa não traz benefício por si mesma, mas pelo acréscimo da Palavra e da vontade divinas, tereis, também, destruído tanto o argumento deles como aquela sua glosa indevida. Trata-se do mesmo espírito de que Müntzer estava imbuído. Achava que era preciso isolar-se num canto qualquer, e que não se devia ler a Escritura nem ouvir a Palavra externa, mas olhar para o céu e, dali, receber o Espírito Santo. Só então haveria de olhar para o livro e, só então seria possível [ouvir], etc. Eles querem receber o Espírito Santo de modo puro e simples, sem nenhuma mediação, de sorte que Deus fale com eles à parte da Palavra e do Batismo. Aí temos os müntzerianos de hoje, visto que querem possuir o Espírito Santo por meio daquela solidão que esperam chegar ao seu coração. Não esperam, contudo, nada de fora (...). Pobres e míseros homens! Eles são forçados a confessar que nunca ouviram nada acerca de Cristo e dos sacramentos a não ser pela Palavra; e que jamais poderiam entender essas ideias senão por meio da Palavra. Mas aquilo que eles têm mediante seu próprio espírito, isso nós vemos: eles negam a humanidade de Cristo. Nós, porém, não chegamos a Deus a não ser por meio de Cristo. Deus o enviou ao mundo para que fosse Salvador, Is [62:11]. Se pudéssemos chegar ao Céu sem uma coisa exterior, Deus não teria tido a necessidade de enviá-lo. Mas Deus colocou-o na carne, na manjedoura. Depois, quando tirou o pecado e a morte, ele também o ofereceu através da sua Palavra no Batismo e no Sacramento, de modo que, por esses atos, tivéssemos certeza de que seu próprio Espírito chega até nós por esta Palavra, etc. Não busques o Espírito através dos exercícios da solidão ou por meio de preces. Antes, lê a Escritura. Quando uma pessoa sentir que as coisas que lê lhe são agradáveis, dê graças, pois esses são os primeiros frutos do Espírito. Essas coisas não te podem agradar a menos que o Espírito Santo tenha agido em ti. Quem ouve com prazer, ouve como uma nova [pessoa]. Isso é dom do Espírito Santo, e então é hora de orar: 'Senhor Jesus, tu me deste o conhecimento a teu respeito e a satisfação de conhecer-te. Aumenta [meus conhecimentos], preserva-os e fortalece-os'". (Dr. Lutero, Anotações de Lutero sobre a Epístola de Paulo a Tito, Obras Selecionadas volume 10, Editora Concórdia. Tradutor: Luís H. Dreher).
Autoria da introdução: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.
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