sábado, 23 de março de 2019

IGREJA CATÓLICA OU IGREJAS CATÓLICAS (PARTE 2)

Dando prosseguimento ao texto anterior, iremos apresentar agora aqueles elementos que definem a Igreja Católica.




1 - Fé na Trindade: 
A Igreja Católica professa a existência de uma só essência divina em três hipóstases: Pai, Filho e Espírito Santo. Os três são Deus, porém não três deuses idênticos. O que uma das hipóstases é substancialmente, todas são, porém sem multiplicidade. É de fato, um grande mistério.

2 - Fé na Encarnação do Filho: 
A Igreja Católica crê que o Filho tornou-se homem, cujo nome é Jesus. Ele é verdadeiro Deus, gerado do Pai e consubstancial a ele. Também é verdadeiro homem, gerado de Maria e consubstancial a ela. Não há mistura das naturezas divina e humana. Jesus é Deus e homem em uma só pessoa indivisa: corpo, alma e Divindade. Destarte, Maria é mãe de Deus, pois na pessoa de Jesus não há divisão alguma.

3 - Fé no pecado original: 
A Igreja Católica ensina que o pecado do primeiro homem, Adão, acarretou uma corrupção profunda de sua natureza, produzida pela privação da Divindade. Afastando-se o homem da fonte, definhou e morreu. Afastando-se da luz, foi tomado por densas trevas. Tal corrupção foi legada a todos os homens, indistintamente, já sendo real à concepção. 
Uma vez privado da Divindade e corrompido por sua privação, o homem segue pecando e não consegue mais aproximar-se de Deus por meios próprios. 
A Igreja Católica ensina que os pecados são uma grave ofensa ao Criador, pois destroem aquilo que ele fez com muito amor, sobretudo a sua Imagem, que é o homem. Também ensina que o pecado atrai sobre nós o domínio do diabo, que subjuga o homem através de sua fraqueza, incitando-o ao pecado e, como consequência, enfraquecendo-o cada vez mais. Quando o diabo é chamado de "deus deste século", por "século" a Igreja quer significar a humanidade corrompida pelo pecado, que encontra-se sob o cativeiro satânico.
Ressalte-se que a Igreja não aceita a ideia de corrupção da substância humana. Esta permanece tão santa como no dia de sua criação. A corrupção é, antes, uma privação do Bem. A substância está sob trevas, mas não é treva. Em si mesma, permanece o que é: Imagem de Deus.
A ideia de uma existência positiva do mal ou de uma natureza humana infectada pelo pecado não faz parte do pensamento católico. Para a Igreja Católica, o mal é sempre um não-ser ou privação do ser. A visão positiva do mal está associada à heresia gnóstico-maniqueísta.
Até mesmo a ideia de "ofensa", com suas implicações legais, deve ser compreendida no sentido negativo. Ao ofender, o homem não produz, mas destrói. E as implicações legais advêm dessa destruição.

4 - Fé na redenção: 
A Igreja Católica prega que o Verdadeiro Filho de Deus tornou-se verdadeiro homem, gerado de Maria, para redimir o homem. É Jesus Cristo, o segundo Adão, aquele que veio para restabelecer a comunhão entre homem e Deus. Ele é de fato um mediador entre Deus e o homem, porque possui ambas as naturezas, sem qualquer mistura, em perfeita harmonia. Em Jesus Cristo, Divindade e humanidade se unem eternamente. 
Jesus Cristo é chamado segundo Adão porque representa todos os homens, em sua obediência e satisfação. Obedeceu à Lei eterna de Deus, em seu sentido mais profundo. Graças a ele é que se pode dizer que um homem cumpriu a Lei! Satisfez pela culpa na cruz, sendo o único sacrifício aceitável por Deus para expiação dos pecados. 
Essa satisfação é entendida pela Igreja Católica de várias formas, que se complementam. Num sentido metafísico, a crucificação de Jesus significa a morte da carne ou a morte da morte. Num sentido legal, Jesus foi morto injustamente pela Lei, tornando-a transgressora de si mesma e, por conseguinte, esta perdeu o direito de reivindicar. Se a Lei transgredida é a base do domínio satânico, a Lei transgressora é o direito que Deus obtém para desbancá-lo. Num sentido expiatório, a condenação de Jesus é entendida como a justa punição de todos os pecados humanos. Somente uma obra infinita, padecida pelo próprio Deus, poderia satisfazer por tão infinita ofensa e restabelecer a ordem cósmica. 
Entretanto, toda a compreensão humanamente possível da obra de Cristo exige que este seja verdadeiro homem e verdadeiro Deus. É o Deus que vence a morte e a Lei, que reivindica a pena. É o homem que morre, que cumpre a Lei e que é castigado.

