domingo, 12 de março de 2017

COMO JEJUAR - PARTE 2

"Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram alguns e lhe perguntaram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os seus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar. Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão" (S. Marcos 2:18-20).



No texto anterior, tratamos de alguns abusos existentes com relação ao jejum e propusemo-nos a abordar em seguida o que o jejum de fato é.
Jesus nos ensina, com o texto acima, que o verdadeiro jejum não é lei a ser obedecida, ele é "remendo novo" e "vinho novo". Não devemos jejuar por obrigação, por medo, muito menos para obtenção de graças. Esse era o espírito de quem jejuava entre os fariseus nos tempos de Jesus.
Então Jesus nos aponta qual deve ser a motivação do verdadeiro jejum: a necessidade. É quando o noivo se ausenta e então nos sobrevém o desamparo, é que devemos jejuar. Portanto, a necessidade imposta pela ausência do noivo é que motiva os convidados ao jejum. Eles não jejuam para impressionar o noivo, para mostrar-se santos perante ele, mas jejuam quando ele está ausente e sentem-se desamparados.
Quantos jejuam por esse motivo nos dias de hoje? Você tem sido motivado por sua necessidade de Deus a jejuar? Ou tem instrumentalizado seu jejum para obtenção de algo, ou tentado impressionar a Deus com ele? Você ainda está na época da Lei, achando que o fato de não jejuar contraria a Deus? Pior ainda: você pensa que seu jejum o justifica perante Deus?
A mesma motivação do jejum é a motivação da oração. Não oro para impressionar a Deus ou para informá-lo de algo, mas por pura necessidade. Com o jejum, o raciocínio deve ser exatamente igual.
Quando nos abstemos de alimento por algum tempo, vem a dor. Essa dor da privação nos auxilia no autocontrole ou domínio próprio, pois é doloroso para mim evitar o pecado e é por causa do desconforto da dor que caio em tentação. A dor do jejum, que é uma dor imposta ao corpo, treina-me para o desprazer e prepara-me para a tentação. Por isso mesmo é que Jesus jejuou antes de ser tentado.
Em um mundo hedonista, que endeusa o prazer, o jejum vem nos instruir sobre a relevância do sofrimento na formação de quem somos. Todo empreendimento humano é um desprazer que visa ao prazer, somos assim! Trabalhamos arduamente tendo por alvo o salário, o desconforto imposto por um tratamento médico ou pelo exercício físico visam ao prazer da saúde, a dor do parto é suportada em razão da maternidade, e assim por diante. Desprezar o sofrimento incorreria em paralisia de nossa parte, pois tudo o que produzimos, enquanto produzimos, é permeado pela dor. Por isso mesmo, estamos com uma geração de jovens paralisada, pois recusa o desprazer do estudo, do trabalho, da vida matrimonial, da paternidade, apegando-se somente ao prazer. Embora saibamos que sem sofrimento, nem o prazer é prazer. Pelo contrário, quanto maior o sofrimento da atividade, maior é o prazer que dela resulta.
O jejum vem nos instruir sobre a relevância do sofrimento na espiritualidade. É muito dura a jornada cristã, mas é um sofrimento que visa a um prazer, e o maior de todos! Todo esse sofrimento que padeço hoje, como cristão, está plenificando o prazer de amanhã. Hoje labuto com a sensação de estar sozinho e desamparado por Jesus, para amanhã descansar em seus braços. Ao suportar o sofrimento do jejum, estou sendo capacitado a suportar o sofrimento da ausência de Deus em minha vida. O jejum vem nos lembrar que sem sofrimento não chegamos a prazer algum.
O jejum também avulta nossa pobreza. A fome e a sede servem para nos mostrar que somos muito pobres e necessitados. Enquanto nos mostra a pobreza, o jejum também nos conduz a Deus, que nos sacia.
Por fim, o jejum impõe um sofrimento que faz calar nossa carne. Rancor, inveja, luxúria, vaidade e outros movimentos interiores muito perversos enfraquecem-se diante do sofrimento. Enquanto isso, o sofrimento nos faz ficar em estado de alerta, em oração. Penso até que os discípulos não teriam adormecido no Getsêmani se estivessem em jejum, mas como estavam muito bem alimentados, dormiram. 
Devemos ter em mente, porém, que o jejum não cura o pecado. Ele nos ajuda na luta contra ele. Cessado o jejum, esses movimentos interiores voltam, talvez até com força maior. Então para que serve o jejum? Ele nos dá uma pausa, uma paz temporária, para que nossas forças espirituais sejam restabelecidas e possamos retomar a luta. 
O jejum é um importante exercício espiritual. Ele nos disciplina a suportar o desprazer que existe em dizer não ao pecado, instrui-nos quanto à relevância do sofrimento para a construção de qualquer coisa e para a vivência do prazer, avulta nossa pobreza e carência de Deus, mas principalmente é uma oportunidade de silêncio, paz e recomeço. 
Todos nós precisamos de pausas antes de retomarmos o trabalho. Em nossa luta contra o pecado, o jejum deve ser considerado uma pausa.

Autoria: Carlos Leão.
Imagem extraída da internet.

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