quinta-feira, 5 de março de 2015

PAI NOSSO DAS FAMÍLIAS - E NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO


Bondoso Pai,

Não tenho palavras para te agradecer o privilégio que me dás de ser cristão, mas confesso que minha condição de cristão é extremamente árdua.
Ser cristão é estar em constante luta. Não há descanso para nós, enquanto peregrinamos por este mundo. Temos por inimigos nós mesmos, o mundo inteiro e o diabo. Há em nós uma terrível dualidade: Carne e espírito.
Temos uma carne que procura o tempo todo se satisfazer com o que é sensível. Temos também um espírito, que se satisfaz somente com a fé, que é a "convicção de fatos que se não veem".
Como carne e espírito desejam coisas diferentes e somos ambos, nunca nos sentimos plenos. Muito pelo contrário, há em nós um vazio de, simultaneamente, desejar e não desejar. Estamos satisfeitos e insatisfeitos. Amamos e odiamos. Somos uma contradição! O que a carne deseja, o espírito não quer, e vice-versa. 
A carne herdamos de Adão. Ela vê, ouve, cheira e toca. Deseja sempre o que é agradável aos sentidos. Odeia tudo o que é desagradável aos sentidos. Busca sempre o prazer.
A carne se enfastia rapidamente. Logo quer novas sensações, sobretudo aquelas que lhes são proibidas. É então que entra em cena a cobiça.  
A carne que herdamos de Adão cobiça o tempo inteiro. A cobiça é o desejo de ter aquilo que não nos pertence devido ao fato de não nos pertencer. A cobiça aparece somente quando algo nos é proibido. E quanto maior o obstáculo que se se opõe à cobiça, mais intensa ela se torna.
Nossos pais, Adão e Eva, só desejaram o fruto proibido porque lhes foi proibido. Penso que antes mesmo de a serpente aparecer, eles já estavam desejando o fruto. Por isso, S. Tiago diz: "Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado. E o pecado, uma vez consumado, gera a morte".
A cobiça concebe e gesta o pecado. Enquanto não der à luz, não encontrará descanso.
Nosso espírito, porém, herdamos de ti. Ele não é atingido pelos sentidos. Não encontra o seu prazer nas coisas criadas. Seu gosto é condizente com sua essência, ou seja, inteiramente espiritual.
Temos um espírito que deseja a beleza, a perfeição, a eternidade e a unidade. Isto é, temos um espírito que não deseja este mundo fragmentado e efêmero, mas exclusivamente a ti. 
É dele que vêm a filosofia e as religiões do mundo inteiro. É dele que emanam amor e virtude. Dele vêm a moralidade e a ética. 
Em tudo isso, temos um espírito faminto de ti, porque somente tu és belo, perfeito, eterno e uno. Tu és amor e virtude. Somente tu és santo.
Enquanto o homem não te encontra, permanece faminto, porque seu espírito está privado de seu verdadeiro alimento. Mas quando nosso espírito te encontra, ele se agarra a ti pela fé e somente em ti se compraz. De mais nada necessita. Quando se depara com uma pérola de tão grande valor, vende tudo o que possui e a compra. 
É então que se exacerbam nossa divisão pessoal e o conflito que dela resulta.
Tentação é o nome que damos a esse conflito. Alguém amoral não pode ser tentado. Quanto mais morais nos tornamos, mais tentados somos. Porque é necessário querer e não querer, ao mesmo tempo, para que haja tentação. É assim que, quanto mais robusto o espírito, pior é a tentação, porque ele haverá de se opor à carne com toda a sua força.
Por isso, Pai, não creio que seja lógico pedir-te que não sejamos tentados. Enquanto tivermos carne e espírito, essa dualidade existencial, é certo que haverá tentação.
Pedimos-te que não caiamos em tentação. Que não sucumbamos a ela. Que o espírito vença. 
Nós frequentemente te pedimos crescimento na fé ou crescimento espiritual. Mas quanto mais nos atenderes, fortalecendo nosso espírito, mais seremos tentados, pois a carne continua desejando o que é baixo, o que é da terra.
Portanto, vem em nosso socorro e ajuda-nos contra as tentações que nos vêm de nossa própria carne, que cobiça o que é proibido pelo simples fato de ser proibido. Defende-nos das tentações que vêm do mundo e do diabo, que oferecem à carne aquilo que lhe traz prazer e com isso pretendem escravizá-la.
Rogo pelas nossas famílias, bondoso Pai. Quantas pessoas têm pecado contra o cônjuge pelo prazer de pecar! Quantos estão escravizados pelo prazer, inteiramente governados pela carne, como se não mais tivessem espírito! Quantas pessoas têm procurado racionalizar o comportamento imoral! É assim que muitos têm lidado com a tentação: Fazendo com que ela deixe de existir. Mas como? Suprimindo o espírito e buscando uma explicação racional para seu comportamento. Destarte, o conflito da tentação desaparece.
São Paulo chama essa supressão espiritual de cauterização da consciência.
Nossa sociedade está caminhando para a amoralidade. Estou cansado, meu Pai, de explicações, de racionalização do comportamento humano. O que tenho visto ao meu redor é comportamento animalesco. 
Onde está o espírito? Onde está a tua impressão em nós, que nos distingue dos animais? Onde está a dignidade humana?
Que o Senhor tenha misericórdia de pais de família e de jovens que estão se perdendo, como se não fossem mais humanos, como se não tivessem em si algo que herdaram de ti, como se não fossem imagem tua.
Tem piedade de nós, Senhor! Tem piedade de nós!
Amém!
"Vem alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências" (S. Paulo).





Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.

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