sábado, 10 de junho de 2017

RELAÇÃO ENTRE O ESPÍRITO SANTO E A PALAVRA NA ECONOMIA DIVINA

"No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz" (Gênesis 1:1-3).


No texto que narra a criação de todas as coisas, a palavra Deus não está no singular (Adonai), mas no plural (Elohim). É o primeiro indício nas Escrituras da pluralidade que há em Deus. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Elohim poderia ser traduzido por Deuses, mas as Escrituras deixam muito claro que há um só Deus. Portanto, a palavra Elohim denota a pluralidade que há nesse único Deus.
Embora haja um só Deus, uma só essência ou substância divina, a Igreja ensina que nesse Deus ou nessa substância divina, que é única e indivisível, há três Pessoas. Portanto, Deus é um conselho de três pessoas. 
Como todos os povos vieram de Adão, o conhecimento perfeito de Adão acerca dessa pluralidade foi perdido por seus descendentes. Por causa disso, creio eu, surgiu o politeísmo. O pecado original retirou do homem o conhecimento perfeito acerca de Deus. Por causa disso, o homem caído, não compreendendo mais essa pluralidade que há em Deus, dividiu a Divindade única em vários deuses. Coube a Cristo e à Igreja restaurar esse conhecimento perdido, embora esteja amplamente revelado nas Escrituras do Antigo Testamento, sobretudo nesse texto que narra a criação.
Esse Deus plural, Elohim, destaca reiteradas vezes sua unidade, mas não deixa de ser plural, de ser um conselho ou de ser Elohim. Revela seu nome a Moisés, diz que é o único Deus, o único Senhor, que fora dele não há Deus, mas não deixa de ser Elohim. Portanto, quando Israel invocava YAHWEH, invocava esse Deus plural, esse Elohim, o mesmo Deus criador. YAHWEH é, portanto, a revelação mais grandiosa desse Deus Elohim. É um equívoco atribuir esse nome a Deus Pai isoladamente, como se o Filho e o Espírito Santo não pudessem compartilhar dele.



Os santos Pais deram a esse mistério o nome de Trindade. Nessa Trindade há um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Como ocorre numa família ou em qualquer conselho, há uma economia interna, em que cada membro desempenha sua função. Não sabemos como isso acontece no seio de Deus, na sua intimidade, pois é algo inefável, que somente Deus pode compreender. A Palavra de Deus, porém, apresenta-nos essa economia segundo a nossa possibilidade, para que nela meditemos respeitosamente e nela creiamos. Como iremos falar sobre algo misterioso, rogo a Deus que perdoe a fraqueza de nossa carne e que leve em conta a nossa fé.
O texto da criação nos mostra que o Deus Elohim criou os céus e a terra, tudo o que existe. Deus fala, Deus é a Palavra e Deus paira sobre a face do abismo. O Deus que fala é diferente da Palavra que dele sai. O Espírito Santo não é o que fala, nem é a Palavra, mas aquele que paira sobre o abismo. É importante que se destaque que embora o que fala, a Palavra e o Espírito Santo sejam pessoas distintas, são um único Deus, uma só natureza divina. Ainda assim não podemos concluir que são três Deuses idênticos, muito menos que cada pessoa seja uma fração desse único Deus. Portanto, a Trindade é o mistério dos mistérios. Devemos aceitar sem entender, simplesmente porque a Palavra o diz.
A Palavra é gerada do Pai e atua na criação pelo poder do Espírito Santo. O Espírito Santo é aquele que paira sobre o abismo, que está junto e unido à criação, correspondendo à eficácia da Palavra, ao seu poder fora de Deus.
Imaginemos uma chama. Sabemos que ela é fogo por causa da luz e do calor, embora a luz e o calor não sejam propriamente o fogo, mas seu efeito ou poder. Assim devemos imaginar o Espírito Santo no ato criador de Deus e também na Divina Providência: o Espírito Santo é o poder de Deus intimamente unido à sua Palavra. Assim como a luz e o calor são o poder e a eficácia do fogo, mas não são o fogo, o Espírito Santo é o poder e a eficácia da Palavra, embora não seja a Palavra. 
Por outro lado, se o fogo é subtraído de seu poder de iluminar e aquecer, jamais o perceberemos. Nossa razão compreende o fogo a partir de seus efeitos. Assim também é a eterna Palavra gerada de Deus. Nós não a perceberíamos se não fosse o seu poder, que é o Espírito Santo, mais unido a ela que a luz e o calor ao fogo. 
Em S. Lucas 4:16-21, Cristo levanta o testemunho do profeta Isaías acerca de si mesmo: "O Espírito do SENHOR Deus (YAHWEH adonai)está sobre mim, porque o SENHOR (YAHWEH) me ungiu para pregar as boas novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados" (Isaías 61:1). Cristo é a eterna Palavra de Deus que se encarnou. Seu poder ou eficácia é o Espírito Santo que o ungiu. Então, pelo poder do Espírito Santo ou revestida dele, é que a Palavra, que é Cristo, opera grandes milagres, vence o pecado e a morte, e devolve a vida à criação.
Se o Espírito Santo é Deus pairando sobre o abismo do cosmos, hoje ele é Deus pairando sobre o abismo do pecado, reconstruindo tudo aquilo que o pecado destruiu. Mas ele não o faz sem a Palavra ou independentemente dela, mas unido a ela como o calor e a claridade estão unidos ao fogo.
Podemos usar essa reflexão sobre a economia divina para criticar aqueles que imaginam o Espírito Santo agindo fora da Palavra, ou sem a Palavra. Isso não existe! Deus Espírito Santo está unido à Palavra como seu poder ou eficácia junto às coisas criadas. Assim devemos crer nele, conforme o que nos foi revelado. Onde não está a Palavra de Deus, é impossível que o Espírito Santo esteja ali, assim como é impossível haver luz e calor sem o fogo. Por outro lado, onde a Palavra de Deus está, sua eficácia junto à criação provém de Deus Espírito Santo, assim como a luz e o calor provêm do fogo.

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.







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