domingo, 4 de dezembro de 2016

ABORTO E A RELATIVIZAÇÃO DA ÉTICA


Há um ano atrás, decidi nunca mais assistir à Rede Globo, como reação a um vídeo gravado por atores "globais", em defesa do aborto. Nesse vídeo, eles humilham a Santa Mãe de Deus, juntamente com Deus e todos os cristãos, deixando claro a quem a mensagem está sendo endereçada: a esse povo cristão retrógrado. Cuspiram naquilo que é o mais sagrado para nós, cristãos: a Encarnação da Palavra de Deus no ventre virginal de Maria. Nunca mais assisti à Rede Globo e isso me fez um bem enorme. De fato, Rede Globo está entre as coisas mais supérfluas da vida.
Mas agora, dias atrás, o fantasma reapareceu com muito mais poder, porque dessa vez o parecer favorável ao aborto veio do Supremo Tribunal Federal, representado pelo ministro Barroso. O ministro deixou claro que a vida de um concepto não tem valor perante a justiça até o terceiro mês de vida. Até o terceiro mês de vida, idade gestacional decidida arbitrariamente, o concepto diz respeito somente à mãe e às suas necessidades imediatas. Isso é lamentável! O aborto é uma verdadeira barbárie que a sociedade brasileira está caminhando por aceitar. Muitos seres humanos não serão executados em nome da religião do Estado ou em nome de um partido, como aconteceu e acontece na Alemanha nazista, na Coreia do Norte, em Cuba, na extinta União Soviética e na Síria. Eles serão executados em nome do bem-estar da genitora, de sua carreira profissional, de seus estudos, de seu pretenso direito de não ser mãe, como se o aborto pudesse extinguir a maternidade. 
Que um embrião é vida, temos opinião consensual quanto a isso. Pergunte a um árabe, a um judeu, a um oriental, a um indígena, enfim, a qualquer pessoa da face da terra, se o embrião é um ente vivo e a resposta será sempre afirmativa. Algum teórico, do tipo polemizador, poderá dizer que não ou que depende, mas se formos mais fundo na pergunta: o embrião que está no ventre de sua esposa é seu filho? ele será obrigado a dizer que sim. Acho um absurdo ter que argumentar que um embrião é vida, mas numa sociedade que questiona o próprio sexo, que é biologicamente definido, é necessário frequentemente provar que o ovo é redondo e não quadrado. 
Enfim, faz parte do bom senso atribuir vida a um embrião. Aqueles que questionam esse fato, indo contra o que é consensual, contra o que é racional, terão que apresentar provas. O ônus da prova sempre recai sobre aquela pessoa que questiona o que está estabelecido. Bem, ninguém nunca provou nem provará que um embrião não pode ser considerado uma vida humana. Teremos sempre opiniões e empirismos, tais como os "três meses" do ministro Barroso, mas nunca teremos provas. Então chegamos à questão seguinte: matar é crime ou pode não ser? Sim, a partir do momento em que se retira a vida de um ente, é lógico que o matamos. Então cabe perguntar se matar é sempre errado ou não. 
Portanto, a questão do aborto vai além da execução de conceptos e atinge um vulto muito maior, pois relativiza a criminalidade do assassinato. Em algumas circunstâncias, assassinar deixa de ser um crime. Logo, o assassinato não é um crime absoluto ou objetivo, mas um crime relativo ou subjetivo. 
Para piorar, a justificativa para descriminalizar o assassinato é muito vulnerável, irrelevante e perigosa: o bem-estar. Irrelevante a um primeiro momento, pois em nada beneficia a sociedade como um todo, diferentemente do que aconteceria numa guerra, em que é necessário matar para defender a pátria. Não interessa à sociedade se Maria não queria engravidar de João, se isso irá prejudicá-la em suas ambições. Também o fim dessa gravidez não importa, porque nenhum bem social trará. Perigosa na sequência, pois sempre haverá alguém que irá impedir nosso bem-estar: o cônjuge gravemente enfermo e terminal, pais dementes, avós decrépitos, imigrantes a "roubar" nossos empregos, religiões e culturas diferentes a imiscuir-se em nossa sociedade, descaracterizando nossa cultura, o bandido a cercear nossa liberdade, e assim vai. Sempre haverá um outro a prejudicar nosso bem-estar, nosso potencial de crescer e ser bem-sucedido em tudo. Então, com o aborto, aparece a opção de matar quem estorva nosso progresso pessoal, sem que esse tipo de assassinato seja considerado um assassinato ou um crime. Então perceba, por favor, que a mesma fundamentação do nazismo é a fundamentação do aborto. O arcabouço ideológico do nazismo é o arcabouço do aborto, da eutanásia, do suicídio assistido e da xenofobia. 
O problema não para por aqui. A relativização do assassinato é uma relativização de algo muito mais amplo, que é a ética. Portanto, a legalização do aborto fomenta um problema muito maior e que levará nossa civilização à ruína, que é a relativização da ética, algo nunca antes visto em toda a história da humanidade. Se matar pode não ser crime, roubar, mentir, defraudar, prostituir podem também não ser. Então não reclame do atual cenário político brasileiro, pois ele reflete o que vem acontecendo em todo o mundo ocidental: a relativização da ética. Não reclame do "capitalismo selvagem", pois ele brota da mesma fonte de onde o aborto está brotando: a relativização da ética. 
Muitos acham que ir contra o aborto é "coisa de igreja". Não é "coisa de igreja", mas algo racional. Acho triste que somente a Igreja, em toda a cultura ocidental, esteja firme no anseio pela verdade e contra o relativismo, pois o fundamento disso é muito mais racional que bíblico. A filosofia grega sempre valorizou a verdade como princípio absoluto e esmerou-se por alcançá-la. Aquele discurso que reúne elementos aparentemente lógicos e verdadeiros, mas que não visa à verdade, era chamado de sofisma. O sofista não está preocupado com a verdade, mas com seu próprio benefício. Ele instrumentaliza a verdade para alcançar o quer.
Todo discurso relativista é necessariamente sofístico, pois o relativismo não comporta o princípio da verdade. Não havendo verdade, todo o objetivo do discurso visa a um benefício próprio. O discurso relativista sempre beneficia algumas pessoas, nunca a sociedade como um todo. É por isso que o relativismo é uma implosão cultural.
Quisera eu que ainda houvesse alguns aristóteles pelo mundo, a defender a verdade com o uso da razão, sem o viés religioso. Mas infelizmente não há, nem haverá, pois a verdade foi pulverizada e ninguém anda em busca dela. Cada qual quer se dar bem, ter seu problema imediato resolvido e que se dane a sociedade como um todo. Afinal, nenhum benefício é visto como mais importante que o meu.

Autoria: Carlos Alberto Leão.


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