quarta-feira, 6 de março de 2019

IGREJA CATÓLICA OU IGREJAS CATÓLICAS? (PARTE 1)

O que é a Igreja? Para alguns, uma instituição. Para outros, algo inteligível, não palpável. Não é uma pergunta fácil de se responder.
Igreja é, segundo o pensamento luterano, a sociedade dos fiéis. Aqueles que creem em Cristo compõem uma sociedade que se chama Igreja. Nela se encontra o Evangelho. Este é seu grande distintivo.
Entretanto, há uma Igreja que é católica, uma só! A Igreja é uma coisa mais ampla que a Igreja Católica. É perfeitamente possível ser Igreja, sem ser católico. Então é necessário que analisemos o que significa ser Igreja Católica.






O termo "Igreja Católica" aparece pela primeira vez nos escritos de Santo Inácio de Antioquia. Ela designa a concretude daquilo que foi anunciado pelos profetas: a conversão dos gentios, o amor de Deus difundido entre as nações, o sacrifício de louvor prestado em toda parte, não só dentro dos muros de Jerusalém. Tem, portanto, uma conotação inicial de universalidade do culto. Para essa universalidade apontam os quatro cantos da cruz de Cristo, no dizer de São Gregório de Nissa: Cristo reinando no centro do cosmos sobre as potestades, sobre os infernos e sobre a terra inteira, do oriente ao ocidente.
Além da ideia de universalidade do culto, o termo expressa também a unidade de pensamento ou a unidade doutrinária. Quando os hereges começaram a surgir, ameaçando a unidade da Igreja, o termo "católico" passou a designar a doutrina correta ou verdadeira, em oposição ao que era herético ou mentiroso. Assim, a unicidade católica tem a ver com a unicidade da verdade, porquanto não há duas verdades, mas uma só! Sempre haverá quem está certo e quem está errado. A busca da verdade não comporta um talvez, é um esforço pelo absoluto.
Temos aqui um lindo testemunho sobre o que é a Igreja Católica, por São Cipriano de Cartago:

"A Igreja é uma, embora compreenda uma multidão sempre crescente com o aumento de sua fecundidade. Assim, como há uma só luz nos muitos raios de sol, uma árvore em muitos ramos, um só tronco fundamentado em raízes tenazes, muitos rios de uma única fonte, assim também esta multidão guarda a unidade de origem, se bem que pareça ser dividida por causa da abundância inumerável dos que nascem com prodigalidade" (A Unidade da Igreja Católica).

A Igreja Católica teve seu território muito bem delimitado no primeiro milênio da Era Cristã, quando então o Império Romano ainda existia e a Igreja estava ligada ao Estado. O esfacelamento do Império Romano e o Cisma do Oriente atingiram a unidade visível da Igreja Católica. Por conseguinte, tornou-se necessário crer nessa unidade. É o que professamos no Credo Niceno: "Creio em uma Santa Igreja Católica e Apostólica". Um artigo de fé não menor que os demais.
A catolicidade da Igreja é algo tão imutável quanto a verdade. Não posso admitir que somos hoje mais católicos que Santo Estêvão ou São Tiago. O que eles tinham de católicos, nós temos hoje, sem qualquer variação. Sendo assim, não posso conectar a catolicidade às tradições e ritos, que sempre foram variados e que mudam ao longo do tempo. Não posso também conjugá-la ao episcopado, pois este também se dividiu. Hoje temos diferentes episcopados de sucessão apostólica que arrogam a si o genuíno catolicismo. Mas como pode ser católica uma das partes e a outra não, se derivam de um todo católico? Se o todo católico se dividir em duas partes, ambas serão católicas ou nenhuma! É assim que se pode contemplar a problemática envolvendo católicos romanos e ortodoxos. Também não posso conectar o catolicismo ao magistério evolutivo da Igreja, pois este é, obviamente, mutável e não consensual.
Temos, então, de partir do pressuposto que a Igreja Católica é um ser que nasceu pronto e não muda. Em outras palavras, os elementos constitutivos do catolicismo necessariamente existem desde os tempos apostólicos e não podem sofrer variação. Muda-se a forma, não a essência. Compreende-se mais e melhor, sem alteração de conteúdo. 
Definir os elementos constitutivos de um ser não é tarefa simples. Procurar intelectualmente aquilo que constitui o ser é tarefa árdua. Ouso levantar alguns elementos que unem nosso catolicismo ao de Santo Estêvão, sem ter a presunção de, em poucas linhas, esgotar o tema. Longe disso, aliás!
Na próxima postagem, iremos tratar dos elementos distintivos da Igreja Católica.

Autoria: Carlos Alberto Leão
Imagem extraída da internet.




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