quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

SACRAMENTOS: UMA SUPERÊNFASE?

No meio protestante, é comum que se diga que luteranos superenfatizam os sacramentos, em oposição a outros temas da teologia. Pensam que a ênfase dada por nós a esse assunto nos desvia de Cristo para um ritualismo frio, que só serve para fortalecer o papel da Igreja em detrimento do próprio Cristo. 
É um pensamento bastante fragmentado, pois entende um Cristo sem Igreja e um Cristo que não é dado e fruído. A ênfase que nós, luteranos, damos à questão dos sacramentos tem seu fundamento no fato de que a Igreja, com o seu ministério e sacramentos, é sinal de Deus para o mundo, sal da terra (S. Mateus 5:13), luz do mundo (S. Mateus 5:14) e a candeia posta no velador (S. Mateus 5:15). O mundo busca a salvação que vem de Deus e vê somente a Igreja, a oferecer essa salvação através de seu ministério e sacramentos. Portanto, não precisamos - e não é nem um pouco prudente - enfraquecer a Igreja para exaltar Cristo, como se houvesse um antagonismo entre Cristo e sua Igreja. 
Além disso, os sacramentos não são para nós, luteranos, rituais vazios. Para nós, a salvação que vem de Cristo e o próprio Cristo, com sua remissão de pecados e com sua justificação, precisam ser entregues a nós. 
Biblicamente falando, não é possível que Cristo seja entregue, juntamente com seus dons, sem algum sinal exterior. Cristo não é algo que Deus comunica ao homem sem um meio autorizado: Pregação e sacramentos. Para que Cristo seja meu, para que sua justiça seja minha, para que seu sacrifício seja meu, para que sua ressurreição seja minha, é necessário que minha fé o receba, através de algum meio exterior. Não é possível que eu venha a crer em algo que nunca vi, toquei ou ouvi. Então é necessário que o objeto de minha fé, que é o próprio Cristo, a Eterna Palavra de Deus, me seja entregue por meio de sinais que meus sentidos podem apreender, conforme nos ensina S. Paulo com muita clareza em Romanos 10:12-14,17. Não me é possível receber o Verbo de Deus segundo a sua majestade, mas em sua fraqueza, envolto em sinais estabelecidos por ele.
Então, o Batismo não é um ritual simples que magicamente justifica e salva. O Batismo é a água que contém a Palavra de Deus, que diz: "Quem crer e for batizado será salvo" (S. Marcos 16:16). É o próprio Deus quem batiza e cumpre o que sua Palavra diz. É Deus oculto na água a ser-nos entregue.


A Eucaristia não é um ritual mágico com poder de salvar. Consiste em pão e vinho que passam a conter a Palavra de Deus, que promete: "derramado em favor de muitos, PARA REMISSÃO DE PECADOS" (S. Mateus 26:28). Portanto, é o próprio Cristo que nos confere a remissão de pecados através do pão e do vinho, a cada celebração eucarística. É Deus oculto no pão e no vinho a ser-nos entregue.


A ênfase que damos aos sacramentos é uma ênfase que estamos dando à misericórdia de Deus, que opera a salvação no homem por meio da fé. Não uma fé que se volta para um Deus incorpóreo, metafísico e inteligível, mas para um Deus concreto, que se dá por meio de uma Igreja concreta, por meio de um ministério concreto e por meio de uma variedade de sinais muito concretos. 
É também uma ênfase que se dá à Palavra de Deus, que invariavelmente cumpre o que promete. Se o próprio Deus diz que salvará quem for batizado, por que haveríamos de duvidar da capacidade do Batismo de salvar, se a Palavra de Deus está nele? Não é o pastor ou padre quem promete isso, mas o próprio Deus. Igualmente, por que não salva a Eucaristia, se Deus promete nela que haverá de remir todos os pecados? É possível que alguém tenha seus pecados todos remidos e não seja, por consequência, salvo?

Autoria: Carlos Alberto Leão.
Imagens extraídas da internet. 

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