domingo, 11 de dezembro de 2016

DEUS SE IMPORTA

"Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se. E perguntou: Onde o sepultaste? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê! Jesus chorou" (S. João 11:33-35).





Deus não é um ser impessoal e indiferente à realidade humana, ele pessoalmente sofre, lamenta e chora. O Deus proposto pelo mundo, fruto do deísmo iluminista, é um ser que criou o universo e suas leis, deixando-o seguir seu próprio caminho. Esse Deus não ama, não se compadece, não age misericordiosamente, não perdoa ninguém. É um Deus que não podemos culpar pelas tragédias que nos sobrevêm, mas também é um Deus que não pode nos socorrer em nossa indigência profunda.
Como a humanidade está ontologicamente ligada à Divindade, sendo impossível ao homem sentir-se humano sem recorrer a Deus, sem deixar a esfera animal em direção a Deus, o homem que concebe um Deus impessoal passa a buscar a humanidade na indiferença e na insensibilidade, na impessoalidade e na despersonalização. Se meu Deus não se importa, se ele não é misericordioso, se ele não perdoa, se ele não é um ser pessoal para relacionar-se pessoalmente comigo, meu esforço por sair da esfera animal será no sentido de também não me importar, nem ser misericordioso, nem é preciso perdoar e, por fim, não preciso sequer ser uma pessoa para relacionar-me pessoalmente com o outro. De repente, tudo isso se torna animal, inadequado, fraco e vil. Isso é a tragédia das tragédias!
O Deus verdadeiro é um ser pessoal, que ama, que se compadece e que chora. Esse conhecimento acerca de Deus eleva sobremaneira os sentimentos humanos, pois eles estão em Deus e só podemos dizer que são muito humanos porque estão em Deus. Aqui o homem encontra espaço para a fraqueza e não tem vergonha dela. O outro também se reveste de muita dignidade, porque Deus chora pelo outro, não por si mesmo. Portanto, é divino chorar pelo outro, compadecer-se dele, empenhar-se por ele, socorrê-lo, perdoá-lo e amá-lo; divino e muito humano também.
Por outro lado, o pesar de Deus vem mostrar a nós, que cremos, que não é tão simples responder à tragédia humana como nestes termos: Foi Deus que quis. Essa resposta é essencialmente deísta e não tem nada a ver com o cristianismo, porque afasta Deus de sua criação, como aquele que friamente determina e que não se compadece, nem age com misericórdia. 
Deus de fato determina tudo o que acontece, cada tragédia que nos assola, tudo, absolutamente tudo! Nada foge ao conhecimento e vontade de Deus. Mas não devemos imaginar um Deus que determina friamente o que acontece, sem se importar com sua criação. De uma maneira que nos é incompreensível, Deus determina tudo o que acontece, sem que isso exclua seu sincero pesar, conforme nos atestam as lágrimas de Jesus. 
Como não conseguimos compreender esse Deus que tudo faz, que tudo opera, frequentemente nós o culpamos por nossas desgraças. Entretanto, só nesse Deus podemos encontrar consolo, porque ele chora.

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.