5 - Fé na justificação somente pela fé: 
A Igreja Católica confessa categoricamente que a Justiça não é conquistada pelo homem, mas lhe é concedida por Deus, por meio da fé. Quando o homem crê, é-lhe imputada a Justiça de Cristo, por meio da qual ele é plenamente justificado. As boas obras não tornam o homem justo perante Deus, mas decorrem dessa justiça outorgada. A Igreja também confessa que nenhum mérito humano é capaz de gerar a fé. A fé é um dom gratuito de Deus. Ela apreende a  verdadeira Justiça, que também é dom de Deus. Dessa justiça provêm as verdadeiras obras e delas, os méritos. Portanto, os méritos são procedentes da fé, não precedentes. A Igreja também confessa unanimemente que a perseverança na fé é outorgada por Deus. Deus é a fonte de onde a Igreja extrai a sua vida.
A Igreja também ensina que os mandamentos são cumpridos somente pelo amor, mais precisamente pelo amor a Deus, que denominamos Caridade. Essa Caridade não é algo que nossa natureza enfraquecida é capaz de produzir, mas é infusa em nossos corações, por ação do Espírito Santo. 
A Igreja não adota os mandamentos que foram ordenados ao povo judeu, na Antiga Aliança. Ela se atém a dois mandamentos somente: amar a Deus e amar ao próximo. A obediência exterior e servil dos judeus é  um simulacro muito rudimentar da verdadeira obediência, que consiste no amor. Somente o amor infuso nos corações é capaz de levar-nos a praticar o verdadeiro bem. Por conseguinte, a Igreja não obedece por coação ou medo, mas livremente e por amor. Amor este que não provém dela, mas é infuso pelo Espírito Santo.
Como sinal de rompimento com a Lei dos judeus, a Igreja nunca observou o sábado, como se verifica em escritos de Santo Irineu. Também adota o uso de imagens como testemunho de seu rompimento com a Lei. A Igreja Católica não é iconoclasta. Ela é livre quanto ao uso de imagens, mas não quanto à proibição. 

6 - Fé nos sacramentos: 
A Igreja Católica confessa que os sacramentos do Batismo e da Eucaristia não são meros ritos. Eles são os instrumentos usados por Deus para infundir fé, Caridade e Justiça no homem. Portanto, aquilo que Deus concede ao homem com o intuito de salvá-lo, Deus não o faz imediatamente, mas por meio dos sacramentos. Os sacramentos inserem o homem no mistério de Cristo, em sua vida, morte, ressurreição e assunção. Em outras palavras, os sacramentos comunicam ao homem o que é próprio de Cristo.
Para a Igreja Católica, o homem é devolvido à verdadeira vida por meio do Batismo. Depois é aperfeiçoado ou imortalizado pelo sacramento da Eucaristia. O Batismo é o início, a Eucaristia é o meio, a ressurreição é o fim. Portanto, o sacramento final e definitivo é a ressurreição da carne.
Como os sacramentos são necessários à salvação, ninguém deve ser privado deles, nem mesmo as crianças. 

7 - Fé em um só Batismo: 
A unicidade da Igreja depende da unicidade sacramental. Os eventos de nossa Salvação foram únicos: um único nascimento, uma única paixão, uma só morte, uma ressurreição somente e uma única assunção. Portanto, é necessário que os sacramentos que nos ofertam esses eventos únicos também sejam únicos. Segundo Santo Ambrósio: "Ora, uma só vez foi Cristo crucificado, uma só vez 'morreu pelo pecado'; por isso há um só Batismo, e não muitos" (Sobre a Penitência). Consoante a isso, a Igreja Católica tem somente um Batismo e jamais rebatiza alguém.

8 - Fé na Eucaristia: 
A Igreja Católica ensina que Cristo está presente substancialmente nos elementos consagrados: pão e vinho. Não é uma ascensão do intelecto aonde Cristo está, mas um descenso dele até nós. É por isso que a Igreja Católica usa o termo "transformação", para indicar que não subimos ao Céu, mas que Cristo desce e vem ao nosso encontro com seu corpo e sangue. O pão se transforma em corpo, porque o corpo desce e vem a nós. O vinho se transforma em sangue, porque o sangue desce e vem a nós. Então, a ideia central da "transformação" é que o Verbo, assim como um dia desceu do Céu ao ventre virginal de Maria, ele novamente desce ao pão e ao vinho. Os elementos eucarísticos tornam-se como que o ventre onde Jesus é abrigado.
A Igreja Católica também confessa que a Eucaristia é um sacrifício de louvor universal. É o cumprimento da profecia: "Pois, de onde nasce o sol até onde ele se põe, o meu nome é glorificado entre as nações, e em todo lugar se oferece a meu nome um sacrifício puro, porque meu nome é glorificado entre as nações - diz o SENHOR dos exércitos" (Malaquias 2:11). É um testemunho ao mundo que Cristo padeceu e morreu para nos salvar. Este caráter sacrifical é sinalizado pelas palavras de Cristo: "em memória de mim". Ele quer ser louvado e anunciado por meio da Eucaristia.  
A Eucaristia é um sacrifício expiatório no sentido estrito de que ela nos concede o Cristo imolado, conferindo-nos o perdão que emana de seu sacrifício único. Há um movimento bilateral: um sacrifício expiatório, em que o Cristo imolado é dado ao povo, para o perdão dos pecados. Um sacrifício de louvor, em que o povo louva a Deus e o proclama entre as nações. A ênfase da Igreja sobre um movimento ou outro pode variar ao longo do tempo, mas não é católico negá-los.
Ressalte-se que a Igreja não é capaz de colaborar com sua expiação. Ela somente a recebe pela fé e dá graças (passividade). Portanto, a visão de um sacrifício expiatório realizado pela Igreja, mais especificamente pelo sacerdócio, é estranha ao verdadeiro catolicismo. A obra eucarística se limita ao louvor e anúncio, contanto que haja fé

