domingo, 15 de março de 2015

PAI NOSSO DAS FAMÍLIAS - MAS LIVRA-NOS DO MAL.







Querido Pai,

Sou tão frágil e necessitado! Como preciso de ti!
O mal existe e está por todo lado. Ele está dentro de mim. Ele está à minha frente e atrás de mim. Está ao meu lado. Está acima e abaixo de mim.
Sou miseravelmente pequeno diante de tão grande mal. Por isso, recorro à tua bondade e ao teu livramento, pois tu és bondade e livramento. Sendo tu eterno, encontro em ti livramento eterno contra meus males temporais. Que são eles diante de ti?
"Melhor é buscar refúgio no Senhor do que confiar em príncipes. Todas as nações me cercaram, mas em nome do Senhor as destruí. Cercaram-me, cercaram-me de todos os lados, mas em nome do Senhor as destruí. Como abelhas me cercaram, porém como fogo em espinhos foram queimadas. Em nome do Senhor as destruí. Empurraram-me violentamente para me fazer cair, porém o Senhor me amparou. O Senhor é a minha força e o meu cântico, porque ele me salvou" (Salmo 118).
Senhor, o primeiro mal está dentro de mim e se chama pecado. E não se trata de um mal pequeno, que eu possa medir, contar ou enumerar. Ele me assusta! Vejo-o como um abismo. A tua Lei me revela um verdadeiro inferno de cobiça que existe em mim. Destarte, não posso confiar em obra alguma minha. Como saberei que intenção eu tenho ao realizar uma obra, por melhor que ela seja? Não posso sondar o meu coração. Somente tu podes.
Mas graças te dou por não conhecer a plenitude desse inferno, porque se o conhecesse plenamente, é certo que entraria em desespero. Vejo a realidade das "faltas ocultas", de que fala Davi, como misericórdia tua.
Creio que um dia será revelado ao homem a plenitude de seu pecado. Será no dia do Juízo Final. Então os homens verão com clareza sua indizível maldade e terão vergonha do desprezo com que trataram tua benevolência e misericórdia, como se não necessitassem dela, confiantes em suas obras.
Entretanto, desse Juízo terrível estou salvo, pois em ti encontro a mais completa remissão dos pecados. Tua Lei me derruba, mas tua graça me segura fortemente.
Mediante a fé, tu me tornas partícipe da santidade de Cristo. Fazes de mim um tabernáculo dessa santidade.
Assim, muito embora eu sinta em mim um verdadeiro inferno de pecados, tu me fazes crer que sou o tabernáculo de tua glória.
O segundo mal que me aflige está à minha frente. Trata-se do futuro. Ele ainda não existe, mas virá e certamente me trará tribulações. Minh'alma se abate diante de tão horrível expectativa, pois nada pode fazer contra essa realidade e teme não ser forte o suficiente.
Tu, no entanto, trazes ao meu coração a certeza de que me amas e que me guardas em tua mão. Nada é superior a ti, que possa destruir-te. E como nada te destrói, aquilo que seguras em tua mão não será destruído. Como tu me consolas, através de teu profeta Isaías: "Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei"!
Meu descanso está em ti, através da fé. Tu me fazes saber que estou em tua mão, que és meu defensor. Este é o meu socorro perante mim mesmo!
O terceiro mal age por trás. É o passado. Quantas coisas lamento ter feito ao longo de minha vida! Quantas vezes fui tolo, negligente, insensível, incrédulo e insensato. Quantas vezes fui cruel!
Como é triste errar e não poder voltar no tempo, para fazer de novo, da maneira correta!
Em ti, porém, encontro a graça de ter crescido através de meus erros. Tu és o melhor mestre que existe. Não entregas nada pronto. Tu queres que eu aprenda através de meus erros e fracassos a ser uma pessoa melhor.
E embora não permitas voltar no tempo, tu me concedes a oportunidade do recomeço, o que é extremamente consolador.
No meu passado encontro também o testemunho de teu cuidado, para que não mais tema o futuro. Tu, que cuidaste de mim até agora, continuarás cuidando, pois não mudas.
O quarto mal está à minha esquerda. Livra-me dele, Senhor! É a inimizade contra mim, que vem do mundo, da carne e do diabo. São inimigos fortíssimos, que não posso suportar, fora de teu amparo. Eles pretendem distrair meu espírito, para que se aparte de ti, do teu santo aprisco. Uma voz grita no deserto: "Eu sou Cristo". E meu espírito, incauto, poderá segui-la. 
Entretanto, tu és o senhor de tudo e não permites que eu seja tentado além de minhas forças. Antes, tu me envias o livramento toda vez que me vejo partido entre duas ou mais vontades. Tu me concedes lucidez para enxergar onde tu estás e onde tu não estás.
Ao meu lado direito está o quinto mal. Trata-se do mal sofrido pelos meus amigos e irmãos. Vendo-os sofrer, sofro também. Comungo a dor deles, obrigado a isso pelo vínculo do amor e pela comunhão dos santos.
É então que vens me ensinar que o sofrimento une. Quando o sofrimento do outro se torna meu sofrimento, já não sou "eu", mas somos "nós". Portanto, o sofrimento unifica. E onde há unidade, ali tu estás. 
Será que na língua portuguesa existe uma palavra mais bela que "solidariedade"? Porque não me lembro de algo mais sublime que exista entre nós, homens.
Abaixo de mim está o sexto mal, que é a morte ou o inferno (sheol). Não há mal pior do que esse! Não há ninguém que não se abale diante da perspectiva da morte, porque o ser humano foi feito para a vida.
Mas em ti encontro a vida na morte, porque para o cristão a morte é somente uma vírgula. 
Estou acostumado com este mundo e agradeço-te por ele. Não serei ingrato com quem me dá teto, vestuário e alimento. Tudo da melhor qualidade! Entretanto, não há um dia sequer que me sinta à vontade. Meu espírito não encontra paz nesta existência. Vez ou outra sinto minha carne, céus e terra como verdadeiro cárcere. Sou um pássaro dentro de uma gaiola.Pássaro bem cuidado, mas preso!
É assim que a morte se torna para mim a plena liberdade de ser.
Por fim, contemplo acima de mim o sétimo mal, que é o Calvário. Teu filho Jesus a padecer por causa de meus pecados. O meu pecado levou o meu Amado à cruz. Como isso me desagrada! Porque não quero que alguém que tanto amo sofra por minha causa.
Na cruz, porém, encontro a demonstração do amor. Quando, em silêncio, ponho-me a contemplar no crucifixo o sofrimento de meu Senhor, vejo o quanto sou amado e o quanto preciso amar.
Na cruz, tu me deste o modelo de amor a ser seguido. Quanto mais próximo da cruz, mais amor. Quanto mais distante da cruz, menos amor.
Com tudo isso, bondoso Pai, fazes-me ver que, embora esteja cercado pelo mal, não posso me sentir acuado. Tenho a ti como meu guardião e defensor. Todo o mal que há em mim e fora de mim só me trará o bem e nada mais. 
Salvo estou, porque sou objeto de teu amor.
Amém!

Inspiração: Catorze consolações para os que sofrem e estão onerados. Obra de Dr. Martinho Lutero, escrita em 1519.

Autoria: Carlos Alberto Leão.

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