sábado, 25 de abril de 2015

EIS QUE ESTOU CONVOSCO ATÉ À CONSUMAÇÃO DO SÉCULO - PARTE 1


São os mistérios que me tornam cristão, não as evidências, nem a lógica. Para conhecer o verdadeiro Deus é necessário tão somente ser tocado pela fé, que é a única maneira de apreender seus mistérios.
A vida cristã começa na interioridade, onde Deus nos toca com a fé. A partir daí, seguimo-lo, mesmo sem entender, dispensando explicações. 
É da experiência pessoal com Deus que nasce o cristão. É do toque de Deus! não de livros, nem de debates ou academia. Ninguém aprende a ser cristão. Ninguém convence o outro a se tornar cristão. Somente o toque de Deus e nada mais.
Não quero, com isso, desprezar a teologia. É importantíssimo que lancemos mão da razão e da linguagem para podermos defender a verdade frente às heresias que pululam no mundo o tempo inteiro. Mas a teologia deve reconhecer seus limites. Não é uma ciência como as outras, que busca explicar tudo com base no que já se sabe. Não, seu papel é muito mais restrito. É função da teologia rebater o que é errado e defender o que é certo. Para isso, é óbvio que necessita da razão, porém não com o  intuito de explicar o que se deve crer, mas de definir, classificar, rechaçar e aceitar.
Teologia não é o conhecimento ou ciência de Deus. Deus é insondável e incognoscível a qualquer mente. "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2:9-10). O conhecimento de Deus pleno só é possível a Deus. Ninguém o conhece plenamente, senão ele próprio. Nesses versículos temos inclusive uma das provas da divindade do Espírito Santo. Portanto, Deus Pai se revela através de suas obras, através de seu Filho, que é Deus, e através de seu Espírito Santo, que também é Deus. Essa revelação nos mostra um pouco do que ele é, para que o amemos e para que sejamos salvos, não para que o compreendamos.
É muito perigoso quando alguém se debruça sobre o que Deus nos revelou acerca de si mesmo, como se estivesse diante de uma planta, animal ou algo inanimado, para estudá-lo. Deus não deve ser alvo de especulações. É por isso que temo muito quando deixamos de interpretar a Bíblia de maneira literal e bem contextualizada e começamos a transformar textos amargos em textos doces, através de nossa razão. Tudo o que há de amargo na Bíblia, é para a nossa razão que é amargo, não para a fé. O que é palatável à razão, não o é para a fé. Portanto, sejamos muito cautelosos. Que a fé prevaleça! Em última análise, Deus será sempre saboroso ao nosso espírito e amargo à nossa carne.
"Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinando pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais" (1 Coríntios 2:13). Aqui S. Paulo nos exorta a nunca conferir coisas espirituais com a ciência humana, mas com coisas espirituais. Que é isso senão crer? Não analiso os mistérios com base no que sei, mas analiso o que sei com base nos mistérios. É assim que o crente dá lições ao descrente, mesmo quando é iletrado. Até hoje debatemos o que é vida. Que cristão, porém, tem dúvidas do que é vida? Ele pode não explicar, mas sabe muito bem. É assim que uma cristã se recusa a praticar o aborto, porque sabe que estará provocando uma morte, mesmo sem saber quando a vida começa ou termina. Ela vê a vida como coisa que ela conhece e não conhece, ao mesmo tempo, porque analisa o que sabe dentro do contexto do mistério. Assim poderia dizer: "Eu não sei exatamente o que é vida, mas sei que o que está dentro de meu ventre é vida".
Os mistérios não têm explicação, mas somente explicamos algo quando nos rendemos a eles. Quantos mistérios têm que ser aceitos, para se chegar a uma única teoria? Se alguém não fizer concessão aos mistérios, não chegará a verdade alguma.
Portanto, a aceitação dos mistérios amplia nossa compreensão da realidade, porque tudo o que é compreensível está permeado pelo incompreensível. 
São Paulo diz: "O homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém" (1 Coríntios 2:15). De fato, mais sabe sobre o universo um homem caipira que olha para o céu e vê nele seu criador que muitos físicos renomados, que olham para o mesmo céu e só enxergam a evidente cortina da matéria.
Voltando ao começo, quero deixar claro que amo teologia e considero dever de todo cristão culto dedicar tempo a ela. Mas entenda que explicações precisam da aceitação de mistérios. Uma boa teologia se baseia na aceitação passiva de verdades reveladas, sem a pretensão de harmonizá-las.
Devo confessar que trilhei um caminho de 11 anos para chegar a essa conclusão.

"Pelo viver, mais ainda, pelo morrer e ser condenado faz-se um teólogo, não pelo compreender, ler ou especular" (Dr. Martinho Lutero).



Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagem extraída da internet.



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