9 - Fé na ressurreição: 
A Igreja Católica ensina que o homem morto haverá de ressurgir com seu mesmo corpo. Os elementos que constituem o corpo humano separam-se através da morte e serão reunidos através da ressurreição. Não haveremos de receber um novo corpo, mas teremos este nosso mesmo corpo refeito, sem a corrupção do pecado.
A ressurreição do corpo é uma das mais eloquentes provas de que a substância humana permanece intacta e que o mal é uma realidade negativa, posto que nada de nosso ser será rejeitado.
A doutrina da ressurreição também não se limita ao corpo humano. A Igreja ensina a ressurreição cósmica, em que todo o universo será purificado da desordem promovida pelo pecado. A Igreja não prega um Céu afastado deste mundo, mas ensina que este mundo será santificado pelo poder divino, tornando-se novos céus e nova terra.
A ressurreição não é somente um evento futuro que se aguarda. A ressurreição do corpo é o clímax de algo que acontece hoje, de forma muito concreta. Quando o homem é unido a Cristo pelo Sacramento do Batismo, recebe a luz que provém dele, a qual dissipa as trevas do pecado. A luz de Cristo penetra a escuridão da ausência de Deus, devolvendo às superfícies sua verdadeira cor. A santificação é a ressurreição hoje, em que a natureza humana assume gradativamente sua verdadeira condição e vocação. Através da luz de Cristo, o homem é capaz de ver o homem.
A Igreja também ensina que as verdadeiras obras consistem em lançar luz sobre condições escurecidas pela privação de Deus. Quando um cristão chega a algum lugar, ali também chega o próprio Deus, trazendo claridade ao que é escuro, restauração ao que está corrompido, novidade ao que é obsoleto. É por isso que Cristo chama a Igreja de "luz do mundo" e "sal da terra".
O que Deus faz hoje veladamente, por meio de cristãos fracos, ele irá fazer às claras, no chamado último dia, em que Jesus Cristo haverá de voltar, para julgar os vivos e os mortos.

10 - Fé no julgamento final: 
A Igreja considera impossível que os homens todos tenham o mesmo destino, seja a morte ou a salvação. Não podemos imaginar um Deus que seja menos justo que nós. Enquanto distinguimos os erros, procurando agravantes e atenuantes, discutindo racionalmente todos os elementos que aumentam ou diminuem a culpa, não podemos esperar menos da natureza de Deus. A razão humana é imagem da razão divina. 
A Igreja Católica confessa que Deus haverá de julgar todos os demônios e homens. A própria misericórdia de Deus tem um respaldo legal, pois se baseia na satisfação de Cristo. A Igreja não crê em uma misericórdia mole e injusta. Também não assume a postura fatalista dos ateus e agnósticos, que ensinam um só destino para todos os homens, independentemente do que fizeram.

Esses elementos compõem a substância do catolicismo. Eles são facilmente identificados nos credos apostólico e niceno. Entretanto, uma explanação é necessária porque os cristãos que não são católicos podem usá-los levianamente contra a Igreja Católica, dando-lhes uma interpretação não ortodoxa.
De Santo Estêvão a nós hoje, com menor ou maior elegância e propriedade, todos os católicos de todos os tempos confessamos todos esses elementos, conforme a explicação dada aqui.
Para concluir, busquemos a analogia de uma árvore de Natal. Imaginemos que a árvore seja o catolicismo e que os enfeites sejam acréscimos doutrinários. Evidentemente, não são os enfeites que definem a árvore de Natal, eles servem apenas para diferenciá-la de outras. Uma árvore pode ter muitos enfeites, outra, poucos. Entretanto, são unas no que dizem respeito à árvore. Assim também acontece com as diferentes igrejas católicas. Elas são unas na essência, no que lhes é elementar. Diferentes quanto aos acréscimos. Algumas igrejas católicas possuem poucos acréscimos. Outras possuem muitos acréscimos. No entanto, são todas elas uma só e santa Igreja Católica. Podemos dizer isto com relação à Igreja de Roma, às igrejas ortodoxas orientais, à Igreja Anglicana e à Igreja Luterana.
Recapitulando, ser Igreja é crer no Evangelho. Ser Igreja Católica é confessar seus elementos doutrinários imutáveis. Se ser Igreja é algo bom, ser católico é estupendo

Autoria: Carlos Leão.
Imagem extraída da internet.




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